Capítulo 55: Londres.

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Apertei o tecido da saia do vestido, sentindo cada músculo do meu corpo tenso, enquanto ouvia Maisie contar a Harry e o rei sobre o que havia acontecido, enquanto um dos guardas que estava com a gente confirmava tudo. Quando Maisie viu Leonor, nos fizemos a primeira coisa que veio em mente, voltamos para o castelo. Não estávamos nem um pouco interessados em saber se haviam mais delas lá ou não.

—Você está bem, senhorita? —Olhei para o príncipe Christian sentado ao meu lado, me encarando com uma expressão um pouco preocupada. —Você está um pouco pálida. Muito, na verdade.

—Eu estou bem. Só... —Parei de falar quando a rainha entrou na sala, com os lábios torcidos em reprovação ao olhar na minha direção e ver com quem eu falava. Me encolhi no sofá, me sentindo pequena e inferior.

Qual a problema dela?

—Então existe uma possibilidade delas já terem entrado no continente, com a autorização de Thoreau. —O rei comentou, avaliando a situação, enquanto olhava para Harry. —Isso complica as coisas. Vamos precisar aumentar a guarda em todo território de Del Mar, principalmente aqui no reino. —Ele se virou para os guardas que estavam ali. —Quero que façam uma varredura pela cidade e vejam se encontram mais bruxas. Não as prendam, não as deem motivo para atacar, apenas verifiquem quantas delas estão aqui. Só ataquem se elas fizerem isso primeiro.

—Vossa majestade. —O guarda fez uma reverência e saiu, sendo seguido pelo pequeno grupo que estava ali.

—Maisie, não quero que você saia do castelo sozinha. Nem mesmo para ir até o jardim. —O rei declarou, olhando pra ela, que apenas assentiu, muito diferente da Maisie que eu costumava ver. —Ninguém está autorizado a andar pelas imediações do castelo sem que tenhamos conhecimento.

—Vossa majestade? —O príncipe Christian ficou de pé, se dirigindo do ao rei. —Vou retornar ao meu reino e avisar ao meu rei sobre o acontecimento de hoje. Ficaremos a disposição caso precisem da nossa ajuda, independente de qual seja ela.

—Obrigado, alteza. Temo que será necessário em breve. —O rei olhou de relance para Harry, parecendo cansado de toda aquela situação. —Vou ordenar que um grupo de guardas o acompanhe na viagem. Sei que tem os seus próprios guardas, mas toda proteção é bem vinda em um momento como esse.

Ele concordou, com um aceno de cabeça, então se despediu de todos nós e partiu. Não sabia se era impressão minha ou não, mas assim que ele foi embora, a tensão no ar pareceu piorar ainda mais, como uma tempestade prestes a explodir em nossas cabeças.

—E ela? —A rainha me indicou com a cabeça, sem fazer qualquer esforço para esconder a indiferença.

—O que tem a Sophia? —Harry indagou, olhando pra mim com as sobrancelhas unidas, como se não entendesse o que sua mãe queria dizer.

—Vamos continuar fingindo que tudo que está acontecendo não é culpa dela? —Questionou, fazendo o sangue latejar da minha cabeça, fervendo.

—Mãe, não é hora pra isso! —Harry sibilou, soltando uma respiração pesada. —Sophia não fez nada.

—Ora, não fez? —Ela sorriu, olhando na minha direção. —Desde que ela apareceu aqui tudo está dando errado. As bruxas prenderam você naquelas terras miseráveis. Então você voltou com ela, que subitamente descobrimos ser uma bruxa. Logo depois, o seu noivado com a princesa de Thoreau vai por água a baixo, quando todos, sem exceção, descobrem que ela. —A rainha apontou pra mim, enquanto eu ficava de pé e sentia meu coração prestes a parar de bater. —É uma bruxa. E agora Thoreau está contra nós por causa disso e as bruxas estão aqui, nas nossas terras. Pra mim é mais do que evidente que a culpa é dela!

—Mãe, eu vou falar mais uma vez, a culpa não é dela! —Harry exclamou. —Você só está usando da droga do seu preconceito para culpar alguém que não tem nada a ver com a história. Sophia foi arrastada pro meio de tudo isso. Se quer culpar alguém, culpe a mim!

Senti Maisie segurar minha mão, como se quisesse dizer silenciosamente que estava ao meu lado. Mas eu estava ocupada demais olhando para Harry e a rainha, sentindo todo meu corpo tremer e minha garganta começar a se fechar.

—Eu realmente irei culpá-lo por isso, já que foi você que a enfiou dentro do nosso reino, da mesma forma que fez com... —Ela parou, franzindo os lábios em pura negação. —Com aquele...

—Não ouse ofendê-lo! —Harry rebateu, antes que ela terminasse.

—Harry... —O rei se aproximou da esposa, tocando o braço dela, enquanto olhava para Harry. Senti o ar ficar quente, difícil demais de se respirar, quando mais a tensão caia sobre meus ombros.

—Não ouse ofendê-lo! —Harry repetiu. —E não ouse ofender a Sophia! Você não a conhece de verdade e muito menos tem o direito de fazê-la se sentir mal por algo que não está nas mãos dela!

Parei de respirar, com um nó se formando na minha garganta, e a cena na minha frente começar a passar em câmera lenta, como o pior filme de terror já feito. A rainha empinou o nariz e olhou pra mim, torcendo os lábios na pior expressão de nojo que eu já havia visto.

—E que moral ela tem? —Ela ergueu uma das sobrancelhas. —Acha que ninguém aqui nesse castelo sabe que vocês dois se encontram todas as noites? Acha que eu e seu pai não sabemos?

—Zoe! —O rei alertou, como se aquilo fosse algo já discutido entre eles.

—Nos não... —Harry deu um passo para trás, parecendo ter sido pego de surpresa, enquanto as palavras se perdiam nos seus lábios por alguns segundos. —Nos não fizemos absolutamente nada do que você está imaginando... Não acredito que esta fazendo isso!

Ele conseguiu dizer, parecendo do furioso. Aquilo era algo que eu também não havia visto ainda. Mas era verdade, não dormimos juntos. Nossas noites eram voltadas em apreciar as estrelas e beijos roubados antes de cada um ir para seu próprio quarto. Mas ela não sabia disso e duvido que acreditaria.

—Uma bruxa seduz você e o leva pra cama e eu, sua mãe, que se preocupa de verdade com você, é que estou errada?

Ela ia continuar falando. Ela ia continuar falando alto, para todo castelo ouvir. Ela ia continuar me culpando. Mas não fiquei ali para ouvir. Eu disparei de dentro da sala, ouvindo a voz de Maisie atrás de mim e então a voz de Harry, chamando meu nome, parecendo preocupado.

Não parei de correr, enquanto tentava me lembrar do caminho certo por todos aqueles corretores. Segurei a saia do vestido e subi as escadas correndo, enquanto as lágrimas queimavam nos meus olhos, de vergonha e raiva. De humilhação e descrença.

Noah estava em Velará, então não me dei ao trabalho de bater. Irrompi pela porta, tropeçando nos meus pés e desabando de joelhos no chão. Escutei a voz de Harry, procurando por mim em algum lugar do castelo, assim como Maisie. Mas eu já estava na frente daquela caixas cheia de coisas, laçando elas sobre a mesa, até encontrar a pedra branca e brilhante.

Meus dedos se fecharam ao redor dela, ao mesmo tempo que eu engolia todas as lágrimas que queria soltar naquele momento. Fechei meus olhos e apertei a pedra entre os dedos, sentindo o formato estranho dela marcar minha pele, enquanto eu concentrava todos os meus pensamentos em uma única coisa. Meus olhos se abriram e eu tropecei para trás, batendo contra a fachada de um café, assim que o som dos carros surgiram, como um balde de água gelada.

Era um dia chuvoso em Londres, porque assim que meus olhos assimilaram a rua repleta de carros, o som das buzinas que me faziam estremecer, e a quantidade de pessoas caminhando com guarda-chuvas pela rua, soube que havia voltado pra minha dimensão.

Eu estava de vestido e com os cabelos ruivos presos, parecendo ter saído de dentro de um livro de época. As pessoas passavam por mim, me encarando com expressões curiosas e confusas.

Não me importei com isso quando comecei a caminhar pela calçada, sem me importar com a chuva que caía sobre mim, sentindo apenas um peso sufocante e enlouquecedor dos últimos dias.



Continua...

A Dimensão Das Estrelas / Vol. 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora