18° Falei de mais...

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Aline,

Ajeito um colchão no chão, ligo a tv na netflix e pego uma cerveja na geladeira.

Preferir estar em casa numa quinta, vendo filme, comendo e com a minha velha calça de moletom horrorosa, é um mau sinal. Sou uma mulher da noite, baladeira. Cair na farra em uma quinta-feira não costumava ser um problema para mim. Ramires não deve ter engolido essa desculpa. É mais inteligente que isso, me conhece muito bem. É fofo que não queira me pressionar e evite questionar meus motivos.

Sinceramente, hoje estou com zero pique para socializar.

A campainha toca e me levanto num pulo do colchão. Minhas pernas doem e me lembro que já não estou mais tão em forma assim. O movimento de impulso causa uma leve fisgada em meu osso destruído e reconstituído por pinos. Fui considerada sortuda pelos médicos por ainda ter uma perna inteira.

Quando abro a porta, me surpreendo com o perfume que invade meu nariz. É sacanagem, né?! Ramires não pode estar usando o mesmo perfume que o Marreco usa! Não pode ser!

One Million... é! É o mesmo! Puta que pareeeeu!

— Que foi? — ele alisa o cabelo com gel para trás, sorrindo desconcertado. Obviamente, porque estou igual idiota, o encarando sem nem respirar. 

Esse perfume...

Mostro um sorriso tenso e me afasto para ele entrar. Ele para junto de mim e segura minha cintura com um só braço, me apertando contra ele para me beijar. Em seguida, me solta e fecho a porta, dando uma golada na cerveja, para ver se me ajuda a lidar com esse perfume tão... forte. Ele tomou banho de perfume? Não é seu cheiro habitual. Só pode ser perseguição do universo!

— Só lembrei que não tenho nada de bom para comer aqui em casa. Mas tem cerveja! — Tento soar convincente na respota tardia. Ergo a cerveja, uma expressão de " tcharam!". 

— Errado! Tem você, então não precisa de mais nada. — me escaneia da cabeça aos pés, um olhar mal-intencionado. — E cerveja está de bom tamanho. Podemos pedir comida. — ele está usando bermuda. 

É a primeira vez que aparece de bermuda também. Hoje é o dia das primeiras vezes.

É lisa, casual, preta, de moletom. Nos pés ele calçou um chinelo daqueles que tem somente uma tira grossa na horizontal, da Puma; e uma regata branca, que deixa seus braços musculosos à mostra. Ramires tem um físico legal… nada de se jogar fora.

— Vamos pedir o quê? — Pergunto, indo até à geladeira para pegar a cerveja dele, mas também para fugir de seu olhar atrevido. Estou com uma calça de moletom e uma camiseta branca que fica enorme em mim e que não é nada sexy.

Até gosto de transar com Ramires, mas não estou a fim hoje. Muito menos com ele usando esse maldito perfume. Então a escolha da minha roupa foi proposital, embora ele costume me achar bonita dentro de qualquer trapo velho. Sou uma mulher com a perna destruída, não me considero mais tão atraente. Porém, Ramires tem um jeito especial de fazer com que eu me sinta a manca mais maravilhosa do mundo. Será que o Hudinho, aliás, Marreco, ainda me consideraria bonita após moer minha canela e causar uma cicatriz de quase um palmo de largura?

Desajeitada, tiro o abridor da primeira gavetinha e destampo a long neck. Por cima do balcão de mármore, entrego a ele, tomando o cuidado de não deixar meu rosto revelar o medo que estou sentindo de o Marreco me achar... feia. Claro, isso se ele tiver tempo de reparar em algo antes de me meter um tiro na testa, caso me encontre um dia. 

— Japonês? — sugere o Ramires.

— Não, de novo não. Que tal um belo hambúrguer? Faz tempo que não comemos. Fiquei sabendo de uma hamburgueria que abriu aqui perto... hummm, parece ser ótima! Vi no insta, esses dias... — tiro meu celular da cintura. Tenho mania de botar ele entre o cós e minha pele. Como guardaria uma arma. Saudade de usar uma arma no coldre...

Love na Rocinha( DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now