☆26° Vacilo...

139 5 2
                                    

Aline,

Tadinha da Nátalia, esta super assustada. Também pudera, deve ter passado um susto e tanto sendo sequestrada, mantida presa e sem saber ao certo o que iria acontecer com ela. Devem ter passado mil e uma coisas na cabeça dela; mas agora vou levar ela pra casa e ela vai ficar bem. Pelo menos, assim espero.

Estamos em duas motos, na garupa de dois homens que não teem as caras nada boas. Natália fica me olhando de tempo em tempo, -acho que buscando algum conforto, alguma segurança- enquanto viramos em vários becos e vielas, que conheço bem, por sinal. Carrego muitas lembranças desse morro, das amigas que nem sei se ainda moram aqui, dos momentos em que vivi nesses becos. Quem diria que eu me tornaria uma policial e que hoje estaria reencontrando meu grande amor, depois de tantos anos, justo aqui,  justo no mesmo lugar onde demos início a essa história. 

Aline Frasão, a crente, a garota de saias e vestidos compridos, que hoje se tornou uma mulher totalmente diferente. Tudo por causa dele...

Foi tão difícil encarar aquele olhar cortante dele enquanto a moto arrancava; fui obrigada a desviar rapidamente. Ele me desestabiliza completamente. Acho que é o único capaz de fazer isso.

Agora que estou longe dele, e de sua energia que me suga, que me intorpece, consigo pensar na merda que fiz. Como assim transei com ele naquela laje, na casa do Baiano, feito uma adolescente louca e inrresponsavél? Mas parece que é exatamente isso que me torno na presença dele: Uma inrresponsavél! 

Ele tem o poder de, sem qualquer dificuldade, trazer de volta aquela Aline, que com muito esforço escondi em um buraco no fundo do meu coração a sete chaves. A simples presença dele evoca essa adolescente inconsequente e frágil; me sinto com quatorze anos novamente, me desmonto inteira. A parede que construí por todos esses anos em volta do meu coração, desmorona tijolinho por tijolinho; e me sinto exposta, fraca, dominada. Como ele consegue? Como pode ter esse poder sobre mim?

Do nada, sou disperta dos meus pensamentos com uma rajada forte de fogos, que fazem os dois caras que dirigem as motos se entre olharem com os sembantes preocupados. Olho para a Natália e vejo o pavor e o medo em seus olhos. Murmuro, dizendo pra ela ficar calma, mas a verdade é que até eu estou nervosa. Pelo que sei, esses são os fogos dos olheiros, normalmente avisando que a polícia está subindo. Mas não, o Ramires não seria tão idiota de fazer uma merda dessas, logo agora que estavamos quase na saída do morro, ou seria? Puta que pariu!

-O que foi? - Pergunto para o que dirige  a moto em que estou. Apesar de saber a resposta, preciso da confirmação. Ele me ignora e para a moto com uma freiada brusca, fazendo com que eu escorregue no banco, batendo meus seios nas costas dele. 

-Bora voltar Farinha, são os fogueteiros, os vermes tão subindo! -É ele terminar de falar, que os tiros começam.

Porra... Ramires! Caralho!

Que ódio, ele está estragando tudo! Poderia ter paciência e esperar, mas não, gosta de agir no impulso! Com certeza encheu a cabeça do Osvaldo para subirem logo. Estamos com o apoio da Federal, tem muitos homens, mas pelo que observei, Baiano também tem muitos soldados. Ramires, Ramires... que raiva da sua cara, filho da mãe! Osvaldo também vai me ouvir.

-Aline...-Natália chama baixinho, com voz de medo.

-Calma, Natália, vai ficar tudo bem, fica tranquila. -Estendo a mão tentando acalmar ela, que segura na camisa do piloto com toda força.

-Eu posso resolver isso, deixa eu ligar pro meu amigo e pedir para recuarem. -Ofereço, torcendo para conseguir reverter essa merda que o Ramires está fazendo.

Os dois se olham, buscando a opinião um do outro, mas na mesma hora o radinho do que está pilotando a moto em que estou, chama.

-Ae, ae, ae...Moiô, os cú azul tão subindo, pô! Tão entrando pela 2, rapaziada! -Uma voz chiada fala, e logo em seguida vem a resposta do Baiano.

Love na Rocinha( DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora