Capítulo 7: Constelações.

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Royal Observatory Greenwich, onde um dos maiores telescópios do mundo ficava. Sabia que Harry ia gostar de ir lá, se gostava tanto de estrelas como disse que gostava. Estávamos caminhando pelos corredores, onde muitas pessoas paravam para ver as atrações dali, principalmente turistas.

—Você já veio aqui antes? —Harry indagou, olhando ao redor com muito interesse.

—Só uma vez. Foi depois que eu e Katie saímos do orfanato. Finalmente podíamos fazer o que quiséssemos, porque éramos donas do nosso próprio nariz. —Afirmei, em meio a um suspiro pesado. —Uma única vez, porque depois não tivemos mais tempo.

Olhei para Harry, vendo que ele estava com os olhos fixos em mim. O sorriso no meu rosto morreu aos poucos quando eu percebi o que havia falado pra ele.

—Você cresceu em um orfanato? —Perguntou, parecendo realmente curioso.

—É... sim, cresci. Meus pais morreram em um acidente de carro quando eu tinha 10 anos e como eu não tinha família, fui pra um orfanato. —Dei de ombros, me sentindo mal pela súbita mudança de assunto. Principalmente por um que eu odiava.

—Você estava com eles no carro, não estava? —Indagou, parando de caminhar. Parei também, encarando um ponto fixo no chão, sentindo um gosto amargo na boca e um sentimento estranho. —Desculpe, não precisa responder. Sinto muito.

—Está tudo bem. Não tem problema. Só não é um assunto muito animado. —Tentei sorrir, mas não funcionou muito bem. Harry sorriu de volta mesmo assim, de uma forma carinhosa que aqueceu meu coração. —Vem, vamos lá.

Seguimos pelos corredores, até chegar na área do telescópio. Ainda tivemos que esperar as pessoas que estavam na nossa frente, antes de finalmente estarmos de frente para o telescópio. Um dos maiores telescópios do mundo, que nos dava a visão perfeita das melhores constelações.

Eu olhei pela primeira vez e abri um sorriso de orelha a orelha, quando as estrelas apareceram para mim. Belíssimas e perfeitas. Não pontinhos de luz no céu escuro, mas estrelas de verdade.

—Elas são lindas, Harry. —Suspirei, me afastando do telescópio e me virando para ele. —Entendo porque gosta tanto de observá-las.

Meu coração errou uma batida, quando eu percebi que ele estava perto, muito perto. O cheiro de brisa do mar me invadiu e eu senti o sangue correr com força total nas minhas veias.

—Sim, elas são lindas. —Sussurrou, com os olhos fixos nos meus. Ele encostou seu peito nas minhas costas e seu rosto ficou ao lado do meu, enquanto ele dirigia seus olhos até o telescópio, enquanto eu observava seu rosto perfeitamente desenhado.

—Você queria saber de onde eu era. —Sorriu e seus olhos azuis voltaram a encarar os meus, com nossas respirações se cruzando. —Eu vim de um lugar onde as estrelas são as coisas mais belas que existem. Onde elas realizam nossos desejos mais profundos e nos contam histórias. Um lugar onde elas brilham com tamanha intensidade, que tudo que você consegue fazer é se deslumbrar enquanto observa elas.

—Deve ser um lugar lindo. —Afirmei, vendo ele sorrir mais ainda, enquanto concordava com a cabeça, sem desviar os olhos dos meus.

—Faça um pedido. —Sussurrou. Soltei um suspiro e encarei as constelações de estrelas, fazendo um pedido. Harry continuou sorrindo para mim, um sorriso singelo e cheio de sentimentos, me fazendo sorrir da mesma forma para ele.

—Quem é você de verdade? —Perguntei.

—Por que está me perguntando isso? —Ele arqueou as sobrancelhas. —Você sabe quem eu sou.

—Não, não sei. Você as vezes parece ter saído de um livro, com aqueles senhorita pra cá e pra lá. —Ele riu de forma genuína, me fazendo sorrir ao ver suas bochechas se curvarem e seu rosto se iluminar. Ainda estávamos molhados. Mas Harry parecia ainda mais bonito com os cabelos úmidos.

—Ah, perdão senhorita. —Ele fingiu um tipo de referência que me fez rir. —Harry Watson Lewis, filho de Zoe e George e com uma irmã chamada Maisie.

—Você tem uma irmã? —Não consegui esconder minha surpresa, o que fez ele rir de novo. —Desculpa, mas é que eu não sei muito sobre o Dominic e eu trabalho pra ele a um tempo já. Sabia que ele tinha família, mas ninguém da editora tinha visto eles uma vez sequer. Então do nada você aparece lá.

—Sou a atração da editora então? —Ele arqueou as sobrancelhas.

—Não. Mas isso não significa que nós não estejamos curiosos. Eu estou curiosa. —Balancei a cabeça negativamente, sentindo os olhos dele em mim, o que começou a me deixar tímida. Mas minha atenção tinha voltado para o telescópio de novo. —Quer saber? Ignora minhas perguntas. Você não tem que me contar nada sobre você. Nem nos conhecemos direito. Além disso, eu não estou nos meus melhores dias. —Comecei a falar, como sempre fazia quando estava nervosa e sem jeito. —Eu acho que estou ficando meio maluca, sabe? Ando vendo pessoas de guarda-chuva pretos, com olhos amarelos e podia jurar que tinha alguém no meu apartamento hoje.

—Como é? —Olhei para Harry, vendo que ele estava me encarando, um pouco surpreso. Abri um sorriso, em meio a uma careta.

—Ah, eu disse, estou ficando meio maluca. Katie disse que eu estou lendo livros de fantasia demais. Sabe, ela tem razão. —Afirmei, dando de ombros. —Estou muito estressada esses últimos dias com o livro que seu tio me pediu. Acho que isso tá me deixando um pouco confusa.

—Por isso você estava na rua? Por que achou que tinha alguém no seu apartamento? —Questionou, franzindo a testa. Engoli em seco, percebendo que ele estava visivelmente preocupado com isso.

Bom. Muito bom, Sophia, agora o cara acha que você é doída de pedra.

—É... mais ou menos. As luzes de lá queimaram. Eu só me assustei, entende? Tá tudo bem. —Abri um sorriso fraco, olhando pro telescópio de novo. Harry não disse nada, mas senti seus olhos ainda em mim, me analisando com atenção.

[...]

Abri a porta do apartamento de Katie, vendo as luzes apagadas e tudo vazio. Ela provavelmente ainda estava trabalhando. Acendi as luzes e tranquei a porta. Não iria voltar para o meu apartamento. Mesmo tendo certeza que vi coisas, não quero pisar lá essa noite.

E eu definitivamente estraguei tudo com Harry. Quer dizer, eu não teria coragem de chamá-lo para jantar, como Katie sugeriu. Isso seria literalmente um encontro. Hoje foi só um passeio aleatório. Mas acho que depois do que eu disse, ele deve me achar louca.

Harry ficou estranho depois do que contei. Ele insistiu em me acompanhar até aqui. Dividimos o táxi em um silêncio estranho e nos despedimos com um boa noite ainda mais estranho.

Resumindo, foi uma noite de merda!

Fui para o quarto de Katie, pegando uma muda de roupas minhas que estavam perdidas no closet dela e tomei um banho demorado, lembrando do cara do restaurante e da sombra no meu apartamento.

—Sophia? —Olhei para a porta do banheiro, ouvindo o som do salto de Katie pela casa. —Meu bem, é você? Se for, fala logo, antes que eu resolva pegar uma faca na cozinha.

—Sou eu! —Gritei de volta, desligando o chuveiro e começando a me arrumar. Sai para o quarto, encontrando Katie jogada na cama, com uma expressão cansada. —Oi.

—Ah, oi. Não esperava te encontrar aqui. —Comentou, abrindo um sorriso preguiçoso. —Estou morta hoje. Como foi o seu dia?

—Hm... bem... eu estava com o Harry. —Ela sentou na cama, arqueando as sobrancelhas. —A gente se encontrou na rua por acaso e então foi dar uma volta por aí.

—Caramba, o destino tá sendo bem engraçado, né? Vocês estão sempre se encontrando por acaso. —Ela cruzou os braços na frente do corpo, com um sorriso maroto.

—Nem vem, Katie. —Bufei, indo em direção a cozinha dela. —Ele é só meu amigo. Aliás, nem isso ele é.

—Argh! —Ela revirou os olhos, se escorando no batente da porta. —Sua sem graça. Aposto que ele é lindo, gostoso e educado, como você mesmo ja disse. Não sei porque não aproveita.

Agora foi a minha vez de revirar os olhos. Poderia contar que dei uma de maluca na frente dele. Mas isso só faria Katie me zoar mais ainda. Então preferi ignorar. Harry não é daqui e logo vai embora. Sendo assim, nunca mais vamos nos ver, ponto.





Continua...

A Dimensão Das Estrelas / Vol. 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora