Capítulo 19: Terra da Fantasia.

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Sophia

Me mexi, sentindo o chão duro embaixo de mim e um braço ao meu redor, assim como um corpo quente grudado ao meu. Abri meus olhos, sentindo meu coração acelerar quando percebi que estava com o rosto enfiado no pescoço de Harry e ele com o braço ao meu redor, me mantendo firme contra ele, como se tivesse medo que eu fugisse.

Me afastei lentamente, vendo ele continuar dormindo. Me sentei no chão, encarando a expressão preocupada dele, mesmo agora dormindo. Era bonito demais. Gentil demais. Tudo demais pra mim.

—Ele gosta de você. —Olhei pra trás de súbito, vendo uma mulher de cabelos ruivos parada ali, olhando pra nós dois, com um sorriso contido nos lábios. Ela segurava um gato preto no colo, acariciando os pelos enquanto ele ronronava.

—Ele só está se sentindo culpado por eu ter vindo parar aqui. —Rebati, vendo ela revirar os olhos e rir.

—Se acredita nisso, então está sendo burra. Ele não faria um acordo com bruxas só por se sentir culpado. Ele gosta de você. —Afirmou, dando de ombros. —Já deve ter ouvido que não somos confiáveis.

—Não precisaria eu ter ouvido para saber disso. —Murmurei, gesticulando para a cela ao meu redor. —Não fiz absolutamente nada. Nem sou dessa dimensão. Mas estou presa aqui.

—Ah, bem vinda a terra da fantasia, querida. —Ela se aproximou da cela, com um sorriso muito grande. —Nem um pouco parecida com o conto de fadas que muitos imaginam.

—Quem é você? —Indaguei, ignorando o sorriso grande dela, direcionado pra mim, assim como os olhos amarelos chamativos.

—Leonor. —Ela se afastou, soltando o gato sobre a mesa e começando a mexer em alguns fracos que estavam na mesma. —Estou aqui para cuidar de vocês e preparar uma poção do esquecimento.

—O que? —Meu sangue gelou. —Harry vai fazer um acordo com vocês. Não vai retirar minhas memórias.

—Hm, sim, tem razão. Mas o acordo ainda não foi feito, não é? —Ela soltou uma risadinha. —Então porque não começar a preparar a poção, caso Harry não concorde com o que queremos?

Ela riu da minha expressão e voltou a atenção para o que estava na mesa. Olhei para Harry, que ainda dormia. Aquilo não era bom. Não era nada bom. Me aproximei dele, tocando seu rosto para que acordasse.

—Harry? —Sussurrei, vendo ele abrir os olhos e agarrar minhas mãos, parecendo ter levado um susto. —Sou eu. Sophia.

Ele fez uma careta, olhando ao redor e soltando um suspiro pesado. Observei ele soltar minhas mãos e então passá-las nos cabelos, tentando ajustar os fios rebeldes demais.

—Tem uma bruxa aqui. Leonor. —Murmurei baixinho, vendo ele olhar por cima do meu ombro. —Está fazendo uma poção do esquecimento pra mim.

—Está é? —Ele curvou os lábios, tentando conter um pouco a irritação. —Temos que tentar sair daqui. E rápido.

—Como? Estamos presos em uma cela, Harry. —Afirmei, encolhendo os ombros. Ele olhou pra mim, e depois para minhas roupas, como se procurasse alguma coisa. —O que foi?

—Não tem nenhum grampo com você, tem? —Ele ergueu uma das sobrancelhas, enquanto eu fazia uma careta. Enfiei as mãos no bolso da calça e procurei por qualquer coisa, não encontrando nada. —Okay, vamos tentar outra coisa. —Ele se levantou, ficando próximo das grades e observou Leonor, como se procurasse por alguma coisa nela. —Ei, preciso me aliviar.

—Faz na cela. —Leonor respondeu, virando de costas pra nós dois, enquanto continuava trabalhando.

—Sabe que isso não é muito educado, certo? Quer que eu faça mesmo aqui dentro, com você e a Sophia junto, nessa sala fechada? —Indagou, se escorando nas grades. —Eu preciso mesmo me aliviar. Chama um dos seus irmãos pra me soltar.

—Não. —Ela retrucou, ignorando a expressão séria de Harry.

—Por isso que todos odeiam vocês. Não tem um pingo de gentileza e educação. —Harry afirmou, soando sarcástico. Leonor se virou, olhando pra ele com os olhos cerrados.

—E o principezinho acha que sabe muito sobre nós, não é? —Ela riu, negando com a cabeça.

—Claro que eu sei. Cresci sabendo que vocês são falsas, mentiras, não tem palavra, são maldosas e várias outras coisas ruins. —Harry afirmou, fazendo as bochechas dela ficarem vermelhas. Leonor deu a volta na mesa, se aproximando da cela.

—Limpe a boca para falar de mim e dos meus irmãos. Você não sabe de nada! —Rosnou, parando a alguns centímetros de onde Harry estava. —Vocês da realeza não sabem se por no seu lugar.

—Ah, nós não sabemos? E vocês, que roubaram um bebê e jogaram em outra dimensão, pra causar uma guerra. —Harry negou com a cabeça, abrindo um sorriso fraco. —Tem certeza que não conheço vocês e que tudo que eu disse é mentira?

—Não nos importamos com a opinião de gente como você, alteza. —Sibilou, dando mais um passo, parando em frente a cela. Harry abriu um sorriso fraco, encolhendo os ombros.

—Não gosto de machucar mulheres. —Harry afirmou, fazendo tanto Leonor quanto eu ficarmos confusas.

—O que? —Ela exclamou.

Harry enfiou a mão entre as grades e agarrou as roupas dela, puxando-a com tudo para frente. Dei um passo para trás, ouvindo apenas o baque do rosto dela contra as grades, antes da mesma despencar no chão, apagada.

—Harry! —Soltei o ar com força, vendo ele se virar pra mim, parecendo envergonhado.

—Desculpe. Não queria machuca-lá. Mas era necessário. —Deu de ombros, ainda sem jeito. —E ela faria coisa pior com nós dois se pudesse.

Ele se abaixou e puxou o corpo dela para próximo das grades, olhando para a escada, como se estivesse com medo de alguém aparecer ali. Me aproximei, enquanto ele puxava o molho de chaves que estava preso na cintura dela. Ele ficou de pé e olhou pra mim, balançando elas e abrindo um sorriso.

Soltei uma risada incrédula, vendo ele se voltar para as grades e abrir as grades, saindo primeiro e estendendo a mão para que eu saísse também. Olhei para Leonor no chão, tentando não pensar no que teria acontecido se nós dois continuássemos presos ali.

Harry segurou minha mão e me puxou pela escada, que dava para uma porta e depois, um labirinto de corredores. Pensei que tentaríamos encontrar a saída, mas ele entrou na primeira sala que encontramos, que parecia um tipo de biblioteca e foi até a janela.

—Vamos pular, tudo bem? —Perguntou, abrindo a janela e passando as pernas por ela, enquanto meus olhos se arregalavam.

—O que? Não, não, não! —Agarrei o braço dele, olhando pela janela, percebendo que estávamos no segundo andar. Não era tão alto. Mas eu me quebraria se fosse pular.

—Relaxa. Já fiz isso várias vezes. —Afirmou, me fazendo olhar pra ele com as sobrancelhas erguidas. —História pra quando estivermos seguros. Agora, confia em mim. Vou descer primeiro e então você desce. Se cair, juro que te seguro.

—Não sei se é uma boa ideia. —Afirmei, pronta para me afastar da janela. —Por que não achamos a saída tradicional?

—Saída tradicional? —Ele riu e eu fiz uma careta.

—Mais conhecida como porta! —Retruquei, sendo pega de surpresa quando ele segurou meu rosto entre as mãos e me encarou com um sorriso no rosto.

—Vamos sair pela janela, Sophia. Se continuarmos naqueles corredores, podemos acabar dando de cara com alguma bruxa. —Afirmou, muito lentamente, enquanto borboletas sobrevoavam meu estômago, a medida que ele acariciava minhas bochechas. —Eu prometo que vou te segurar, caso caia. Confia em mim, okay? Você vai ficar bem.

—Tudo bem. —Concordei, sem conseguir desviar os olhos dos dele.

Harry sorriu e desceu os olhos até meus lábios, ficando subitamente sério. Por um segundo, pensei que ele fosse me beijar. Mas ele se afastou e passou pela janela, desaparecendo. Harry voltou segundos depois e olhou pra mim.

—Te espero lá embaixo, linda. —Ele piscou e desapareceu de novo. Sem outra alternativa, me preparei para pular a janela também.


Continua...

A Dimensão Das Estrelas / Vol. 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora