XXIX

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Se alguém que conhecesse Léo desde cedo e pudesse observar o que aconteceu com ele esses anos todos e, principalmente nos últimos meses, diria que foi um milagre. Primeiro que, nunca deu um passo tão largo quanto ao que estava dando. O futebol sempre foi a prioridade em sua vida, ocupava o tempo, mente e coração, mas quando conheceu alguém com esse mesmo amor, foi impossível não querê-lo. Segundo, querendo ou não, se encontrava dependente. Ele sempre precisava entrar nos jogos, pois esse era seu mundo, seu vício, sua habilidade e seu foco, só que quando aquele cara bronzeado entrou em seus pensamentos, conseguiu com que tudo se tornasse em segundo plano. O poder que o outro tomou em tão pouco tempo é algo desconhecido, era como se o rapaz fosse capaz de fazer uma estrada com todas as bolas que já jogou e atravessá-las pisando e furando uma a uma, se isso significasse que no final o teria. Sim, Messi sabe. Deveria ficar em casa, descansar, mas ele saiu. Deveria também não gostar de homens, e realmente não gosta, ele ama O Homem, algo engraçado de se pensar, mas sufocante para alguém que jamais teve que lidar com um sentimento tão insistente quanto aquele. Sabia também, que não deveria estar atrás de alguém que está  tendo seu momento com a família. Mas ele não tinha confiança em si mesmo, estava com medo de perder a única coisa que o fazia se sentir como um ser normal.

Se bem que, ser normal, passava longe de sua cabeça quando percebe a loucura que seu corpo lhe obrigava a fazer. Era como se não tivesse poder para controlá-los. Desde que chegou em casa após o encontro deles, tentou tomar um banho sem molhar os curativos ou cair no chão. Também tentou preparar um lanche e o achou sem graça. E por mais que tentasse não pensar no que estariam fazendo agora, se pegou pensando em quão bom pai o português era. Em como ficava lindo segurando o bebê, em como gostava de ouvi-lo tentar ser durão com o filho. Porém também pensava que poderia estar arruinando uma possível volta da família perfeita. Ele não queria atrapalhar ninguém. Sabia que dois pais sempre eram peça única no desenvolvimento dos filhos, ser a trave no meio disso tudo não era o certo. Mas Messi era humano. Por que deveria se privar tanto? Ninguém jamais fez isso a ele, e faz simplesmente para quem nem conhece, como aquela mulher. Cris o disse que focava no presente que, no caso, era Léo, então não tinha motivos para não continuar estando ao seu lado. Estava sendo egoísta por pensar em si mesmo pela primeira vez na vida? Então que seja, ele está sendo sim, e está satisfeito com isso. E apavorado. Sentiu seus dedos formigarem ao parar o carro em frente à nova casa ou mansão de Cris em Paris. Era bonita, espaçosa, não tanto quanto a que tinha na Itália, mas ele merecia o melhor. Seguranças já aguardavam para mandar embora quem quer que seja que teria chego na casa do patrão em tão tarde da noite, mas quando viram que não era um cara qualquer que se tratavam, a história mudou. Bastou algumas fotos e autógrafos que a entrada de Léo foi permitida. O que pensariam que ele fosse fazer a tão tarde da noite? Não tinha nem ideia, mas já não racionava direito nessa altura. Tinha ido naquele lugar apenas uma vez em um jantar catastrófico, dessa forma, não sabia direito onde ficava o quarto dele.

Iria subir as escadas? Não, seria mais estranho ainda. Circulando o olhar pelas janelas, não arriscou andar mais. O gramado não permitia sua locomoção com as moletas ser de forma fácil, então se lembrou de uma janela que jurava que Cris teria olhado quando Léo já estava no carro. Mas qual seria? Olhando de uma em uma, encontrou a única com a luz acessa, antes que essa fosse apagada. Era ela. Tinha que ser. Então tentou se abaixar, suspirando pela dor que causava com isso até pegar algumas pedrinhas. Óbvio que teria ficado com nada de estabilidade, caindo ao chão no final. Uma pedra era jogada naquele vidro, quebrando um pouco.

- Aí...

Engoliu em seco e continuou até vê-lo. Tantas vezes que fez coisas estranhas, mas nunca imaginou que essa seria uma delas. Agora, com a ajuda de Cris, subia as escadas.

- Não precisa me carregar. -- falou baixo e olhou para o teto, se sentindo um tanto quanto humilhado por ser levado nos braços após o português descer para o ajudar a entrar.

- Deixe-me tirar uma casquinha de você em paz, por favor. -- o viu revirar os olhos em brincadeira e sorriu.

Colocando -o com cuidado no chão, ele abre a porta com a mão direita, enquanto a outra segurava sua cintura para que não desequilibrasse. Assim que entram, Léo puxa uma poltrona e se senta nela, olhando o tornozelo, ao menos não estava tão ruim quanto deveria estar depois de andar tanto hoje. Cristiano já olhava aquilo também, procurando algum traço de piora, se sentando a frente dele na cama.

- Quero saber, por que você é assim? -- viu a confusão na face do menor e tratou de continuar a fala. -- ... Assim, imprevisível. Uma hora não quer estar próximo, na hora vem na minha casa tarde da noite jogar pedras na minha janela. Em certo momento fica quieto nos próprios pensamentos, em outros afronta até mesmo quem não pertence ao nosso presente. -- se lembrou do que aconteceu no shopping. -- Eu queria tanto te entender.

Disse com uma certa frustação. Se para Léo, já era ruim saber o que se passava, para CR7 era pior ainda, porque se não souber o que acontece, não tem controle, se não tiver controle as coisas podem não dar certo e isso ele realmente pedia para que não acontecesse. Também duvidava de uma resposta, falou apenas por expôr o que sentia. Ele era protetor, porque achava Léo alguém intocável, não queria passar dos limites, nem magoá-lo, então sempre ficava travado com o que tinha permissão para fazer.

-... Eu não sei se posso te abraçar direito. -- Cris continuou. -- Não sei se gosta de estar sempre junto, também não sei até que ponto poderia chamá-lo de meu. Eu te respeito. E isso não me permite avançar em nada. -- sentiu o olhar de pesar do pequeno, e em um suspiro, manteve o rumo da palavra. -- Não estou te exigindo coisa alguma, só que me sinto estranho em não saber nem se minha companhia o atrapalha. Não sei se quer continuar com isso ou se acha que deveríamos esquecer esse "nós". É confuso para mim também. Eu entendo que para você deve ser mais, quero que tome seu tempo, mas eu não sei o que fazer com o meu. Isso tudo é imprevisível. Estranho. Estar com um homem é insano. Estar com meu rival também é. E o fato de você fazer essas coisas, uma hora correr para meus braços e na outra virar o rosto, me faz pensar que talvez eu não seja a pessoa mais adequada para você.

Messi tentava ao máximo focar toda sua atenção no que seu amado dizia. Sentia sua garganta doer de um sentimento ruim querer subir pelo próprio corpo. Ele não queria ser assim, não mesmo, queria poder ter atitude, estava tendo, mas ao mesmo tempo não. Se atrapalhava. Abaixando os olhos por alguns segundos, Léo travava uma batalha contra seus pensamentos que tentavam o corroer, sempre eles ali, sempre tentando jogá -lo para dentro de sua mente, nunca permitindo que conseguisse viver. Ele quer isso. Se sentir vivo, sentir seu coração pulsar para algo além do que se mesmo tinha permitido no futebol. Então mãos quentes pegaram as gélidas, fazendo os cenários se cessarem.

-... Não sou o exemplo de perfeição. -- o português respirou fundo. -- Já te chamei de duende latino com os outros, já zombei que nunca vencia nada pela seleção. -- riu sem humor, se sentindo um idiota. -- Ignorei meu melhor amigo e ele não fez absolutamente nada para impedir que Ramos quase o lesionasse. Eu também quero ser melhor que você, e ir para o PSG foi algo sem pensar de certa forma, minha expectativa também era de que pudesse provar ser o que mantém o futebol empolgante, liderando todos, te mostrando quem sou. Estando perto. O cara que vira o jogo. O pai de Champions que finalmente traria a taça para Paris. Eu sou egoísta, não você. Meu problema não está aqui, eu acho. -- toca na cabeça do argentino que o olhava sem reação. -- ... Mas aqui. -- desliza as pontas dos dedos por seu peito até parar na parte em que seu coração pulsava. -- Acontece, Léo, que não há pessoas perfeitas. Me acostumei com coisas fáceis e não com difíceis, então não sei lidar com você. Nunca sei se posso corresponder seus abraços ou fazer alguma brincadeira. Só que a culpa não é sua, não é porque eu interajo com os outros, me acho ou sou um líder que me faz ser saudável e você o problema na relação. Como curar algo que é mal de caráter?

Pergunta não tendo muita coragem de encará-lo no final. O homem ajeita a postura, voltando a apoiar os braços nas coxas e virando o rosto na direção esquerda em que estava a janela. Lá fora, tão escuro, parecia mais confortante que sua confiança depois de toda sua confissão. Mas era isso. Léo tinha que parar de colocá-lo em um pedestal e dizer que deveria estar à altura. Cristiano era um ser tão mundano que não se agradava em nada em merecer um coração tão puro quanto aquele. Só que era a vez da mão gélida se padecer sobre a quente. Tomando o ar para seus pulmões, Messi sabia que não era tão prático com as palavras, portanto quis ser verdadeiro, e o máximo que sua boca conseguiu professar era:

- Eu não ligo para isso. E amo você.

For him  ✪ | CR7 & Messi | BoyxBoyOnde as histórias ganham vida. Descobre agora