Capítulo 64: Poção de cura.

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—Harry? —James tocou o rosto dele, checando a pulsação na garganta, enquanto o rosto estava contorcido em choque. Ele me afastou, puxando a camisa dele logo em seguida. —Não foi no coração.

—Está perdendo muito sangue. —Afirmei, tentando pressionar o ferimento um pouco a cima do coração. Mais um pouco para baixo e ele morreria na hora. Morreria sobre mim. Aquele pensamento fez meu estômago de revirar, enquanto meu coração se apertava ainda mais.

—Você não pode fazer uma poção de cura? —James indagou, segurando meus ombros e me balançando, enquanto eu continuava implorando para que ele acordasse. —Sophia, respire! Respire e não perca o foco! Ele não está morto. —Ele segurou meu rosto, enquanto eu soluçava sem parar, me obrigando a encara-lo. —Respire, está bem? Você é uma bruxa. Você pode salvá-lo. Harry precisa de você, Sophia. Respire... apenas respire e pense!

—Eu... não posso fazer uma poção de cura aqui. —Olhei ao redor, vendo toda a floresta ao meu redor. —Preciso de um caldeirão e ervas... não consigo... —Minha garganta se fechou e eu fechei meus olhos com força, querendo gritar, enquanto a falta de ar se tornava insuportável. —Não consigo respirar... não consigo respirar. Não posso salvá-lo... não consigo...

—Você consegue, sim! —James me puxou para longe de Harry, segurando meu rosto com mais força do que antes. —Respire, Sophia. Estou aqui com você. Apenas respire. Vai ficar tudo bem. Respire! —Continuei de olhos fechados. Sentindo meu coração martelar no peito, enquanto o sangue corria com tanta força pelo meu corpo que eu quase podia senti-lo em cada parte de mim. —Katie me disse que você estava aprendendo algumas coisas com o Noah. Você passou um tempo com ele fazendo poções e lendo livros de bruxaria, não foi?

—Si... sim... sim. —Gaguejei, abrindo os olhos para encontrar os dele. Tão parecidos com os de Katie. Tão parecidos que eu poderia jurar que era ela na minha frente e não seu irmão.

—Então você sabe o que fazer, Sophia! Você praticou, estudou e sabe o que fazer! E mesmo que não tivesse gastando várias horas aprendendo com Noah, você também saberia! —Exclamou, soltando meu rosto para segurar meus ombros. —Ninguém ensinou ao Noah como criar uma poção. Ele aprendeu sozinho, Sophia. Porque isso está no sangue dele. Você é uma bruxa. Você sabe o que fazer porque isso está no seu sangue também! —Ele balançou meus ombros, com seu tom de voz repleto de um encorajamento gentil. —Harry precisa de você. Pense, Sophia. Isso está no seu sangue. Você sabe o que fazer. Harry precisa de você!

—Harry precisa de mim... —Repeti isso várias vezes, enquanto fitava os olhos de James e o via balançar a cabeça, concordando com minhas palavras. —Harry precisa de mim...

Olhei na direção do corpo de Harry, puxando o ar com força. Então agarrei a saia do vestido, manchada de sangue, e disparei pela floresta. Olhando, procurando, tentando me lembrar de todas as coisas que Noah me disse e todas as coisas que eu li.

—Harry precisa de mim. —Repeti, escorregando no chão antes de agarrar algumas plantas pelo caminho, apertando entre meus dedos para não perder nada. —Pense, Sophia. Pense e respire. —Murmurei, parando de correr para olhar toda a floresta ao meu redor.

Meus sentidos pareciam aguçados, como se eu pudesse sentir tudo ao meu redor. Podia jurar que a floresta estava tentando falar comigo, enquanto as palavras de todos aqueles livros de bruxaria que li, pareciam estar flutuando na minha mente, me dizendo o que fazer.

—Eu sei o que fazer... —Voltei a correr, arrancando ervas, folhas e flores a medida que corria pela floresta, ouvindo o som do meu coração batendo acelerado. —Vamos, Sophia. Harry precisa de você!

Parei de correr quando avistei as fadinhas. Elas estavam voando no lado oposto da floresta, gesticulando com a mão para que eu as seguisse. Abri um sorriso em meio as lágrimas e disparei na direção delas, apertando todas as coisas que havia pego pela floresta contra meu peito. Parei no caminho, arrancando a raiz de uma flor que eu havia visto nas coisas de Noah. Então voltei a seguir as fadinhas.

Parei quando cheguei as pedras de um riacho. A água clara corria sem parar por elas,  enquanto as fadinhas estavam do outro lado, voando acima de uma parte lamacenta onde algumas floresta nasciam apesar da terra pouco saudável. Atravessei o riacho, pisando na lama. Me abaixei e encarei as flores.

—Tulipas negras... —Eu teria gritado e pulado de alegria se eu pudesse. —Obrigada... obrigada.. —Repeti as fadinhas, enquanto agarrava todas as tulipas que conseguia e então corria de volta para onde Harry estava. Eu provavelmente teria me perdido se as fadinhas não tivessem me mostrado o caminho, parecendo tão desesperadas quanto eu. —Vai dar tempo! Vai dar tempo!

Encontrei James e três guardas feridos ao lado de Harry. Ele ainda estava pálido. Mais pálido do que estava antes. A camisa de James estava pressionado o peito dele, manchada de sangue. Olhei pra eles e depois pra direção que ficava o riacho.

—Podem carregá-lo? —Indaguei, vendo os guardas me encararem como se eu fosse louca. —Eu sei o que fazer. Por favor... tragam ele.

James deu ordens a eles, que mesmo parecendo céticos obedeceram. Corri de volta para o riacho, sabendo que as fadinhas mostrariam o caminho a eles. Então me abaixei na beirada da água, procurando a pedra mais chata possível. Agarrei uma e levei até a grama, começando a puxar as folhas, ervas e tudo que havia pegado pela floresta e esmagar contra a pedra, usando outra menor para ajudar.

Olhei para frente, vendo James e os guardas trazendo Harry até onde eu estava. Engoli o nó que se formou na minha garganta ao vê-lo daquele jeito. Mas não deixei o desespero tomar conta de mim. Continuei a misturar aquelas ervas, molhando os dedos no riacho e levando até elas, até começar a criar uma pasta.

—Enfie isso na boca dele e o faça engolir. —Peguei um punhado de pétalas das tulipas e entreguei a James, vendo ele fazer uma careta.

—O que é isso? —Indagou, mas fez o que eu pedi, enfiando na boca dele e o fazendo engolir.

—Tulipas negras. Tem propriedades curativas. —Falei, enquanto pegava um pouco dela e colocava junto com as ervas que eu estava misturado. As outras dei aos guardas feridos, que observavam tudo com atenção. Vi eles engolirem elas com várias caretas e tinha certeza que o gosto deveria ser terrível.

Continuei misturando tudo, até estar uma completa pasta estranha com uma cor acinzentada escura. Me aproximei de Harry, puxando a camisa que cobria o ferimento.

—Preciso de uma faca. —Meus olhos se fecharam com força. —Temos que tirar a bala dele.

Três facas diferentes surgiram na minha frente, dos guardas que pareciam mais do que desesperados em ajudar. Não perguntei dos outros. E também não perguntei dos homens que atiraram em nós. Precisava ajudar Harry. Peguei a faca com a ponta menor, limpando a lâmina na água antes de me voltar para Harry, me preparando para o que viria a seguir.

—Quer que eu faça? —James indagou, e eu neguei na mesma hora.

Peguei a faca e pressionei no ferimento. Tentando encontrar a bala. Os olhos de Harry se abriram vidrados e com o azul tão apagado, antes do mesmo arquear a cabeça para trás e gritar. Mordi minha língua e senti as lágrimas embaçando meus olhos ao ver o sofrimento dele. James segurou seu corpo quando ele se debateu, até eu finalmente puxar a bala.

—Está tudo bem, Harry! Sophia vai cuidar de você. —James segurou o rosto dele, para que ele parasse quieto. —Fique calmo.

Peguei a mistura de ervas, sentindo a mão trêmula de Harry tocar meu joelho pelo tecido empapado de sangue do vestido. Encontrei os olhos dele por alguns segundos, vendo a dor agonizante na sua expressão. Então coloquei aquela pasta no ferimento, cobrindo cada partezinha do ferimento da bala. Harry estava apertando meu joelho, olhando fixamente pra mim, sem emitir som algum.

—Vai ficar tudo bem. —Prometi, com um soluço escapando dos meus lábios, antes de eu aproximar meu rosto dele e deixar um beijo casto nos seus lábios. —Fique comigo, Harry. Prometo que vai ficar tudo bem.


Continua...

A Dimensão Das Estrelas / Vol. 1Where stories live. Discover now