2° Nunca vou perdoar... (Degustação)

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Marreco,
(Rio de Janeiro, 10 meses após a invasão na Rocinha. )

Enquanto estou dentro desse camburão, de uma Blazer da Polícia Federal, junto de mais dois malucos, olhando pela fresta da grade para as árvores que passam lá fora, me lembro do passado, de quando tirei a virgindade da Aline. Aquela época em que eu era só um moleque magricela, despreparado pra vida, sonhador, que queria conquistar o mundo. E acabei conquistando o meu mundo, minha Rocinha!

Ninguém vai tomar minha favela de mim! Não sou homem de deixar ninguém me destruir dessa forma! Nem ela... Nem a única mulher que amei igual um filho da puta!

A sensação de reencontrar a Aline após tantos anos de reflexos e sofrimento, ao mesmo tempo que é impressionante, é também triste. Independente de ela ter me salvado — assim como a salvei —, ela me traiu. E traição pra bandido, meu parceiro, é resumo, não tem papo!

Quinze anos amando essa mulher, quinze anos nutrindo esse passado no coração, procurando igual louco, pra depois descobrir que ela estava no meu morro, disfarçada, me palmeando, planejando contra mim, planejando me seduzir para descobrir meus bagulhos. É muita marola com a minha cara, papo reto!

Mais de doze meses que tô privado, me entreguei para dar uma chance de ela viver. Não poderia deixar ela morrer na minha mão, não depois do que a gente viveu juntos, numa época distante, que parece quase um sonho bom daqueles que tu nunca esquece, mas que sabe não ser real. 

Pelo menos valeu de alguma coisa o que eu fiz, ela não morreu. Fiquei sabendo que tá viva, que tá bem. Na verdade, recebi informações sobre tudo da vida dela durante esse tempo.

Mesmo mofando naquele inferno, continuei nos meus corres, mantendo a conexão com a minha tropa, através de um celular que comprei por uma fortuna la dentro. A diferença é que eles não estão na Rocinha, a maioria recebeu abrigo no PPG. Meu de raça, meu parceiro Baiano, deu uma atenção pros soldados que fugiram.

Tudo meio travado, meio enrolado, mas a Rocinha vai se tornar Ratanaba, cidade perdida do ouro, achada novamente!

É longa, mas de forma alguma é perpétua!

Minha história, meu caminho, eu quem traço.

Num dia nós chora, no outro tamô comemorando a vitória de novo! Tudo que sobe, um dia tem que descer. Tô seguindo nesse pique, ritmado. Desistir nunca!

Consegui essa transferência de Bangu para Presidente Venceslau a base de muito suborno. Minha salvação!

Presídio em São Paulo, foi suado a beça pro jurídico convencer o Juiz.

Dizem ser impossível fugir de segurança máxima. Só até alguém ir lá e fazer. Impossível é só uma palavra que invetaram pra consolar o fracassado. Eu tô sem leme, pronto pro conflito, nasci pra perder não.

Ou eu ganho, ou eu ganho!

Meu julgamento ainda não rolou, mas o advogado já deu o papo: no mínimo do mínimo 28 anos, podendo sair em condicional com nove. Vou esperar isso tudo? Porra nenhuma!

Tem um esquema maneiro armado, minha fuga vai ser hoje. Lili ta na porta!

Quero ver sistema me segurar, pô! Maior bandido desse Estado, cheio de dinheiro, inteligência. Novo Pablo Escobar seria muita presunção... mas tamô nessa meta! Couro vai comer!

— Aê, tá quase chegando, atividade! — Aviso aos dois amigos sentados na minha frente.

Os nomes deles: Carioca e Digão.
Consegui descobrir que eles seriam transferidos comigo nessa mesma data, fechei legal com eles. Os dois tem habilidades que vou precisar, vão de fuga comigo.

Love na Rocinha( DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora