31° Always Together...

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Marreco,

Eu já tinha dado o papo no Baiano que iria dormir no quarto dele pras minas dormirem no meu, já que ele iria pra casa da Suellen.

Pela manhã, nem quis ir acompanhar os bagulhos, pra não ter que ver ela outra vez. Papo de visão, a mina mexe com tudo em mim. Ontem, quando ela começou a bozinar na minha orelha aquela balela, quase cai em tentação de novo. Pra falar a real, eu gostaria que o ódio que sinto, fosse tão forte a ponto de me fazer sentir nojo dela, mas não é mermão. Não é! Minha vontade era rasgar aquela roupa molhada dela toda e foder ela até essa parada que tô sentindo passar. Mas se caio outra vez nessa, nem sei se consigo sair, papo reto.

Que doença dos infernos é essa, meu mano, que eu tenho por essa filha da puta? Só de chegar perto da mina, fico louco, fico doido pra agarrar ela. Essa porra não passa por nada! A mina ferrou com a minha vida e eu fico igual um otário quando tô perto dela.

Vi como ela ficou magoada, é dificil ver a Aline chorando, mas é isso ae...É melhor assim. E é melhor ela achar que tô com a Yanka, que dai não tem mais volta. Deixei ela pensar isso, que se foda. A Yanka também é foda, ficou chorando pra caralho quando trouxe ela pro quarto. Tive que ligar pra amiga dela vim dar banho nela, porque eu não ia ver a mina pelada, mó patifaria da minha parte fazer uma parada dessas. Também não podia deixar ela dormir molhada, e ela mal parava em pé, tinha nem condições de tomar banho sozinha. Sorte, que o Adriano tinha o número da Jéssica, e ela veio rápido. Mandei o Bico buscar ela, e ela dormiu ai, no quarto da Yanka.

Baiano passou um rádio, perguntando cadê eu, avisando que as minas já estavam entregues. Ele resolveu tudo e falou que os gambé já ralou peito. Ainda bem que o estrago não foi maior. Só pica...

Preciso tomar um banho, trocar essa roupa e ir fazer os corres. Já são onze da manhã e eu tô desde as cinco acordado. Dormi nada essa noite, só pensando em várias fita. Pensando nela...

Tenho que tirar essa porra dessa mina da cabeça, caralho! Sou sujeito homem, vou me deixar dominar dessa forma? O foda, é que parece que ela sabe exatamente o que falar, pegou a visão? Ela fala os bagulhos que vão lá no fundo da minha mente e me fodem legal. É foda...

Vou levantar e meter o pé, que tô cheio de b.o pra resolver ainda hoje. Semana que vem vamô cair pra dentro daquela favela e tem duas opções pra mim: Ou eu retomo meu morro, ou saio de lá morto. Se eu morrer lá, tá maneiro. Aquela favela é minha casa, é onde eu me criei e fiz meu nome. Vou dar meu sangue por ela.

Ajeito a cama, pego meus bagulhos: arma, celular, chave do carro bicho que descolei e carteira. Nem sei se a Yanka acordou, a porta do quarto dela tá fechada, mas nem quero trombar ela agora também, tô boladão e sem paciência.

Abro a porta do quarto onde eu fico e jogo os tudo em cima da cama. Quando me viro pra ir até o guarda- roupas, pegar uma roupa limpa, vejo uma parada e paralizo.

Me aproximo do espelho e sem controlar minha raiva, bato a mão na madeira da porta ao lado, com toda a força, quase quebrando.

-Filha da puta! -Xingo, cheio de ódio.

No espelho, escrito de batom bege, em uma letra cursiva que eu conheço bem, a frase: "Always Together". É uma frase que a Aline sempre escrevia nas cartas pra mim, toda foto que ela me dava tinha essa porra escrita atrás, eu reconheceria esse caralho dessa letra em qualquer lugar, significa "sempre juntos" . Ela quer fuder comigo, só pode!

INÍCIO DA LEMBRANÇA:

-Amor, pelo amor de Deus Hudinho...A Dani me contou e eu vim correndo. Fiquei com tanto medo...-Aline entra desesperada na salinha em que estou, aqui do postinho da favela; e me agarra, afobada, chorando.

-Foi de raspão, pô! Tá maluco, pega nada! -Brinco, achando graça, e ela seca as lágrimas.

-Para com isso, é sério, você poderia ter....-Ela me abraça de novo e me aperta forte. -Morrido! -Completa abafado no meu pescoço.

Tava numa correria louca, um tiozão vendendo droga no bar dele, onde é territorio dos amigos. Fomos cobrar, e o doidão tava armado, meteu pipoco na tropa e um tiro acertou meu braço de raspão. A menorzada revidou e o maluco se fodeu, morreu com três rajadão da cara. Vai peitar tem que ter disposição no bagulho, porra! Aqui é só menor revoltado, deu mancada fica de exemplo. Reagir é pior, os crias não brincam em serviço. Comédia brabo, foi vender droga pro capeta.

-Mané, morrer, ideia torta...Tô zero, tinindo! Faltou só aquele beijo pra ficar melhor, hein...-Ela sorri e tiro o cabelo dela de seu rosto com uma das mãos.

Ela segura meu rosto e me beija, quando desgruda, olha pro sangue no meu braço e vai até uma bandeja com uns bagulhos que a enfermeira deixou sobre uma mesinha -Ela disse que só ia ali e voltava pra costurar meu braço, mas até agora não voltou.-Pega uma parada tipo um bisturi e se aproxima de mim.

-Coé, tá doidona? Que porra é essa? -Ela faz um corte superficial no dedo, antes de eu tomar o bagulho da mão dela.

-Sabe o que significa " Always Together"? -Ela segura meu dedo e leva no sangue do meu corte. Fico sem entender nada.

-Falo nem português direito, pô...-Ela ri e junta meu dedo com o dela, unindo nossos sangues. Em seguida olha nos meus olhos e diz:

-Significa juntos para sempre! Se você morrer, eu morro, Hudinho. -E beija minha mão. Eu acho estranho no começo, mas na moral, nós dois nunca fomos normal. O amor que a gente sente um pelo outro, é bagulho doído e nunca ninguém vai entender.

FIM DA LEMBRANÇA.

Cheguei a tatuar essa porra no peito uma vez, ela ficou feliz pra caralho quando mostrei a tatuagem, mas depois que ela sumiu eu cobri com outra por cima; não queria ficar vendo. O que ela quer de mim, porra? Quer me torturar? Ela sabia que isso ia mexer comigo.

Tiro a camisa e apago a escrita, puto, cheio de ódio, querendo matar um. Ela não vai entrar na minha mente, vagabunda do caralho!

Jogo a camisa em cima da cama e sigo pro banheiro. Abro a porta do armarinho pra pegar a miquininha de barbear e vejo o batom que ela provavelmente usou pra escrever. Deve ser da Yanka essa porra. Tomar nu cú! Bato a porta do armário e sigo pro chuveiro. Ligo a água bem gelada pra aliviar a mente que tá pegando fogo.

Na moral, ficar toda hora lembrando dos bagulho do passado tá me dando uma neura estranha, tô entrando numa brisa sinistra, sem caô. Ela sabe como me quebrar...

Deixo a água gelada cair na cabeça e tento me acalmar. Termino o banho, boto uma roupa, passo um perfume, pego minhas paradas e saio do quarto.

Quando passo pela cozinha, Yanka e a amiga estão sentadas na mesa, tomando café. Bagulho já tá quase na hora do almoço e as mina tomando café, vai entender...

Me aproximo e a Yanka me olha sem graça.

-E ae? Suave? -Pergunto.

-Tirando a vergonha, o resto está pior um pouco...- Ela leva a mão na fonte e faz uma careta de dor.

-A Jéssica me contou que tu me ajudou, ligou pra ela...valeu! -Ela força um sorriso constrangido.

-De boa...agora tô na correria, mas depois queria levar um papo contigo, valeu? -Falo.

-Tá...-Ela toma um gole do suco de laranja que está segurando, e eu me adianto.

Vou dar o papo reto na Yanka e saber de qual foi da situação de ontem, porque tô ligando que tá pegando alguma coisa e quero deixar tudo exclarecido, não tô afim de aborrecimento pro meu lado.

Dou salve da rapiziadinha que tá na atividade, entro no carro e enquanto toco pro escritório, fico pensando se não seria uma boa dar uma moral pra Yanka também. Tô ligado que o Baiano não vai se opor, ele já deu umas indiretas, o cara confia em mim, me tem como filho. Sei lá...é foda. Também não quero usar a mina, saca? Mas se pá, pode rolar uma parada massa, ela é gente boa, a gente se entende legal... Por que não?

Love na Rocinha( DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now