Capítulo 8: Bruxas.

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Harry

Girei na cadeira, enquanto olhava fixamente para o teto. Havia o som irritante de um telefone tocando na sala de alguém. Meu tio também estava em uma ligação, falando sobre algo relacionado a uma ilustração de um livro. O som do telefone sendo solto no gancho chamou minha atenção, me fazendo erguer o rosto e vê-lo me observando.

—O que foi? —Indagou. —A sua cara de preocupação é evidente. Não encontrou Agnes? —Ele não me deixou responder. —Talvez deva esperar Noah vir te buscar. Melhor do que ficar andando por aí procurando uma agulha no palheiro.

—O que? —Fiz uma careta, e ele revirou os olhos.

—Esqueci que você não entende algumas coisas que falamos aqui. —Ele balançou a mão em indiferença. —Reformulando, é melhor do que ficar por aí procurando uma bruxa em uma cidade imensa.

—Não posso ficar parado esperando Noah aparecer milagrosamente pra me buscar. —Fechei meus olhos, xingando ele mentalmente por isso. —Mas a questão não é ele nem Agnes. A Sophia... —Meu tio ergueu uma das sobrancelhas. —Acho que as bruxas estão atrás dela.

—O que? —Ele soltou os papéis que estava analisando. —Por que acha isso?

—Eu encontrei com ela algumas vezes na rua. Provavelmente as bruxas estavam atrás de mim e me viram com ela. —Dei de ombros, em meio a um suspiro pesado. —Acho que já da pra entender o resto.

—Ah, merda! —Ele passou a mão nos cabelos.

—Eu estive com ela ontem a noite. Ela me contou que andou vendo alguém a seguindo e que achava que tinha alguém no apartamento dela. —Continuei, sentindo vontade de levantar e ir na sala dela, saber se ela estava bem. —Mas ela... ela acha que é bobagem e que está só estressada. Sei lá.

Meu tio me encarou por alguns segundos, parecendo pensar no que eu havia contado. Me ajeitei na cadeira, me sentindo sem jeito por um momento.

—O que foi? —Indaguei, vendo a expressão sugestiva dele, com as sobrancelhas erguidas.

—O que estava fazendo com ela ontem a noite?

Ah...

Isso importa? —Ele tombou a cabeça de lado, sem vacilar. —Eu estava indo pra casa quando esbarrei com ela na rua. Foi na hora da tempestade. A gente acabou indo dar uma volta e...

—Você estava indo pra casa? —Ele me cortou, parecendo querer rir. —Você está ficando na minha casa, Harry. E pelo que eu saiba, moro do lado oposto de Londres, bem longe de onde Sophia mora. —Encolhi os ombros, me sentindo desconfortável. —O que está fazendo, Harry?

A voz dele não soou de forma rude. Ele não estava bravo. Mas parecia preocupado. Não sabia se comigo ou com a própria funcionária.

—Eu só... eu não sei. —Dei de ombros. —Estava cansado de ficar sentado esperando Noah ou Agnes aparecer. Fui dar uma volta. Já tinha estado na casa dela uma vez, quando ela passou mal. E quando vi, estava indo pra lá de novo.

Não contei a ele sobre ela ter um ataque de pânico. Porque Sophia parecia não gostar de falar sobre isso e eu percebi que também não gostaria que os outros soubessem sobre isso. Então apenas contei que ela tinha passado mal. Era o suficiente para meu tio, quando ele questionou meu sumiço por uma noite toda.

—Harry, você sabe que vai voltar pra casa e não vai mais vê-la, não é? —Comentou, um pouco baixo.

—Eu sei! Não estou apaixonado por ela! Eu só... eu só... —As palavras morreram na minha boca e eu me senti como um idiota. —Gosto de conversar com ela. Só isso. Ela não é igual as mulheres da minha dimensão que ficam falando sobre vestidos, penteados e de como eu vou ser um excelente rei um dia. Ela é só... uma garota comum que conversa e olha pra mim de forma natural. E não só pela coroa que um dia vai estar na minha cabeça.

Fiquei em silêncio, encarando um ponto fixo na mesa dele. Fiquei surpreso ao perceber que meu coração estava acelerado demais. Martelando com força no meu peito como se quisesse fugir.

Quando Noah me jogou em Londres a primeira coisa que fiz foi procurar meu tio. Ele havia deixado a nossa dimensão quando se apaixonou por uma mulher daqui. Eu sabia que ele era o único com quem eu podia contar. Então, comecei a procurar pro Agnes. Uma bruxa que vive em Londres e que poderia me arranjar uma pedra dimensional, que me levaria de volta para casa.

Noah vai vir me buscar, eu sei. Mas não posso ficar esperando. Não faço ideia do que possa ter acontecido com ele naquela floresta, depois de me lançar aqui. Ser metade bruxo não salva ele de ser odiado por elas, tanto quanto elas me odeiam. O príncipe intrometido que invadiu suas terras, como elas mesmas disseram quando me encontraram.

—Eu te entendo, Harry. Mas essa sua aproximação com ela acabou de gerar um problema. —Ele suspirou, parecendo pensativo. —Se elas estavam no apartamento dela, então provavelmente estão tentando pega-la. Sinceramente? Não quero nem imaginar o caos que seria se isso acontecesse.

—Elas vão tentar de novo. —Afirmei, e ele concordou com a cabeça, curvando os lábios em frustração.

—Posso ficar de olho nela aqui na editora. Mas fora daqui, você vai ficar de olho nela. —Ele ergueu as sobrancelhas. —E tente não se aproximar dela mais do que necessário, está bem?

—Por que está falando isso?

—Por que quando eu aproximei demais de uma mulher, acabei me apaixonando por ela. Fiz uma escolha me mudando pra cá, Harry. Sua mãe nunca mais quis falar comigo ou me ouvir. Tenho certeza que não seria nada bom se isso acontecesse com você. —Ele abriu um sorriso fraco. —Eu quero o seu bem. E você sabe que isso não seria bom pra você e nem pra Sophia. Ela não precisa passar por um tormento desses.

—Eu sei. —Afirmei, sentindo o mundo girar ao meu redor. —Vou ficar de olho nela... de longe. Prometo.


Continua...

A Dimensão Das Estrelas / Vol. 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora