14° Colapso!

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— Que foi, Yanka? — Vivi questiona abrindo as mãos, um semblante confuso.

Poucas vezes ela me viu assim, frustrada em alguma festa. Normalmente sou mais da turma do deboche. Quando fico puta com alguma piranha, primeiro debocho, se não resolver, só então caio para a porrada. Mas ficar assim, aflita e incomodada? Não, isso nunca. Até porque sempre tenho o homem que quero.

— Estou com vergonha de falar... — Escondo meu rosto atrás do copo, murmurando tão baixinho que ela nem escuta direito.

— Ãn?! — faz careta, batendo o dedo no ouvido para dizer que não entendeu.

— Podemos ir ao banheiro? — pergunto alto e claro dessa vez.

— Tá... vou chamar a bailarina do Faustão... — indica ironicamente a direção em que a Jéssica está, se acabando de rebolar com a Suellen.

E essa amizade dela com a lombriga loira? Vamos ter um papo sério...

Vivi puxa a Jéssica e, enquanto caminhamos, ela parece explicar que vamos ao banheiro. Jéssica está altinha já. E só estamos no primeiro copo.

Confisco a bebida dela. Ela bebe muito forte e fica bêbada muito rápido, com isso sobra para quem cuidar dela? Eu!
Porque Vivi sempre some com algum macho.

Enquanto descemos a rampa que leva aos banheiros, Jéssica resmunga por eu atirar seu copo por sobre o corrimão.

Vivi explica a ela que é o melhor, que está rolando algo sério em que elas precisam me ajudar.

Assim que entramos as três no banheiro grande, com várias cabines, lá estão as duas putinhas mirins — que estavam olhando para o Marreco mais cedo —, retocando as carinhas de sonsas no espelho.

Ativo meu modo debochada/filha do dono e subo as sobrancelhas, me enfiando no meio delas. As duas se afastam, cada uma para um lado, e eu, com a expressão muito cínica, finjo limpar o batom borrado.

Elas parecem assustadas, trocando olhares pelo reflexo, tentando entender o motivo de eu estar fazendo isso. Ou, simplesmente, com medo por eu ser quem sou. Elas com certeza sabem.

— Sugiro a vocês que saiam do camarote... É só uma sugestão. — exibo um sorriso falso e, num giro, me viro, me voltando para as minhas amigas, que observavam minha atitude caladas e perplexas, feito duas pedras.

— Por quê? — Uma delas pergunta. A morena de franja. Parece até meio japonesa...

Não posso dizer que estou com um ciúme ridículo de um homem que nem é nada meu e que nem me quer, mas o jeitinho de piranha delas, secando e jogando para ele, me irritou muito. E apesar de estar sendo uma escrota, sinto que preciso descontar minha frustração em alguém. Que seja nelas!

Olho para a ninfetinha safada.

— Porque não gostei de vocês, colega! Agora vai... rala. daqui! — abano a mão, as tocando.

Sem dizer mais nada, elas saem humilhadas.

Ao contrário do que pensei que isso iria me proporcionar — no caso, satisfação — me sinto um pouco culpada.

Encaro o espelho, tentando evitar o contato com as duas acusadoras paradas atrás de mim, prontas para me descascar.

Jéssica, pelo visto, já melhorou. Ela vai até a porta, tranca e volta, abismada e brava. Tudo junto. As duas. Duas feras abismadas me encarando.

— O que você pensa que está fazendo? — Jéssica cruza petulantemente os braços.

Fico calada, fingindo ajeitar a pontinha dos cílios postiços. 

Love na Rocinha( DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now