8° O mal que me domina...

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Marreco,

Sigo a mina. Entramos numa porta que tem ali, na laje, e descemos as escadas até o segundo andar, onde saímos em uma sala gigante. Pega a visão, bagulho da quase um campo de futebol.

- Vou buscar umas roupas do meu pai para você. Pode tomar banho no seu quarto mesmo, lá tem um banheiro top. - ela diz, caminhando até outra das muitas portas. Quando abre, vejo antes de ela fechar que se trata de um corredor, em que ela desaparece.

Observo a sala; duas das paredes são de vidro, uns lustres diferenciados, papo de uns dez mil só nessa brincadeira.

O piso é tipo um porcelanato claro, mas não é branco, está mais para um creme e parece mais granizo do que porcelanato. Tem um sofá cinza, que cabe papo de uns quinze vagabundos; umas cortinas beges, picas, e uma tv bolada, bitelona, na parede.

Lembro da minha casa. Pô... mó saudade das minhas paradas. Sempre gostei de ter o melhor, de viver da melhor forma, e agora tô de favor. A vida tira nós de comédia, sem neurose.

Hoje Baiano faz por mim, o que fiz um dia pelo Donga quando ele estava passando os perrencos dele. O que diverge, é que ele tinha a Elô do lado, né?! Tinha o amor da vida dele pra dar uma aliviada, pra subir e descer junto.

Quando nego é sozinho, o bagulho é trevas. Não tem uma pessoa contigo pra te dar um papo mais pra frente, te passar umas ideias de avanço. Nessa, tu vai se perdendo no bolo que vira tua mente. Se tinha algo de bom, os reflexos consomem aos poucos, vai evaporando pique água quando tá no sol.

Tô desse modo; só vem o pior na mente, querendo várias cabeças, maquinando várias vinganças, na meta de matar, de fazer e acontecer. Durmo na neurose e acordo no ódio.

Parece que voltei no tempo, que sou aquele menorzin revoltado de novo, o mesmo que entrou de cabeça na vida bandida depois que o pai da Aline sumiu com ela.

Yanka tá de volta, umas par de roupas dobradas uma em cima da outra nos braços.

- Opa, levo pra tu. - Me apresso em dar uma de cavalheiro. A pilha de roupa é maior que ela, sacanagem deixar ela carregar.

- Obrigada. - Ela sorri agradecida. - Vem, vou te levar ao quarto.

Enquanto ela me conduz, me ocorre que em outro momento, numa bem melhor, a beleza dela não passaria despercebida. Nessa minha fase, no entanto, meu foco é total em recuperar o que me tomaram, refazer meu castelo, decidir qual atitude tomar em relação a Aline. Tô com cabeça pra mais nada, muito menos mulher.

O quarto é maneiro, grande, claro, confortável. Móveis brancos, cama de casal, ar condicionado. Yanka abre o guarda-roupas, tira as peças da minha mão e arruma lá dentro. Pendura o que é de pendurar, empilha o que é de empilhar.

- Precisa de ajuda? - pergunto, deslocado em ficar parado só olhando.

- Nada, é rapidinho aqui... O banheiro é ali! - Aponta a porta fechada, de frente a cama. - Se sentir fome a cozinha é no primeiro andar, pode comer o que quiser. - terminando, fecha a porta e joga as mãos nos quadris, inspecionando o cômodo. - Enfim! Qualquer coisa é só me chamar. Durmo no quarto que fica naquele corredor em que entrei. - solta os braços, batendo uma palma e mantendo as mãos naquela posição. - Acho que é isso!

- Demoro, me resolvo aqui, tá suave. - Coço a nuca, sem jeito.

Sem querer, me surpreendo encarando ela intensamente, estreitando meus olhos, do meu jeito de ser mesmo, que as vezes pode ser meio estranho e até assustar quem não é acostumado, mas que é natural para mim. Quando vejo, tô fazendo já, e ai... porra. Viajando pra caralho.

Love na Rocinha( DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now