Capítulo 47: O conto das estrelas.

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A volta para o reino foi confusa. A rainha e o rei evitaram aparecer nas refeições junto com o restante de nós. Tentei ter certeza que o motivo não era eu e muito menos Katie. Mas as vezes era difícil entender o que se passa na cabeça de cada um deles.

—Certo, você quer mesmo fazer isso? —Noah indagou, se sentando na cama ao meu lado. Eu estava no quarto dele, esperando ansiosa para saber mais sobre as bruxas daquela dimensão.

—Quero. —Hesitei, olhando pra ele. —Por que está me perguntando isso?

—Porque quanto mais você aprende bruxaria, mais parecido com a gente você fica. —Ele pressionou os lábios em uma linha fina, soltando um suspiro pesado. —É como uma aura. As pessoas vão saber que é uma de nós assim que olharem pra você. Não entendo isso, mas quanto mais magia você pratica, mais eles percebem quem você é. A cena do baile vai se repetir, sempre que você se encontrar com algum problema, entende? —Noah olhou pra mim, parecendo um pouco frustado. —Estou te falando isso porque você sabe a minha história, Sophia. Sabe o quanto eu lutei pra ser quem eu sou hoje. E eu tenho sempre que lidar com o julgamento e o preconceito. E você também vai ter que lidar.

—Entendo. —Engoli em seco, pensando em toda minha vida em Londres. Eu era uma garota assustada que não podia ver um acidente de carro, porque tinha ataques de pânico. Era a garota que se enfiava embaixo das cobertas em uma noite chuvosa para ler ou escrever sobre mundos de fantasia. —Acha que meus pais eram como eu? Digo... bruxos?

—Os dois? Não sei. Mas um certamente sim. —Noah balançou a cabeça afirmativamente, apertando os livros que estavam em sua mão. —Provavelmente sua mãe ou seu pai, quem quer dos dois que fosse, não sabia que era uma bruxa. Você provavelmente nunca teria descoberto se não viesse parar aqui. Acho que Harry já te disse isso, como humanos, bruxas existem em quase todas as dimensões.

Assenti com a cabeça, engolindo com dificuldade, enquanto batucava meus pés no chão e encarava minhas próprias mãos. Se eu nunca tivesse parado na dimensão das estrelas, jamais saberia. Então talvez essa foi a forma que o destino arrumou de me dar uma chance de eu me tornar uma bruxa.

—Eu quero aprender. O que você tiver pra me mostrar sobre as bruxas. Quero mesmo. —Afirmei, olhando pra ele, enquanto abria um sorriso. —Sendo odiada ou não. Quero aprender.

—Bem... —Noah riu, negando com a cabeça. —As bruxas saúdam você, Sophia. Seja bem vinda ao lado negro da história. —Soltei uma risada, vendo Noah me estender um dos livros. —Primeiro, um livro sobre algumas histórias da nossa dimensão. Fala sobre os reinos, as terras bruxas, o mundo inferior.

—O lugar onde as outras dimensões se encontram. —Falei, e ele concordou, me estendendo outro livro. —Um livro de poções e feitiços. Como você gosta de ler, achei que gostaria desse também. —Ele me estendeu o terceiro livro, com uma capa branca e grossa.

—O conto das estrelas? —Abri o livro, folheando algumas páginas. —É sobre o reino das estrelas?

—Estela. E, sim, é sobre ele. —Noah ficou de pé, começando a mexer nos vidros com ervas que havia na sua estante. —Apesar de não vermos as estrelas a uns bons séculos, a história sobre elas é interessante. E você gosta de magia, então...

—Obrigada. —Abri um sorriso, que morreu assim que ele me lançou um frasco com um líquido vermelho. O peguei no ar, fazendo uma careta.

—De nada. Agora vamos a prática. —Noah apontou para o frasco na minha mão. —Vamos criar poções.

[...]

—Onde estamos indo? —Indaguei baixinho, enquanto Harry me conduzia silenciosamente pelos corredores escuros do castelo. Ele olhou pra mim e sorriu, voltando a olhar para o caminho. Fiz uma careta, ansiosa demais para esperar chegar lá para saber. —Harry?

—A expectativa é o inimigo dos ansiosos. —Murmurou, me fazendo apertar a mão dele com força. Escutei ele rir, o que me fez sorrir também. —Já estamos chegando, linda.

Ele entrou em uma sala vazia, que continha apenas o início de uma escada em caracol que subia e desaparecia. Começamos a subir, com Harry olhando uma vez ou outra para ver se eu estava bem. Segurei na camisa dele, sentindo minha respiração pesar quando percebi que aquela escada não acabava mais.

—Quase lá. —Ele apertou minha mão, acariciando minha pele com o polegar. Paramos assim que a escadaria chegou a uma porta.

Harry a abriu, passando por ela e abrindo espaço para que eu passasse também. Soltei um suspiro surpreso, olhando para a imensidão do horizonte que se abria ao nosso redor, assim como para o céu estrelado que estava sobre nossas cabeças.

—A torre mais alta do castelo. Tem uma vista linda, não é? —Ele parou ao meu lado, olhando para cima, para o céu salpicado de constelações perfeitas e coloridas. —É aqui que eu ficava todas as noites antes de você chegar, observando as estrelas e pensando no que o amanhã me reservava. —Harry entrelaçou nossos dedos, abaixando os olhos para me fitar. —E aqui está você, minha própria estrela pra observar e cuidar.

Minhas bochechas esquentaram, mas me obriguei a olhar pra ele, mordendo o lábio para não sorrir.

—Você disse que estrelas tinham asas e olhos de diamantes. —Afirmei, deixando claro o tom de provocação. Harry sorriu ainda mais, se virando pra mim e segurando meu rosto.

—Ah, sim. Elas tem. Mas você tem algo que elas não tem, Sophia. —Sua testa beijou a minha e nossos narizes se tocaram. —Você é real. E você tem meu coração. Cada pedacinho dele é seu.

Deixei o sorriso que eu segurava espaçasse, com meu coração se aquecendo dentro do peito e fogos de artifício explodindo dentro de mim. Puxei a nuca dele, grudando nossos lábios e deixando que aquele beijo dissesse tudo que eu estava sentindo naquele momento.

Eu estava apaixonada pelo cara que encontrei em um elevador em Londres. E agora, pelo príncipe que estava na minha frente, me entregando seu coração.



Continua...

A Dimensão Das Estrelas / Vol. 1Où les histoires vivent. Découvrez maintenant