Capítulo 15: Um acordo.

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Aquilo, definitivamente, não se comparava com nenhum livro de fantasia que eu já tinha lido. Era como estar no sonho mais louco da sua vida, em um mundo mágico criado na sua própria mente maluca.

O lugar era um salão circular, cheio de bancos ao redor, com bruxas e bruxos sentados, conversamos em voz alta e discutindo coisas que eu não fazia ideia do que significava. Os bancos faziam um círculo e, no centro dele, havia uma mesa de pedra, com bruxas sentadas ao redor.

Todas ficaram em silêncio quando eu e Harry fomos empurrados para frente. A bruxa atrás de mim me conduziu, de forma nada gentil, pelo corredor entre os bancos, até o centro do salão, enquanto éramos seguidas por milhares de olhares.

—O conselho das bruxas apresenta, o príncipe herdeiro de Del Mar e... —A mulher olhou pra mim de cima a baixo, curvando os lábios em reprovação. —Uma visitante da Dimensão do Sol.

Fiz uma careta, olhando por cima do ombro para Harry. Ele estava com a atenção voltada para as bruxas na mesa de pedra, com uma expressão séria. Lá no fundo dos seus olhos, podia ver o resquício de nervosismo e ansiedade. E eu estava do mesmo jeito.

—Vossa alteza, gostaria de dizer alguma coisa sobre o incidente a algumas semanas atrás? —Um homem que estava sentado ao redor da mesa de pedra indagou. Harry foi empurrado para frente, contraindo os lábios, parecendo irritado. —Então?

Olhei para Harry, vendo ele observar as bruxas que estavam ali, respirando fundo e abrindo um sorriso.

—Vão para o inferno. —Murmurou, erguendo o queixo com uma expressão indiferente.

—Como é? —Outra sibilou, quase como um rosnado.

—Vão. Para. O. Inferno. —Harry repetiu, de uma forma lenta e pausada. Xingamentos explodiram ao nosso redor, me fazendo encolher o corpo ao perceber que só aquilo havia deixado todas as bruxas ali super irritadas.

—Vamos ver por quanto tempo você vai continuar agindo assim. Acho que se esquece que não está mais no seu reino. —Um dos bruxos murmurou, erguendo a mão e fazendo um sinal. Fui empurrada mais para frente, quase caindo no processo. —E a mulher?

—O príncipe pareceu bastante interessando nela quando o encontramos na Dimensão do Sol. —O homem de olhos amarelos que me seguiu o tempo todo afirmou.

Minhas bochechas coraram e eu olhei para Harry, sentindo um imenso frio na barriga, vendo ele engolir com certa dificuldade, enquanto trazia os olhos até mim.

—Ela não tem absolutamente nada a ver com o que eu estava fazendo por aqui. Eu a encontrei por acaso lá. Podem levá-la de volta e deixá-la livre. —Harry afirmou, enquanto eu ainda ouvia as outras bruxas ao redor murmurando coisas umas para as outras, enquanto olhavam não nossa direção.

—Agora você resolveu falar? —Alguém zombo, e Harry fechou os olhos com força, parecendo frustrado. —Ela sabe que você tem uma noiva? Ou ter mais de uma mulher é normal para a realeza?

O sangue subiu para o meu rosto, enquanto eu erguia os olhos até Harry, vendo a expressão dele ficar um pouco petrificada ao ouvir aquilo, antes de se voltar para mim, parecendo verdadeiramente preocupado com a minha reação. Engoli o nó que se formou na minha garganta, ignorando a pontada de decepção que atingiu meu corpo.

Desviei os olhos de Harry. E mesmo que lá no fundo, eu tivesse me incomodado com o fato, eu não tinha o direito de ficar chateada com ele. Não éramos absolutamente nada um do outro e ele não tinha a obrigação de me contar sobre aquilo.

—Pra você ver, querida. —A bruxa que me segurava ergueu meu queixo. —A realeza é traiçoeira. Veja só, tínhamos um acordo de não xeretarmos o território deles e eles o nosso. Mas era exatamente isso que o príncipe ali estava fazendo.

—Podemos vendê-la, sabe. Ela renderia um bom punhado de moedas no Mundo Inferior. —Alguém propôs, enquanto eu arregalava meus olhos. —Alguém está sempre querendo um escravo por lá.

—O que? —Exclamei. Meus braços foram puxados com força quando fiz menção de me virar.

—Só apagar as memórias e vendê-la. Assim não vira outro problema. —Alguém concordou, e logo todos estavam falando ao mesmo tempo, fazendo minha cabeça girar com várias vozes altas tentando dizer o que fazer comigo.

—O que vocês querem? —Harry questionou, alto o suficiente para que todos ficassem calados. —O que querem para deixá-la livre?

—Quer fazer um acordo? —O homem que o segurava indagou, soltando uma risadinha. —Está disposto a dar qualquer coisa por ela?

—Sim. O que quiserem. —Afirmou, me fitando enquanto esperava uma resposta deles. Meu coração acelerou e eu soltei uma respiração pesada. —Mas quero a palavra de vocês que vão deixá-la livre, que não vão toca-la e muito menos vendê-la.

—Agora estamos falando a mesma língua, alteza. —Não olhei para a voz feminina que havia falado aquilo. Observei os olhos de Harry, que pareciam a imensidão do oceano, enquanto me fitavam de volta, com uma intensidade que me deixava sem fôlego.

[...]

Observei a cela ao redor, vendo que não havia absolutamente nada nela. As paredes eram de pedra. Havia uma única janela com grades que dava para uma floresta. Me virei para as grades, observando a sala do lado de fora.

Havia mais duas celas ao nosso lado e o restante da sala continha uma mesa de madeira antiga, cheia de livros e vidros com líquidos coloridos. Haviam estantes de livros por todo lado. Alguns pássaros presos em pequenas gaiolas. E outros dentro de vidros como eu havia visto na casa. E no centro da sala, um caldeirão. Sim, um verdadeiro caldeirão de bruxa.

—Você está bem, Sophia? —Olhei para o lado, vendo Harry se escorar nas grades ao meu lado. Estávamos na mesma cela. O que eu não sabia se era bom ou ruim. —Sinto muito por tudo isso.

—Eu estou bem. Não precisa se preocupar. —Afirmei, desviando os olhos ao me sentir constrangida pela forma que ele me fitava. —O que acha que elas vão pedir?

Harry balançou a cabeça negativamente, deixando claro que não sabia. As bruxas não haviam decidido ainda. Tinham nos tirado daquele salão, sobre murmúrios contínuo das bruxas até essa cela. Elas iriam discutir o que queriam, antes de qualquer coisa.

—Não precisava fazer isso, sabe... dar a elas alguma coisa em troca da minha liberdade. —Afirmei, vendo ele soltar uma risada.

—Sim, eu precisava. Você está nessa confusão por minha causa. Nada mais do que justo que eu te tirar dela. —Declarou, colocando a mão sobre a minha, que estava segurando uma das grades. Olhei para a mão dele sobre a minha, sentindo meu estômago se encher de borboletas. —Eu não tenho uma noiva. Aquilo não era verdade.

—Não? —Olhei pra ele e o mesmo negou com a cabeça na mesma hora, fazendo círculos com o polegar na minha mão.

—Bem, meus pais até queriam. Mas eu não aceitei absolutamente nada. Então, não, com toda certeza não tenho uma noiva. —Afirmou, com um suspiro pesado. —Gosto de pensar que tenho direito de escolher com quem vou passar o resto da minha vida.

—Todo mundo tem o direito. —Balancei a cabeça. —Quer dizer, pelo menos na minha dimensão não existe mais essa coisa de casamento por conveniência.

—Aqui ainda tem. Bastante até. —Ele apertou minha mão, dando um pequeno passo na minha direção. Ergui o queixo para encarar os olhos dele que estavam fixos nos meus. —Só queria que soubesse que não era verdade. Se eu realmente tivesse, teria te contado.

—Você não tem obrigação quanto a isso, alteza. —Murmurei, tentando soar um pouco descontraída. Mas a frase saiu de uma forma que fez Harry encolher os ombros.

—Tem certeza disso? —Ele ergueu uma das sobrancelhas. —Porque eu acho que tenho. Sinceramente, não sai com você quando estávamos em Londres porque éramos amigos.

—E foi por que então? —Questionei, um pouco baixinho, vendo ele tombar a cabeça de lado.

—Estou tentando decidir ainda. —Ele soltou uma respiração pesada, vagando os olhos pelo meu rosto. —Mas não se preocupe, quando eu descobrir, você vai ser a primeira a ficar sabendo.

Ele apertou minha mão e então se afastou, me deixando a beira de um abismo de sensações novas e com o coração acelerado.



Continua...

A Dimensão Das Estrelas / Vol. 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora