Quando o castelo fora invadido acabaram lutando e ela o ferira sem gravidade, mas da mesma forma quando ele a desafiara em um penhasco anos antes pelo direito de possuí-la, dessa vez ela também não colocara sua alma na luta. Como poderia matar o homem que tanto amava? O pai de seus filhos? Pretendia vencê-lo e no máximo conseguir sua rendição para que ele a permitisse partir, mas surpreendentemente ele conseguira derrotá-la.

Por isso ela ordenara que Yusuf e Brunilde se entregassem, depois que Juan dera sua palavra de que nada de mal lhes aconteceria, o que foi confirmado pelo comandante do exército cristão, com a condição de que ela se comprometesse a ir até Oviedo sem tentar fugir.

Seu irmão Mahmud morrera em combate, acreditara em Juan quando ele dissera que não tivera participação, e ficara emocionada quando ele contara sobre o pedido de desculpas, mas saber que sua cabeça fora decepada e enviada por um mensageiro para o rei mostrava a intenção dos cristãos em a humilhar.

Sentia-se triste pela perda de Mahmud, apesar de tudo era seu irmão mais velho e o amava, embora nem sempre concordasse com suas decisões.

Agora foram surpreendidos por Jamal, o maldito a teria seguido desde Trujillo? Seu irmão comentara que o Emir enviara várias tropas para a fronteira.

Olhou de soslaio Juan que galopava ao seu lado e sentiu-se confiante e feliz, como na época em que cavalgaram juntos contra as tropas do Emir, anos antes.

Os cavaleiros se encontraram em uma cacofonia de relinchos e gritos de guerra.

Jamila cortou o pescoço de um árabe quando suas montarias cruzaram lado a lado, em seguida se chocou contra outro, trocando golpes. Conseguiu estocar seu adversário perfurando seu abdômen e girou sua montaria procurando Jamal, este estava afastado da luta, ao seu lado, quatro cavaleiros pareciam protegê-lo, enquanto ele apreciava o espetáculo de homens morrendo, como se estivesse em uma feira vendo um torneio.

A luta era brutal, os cavaleiros cristãos lutavam com bravura e Juan mais do que todos, ela o viu cortar o tronco de um árabe transversalmente derrubando-o ao solo e imediatamente atacando outro. Mas, percebeu que estavam em inferioridade numérica, logo seria derrotados.

Após lutar e matar mais um inimigo ela conseguiu se aproximar de Juan, que também derrotara outro inimigo.

— Precisamos fugir, é a mim que Jamal quer! – gritou por cima do estrépito da batalha.

Juan olhou em volta, seus cavaleiros estavam quase todos mortos.

— Para o bosque! – gritou apontando para o conjunto de árvores à distância.

Jamila golpeou com força seu cavalo e disparou na direção apontada, olhou por cima dos ombros e avistou Juan logo atrás, mas Jamal também percebera a fuga dela e, juntamente com seus quatro cavaleiros galopava na direção deles.

Ela se curvou ainda mais, quase encostando no pescoço forte de sua montaria para imprimir maior velocidade até que, finalmente, alcançou as primeiras árvores, seguida de Juan.

— Vamos! – gritou ela continuando na dianteira.

Galoparam por entre as árvores e o bosque começou a ficar mais espesso. Ouviam o som dos gritos de Jamal e os relinchos de suas montarias.

O solo começou a se tornar lamacento e ela percebeu que estavam adentrando em um pântano banhado pelas águas do rio que viram correr do interior do bosque.

— É um pântano, desmonte – ordenou Juan para ela.

Juntos desceram das montarias e Juan bateu em seus flancos obrigando-as a galoparem para o interior do pântano.

— Venha – ordenou ele puxando-a pela mão.

Caminharam por entre as árvores deixando o solo lamacento e entrando em águas fétidas e paradas que chegavam até a altura dos joelhos. Jamila sentiu o corpo enregelar quando sua calça e suas botas se encharcaram, mas Juan continuou puxando-a até que se deteve fazendo-a se agachar atrás de uma árvore em meio às espessas moitas e arbustos.

Ele colocou-se ao seu lado e fez um gesto pedindo para que ela ficasse em silêncio. Alguns pássaros cantavam em meio às folhagens e logo ouviram o som de montarias chapinhando na lama.

— Eles não podem ter ido longe! – ouviram a voz de Jamal gritando.

— Alcançamos as montarias deles, mas não os encontramos! – um grito foi ouvido em resposta.

— Continuem procurando! Eu a quero viva, o cristão podem matar! – gritou e ouviram o chapinhar de cavalos se afastando.

Jamila encarou Juan que sustentou seu olhar. Ele se ergueu e após um momento escutando atentamente a puxou pela mão e caminhando o mais silenciosamente possível avançaram cada vez mais no interior do pântano.

A GUERREIRA INDOMÁVELWhere stories live. Discover now