Capítulo 5: Esbarrão.

1.8K 274 115
                                    

Acordei com o barulho irritante do meu despertador de novo. Encarei o teto, lembrando que Harry estava no meu apartamento, dormindo no meu sofá. Agarrei meu celular e olhei para a tela, vendo que haviam milhares de mensagem da Katie.

Respondi, resumidamente, o que havia acontecido e combinei de encontrá-la mais tarde, como sempre, na hora do almoço. Me coloquei de pé e me arrumei em tempo recorde, finalmente tomando coragem para sair do quarto.

—Bom dia. —Falei, vendo Harry sentado no sofá, com os cotovelos apoiados no joelho, e o rosto entre as mãos. Os cabelos, mais bagunçados do que eu jamais tinha visto. E, inevitavelmente, fiquei com vontade de arruma-los.

—Bom dia, senhorita. —Ele bocejou, me fazendo sorrir, já que estava com uma cara de sono fofa. Catei minhas coisas e enfiei dentro da bolsa, dando uma boa olhada pela janela e vendo que já havia parado de chover. —Você vai direto para o trabalho? Se não se importar, vou te acompanhar até lá. Tenho que ver meu tio de novo.

—Ah, sim, tudo bem. Vou comprar um café pra gente no caminho. —Afirmei, vendo ele abrir a boca para dizer algo. —Não recuse, por favor. É o mínimo que eu posso fazer depois de ontem.

—Você me deixou dormir aqui. —Comentou, em meio a um sorriso contido.

—Acredite, ainda vou ficar te devendo.

Harry não fazia ideia de quanto um ataque de pânico era uma grande merda pra mim. Quando era mais nova, antes de sair do orfanato, eu tinha eles praticamente todos os dias. Qualquer barulho que se assemelhasse com uma batida de carro, me deixava apavorada.

Foi numa dessas vezes que conheci Katie. Eu havia ouvido o som de um copo caindo e se quebrando e meu medo se ativou na mesma hora. Eu me escondi em um armário e Katie me encontrou, chorando feito uma desesperada. Ela ficou comigo dentro do armário até eu me acalmar e então, éramos melhores amigas.

[...]

Eu e Harry caminhávamos pela rua em direção ao prédio da editora, com dois copos de cafés fumegantes em mãos. Ele estava silencioso demais, parecendo pensar em alguma coisa bem longe dali.

—Então... —Fiquei um pouco desconfortável, tentando prestar atenção na calçada. —Obrigada por ontem de novo. Foi muito gentil da sua parte.

—Não precisa me agradecer. Não ia deixá-la sozinha naquele estado. Seria falta de empatia minha. —Afirmou, e eu mordi o interior da bochecha, pesando naquele fato. Não é todo mundo que pensaria assim. —E não se preocupe, não vou comentar com ninguém. Aliás, quase não conheço ninguém aqui mesmo.

Ri da sua expressão e neguei com a cabeça, desviando das pessoas que andavam na calçada. Bebi meu café, tentando encontrar coragem pra falar.

—Isso não acontece sempre. É... na verdade fazia tempo que não acontecia. —Afirmei, engolindo em seco. Vi ele me observar, parecendo tentar compreender. —Só... tenho problemas com acidentes de carro.

—Notei. —A voz dele soou carinhosa e nem um pouco sarcástica. Abri um sorriso fraco e olhei para a rua a minha frente, desejando conseguir falar mais. Só que eu não comentava com ninguém sobre aquilo. Apenas Kate sabia, porque ela tinha vivido comigo no orfanato. Mas o resto das pessoas que eu conhecia, não sabiam absolutamente nada sobre mim, porque eu tinha dificuldade de falar sobre isso.

—Desculpe. —Murmurei, encolhendo os ombros.

—Não precisa se desculpar. E também não precisa me contar. Está tudo bem. —Ele sorriu pra mim de novo, de um jeito super carinhoso que faria uma garota ver estrelas. E eu estava vendo estrelas naquele momento. Escondi minha timidez atrás do copo de café, bebendo mais um pouco.

A Dimensão Das Estrelas / Vol. 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora