Capítulo 62: Novas leis.

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O clima está pesado quando chegamos até o centro daquele campo, onde a bandeira branca tremula com o bater do vento. Entre vários grupos de guardas eu podia ver o rei de Thoreau, juntamente com sua filha. Me lembro perfeitamente dela quando fomos ao casamento. A forma como me olhou, além de ter espalhado a verdade sobre mim. E ela estava olhando na minha direção. Estava sorrindo com um ar vitorioso que me deixou assustada. Mas não baixei a cabeça. A encarei com o queixo erguido.

De um lado deles estava o rei de Alfreton junto com o príncipe Arthur, em meio aos guardas que mantinham as mãos nas espadas presas a cintura. Do outro lado estava o grupo de Altadena, com o príncipe Christian e seu pai, observando tudo com uma atenção indiferente. Então tinha nosso grupo, com os guardas de Del Mar e Valará misturados e nós três no centro dele.

—Estou surpreso, vossa alteza. —O rei de Thoreau, com sua pele morena iluminada pela luz do dia se dirigiu ao príncipe James, parecendo muito furioso. —Pensei ter recebido uma carta sua referente a proximidade de Del Mar com as bruxas.

Olhei para Harry, vendo ele tentar conter um sorriso. Não sabia o que aquilo significava. Percebi que fiquei fora e perdi algumas coisas, mas aquele não era o momento para descobrir quais eram.

—Eu nunca prometi a aliança de Velará. —James deu de ombros, abrindo um sorriso indiferente. —Correspondências passam apenas de papéis descartáveis.

O rei de Thoreau não respondeu, mas pude ver sua mandíbula ficar tensa e ele apertar as mãos em punho, querendo segurar uma explosão de raiva. Mas as bruxas havia chegado até onde estávamos. Me lembrava de alguns rostos de quando eu estava nas terras bruxas com Harry, sendo levava para aquela convenção estranha delas.

Apertei a mão de Harry involuntariamente, sentindo meu coração bater acelerado. Leonor estava ali, acenando pra mim com um sorriso cheio de segundas intenções. Desviei os olhos na mesma hora, sabendo que precisava me concentrar no que iria acontecer ali.

—Fico feliz que todos tenham se dignado a comparecer. —A bruxa que estava na frente de todas elas falou. Seus olhos, tão amarelos como eu me lembrava, ficavam ainda mais evidentes por conta da sua pele negra e dos seus cabelos lisos e negros.

—Viemos aqui apenas com a curiosidade de saber quem foi que lhes deu autorização para entrar no nossos territórios. —O rei de Altadena afirmou, lançando um olhar de esgueira a Harry e eu.

—Essa não é a questão em debate aqui. —A bruxa analisou as próprias unhas pintadas de preto, como se elas fossem mais interessantes do que qualquer um de nós.

—E qual é a questão então? —Ele voltou a indagar, olhando para o filho muito rapidamente. —Nossos territórios continuam fechados para todas vocês.

—Todas nós? Tem certeza? —Ela, assim como as outras bruxas e bruxos olharam pra mim, me fazendo encolher ao lado de Harry. —Alguns de nós ainda tem a chance de viver entre vocês. Por que o restante de nós não?

—Isso é algo já discutido em outros tempos. —Agora foi a vez do rei de Alfreton falar, dando um passo a frente. Ainda me lembrava da expressão dele quando me viu no baile, no meio da confusão com aquela senhora. —As bruxas que vivem em nosso território ganharam a confiança dos reinos a qual residem. Mas o mesmo não pode ser dito de todas vocês.

—Está nós acusando de que, exatamente? —Ela chiou, lançando um olhar desafiador a ele. —Tem alguma acusação a fazer, vossa majestade? Tem provas de que somos monstros nessa terra?

Harry apertou minha mão, me fazendo encará-lo. Mas a atenção dele estava em James, como se os dois estivessem conversando em pensamento um com o outro. Não entendi o que estava acontecendo naquele momento até James dar um passo a frente e erguer o queixo para falar

—Eu tenho uma acusação. —Afirmou, fazendo os olhos de todos ali se voltarem pra ele. —É de conhecimento de todos os reinos e de todas as bruxas o que aconteceu com minha irmã mais nova, que sumiu ainda recém nascida. —Observei, um pouco feliz, as bruxas oscilarem. —Todos também sabem que desde o início eu culpei Del Mar por isso, devido as nossas desavenças. Mas o rei de Del Mar sempre deixou claro que não havia feito isso e que a culpa era das bruxas. —Ele respirou fundo, olhando diretamente pra elas. —Gostaria de revelar que minha irmã foi encontrada e trazida de volta pra casa. O príncipe Harry e o senhor Buckley foram os responsáveis por isso. Por trazer ela de volta e também trazer a tona toda a história sobre o sumiço dela.

—Vocês a roubaram... a levaram para a dimensão do sol e a deixaram em um orfanato. Fizeram isso com a pura intenção de criar o caos entre os reinos. Com a intenção de levar Del Mar e Velará a uma guerra que nenhum dos dois reinos queria.

—Vocês não podem fazer uma acusação como essa sem provas! —A bruxa exclamou, com os lábios se curvando em negação. —Onde está a princesa perdida então? Porque não a trouxeram com vocês?

—Não é necessário. —James afirmou, gesticulando para os outros reinos. —Tenho certeza que os outros reinos tem algo a dizer.

—Sim. —O príncipe Christian ergueu a mão, dando um passo a frente e parando ao lado do pai. —Conheci a princesa de Velará. Ela é amiga intima da minha noiva. Tive a oportunidade de ouvir essa história dos seus próprios lábios.

—Eu e minha esposa também a conhecemos. —O príncipe Arthur deu um passo a frente. Desejei que Catharina estivesse ali, para que eu pudesse abraçá-la apertado e a agradecer por toda a ajuda. —Sendo assim, a história que o príncipe James revelou é verdade.

Um silencio estranho se instalou ali, com todos trocando olhares, como se não soubessem o que viria a seguir. As bruxas pareciam sem palavras, já que nunca poderiam imaginar que a princesa havia voltado, de que ela era Katie, minha melhor amiga. Elas podem ter vencido a primeira batalha anos atrás, mas agora somos nós que estamos na frente.

—Isso não tem a menor importância! —O rei de Thoreau praticamente rosnou. —Se elas são culpadas, nenhuma bruxa deveria ser aceita aqui. E o seu reino, alteza, está cheia delas. —Ele apontou para mim, cheio de raiva. —Você recusou um casamento com a minha herdeira, para se envolver com essa criatura...

—Cuidado. —A voz de Harry saiu muito calma, mas afiada o suficiente. —Sugiro que baixe o tom de voz, vossa majestade. Sophia pode ser uma bruxa, mas é parte da corte de Del Mar e futura rainha.

O mundo pareceu girar e girar, com os arquejos de choque, surpresa, horror e descrença. As bruxas estavam paralisadas, olhando na nossa direção como se aquilo fosse uma piada. Altadena e Alfreton eram os únicos que pareceram fingir alguma surpresa, já que Harry avisou seus planos a eles, para não criar nenhuma confusão nova.

Mas na parte de Thoreua era claro a raiva e a descrença. O nojo no rosto da princesa ao olhar na nossa direção. E a expressão do rei, que poderia começar uma guerra bem ali, apenas para me matar com as próprias mãos.

—O que isso significa? —Um bruxo de cabelos ruivos indagou, arfando. —Vai colocar uma de nós no trono?

Harry olhou pra mim e sorriu.

—Não tenho interesse nenhum em uma guerra contra os outros reinos ou contra vocês bruxas. Como herdeiro do trono e futuro rei, pretendo criar novas leis que incluam vocês em nosso território. —Ele olhou pra elas e ergueu as sobrancelhas. —Mas casos como o da princesa jamais devem se repetir, caso contrario serei o primeiro a desejar a expulsão de vocês. —Harry ergueu minha mão e levou até os lábios, dando um beijo casto ali. —E é com estrema honra que anuncio a vocês o meu noivado com a senhorita Sophia Wood e meu desejo de torná-la minha esposa. —Ele olhou para as bruxas. —Então sim, colocarei uma bruxa no trono, ao meu lado.



Continua...

A Dimensão Das Estrelas / Vol. 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora