37° Projétil...

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Aline,

Fazia tempo que não me reunia assim com todos do batalhão. Até a Bia que é uma grande amiga, resolveu aparecer. Ela e eu prestamos concurso juntas e fizemos a prova física juntas.

Enquanto Ramires conversa com De Solza e com Fagundes, fico batendo um papo com a Bia e sabendo das novidades. Como por exemplo, que ela vai se casar no final do ano. Na realidade, eu nem sabia que ela estava namorando; pelo que me contou foi coisa rápida, depois de três meses o cara pediu ela em noivado.

Bom...alguns tem sorte de encontrarem o amor muito mais rápido.

-E você e o Ramires, quando sai o casório? -Ela pergunta, com expectativas elevadas no tom de voz.

Engulo seco. Casório? Eu se quer estava querendo namorar, imagina casar. Na verdade, nunca me imaginei casando, entrando em uma igreja de véu e grinalda. Acho que isso não combina muito comigo. Lógico, que quando eu era mais novinha pensava muito nisso e queria muito me casar com...ele. Mas depois tudo mudou e já não tenho tais ilusões, até porquê já não acredito mais em casamento. Antes eu pensava que casamentos eram eternos, assim como o do meus pais foi, mas acabei me desiludindo com o passar dos anos. Ao entrar pra polícia, me desencantei ainda mais após ver o tanto de feminicidios que acontecem. Percebi que aqueles que juravam amar e respeitar, nunca realmente amavam e respeitavam. Alguns até matavam e esquartejavam; me desiludi completamente. Não sei se hoje em dia eu me casaria.

-Em, amiga? -Ela me desperta dos meus pensamentos, insistindo no assunto.

-Amiga...-Tomo um gole da cerveja, que está esquentando no meu copo. -Estamos nos conhecendo ainda...Não penso nisso agora. 

-Ah, mas não pensa muito se não você nunca vai casar. Tem que pegar e fazer sem pensar, porque se pararmos pra analizar, iih...-Ela ri, fazendo uma careta engraçada.

-Provem essa gordurinha aqui, por favor! -Osvaldo aparece com uma tábua cheia de carne e um pano de prato jogado no ombro. Ver ele sem a farda é estranho, mesmo que eu já tenha visto muitas vezes, mas ver ele assim de chinelo e bermuda, é ainda pior.

A casa dele é confortável; não muito grande mas muito aconhegante e limpinha para um cara solteirão da idade dele que mora sozinho. Por alguma razão, me pego pensando que vou acabar como o Osvaldo. Velha, sozinha e solteirona. Bom, talvez não seja tão ruim...

-Aline! Tá avoada hoje, porra! -Ele balança a tábua na frente do meu rosto, chamando minha atenção. Dou um sorrisinho sem graça, -porque realmente estou no mundo da lua hoje- e pego a carne com a gordurinha que ele tanto falou.

-Humm...-Afirmo com a cabeça. -Que delícia, quero até outro pedaço! -Busco com os olhos outro pedaço que tenha uma gordura generosa, porque amo! Acho um e reviro os olhos quando jogo ele na boca.

-Muito bom, Osvaldo! -Levo a mão para tapar a boca cheia, enquanto falo. Ele fica todo cheio de si. Osvaldo ama bancar o cozinheiro e adora ser reconhecido por isso. Sempre quando  a gente vem na casa dele, é assim: ele fazendo comida a doidado para nós.

-Essa tá top mesmo...-Ele se auto elogia, pegando um pedaço da picanha e jogando na boca.

Bia pega uma asinha de frango, antes de ele sair em direção aos rapazes com a tábua. Continuamos sentadas na mesa conversando sobre as fofocas do batalhão, como por exemplo, que a mulher do Oliveira descobriu que ele estava saindo com a melhor amiga dela. Não tem raça pior no mundo do que a tal da raça do polícial Civil, para trair. Sempre jurei a mim mesma que jamais me envolveria com um deles e cá estou, supostamente namorando com o Ramires. Uma voz irritante grita na minha cabeça que quem traiu ele com poucas horas de compromisso fui eu. Ignoro meus ataques de consciência pesada e tento prestar atenção na minha conversa com a Bia.

Love na Rocinha( DEGUSTAÇÃO)Kde žijí příběhy. Začni objevovat