3° Chegando...( Degustação)

883 91 9
                                    

Marreco,

Assim que chegamos no PPG, paramos próximo à casa do Baiano, que pelo que ele me disse, é onde vou ficar. Insisti que ele poderia me botar em qualquer barraco por ai, qualquer canto, que eu me virava, mas ele fez questão e insistiu para eu ficar na casa dele, alegando ser uma casa espaçosa e que só moram ele e a filha.

Nem sabia que o Baiano tinha filha, mas, pelo que eu soube por boatos, dos manos la no privado, que conhecem a história a fundo, a garota morava com a mãe na Espanha, veio pra cá tem pouco tempo. Dizem que é o xodó do Baiano, manda e desmanda no pai.

Achei meio estranho ele querer que eu fique aqui, tendo a filha ae e tal... Vagabundo tem todo respeito, claro, mas sei lá... Eu mesmo me senti desconfortável. Porém, ele quis assim, então suavidade.

Pelo visto tá rolando um churras na laje. Daqui, da rua onde estamos, consigo ver a fumaça subindo e sinto o cheiro de carne na grelha. Uma música também está tocando. O cara fez questão de comemorar minha chegada, isso é da hora!

Agora que já estamos na fortaleza, que se tornou o PPG nos últimos tempos, todos se sentem mais tranquilos. Não tem como saberem onde me entoquei, e Baiano tem tudo sob controle. Aqui, pelo menos hoje, eles não entram nem fodendo. E, se tentarem, não vão pegar a gente amassando churrasco, despreparados. Por que não tirar um lazer, ne?

Os amigos, que me resgataram, vêm me cumprimentar com mais tempo, menos apavoramento, satisfeitos e alegres, dando abraços de lado e tapas nas costas para demonstrarem o quanto estão felizes por eu ganhar a rua novamente. Mostro alguns sorrisos fracos, mas, não sei por qual motivo, continuo tonteado. Alguma coisa ainda me incomoda. Tô com pensamento longe... nela... o tempo todo assim, angustia no peito. Ela tá tão perto e tão longe ao mesmo tempo. 

Por que não esqueço? 

—  O homem chegou! — Ouço a voz do Galego, meu fiel, e ela vem de algum lugar no alto da laje. Quando ergo a cabeça, o vejo com uma garrafa de cerveja numa mão, um copo na outra, erguendo os dois no alto; o sorriso mostrando que está feliz em me ver.

Pra falar a verdade, também tô feliz pra caralho de estar livre, de estar aqui, de ver geral reunido apesar de a mente ainda girar em volta de toda a merda que aconteceu e dos dias no privado, principalmente, na morte do Frajola. Nem pude ir ao enterro do irmão, mandei um dinheiro pra família e umas coroas de flores, mas queria mesmo é poder estar lá, dar um abraço na mãe dele, nas irmãs. Contudo, "cada coisa tem seu tempo embaixo do céu", dizia alguém da bíblia que eu há muito não leio. Ouvia isso na igreja, raras vezes em que minha avó me forçava a parar quieto no banco. 

— Bora, sobe ai, paizão! Baiano tá te esperando! — Galego grita. Pelo o rosto rúbeo, tá embrazadão já.

— Chefia, faz o que com essas viaturas? — Jiló pergunta, se aproximando.

— Tacar fogo! Quero nem rastro aqui! Essa merda aqui também... — Começo a tirar a roupa de polícia que vesti por cima da minha. — Bora meter gasolina e transformar tudo em cinza! Pergunta pra rapaziada do Baiano onde é o melhor lugar que pode ser feito isso. — Jogo a blusa nos braços dele, e tiro a calça depois. Os outros tiraram as deles também, e jogam nos bancos das viaturas paradas ali.

Isso ai é um flagrante fodido!

Enquanto eles saem na missão, eu, Farinha e os dois que vieram comigo, vamos entrando na mansão de dois andares, que é a casa do Baiano. Os soldados na contenção em frente a casa, abrem o portão e fecharam em seguida, assim que passamos. Após me cumprimentarem, subimos a escada, que fica ao lado da garagem.

A laje tá daquele pique Baiano de ser, o homem liga pra nada. Recebendo foragido e queimando uma carne, tomando uma na tranquilidade. Ele é paz e amor.

Love na Rocinha( DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now