13° Um fora (degustação)

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Yanka,

Não demoro para encontrar meu bonde no meio da pequena multidão do camarote. As duas estão encostadas na parede, mais no canto. E não sei porque ainda não estão dançando.

Ave, meu pai lota isso aqui. Não tem senso!

Aviso a ele que estou indo até as minhas amigas. Ele me beija no rosto e acompanha o Marreco até as bebidas. A loira oxigenada permanece com a cara de bunda de sempre. Nunca está contente com nada essa vaca!

Por que meu pai ainda trepa com essa vadia?!

Urrr!

Peço licencinha as pessoas até chegar as meninas. Os seguranças permanecem o tempo todo me acompanhando. Ficam sempre um pouco afastados, pois já avisei que não quero ninguém em cima de mim feito urubus.

— Não sei o motivo de vocês ainda estarem sóbrias. — digo as duas.

— E a ressaca de ontem que não me deixa viver? Você perdeu, por falar nisso! Ontem bombou, né não, Vivi? — Jéssica nem parece a amiga que conheço, está com a maior feição de desânimo. A ressaca realmente acabou com ela.

Também fico assim quando bebo whisky barato. Por isso só gosto do meu Royal, que me deixa plena no dia seguinte.

— Realmente! Beijei um gatinho de Copacabana, Yanka, tu não vai acreditar! — Vivi desbloqueia a tela do celular, fazendo caras e bocas. Procura, e quando encontra a foto do sujeito, vira a tela para mim. O rapaz é muito nosso estilo: boyzinho e com rosto de galã. Mas esse pensamento me faz lembrar do quão fiquei balançada ao ver o Marreco hoje... Ele está tão gatoooo!

Os cordões caíram perfeitamente nele!

Sorrio fraco para a Vivi só para não dizer que não me importei, o que no caso é a mais pura verdade. Estou preocupada de mais com esses pensamentos que ando tendo para conseguir me concentrar em qualquer outra coisa.

— Credo, você nem ligou... — Ela me olha magoada ao perceber. — Ele é gato, pergunta para a Jéssica. É que essa foto não favoreceu, mas pessoalmente ele é melhor. — justifica.

Tenho vontade de dizer que não é por isso, que o motivo do meu desinteresse é porque não paro de pensar no sujeito que meu pai levou para dentro de casa. Mas sinto vergonha de admitir isso para elas. O motivo? Elas vão me julgar!

— Ele é gato sim, amiga, mas estou meio agitada porque... porque quero beber! — Invento. — Não é que não liguei... Não pira! — olho com carinho para ela.

— Aaaaaaaah! — Jéssica ruge, jogando a cabeça para trás. — Quero ver até quando vou aguentar essa vida! Bora buscar mais álcool! —  com expressão entediada, abana a mão em direção a mesa de bebidas.

Seguimos atrás dela, e após estar com meu copão de 700ml de Royal, gelo de coco e energético, acendo meu cigarrinho e decidimos ir para perto do meu pai. Na verdade, eu quem chamei, mas lógico que não disse que queria ficar próximo ao Marreco. Só sugeri e elas não perguntaram nada, apesar de isso não ser comum. Raramente fico perto do meu pai nas festas, porque ele sempre está com alguma piranha e não tenho paciência.

Essa loira está há alguns dias no posto de primeira dama, e com certeza já está se achando a premiada, acreditando ter fisgado meu pai. Mal sabe ela que meu pai é pior que todos os bandidos dessa favela juntos, no quesito safadeza. Foi exatamente por isso que perdeu minha mãe e até hoje chora atrás dela. Obviamente, ela não quer!

Vive uma vida de rainha na Europa. Linda, jovem — me teve aos 16 — negra, imponderada e namorada de um ator. Vai querer o que com meu pai? Se bem que pelas conversas e pelo jeito que ela sempre reage quando falo dele, sei que ainda tem sentimentos pelo Baianinho, seu primeiro amor. Mas meu pai traiu a mulher errada. Sem chance de reconciliação!

Love na Rocinha( DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now