A Dimensão Das Estrelas / Vol. 1

Capítulo 16: Acidente de carro.

—Você me perguntou se eu estava no carro quando meus pais morreram. —Murmurei, engolindo o nó que se formou na minha garganta. —Eu estava.

—Não precisa me contar, Sophia. —Afirmou, e eu balancei a cabeça. Eu precisava. Eu queria que ele soubesse.

—Está tudo bem. —Sussurrei. —Só preciso de um segundo.

Ele ficou em silêncio, me dando o tempo que eu havia pedido. Enquanto eu apenas respirava fundo e tentava regular minha respiração. Harry se levantou, atravessando a cela e se sentando ao meu lado.

—Eu não falo sobre isso com ninguém. —Comecei. —A única pessoa no universo que sabe tudo sobre mim é Katie. Ela é minha melhor amiga desde os dez anos de idade. Nós duas crescemos juntas no mesmo orfanato.

Eu não precisava olhar para ele, para saber que ele estava surpreso e prestava completa atenção nas minhas palavras.

—Eu não saio com muitas pessoas. Na verdade, com ninguém. —Apertei minhas mãos, sentindo o ar frio em volta de mim. —Eu já tinha conversado com outras pessoas em baladas e outros lugares, mas eu sempre fugia quando o assunto parava nos meus pais ou na minha vida. Pelo simples fato que eu ficava apavorada.

Não consegui olhar para Harry. Sentia meu coração pesado e batendo com força, enquanto minha barriga estava gelada, pelo nervosismo.

—Aquele dia na rua, que você me ajudou. Eu estava tendo um ataque de pânico. Eram mais frequentes quando eu era criança, mas eu consegui superar eles com o tempo. —Voltei a encarar minhas mãos. —Eu tenho eles agora, apenas quando vejo...

—Um acidente de carro. —Ele completou baixinho e eu assenti, sentindo minha garganta se fechando

—Meu pai estava sempre viajando por conta do trabalho. Ele normalmente levava eu e mamãe juntas, mesmo nós duas odiando essas viagens. Ele era um pai amoroso, só que o trabalho deixava ele praticamente ausente e isso irritava minha mãe. —Respirei fundo. —Naquele dia, nós saímos de madrugada para viajar. Minha mãe estava tão incomodada que eles acabaram discutindo no carro. Eu estava no banco de trás observando tudo.

Senti seus dedos roçando na minha bochecha e limpando as lágrimas que caiam dos meus olhos. Eu o encarei e automaticamente segurei a mão dele que estava no meu rosto, sentindo o calor dela passar para minha pele, como um calmante. Fiquei brincando com os seus dedos, deslizando minhas unhas pela pele macia da palma da sua mão.

—Tinha chovido naquele dia. O asfalto estava úmido. Um carro acabou deslizando na pista, quando tentou parar no sinal. —Continuei. —Um caminhão estava vindo de outra rua e tentou desviar. Meu pai estava discutindo com a minha mãe e nem percebeu o caminhão vindo na nossa direção.

Apertei sua mão com força. Eu tinha certeza que deveria estar machucando, mas ele não reclamou.

—Eu fechei meus olhos assim que o impacto aconteceu. O carro deslizou na pista e depois capotou. Eu não vi nada acontecer, apenas abri os olhos quando o carro parou. —Mais lágrimas caíram dos meus olhos. —Naquele momento eu percebi que estava sozinha. O carro tinha se partido no meio. —Um soluço escapou pela minha boca. —Eu fiquei presa no banco, escutando os gritos e as vozes das pessoas, até os policiais e a ambulância aparecerem. Quando eles me soltaram do carro, um policial se ajoelhou na minha frente e me pediu para ficar de olhos fechados. Eu fiz o que ele pediu. Fechei os olhos porque sabia que se abrisse, eu veria a outra parte do carro. Então eu apenas escondi meu rosto no ombro do policial, enquanto ele me levava para uma ambulância. Um dia inteiro sozinha no hospital, enquanto eles tentavam encontrar algum parente próximo, até ser levada para o orfanato. Eu passava todas as noites em claro chorando, por conta de pesadelos com o acidente.

Ergui meus olhos até ele, vendo ele encarar nossas mãos juntas. Fechei meus olhos e deixei que ele me puxasse contra si, me apertando em um abraço, enquanto eu chorava com o rosto escondido no seu peito.

—Está tudo bem, Sophia. Eu sinto tanto por isso. —Ele beijou o topo da minha cabeça, me apertando contra si, me deixando ouvir as batidas frenéticas do seu coração. —Eu estou aqui com você, linda.

Afastei meu rosto, percebendo que estava praticamente sentada no colo dele. Olhei para o rosto dele, vendo a preocupação estampado seu rosto. Meu coração apertou e meus olhos focaram nos seus.

—Você não tem só a Katie, okay? —Ele segurou meu rosto entre as mãos, limpando as lágrimas que manchavam minhas bochechas. —Você tem a mim também.

Balancei a cabeça, não conseguindo dizer mais nada. Harry me puxou de novo, me abraçando como se sua vida dependesse disso. O abracei de volta, sentindo fogos de artifício explodindo dentro de mim, enquanto ele me confortava.

Continua...