15° Melhor não ( Bloco desgusta ai! )

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Quando o Marreco pergunta o que eu tenho ao meu pai, me desestabilizo.

Mesmo fora de mim, embriagada, uma voz sã, no fundo da minha consciência, avisa que tem algo muito errado comigo. Essa voz me alerta de que esse homem será minha maior ruína ou minha maior glória. Acredito, devido a minha religião, em vidas passadas, encontros de almas. O que ele me causa não é dessa vida. Já conheci muitos homens, gostei de alguns, me apaixonei por outros, mas nada me deixou assim, tão desesperada. Ele foi o único que me deixou desnorteada, a ponto de fazer várias besteiras. 

Enquanto me debato, gritando que quero ir embora, minhas amigas tentam me acalmar, porque meu pai já perdeu a paciência comigo. Não lembro de ele já ter me visto nesse estado de embriaguez. Estou de olhos fechados, mas escuto quando ele diz ao Marreco:

— Fui trocar ideia com uns parceiros e quando voltei ela estava assim. Bebeu pra caralho, tá passando vergonha. Leva ela pra casa, me da essa força, mano. Preciso finalizar essa questão com os amigos e já broto lá. Confio em você pra isso, você sabe. 

Por que meu pai confia tanto nele? POR QUÊ?!

— Não, ele não! — Consigo protestar meio embolado, mas bem alto.

— Para, Yanka! Seu pai tá puto já, cara... — Vejo o rosto da Jéssica embaçado, quando finalmente abro um pouco os olhos.

— Amiga, não teima. Vai com ele, você está muito mal... — O rosto da Vivi também entra em meu campo de visão, em seguida.

Não quero irritar ainda mais meu pai. Ele deve estar muito magoado comigo, pois nem chegou perto de mim mais.

Faço que sim com a cabeça, sentindo a bile subir. Por sorte, sou uma pessoa com grande dificuldade em vomitar, então consigo conter e respiro fundo.

— Água... — rumorejo.

— Vou buscar! — Jéssica diz prontamente.

— Depois quero levar um papo sério contigo, Yanka! — Meu pai grasna de longe, a voz cortante.

— Pai... desculpa! Te amo! Te amo, pai... — guincho, tentando esticar minha mão até ele. Se não fosse pela Vivi me segurando, eu já teria parado no chão.

Meu pai está a uns dois passos de nós, me encarando decepcionado, o semblante ruim. Ao lado dele, o traste, que jamais deveria ter aparecido nessa favela!

Lindo e ordinário!

Jéssica traz uma garrafinha de água e me sentam em um sofá que tem ali no camarote. Após beber tudo e ainda pedir outra, que deixo pela metade, melhoro um pouco. Não muito. Consigo ao menos falar e manter a cabeça parada sobre o pescoço.

Vivi busca umas mini coxinhas na mesa de open food e me entrega. Como estou com fome, como tudo. Ainda chupo um pirulito que meu pai me dá, para aumentar a glicose. Ele sempre tem pirulitos, se amarra em bala. Sim, naquele tipo de bala rosa... na água e tal.

Quando já me sinto estável, a vergonha pelo papelão que fiz me assola. Não por beijar uma mulher, isso é normal para mim, embora não seja para o meu pai. Estou arrasada porque esse vexame foi simplesmente um ato rebelde por ser ignorada pelo Marreco a noite inteira.

Minhas amigas sabem, mas ele também deve suspeitar. Afinal, ele quem me avisou que não é quem penso que seja. Não penso que ele seja nada, porra. Nem o conheço.

" Tô te dando o papo pro teu bem..."

Ele mesmo me avisou do perigo que corro. Quer me poupar de si mesmo.

Ainda sentada, chamo meu pai e aviso que quero ir embora logo, já que não tenho mesmo escolha. Ele vai até o Marreco, os dois conversam, depois ele volta e me avisa que Marreco vai me levar, porque ele precisa terminar de resolver algo com uns caras.

Love na Rocinha( DEGUSTAÇÃO)Tempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang