Capítulo 6: Trovões.

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Eu já estava ensopada naquele momento. Cada trovão que ecoava pelos céus, um novo tremor percorria meu corpo. Olhei para trás, vendo a calçada vazia. Eu era a única alma viva andando pela rua, além dos carros indiferentes a mim.

Eu iria pra casa de Katie, mais tarde, quando minha mente clareasse. Eu não conseguia pensar direito naquele momento. Tinha alguém no meu apartamento. Isso ou eu estou ficando maluca de vez. Homens de guarda-chuvas prestos e olhos amarelados. Minha janela estranhamente aberta e aquela sensação estranha.

—Eu estou ficando louca! —Afirmei, para mim mesma. Andei mais rápido, sem saber ao certo aonde ir. Meu cabelo estava grudado ao redor do meu rosto e meu corpo encolhido, enquanto minhas penas me colocavam em movimento. Virei uma esquina, ignorando o trovão que clareou os céus. —Perdão!

Trombei com uma parede de músculos quando fui olhar para o céu. Mas me desculpei e desviei do mesmo para continuar andando. Não fui muito longe. Provavelmente dei uns cinco passos antes de ouvir a voz dizer um "Sophia?" com um pouco de dúvida. Parei, com os pés lado a lado e minha mente virada em nada além de confusão e cansaço.

—Sophia? —Me virei quando ele chamou a segunda vez. Harry estava parado no meio da calçada. Estava ensopado, como eu. Os cabelos loiros que normalmente eram rebeldes estavam grudados na sua testa. O rosto parecia um pouco corado, por conta da chuva gelada. E os olhos estavam fixos em mim. Era engraçado. A chuva estava caindo sobre ele, mas o mesmo tinha as mãos nos bolsos da calça de uma forma tão casual, que senti vontade de rir.

—Ei, o que faz aqui no meio da tempestade? —Ele se aproximou de mim, parecendo genuinamente preocupado. —Está tudo bem? Aconteceu algo?

Meus lábios se curvaram, até eu morder o inferior com certa força. Soltei ele do aperto dos meus dentes na mesma hora, quando vi que Harry estava observando o movimento, de uma forma que me deixou desconcertada, com um ligeiro frio na barriga.

—Eu... eu... —Olhei ao redor, sem saber o que dizer. Até me tocar que ele também estava ali, no meio da tempestade. —O que faz aqui?

—Estou hospedado em um hotel aqui perto. —Ele respondeu, rápido demais, como se esperasse que alguém fizesse essa pergunta e ele precisasse ter a resposta na ponta da língua.  —Você está bem?

—Estou. —Minha respiração saiu com força dos meus lábios, e eu percebi que não havia soado convincente. —Estou bem. Só estava... só estava...

Parei de falar, mordendo o interior da bochecha e sentindo minhas bochechas esquentarem. Eu não era boa em inventar mentiras. Era péssima, pra falar a verdade. Outro trovão ecoou pelos céus. Estava distraída dessa vez, que acabei levando um susto e pisando para trás. Meu salto encontrou o meio fio e eu me desequilibrei, soltando o ar com força.

Antes que meu corpo voasse para o chão e meus lábios beijassem o asfalto de vez, Harry, em um ato rápido, me puxou para si de força brusca. Minha mente girou por alguns segundos, até eu sentir meus pés firmes no chão. Meu corpo estava grudado em um corpo quente e macio. Ergui a cabeça, encontrando o par de olhos azuis focados nos meus, próximos demais.

Harry tinha sua mão ao redor da minha cintura, com um aperto firme que me deu um arrepio que varreu minha coluna. Sua respiração estava tocando minha bochecha, me deixando repleta de borboletas no estômago.

—Me desculpa. —Me afastei dele, sentindo meu coração bater descontrolado, martelando no meu peito como se quisesse erguer voo. Harry deu um passo para trás, parecendo confuso por alguns segundos. —Quer dizer, obrigada. Eu sou um pouco estabanada.

—Tudo bem. —Ele sorriu com o canto dos lábios, erguendo a mão para ajeitar os cabelos molhados pela chuva. —Hm... quer ir pra outro lugar? Ou quer que eu a acompanhe até em casa?

—Ah! —Mordi minha língua. Não queria voltar pra casa tão cedo. —Podemos ir até um café aqui perto. Fugir da chuva. Apesar de não fazer muita diferença agora. —Afirmei, sentindo minhas roupas grudarem no meu corpo.

Harry me observou por alguns segundos e então assentiu.

[...]

Passei pela porta do café, sentindo o calor do ar condicionado, já que estava com as roupas molhadas e geladas. Harry entrou atrás de mim, tentando ajeitar os cabelos de novo, que pareciam mais rebeldes do que nunca, agora que estavam molhados pela chuva.

—Então, você ainda não me disse o que estava fazendo na rua, no meio da chuva. —Comentou, enquanto eu me dirigia até o balcão para pedir um café. Ou qualquer coisa quente o suficiente para me esquentar naquele momento.

Olhei para Harry com o canto dos lábios, pensando no que dizer. Bem, primeiro estou vendo coisas estranhas. Estou meio paranoica achando que um cara está me seguindo. E agora, posso jurar que ele estava no meu apartamento. O que não faz sentido nenhum.

—Estava indo pra casa. —Menti, vendo ele me olhar no mesmo instante, juntando as sobrancelhas.

—Sua casa ficava na direção oposta da qual você ia. —Murmurou, curvando o corpo para próximo do meu, me fazendo engolir em seco, quando percebi que seu rosto estava próximo demais. —E você parecia um pouco assustada.

—Trovões... não sou muito fã de trovões. —Afirmei, vendo ele erguer uma das sobrancelhas. Era claro que ele sabia que eu estava mentindo de novo e, principalmente, fugindo do assunto.

Ele me olhou por longos instantes e eu o encarei de volta, até minha timidez falar mais alto e eu desviar os olhos para o chão, com as minhas bochechas visivelmente coradas. Meu coração ainda estava acelerado e a proximidade dele naquele instante não estava ajudando muito.

—Você cora com tanta facilidade. —Comentou, me deixando ainda mais sem jeito. Olhei pra ele, vendo que seus olhos pareciam mais azuis ainda, enquanto fitavam meu rosto com muita atenção e calma. —É... fofo.

—Fofo? —Ri, balançando a cabeça negativamente. —Eu acho constrangedor.

Harry não respondeu aquilo. Sua atenção ainda estava no meu rosto. Engoli em seco, sentindo minhas mãos soarem de nervosismo e ansiedade, enquanto eu o via analisar cada mínimo detalhe do meu rosto, como se quisesse me desvendar.

Eu também queria desvenda-lo. O conhecia a menos de três dias. E foi tempo suficiente para já nos esbarrarmos algumas vezes e ele inclusive dormir no sofá da minha sala. E ele era bonito. Bonito de uma forma única. Tudo era proporcional nele. Seu rosto bem desenhado e perfeito. Os olhos claros como o céu azul. As bochechas vermelhas pelo frio e os cabelos loiros que eu morria de vontade de passar a mão, para saber se eram tão macios quanto pareciam.

Desviei os olhos, sabendo que o estava secando descaradamente. Mas ele parecia fazer o mesmo comigo, então não me importei com o fato do momento. Pedi dois cafés para a moça do outro lado do balcão e aguardei ela retornar, enquanto um silêncio tranquilo se seguia entre nós.

—A chuva diminuiu. —Olhei para as janelas, vendo que era verdade. Havia diminuído. Mas eu ainda não queria voltar pra casa. Soltei um suspiro e olhei para Harry, me sentindo sem jeito.

—Você tem algo importante pra fazer hoje ainda? —Questionei, e ele negou com a cabeça na mesma hora. —Bem, então, gostaria de me acompanhar em um... passeio?

—Passeio? —Ele abriu um sorriso com o canto dos lábios, me fazendo ficar tímida de novo.

—Você disse que gosta de observar as estrelas. Conheço um lugar aqui de Londres que você vai amar. Eu acho, pelo menos. —Dei de ombros.

—Certo. Eu adoraria acompanhá-la até lá. —Afirmou, com uma gentileza de partir o coração.

Certo, esse homem não podia ser real também.



Continua...

A Dimensão Das Estrelas / Vol. 1Where stories live. Discover now