A Dimensão Das Estrelas / Vol. 1

Capítulo 58: Está fugindo, Sophia?

Sophia

Não sei quantos dias fazem que estou em Londres. Preferi não contar os dias depois que voltei, porque isso fazia eu me sentir estranhamente vazia por dentro. Não sabia se deveria ficar feliz ou decepcionada por Harry não ter vindo me procurar. Mas acho que eu entendo. Eu sou uma bruxa. Aqui em Londres posso fingir ser normal, como sempre fui. Mas lá eu não posso. Não é um conto de fadas onde irei ficar com o príncipe encantado.

Nos primeiros dias me obriguei a organizar tudo que havia deixado para trás. Meu apartamento e meu trabalho. Andrei tem andando grudado comigo, me ajudando a superar as frases maldosas da rainha quando decide ir embora. Andamos por todas as ruas possíveis de Londres, visitamos todas as lojas de antiguidades que achávamos.

Não encontrei nada nas primeiras. Eram sempre senhoras de cabelos brancos que vendiam apenas antiguidades, nada de mágico ou diferente. Mas depois de mais algumas voltas chegamos a uma loja diferente. Eu pude ver logo na fachada, as palavras escritas em uma pequena placa. Poderia não ser nada para alguém normal, com Andrei que disse que não via nada de diferente ali. Mas eu via, eu lia e eu entendia.

Consegui falar com a bruxa, porque ela me reconheceu em instante como uma também. Não sei como isso funciona, mas Noah estava certo, nos simplesmente sabemos quando estamos frente a frente com outra bruxa. É natural, como se fosse a alma da pessoa.

Conversei com ela sobre minha vida em Londres e ela falou o mesmo que Noah, provavelmente um dos meus pais eram bruxas e não sabiam. Descobri também que quanto mais forte o sangue de bruxa, mais a cor dos olhos é afetada. Amarelo para aquelas de puro sangue. Para aquelas que o sangue bruxo passou de gerações em gerações. Então, com meus olhos verdes simples, sou uma simples mestiça de sangue bruxo muito fraco. Mas ainda sim, uma bruxa.

Então falei sobre as bruxas da dimensão das estrelas. Ela conhecia, é claro. Parece que todos com um toque de mágica sabem sobre as dimensões, menos os meros mortais sem poderes. Nossa conversa de resumiu a ela dizendo uma coisa que eu não parava de pensar.

"Bruxas não são traiçoeiras como todos pensam, nós só passamos tempo demais sendo inferiorizaras e consideradas monstros. Fomos jogadas ao mar. Fomos jogadas no fogo para queimar vivas. Só queremos nosso próprio espaço no mundo agora, sendo ele ganhado por gentileza, ou tomado por maldade."

Elas estão procurando seu lugar no mundo, assim como todos os seres existentes em todas as dimensões. Isso me fez sentir mais bruxa e menos humana, se é que isso é possível. Só sei que agora eu as entendo mais, principalmente por sentir na pele o que acontece com as bruxas. Fomos colocadas nessa posição de vilãs. Mas ninguém nunca disse que éramos ruins de verdade, as pessoas simplesmente chegaram a essa conclusão errada sozinhas.

—Argh! —Andrei resmungou ao meu lado, abocanhando um pedaço de pizza. —Sua cara de enterro está começando a me irritar, meu bem. Deveria voltar logo para seu príncipe encantado.

—Não é como se pudéssemos ficar juntos. Ele vai ser rei e eu sou uma bruxa. A mãe dele me odeia, Andrei. Aliás, todos odeiam as bruxas lá. —Afirmei, encolhendo os ombros enquanto puxava a caixa de pizza na minha direção, para pegar outro pedaço.

Como sempre acontecia, eu estava na casa dele, porque meu apartamento parecia muito solitário sem a Katie. Eu esperava que ela estivesse bem, aproveitando sua nova vida com sua família de conto de fadas. Pelo menos uma de nós duas deu sorte e eu estava feliz por ela.

—A mãe dele o meu rabo! Ela não tem que gostar ou desgostar de nada! —Andrei me deu uma cotovelada. —Você vai se casar com o Harry ou com a mãe do Harry?

—Com nenhum dos dois.

Andrei revirou os olhos, tirou outro pedaço da pizza e então ergueu as sobrancelhas pra mim.

—Você não está sendo nem um pouco sensata agora. —Afirmou, me fazendo erguer as sobrancelhas também. —Não estou dizendo que você estava errada em voltar. Eu teria feito a mesma coisa no seu lugar. Mas você só está fugindo agora, Sophia. Precisa voltar e conversar com esse cara. Ele não é a mãe dele é muito menos pensa como ela.

—Eu sei, mas... —Não consegui falar, porque Andrei tinha razão. Eu só estava fugindo.

Passei meus dias tentando escrever aquele livro, enquanto pensava apenas em Harry e em vê-lo novamente. Mas tenho medo da realidade não ser o que eu espero.

[...]

Abri a porta do meu apartamento, jogando as chaves em cima da mesinha ao lado da porta, antes de fechá-la. Assim que acendi a luz, encontrei minha sala de estar vazia e solitária de sempre. As vezes eu lembrava da noite que sai correndo no meio da chuva, depois de ter visto alguém no meu apartamento. Na época eu achei que estava apenas vendo coisas que não existiam. Mas era muito real.

Soltei a bolsa sobre o sofá, jogando meus sapatos em um canto qualquer da sala. Só queria me afundar na banheira e depois dormir a noite toda, sem sonhos malucos, sem pensamentos voltados em bruxas, príncipes ou mundos mágicos estranhos.

Acendi a luz do quarto, parando de andar, ao mesmo tempo que a respiração se prendia na minha garganta. Engoli, muito lentamente, enquanto erguia os olhos para a pessoa de pé ao lado da janela, observando o movimento da rua. Meus ombros ficaram rígidos e minha respiração irregular, ao mesmo tempo que meu coração dava um salto no peito.

—Está fugindo, Sophia? —Harry se virou muito lentamente na minha direção. —De mim ou da minha mãe?

Estava longe de ser o cara que eu conheci no elevador. Os ombros estavam caídos, os olhos cansados e o rosto pálido, como se ele não dormisse a dias. Meu peito se contraiu dentro do peito com aquela visão, com o sentimento de culpa tomando conta de mim.

—Harry... —Minha voz falhou quando ele comprimiu os lábios, parecendo frustrado.

—Vou te fazer uma pergunta muito, muito importante, Sophia. E eu espero, com todo meu coração, que você seja sincera comigo. —Afirmou, fazendo meu corpo estremecer e minha respiração falhar ao ouvir o tom de voz firme e determinado.

Continua...