Anne with an e- Corações em j...

By RosanaAparecidaMande

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Anne Shirley Cuthbert foi abandonada ao nascer em um orfanato por sua mãe biológica, mas ela nunca deixou de... More

capítulo 1- Lembranças
capítulo 2- amores do passado
Capítulo 3- sentimentos escondidos
Capítulo 4- Duas almas e um destino
Capítulo 5- Lado a lado com o amor
Capítulo 6- Nestes olhos teus.
Capítulo 7 - Emoções em conflito
Capítulo 8- O amor entre nós
Capítulo 9- Chamas de uma paixão
Capítulo 10- Apenas você
Capítulo 11- Corações apaixonados
Capítulo 12- Esse sonho de amor
Capítulo 13- Quando o coração se apaixona
Capítulo 14- O sentimento que vive em mim
Capítulo 15- Combinação perfeita
Capítulo 16- O que nos separa
Capítulo 17- Revelações
Capítulo 18- Expectativas
Capítulo 19- O que nos une
Capítulo 20- Tudo o que eu quis
Capítulo 21- Tudo o que sonhei
Capítulo 22- Tudo o que somos
Capítulo 23- O que me pertence
Capítulo 24- O tempo é algo relativo
Capítulo 25- O amor que te ofereço
Capítulo 26- Pensamentos proibidos
Capítulo 27- Pensamentos e desejos
Part 28- Provando do pecado
Part 29- O Jogo do amor
Part 30- Caprichos do coração
Part 31- Segredos e Desejos
Capítulo 32- Flertando com o perigo
Capítulo 33- O inesperado
Capítulo 34- Revelando um segredo
Capítulo 35- O incêndio
Capítulo 36- Uma esperança
Capítulo 37- O incêndio parte 2
Capítulo 38- Paraíso particular
Capítulo 39- As duas faces do amor
Capítulo 40- Idas e Vindas
Part 41- O retorno
Capítulo 42- Tudo o que existe entre nós
Capítulo 43- Como no princípio
Capítulo 44- Feliz Aniversário
Capítulo 45- Uma grande surpresa
Capítulo 46- O perigo mora ao lado
Capítulo 47- O inimigo nas sombras
Part 48- Amor e dor
Capítulo 49- As verdades do coração
Capítulo 50- Almas divididas
Capítulo 51- Palavras não ditas.
Part 52- O jardim do Éden
Capítulo 53- Ps: Eu te amo.
Capítulo 54- Eterno amor
Capítulo 55- Sua força em mim
Capítulo 56- Um só coração
Capítulo 57- Sem Regras
Capítulo 58- Sussurros e juras de amor
Capítulo 59- Entre o céu e o inferno
Capítulo 61- A promessa de uma vida
Capítulo 62- Entre as estrelas
Capítulo 63- De corpo e alma
Capítulo 64- Desejo e castigo
Capítulo 65- Ao cair da tarde
Capítulo 66- Vidas entrelaçadas
Capítulo 67- Amor imenso
Capítulo 68- Fogo
Comunicado
Capítulo 70- Sonhos perfeitos
Capítulo 72- Xeque Mate
Capítulo 73- Anjo Ruivo
Capítulo 74- Amor de diamante
Capítulo 75- Para sempre
Capítulo 76- Um Natal para relembrar
Capítulo 77- Tudo o que importa
Capítulo 78- Um grande novo ano
História Nova
Capítulo 79- A segurança dos seus braços
Capítulo 80- Can't take my eyes off you
Capítulo 81- Inesquecível amor
Capítulo 82- O casamento do ano
Capítulo 83- Lua de Mel Havaiana
Capítulo 84- Uma nova vida juntos
Capítulo 85- Inseguranças e Fragilidades
Capítulo 86- Ao nascer do sol
Capítulo 87- O caminho de volta
Capítulo 88- O ingrediente principal
Capítulo 89- Na alegria ou na tristeza.
Capítulo 90- O benefício da dúvida
Capítulo 91- Amor e mágoa
Capítulo 92- Impasse
Capítulo 93- Uma longa noite
Capítulo 94- Sob o mesmo céu
Capítulo 95- Juntos
Capítulo 96- A razão da minha felicidade
Capítulo 97- Alcançando as estrelas
Capítulo 98- Acerto de contas
Capítulo 99- A vida por um fio
Capítulo 100- Garota Extraordinária
Capítulo 101- Na dor
Capítulo 102- A beleza de Vênus
Capítulo 103- The way I love you
Capítulo 104- Reconstruindo sonhos
Capítulo 105- Amor de mãe
Capítulo 106- Um novo tempo
Capítulo 107- Entre a mágoa e o perdão
Capítulo 108- Redescobrindo o passado
Capítulo 109 - Universo particular
Capítulo 110 - Esposa perfeita
Capítulo 111- Paraíso na terra
Capítulo 112- Um futuro cheio de promessas
Capítulo 113- O perdão é a cura da alma
Capítulo 114 - Lucy
Epílogo
Agradecimentos
Prêmios

Capítulo 60- Lar

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By RosanaAparecidaMande

Olá, leitores. Espero que gostem desse capítulo. Espero que comentem e digam o que acharam, pois isso me anima sempre. Desculpem pelos erros ortográficos. Beijos, e muito obrigada.

ANNE

O ar frio da cozinha atingiu Anne em cheio. Ela não conseguia se mexer, e suas mãos agarravam o telefone com tanta força que parecia que iria parti-lo ao meio, enquanto chamava o nome de Gilbert sem parar sem receber resposta nenhuma. Ela fechou os olhos rezando para que o que sua mente estava imaginando não fosse verdade, e começou a tremer violentamente, percebendo que não conseguiria se manter em pé por muito tempo. Por isso, ela cambaleou até a sala sentando-se em seu sofá de couro macio, enquanto as lágrimas de angústia começaram a rolar.

Ela precisava ouvir a voz de Gilbert e saber se ele estava bem. Ela precisava que ele estivesse bem ou ela enlouqueceria de dor, por isso, ela discou o número do celular dele esperando ansiosamente que ele atendesse, e dissesse que a linha do telefone tinha caído, e por essa razão, ele não atendera. Porém, ela ouviu o toque do outro lado até que caiu na caixa postal e o silêncio aterrorizante fez tudo ao redor de Anne girar. Ela fechou os olhos de novo, esperando que a sensação de tontura passasse e ela conseguisse raciocinar melhor. Em seguida, mil pensamentos atropelaram sua mente novamente, exigindo que ela tomasse uma atitude ao invés de se entregar ao desespero, sem ter a menor ideia do que tinha acontecido.

Porém, o que ela deveria fazer? Para onde deveria ir? Gilbert não lhe dissera onde ele estava quando ligou minutos atrás, e ela não sabia por onde começar a procurar. A imagem de Cole surgiu em sua mente e Anne imediatamente discou o número do amigo, rezando para que ele atendesse e viesse socorrê-la ou estaria perdida.

- Alo. - ela ouviu Cole dizer, e ela respondeu com a fala apressada querendo explicar para o rapaz o que tinha acontecido, ao mesmo tempo em que pedia socorro para si mesma e para Gilbert. Entretanto, em seu nervosismo as palavras soaram incoerentes para Cole que logo a interrompeu dizendo:

- Anne, você está em casa?

- Sim. - ela respondeu com a voz embargada.

- Estou indo ai agora. Me espere. – ela apenas concordou com a voz quase inaudível, e então ele desligou.

Anne recostou a cabeça nas almofadas que estavam em cima do sofá, pensou em Gilbert horas antes com ela naquele apartamento, e começou a chorar sem parar. Ela desejou que ele ainda estivesse ali com ela para que pudesse abraçá-lo como antes. Seu peito doía de apreensão, assim como sua cabeça que não parava de lhe trazer imagens dele sorrindo para ela, beijando-a com paixão, dizendo a todos momento com seus olhos, seu toque, sua voz o quanto a amava, fazendo-a sentir que a vida valia a pena, porque ele estava ali com ela, e sem ele seu coração murcharia até morrer. Por que não dissera a ele mais vezes que o amava? Por que preferira guardar o tamanho do seu sentimento dentro de si para somente revelá-lo nos momentos mais especiais? Anne se lembrou do que uma amiga sua lhe dissera uma vez, que quando ela amasse alguém de verdade para não ter medo de dizer à essa pessoa como se sentia, porque talvez ela não tivesse uma oportunidade melhor no dia seguinte. E ela se recriminava por não ter feito exatamente isso quando Gilbert lhe contara sobre Sarah, e quando fizeram amor depois de dias sem se verem, ela poderia ter revelado a Gilbert o quanto ele era importante em sua vida, mas, não o fizera, porque pensara que teria tempo para isso depois.

E se não tivesse mais tempo? E se ela o perdesse? E se ele não mais voltasse? Pare! ela gritou e só percebeu que fez isso em voz alta, quando suas palavras ecoaram pela sala toda. Ela tinha que parar de pensar daquela maneira. Não sabia o que tinha acontecido, e nem se Gilbert estava ferido, ou mesmo se ele tinha se envolvido em um acidente de alguma forma. Anne estava sendo influenciada por seus sonhos, e por aqueles pensamentos atormentadores que a faziam esperar pelo pior. O melhor que tinha a fazer era se acalmar, e aguardar pela chegada de Cole, pois o amigo saberia o que fazer para ajudá-la, ele sempre sabia.

Como se respondesse aos pensamentos dela, a campainha tocou, e Anne se levantou em um pulo correndo para atender. Quando a abriu, Cole a olhou aflito e ela o abraçou recomeçando a chorar de alivio por não ter que passar por aquilo sozinha, e apreensão porque tudo o que desejava era ter Gilbert em casa são e salvo, e ela simplesmente não sabia ainda o que acontecera com seu amor.

- Calma, meu amor. Eu estou aqui. - ele disse, tocando-lhe os cabelos. - Vamos nos sentar no sofá, e você me conta o que aconteceu. - assim que se acomodaram, Cole disse:- Agora me diga devagar o que aconteceu com Gilbert. – entre soluços e nervosismo, Anne foi revelando a Cole o que havia acontecido desde que Gilbert saíra de casa para ir ao encontro de Muddy, e todo o tempo ela dizia que a culpa era dela, tanto que o rapaz a interrompeu depois de um tempo de narrativa, e perguntou:

- Pode por favor me dizer, de maneira bem clara, porque o fato de Gilbert talvez ter sofrido um acidente é culpa sua? - Anne baixou seus olhos para o chão, sem saber se deveria revelar a Cole sobre as ameaças. Ela vinha ensaiando a algum tempo em falar com ele sobre aquilo, contudo, acabava adiando a conversa por saber o quanto quilo abalaria o amigo. No entanto, ela sentia que tinha chegado o momento de dizer. Não podia mais esconder aquilo dele, principalmente, se algo grave tivesse acontecido a Gilbert justamente por sua culpa. Porque ela era culpada, querendo admitir isso ou não. Ela trouxera aquele monstro para a vida das pessoas que lhe eram mais caras, e envolvera Gilbert naquela confusão toda quando insistiu para que ficassem juntos. Talvez, ela devesse ter esperado que aquilo tudo tivesse resolvido para se entregar ao amor que sentia por Gilbert, porque desta forma não teriam aquela sombra agourenta sobre suas cabeças alertando-os que tanta felicidade poderia acabar em um segundo. Ela balançou a cabeça querendo arrancar aqueles pensamentos de sua mente. O que estava pensando? Ela achava mesmo que estaria melhor sem Gilbert e ele sem ela naquele momento? Anne não suportava respirar sem ele, mas, não tinha como saber se Gilbert não estaria mais seguro longe dela.

- Vamos, Anne, estou esperando. O que está escondendo de mim? - a voz de Cole a fez levantar a cabeça, e ela temeu o que ele iria pensar ou como agiria após ela contar o que estava acontecendo, e porque ela acreditava que se Gilbert tivesse se ferido, aquilo não fora por acaso.

- Desculpe-me, Cole. Espero que não me odeie pelo que vou te contar, e quero que apenas acredite que agi assim porque pensei estar fazendo o melhor para todos, mas, diante das circunstâncias, eu não posso mais ficar calada, e acho que você tem o direito de saber.

- Eu tenho o direito de saber o que, Anne? Não estou entendendo nada. - Cole disse, olhando para Anne confuso.

- Eu vou te contar. - assim, ela levou mais de quinze minutos para relatar a Cole todas as ameaças que vinha sofrendo, e especificamente a última que envolvia a segurança dele, de Diana, Gilbert, Matthew e Marilla. Ele escutou tudo em silêncio, sua expressão mudando conforme Anne ia revelando o quão perigoso aquilo tudo havia se tornado. No fim da narrativa, Anne ficou em silêncio, esperando pelo que Cole tinha a lhe dizer. Ela podia sentir que o amigo estava abalado pelo que ela lhe contara, e esperava que ele não a odiasse e pudesse perdoá-la um dia por mantê-lo leigo dentro daquela situação de risco. Ela pensara pura e exclusivamente em protegê-lo, mas temia ter causado um mal maior do que desejara.

- Anne, por que você está me contando isso somente agora? Não achou que eu tinha o direito de tomar minhas próprias precauções? - o tom dele era de censura, e ela não podia culpá-lo. Ela omitira algo grave dele, e se ele não quisesse mais falar com ela, Anne sofreria terrivelmente, contudo, não lhe tiraria a razão.

- Não quis preocupá-lo demais. Eu sei que estava errada, porém, tive medo que você se desesperasse e entrasse em uma paranoia pior que a minha. Omiti tudo isso de você com as melhores das intenções, e vou entender se não puder me perdoar ou não quiser mais falar comigo. - os lábios de Anne tremeram nessa parte, pois não podia pensar na possibilidade de perder a amizade de Cole. Ela o amava como a um irmão, e não tê-lo mais por perto a deixaria mal demais.

- Anne, o que está dizendo? É claro que te perdoo. Ei, olha para mim. - ele a fez erguer a cabeça e continuou a dizer. - Você é minha irmãzinha, se lembra? Eu nunca poderia ficar com raiva de você. É claro que eu preferia ter sabido disso antes, mas não importa. Eu estou nessa com você.

- Você não está apavorado ou receoso de que algo ruim lhe aconteça? - Anne perguntou, olhando-o espantada.

- Bem, não vou mentir que saber que alguém pode estar seguindo todos os meus passos não me causa um frio na espinha, mas, isso também pode não ser verdade, e enquanto essa história toda não for esclarecida, não saberemos com certeza, por isso vou toma minhas próprias providências quanto a isso. Agora me diga. Você acha que Gilbert pode ter se ferido por causa das ameaças que você tem sofrido? - Anne olhou para o amigo e não conseguiu responder. O choro sentido saiu de seu peito fazendo Cole afagar seus cabelos e dizer.

- Calma, meu amor. Não fique assim. Vamos descobrir agora mesmo que aconteceu.

Cole pegou seu celular e ligou para vários hospitais e clínicas médicas que ele conhecia na cidade utilizando a lista telefônica. Depois de alguns minutos, tensos, nos quais Anne tinha roído todas as suas unhas, ele conseguiu uma resposta para o desespero no qual ela se encontrava.

- Anne, eu o encontrei. Ele está no hospital onde trabalha. Vamos, se arrume que vou te levar até lá. - Cole disse, porém Anne não se mexeu, e ele perguntou preocupado:- o que foi, meu bem?

- Cole, eles disseram se é grave? Deram alguma notícia sobre o estado dele? - Anne perguntou com a voz trêmula.

- Anne, eles não me disseram o que aconteceu. Apenas me informaram que ele está lá. E mesmo que a situação seja grave, eles não me diriam por telefone. Isso é contra a ética profissional médica. - Cole explicou, e ela apenas balançou a cabeça com os olhos lacrimejando, o que o fez perguntar:- Acha que consegue ir até lá comigo?

- Sim. Eu não suportaria ficar aqui sem ter notícias. Eu preciso saber como ele está. Por favor, me espere um instante que vou me vestir e já volto. - Anne correu para o quarto, e vestiu a primeira roupa que encontrou. Não se preocupou em se maquiar, pois estava tão ansiosa para ver Gilbert que suas mãos não paravam de tremer. Ela voltou para a sala, e imediatamente ela e Cole saíram do apartamento em direção ao elevador. Em segundos estavam no térreo, e em menos tempo ainda entraram no carro de Cole. Eles não se falaram durante o trajeto até o hospital, cada qual perdido em seus pensamentos.

Quando chegaram no hospital, a primeira coisa que fizeram foi ir para a recepção, e no momento em que iam perguntar sobre Gilbert, Anne viu Gabriela e correu em sua direção dizendo:

- Gabriela, o Gilbert está mesmo aqui? Por favor, não minta para mim. - Anne disse apertando as mãos dela implorando com os olhos.

- Calma, querida. Ele está aqui sim, mas, não se preocupe. Gilbert está bem. Parece que ele se envolveu em uma batida de carro e felizmente apenas machucou um pouco o braço. De qualquer forma, pedimos que ele passasse a noite aqui por precaução. Ele me pediu para ligar para você e te avisar, e eu ia fazer isso agora mesmo. - ela disse mostrando um pedaço de papel com o número de telefone de Anne. - Se quiser vê-lo, as visitas estão liberadas. Tenho certeza de que Gilbert ficará feliz em te ver. Ele está no quarto A 4.

- Obrigada. - Anne disse sentindo-se um pouco aliviada, Contudo, ela precisava ver Gilbert e comprovar com seus próprios olhos que ele realmente estava bem. Gabriela sorriu e voltou para o seu consultório, enquanto Anne se virava para falar com Cole.

- Vou ver o Gilbert. Quer me acompanhar?

- Agora não, querida. Acho melhor você entrar lá sozinha. Eu passo por lá depois. Vou te esperar aqui, tudo bem? - Anne assentiu, e caminhou em direção ao quarto em que Gilbert estava. Ela parou na porta e respirou fundo antes de entrar, pois sua ansiedade estava no auge.

Ela entrou no quarto tentando aparentar calma, e quando viu Gilbert seu coração deu um salto tão grande que ela perdeu o fôlego instantaneamente. Ele estava deitado na cama com os olhos fechados, e ela aproveitou que ele não havia percebido sua presença para observá-lo melhor. A camisa estava aberta deixando uma parte do peito dele exposta onde os pelos escuros e macios que ela tocara naquela tarde a desafiavam a fazer o mesmo agora. Seu olhar viajou até o rosto dele, e Anne mordeu o lábio inferior ao ver a boca bem desenhada de Gilbert que a atraía como nunca. Quantos beijos tinham trocado naquela tarde, e quantas sensações, aquela carne macia e vermelha conseguia provocar e seu corpo? Ela estava a poucos metros dele, mas ainda assim, ela se lembrava de todas as carícias como se estivessem acontecendo naquele momento. Se fechasse os olhos naquele instante, certamente conseguiria ver em sua mente aquele brilho incomum que tomava conta dos olhos castanhos de Gilbert quando estava prestes a possuí-la. Era tão poderoso o olhar dele naquele momento, que Anne conseguia enxergar além da paixão queimando ali, o prazer antecipado dele diante daquele ato de amor tão verdadeiro e inconfessavelmente perfeito. Ela se sentia tão plena ao ver que toda aquela luxúria e desejo cresciam por causa dela e por ela, assim como cada átomo dos eu corpo pertencia a Gilbert e somente à ele. Era uma troca de energia e de emoções, era a junção do miraculoso amor que Gilbert e ela sentiam um pelo outro, era algo tão especial que estava prestes a acabar por exclusiva responsabilidade dela.

Anne se aproximou da cama, continuando a observar cada detalhe daquele homem que ela amava com toda a sua alma, e deixou que seu olhar pousasse sobre o curativo no braço direito dele, e seu olhar escureceu de raiva. Ele não podia ter sido ferido daquela maneira, não importava que fosse algo grave ou somente um arranhão. Anne detestava pensar que alguém tentara atingi-la machucando Gilbert e aquilo ela não conseguiria perdoar nunca.

Subitamente, Gilbert abriu os olhos e encontrou os de Anne que não o abandonavam nem por um segundo, e ele sorriu, fazendo com que a visão de Anne ficasse nublada pelas lágrimas que ela tentava conter desde que chegara ali. A ruivinha sempre pensara nele como sendo tão forte, e vendo-o naquela situação vulnerável, ela se deu conta da fragilidade da vida, como se podia perder alguém em um espaço curto de tempo e o quanto cada dia era um 'presente ao lado de quem se amava e se queria bem.

- Anne, o que foi? Por que está me olhando desse modo tão triste? - Gilbert perguntou se sentando na cama, e ela somente conseguiu balançar a cabeça em um lamento mudo, pois não confiava em si mesma para dizer qualquer coisa. Ela não queria desabar na frente dele, mas seu autocontrole estava por um fio. - Vem cá. - ele a chamou, abrindo os braços para ela, e sem hesitar, Anne mergulhou neles, pois queria senti-lo perto, queria sentir o cheiro dele, tocar sus cabelos e rosto, e ter certeza de que não era um sonho, e que Gilbert estava bem, mesmo sabendo que depois de tudo aquilo, ela não ficaria nada bem. Então, ela chorou, os soluços balançando seu corpo, e suas lágrimas molhando a camisa dele, mas, ela não se importou, como nada mais importaria depois que ela saísse daquele hospital. Anne precisava tomar uma decisão que a estava atormentando desde que viera vê-lo, porém, ela não queria pensar naquilo naquele instante em que sentia as mãos de Gilbert em seus cabelos, e sua voz macia acalmando seu coração.

- Por favor, amor. Não chora assim. Eu não suporto te ver triste. Eu estou bem, de verdade, não precisa se preocupar mais. – ela levantou a cabeça, e olhou para o rosto lindo dele perto do seu. Como ela amava aquele homem! Até aquele momento, Anne não sabia bem a dimensão do que sentia por Gilbert, contudo, na eminencia de perdê-lo, ela soube que um oceano inteiro não seria suficiente para que colocasse todos os seus sentimentos. Era maior do que tudo que tinha sonhado e desejado para si mesma, era maior que qualquer coisa de valor que já tivera na vida, era mais precioso que o diamante que Gilbert quisera lhe dar quando a pedira em noivado, e ela sabia que envelheceria amando Gilbert Blythe, assim como aquele sentimento ainda permaneceria dentro dela depois que Anne já tivesse deixado esse mundo.

- Eu tive tanto medo. - ela falou por entre as lágrimas tocando o rosto dele com carinho.

- Perdoe-me, querida. Eu não queria te deixar preocupada. - Gilbert disse enxugando as lágrimas dela com o polegar. - Foi um acidente tão estúpido, felizmente a única coisa que ganhei foi um machucado no braço. - ele riu e Anne se perguntou se ele tinha noção de que aquilo podia não ter sido um mero acaso. Entretanto, ela decidiu que não discutiria aquilo com ele, pois não queria deixá-lo preocupado como ela estava. Era melhor que ele pensasse que fora um acidente comum sem maiores consequências além do dano em seu braço.

- Você nãos sabe o que senti sem ter notícias suas. Pensei que enlouqueceria- ela encostou sua testa na dele, olhando dentro aqueles olhos que eram um poço de emoções profundas. Por mais que navegasse dentro deles, ela nunca chegaria ao fundo para descobrir quantas camadas de amor existiam ali por ela.

- Mas como vê, não tinha motivos para ficar assim.- ele abraçou apertado, e Anne escondeu a cabeça no peito dele.- Como eu queria abraçá-la assim.- ele sussurrou, e ficaram agarrados dessa maneira por alguns minutos. Logo, Anne se afastou um pouco para que Gilbert pudesse ver a sinceridade em seu rosto quando dissesse o que desejava;

- Você faz ideia do quanto eu te amo? E te amar tem sido o meu destino desde que te conheci ainda tão menina, e nunca pude tirá-lo de mim mesmo quando fui embora, pensando que te odiava, tentando me convencer de que você não significava nada além de um namorico adolescente. E como eu estava errada! Quando retornei à Avonlea e te encontrei novamente foi que percebi que vivi em um deserto de sentimentos sem você por sete anos, e somente me senti viva novamente quando você me amou pela primeira vez, e te entreguei ali muito mais do que meu corpo de mulher apaixonada, eu coloquei minha vida toda em suas mãos. E é assim que você me tem, toda sua até o último fio de cabelo. É assim que te amo, Gilbert Blythe completamente e perdidamente. Você é o capitão do meu coração e pode fazer dele o que quiser. - Gilbert olhou para Anne visivelmente emocionado, e perguntou:

- Por que está me dizendo tudo isso agora? - ele parecia um pouco encabulado, mas, não escondia o prazer que sentia pelas palavra que Anne acabara de lhe dizer.

- Porquê você tinha que saber como me sinto realmente. Eu sei que te disse algumas vezes que te amo, porém eu queria que soubesse que meus sentimentos vão além disso. Você é tudo o que sempre quis, e nunca amei ninguém dessa maneira, e nunca mais vou amar. Você foi o único homem da minha vida e sempre será você. Quero que se lembre que onde quer que esteja vai estar em meu coração, em meu sangue e em minha vida. - eram tantas as palavras que queria dizer a ele, mas, naquele momento, ela pensou que era o suficiente que ele pudesse entender que qualquer coisa que acontecesse depois dali não seria por falta de amor da parte dela. - Gilbert tocou-lhe os cabelos, e a olhava tão profundamente que Anne quase chorou de novo. Ele puxou seu rosto em direção ao dele, e a beijou com tanta paixão que Anne quis se perder na emoção daquele beijo, se agarrar aquele homem e nunca mais deixá-lo sair de perto dela. Ele libertou os lábios dela, pois ambos estavam ficando sem ar, mas nem por isso, Gilbert parou de beijá-la. Seus lábios foram para os pescoço dela, e suas mãos a apertaram contra si. Anne gemeu baixinho ao sentir todos os músculos de Gilbert contra os seus mesmo por cima das roupas. Aquilo era uma tortura, Gilbert Blythe inteiro era sua tortura. Ele brincava com suas emoções de um jeito que Anne não podiam fazer nada. Ela o queria, Deus! Como o queria. Seu corpo pulsava de desejo, e mesmo sabendo que estavam em um quarto de hospital, ela não conseguia se controlar. Gilbert a fazia sentir coisas demais, sensações que a deixavam fraca dizendo sim a tudo o que ele quisesse, mesmo quando sabia que deveria dizer não.

- Gil...- ela o chamou com a voz fraca. - Precisamos parar. -

- Por que? - Gilbert perguntou enquanto suas mãos se insinuavam por baixo da blusa que ela usava.

- Porque qualquer pessoa pode entrar e nos pegar assim.- ela respondeu tentando soar convincente, pois se uma das enfermeiras aparecesse, se depararia com a cena de Anne quase deitada em cima de Gilbert na cama com a blusa semiaberta enquanto o Dr. Blythe a beijava sem controle. - Amor, a gente precisa parar. - Gilbert levantou a cabeça, os olhos enevoados como se estivesse acordando de um transe, respirando várias vezes a fim de que seus batimentos cardíacos voltassem ao normal. Olhando para ele naquele estado, os lábios mais vermelhos do que o normal, os cabelos revoltos e aquele jeito de olhar para ela como se quisesse devorá-la, ela não pôde deixar de pensar no quanto Gilbert estava gostoso. Ela teve que se controlar para não voltar a se atirar nos braços dele. Ele tinha total domínio sobre o seu corpo, e só por isso, Anne sentia que teria que lutar contra seus instintos mais primitivos para não sucumbir à tentação que aquele homem representava para seus anseios de mulher. O que tornava tudo mais difícil para o que tinha que fazer.

- Anne. Perdoe-me, eu não pretendia perder meu controle desse jeito. - ele pegou na mão dela, e a levou aos lábios dizendo:- Você não esperava que eu ouvisse tudo o que me disse, e não sentisse nada ou reagisse, não é? Você me fez ainda mais feliz essa noite. Pelo menos, este acidente estupido serviu para alguma coisa- ele sorria de orelha a orelha. - Eu também te amo, querida, tanto, que chega a me dar medo, mas, ao mesmo tempo, me sinto completo porque você preencheu um espaço dentro de mim que estava vazio a sete anos. - Anne sentiu seu peito se contrair. Por que ele tinha que ser tão incrível? Por que tornava mais difícil o que teria que fazer?

- Gilbert, eu preciso ir para casa. Cole está aqui comigo, e acho melhor você descansar. Você passou por uma situação difícil, e precisa de uma boa noite de sono para se recuperar e sair logo daqui. - Anne disse acariciando os cabelos dele.

- Eu só preciso de você para me sentir melhor. Por favor, amor fica comigo essa noite? Eu sei que deve estar cansada, mas, eu não quero passar a noite inteira nesse hospital sem você. - Anne hesitou um instante, mas logo tomou uma decisão. Por que não podia ter mais um pouco daquele homem somente para ela? Pelo menos serviria de consolo para quando estivesse longe dele, pois não sabia quanto tempo aquilo duraria.

- Está bem. Eu vou dizer para o Cole que ele pode ir para casa e passo a noite aqui com você. - ele concordou e Anne saiu apresada pelo corredor, seus pés a levando para a recepção onde ela encontrou Cole lendo uma revista distraidamente. Ele levantou os olhos assim que Anine parou a seu lado, e perguntou:

- E ai? Como ele está?

- Ele está bem. Sofreu apenas um arranhão no braço. - Anne respondeu, não olhando muito para Cole para que ele não percebesse o que se passava dentro dela.

- Por que parece que você não está feliz com isso? - Cole perguntou intrigado.

- É claro que estou feliz. Apenas ainda me sinto tensa com tudo o que aconteceu. - ela disse, tentando disfarçar seus pensamentos.

- Querida, não fique assim. Pode ter sido apenas um simples acidente. Não fique paranoica como eu. - Cole disse, em uma tentativa de fazer Anne sorrir, mas ela sequer conseguiu esboçar um sorriso.

- Vou tentar. Vim aqui apenas para te dizer que vou passar a noite com o Gilbert.

- Tudo bem. Quer que eu te traga alguma coisa? - Cole se ofereceu.

- Não. Eu vou voltar para casa de manhã. Vai ser somente por essa noite. Gilbert deve ter alta logo cedo.

- Bem, então, vou para casa. Se precisar de algo, me liga. - o rapaz disse beijando-a no rosto.

- Obrigada, Cole. Por tudo.

Ela viu o amigo se afastar, e assim voltou par o quarto. Gilbert adormeceu depois de algumas horas que ela estava ali com ele, por conta dos analgésicos para dor. Anne ficou olhando para ele, sem conseguir dormir. Não podia e não queria fechar os olhos, pois precisava gravar cada pedacinho dele em suas lembranças, pois dali a pouco tempo, ela não poderia mais fazer isso. Anne tinha se decidido, iria se afastar de Gilbert por um tempo. Não podia ficar com ele, sabendo que a cada minuto ele corria riscos por causa dela, por mais que o amasse, por mais que seu coração ficasse mutilado naquele processo, Ela ainda não sabia para onde ir, porém, decidiu que não ficaria em seu apartamento onde Gilbert poderia facilmente encontrá-la. Talvez fosse primeiro para um hotel, e depois viajaria para algum lugar onde pudesse ficar por um tempo até aquela confusão passar, e então, se Gilbert ainda a quisesse, eles poderiam continuar de onde tinham parado.

Ainda era de madrugada, quando Anne decidiu que era hora de ir. Ela olhou para Gilbert pela última vez, tocou o rosto dele devagarinho, beijou-o de leve na testa e disse baixinho como se ele pudesse ouvi-la:

- Eu te amo, Gil. Por favor entenda o que estou fazendo, e procure não me odiar demais.

Assim, ela partiu, e todo o tempo em que caminhava para fora do hospital ela dizia a si mesma que não estava desistindo do seu amor, ela o estava protegendo e assim que pudesse ela voltaria para que pudessem ficar finalmente juntos. Quem olhasse para ela naquele instante, veria uma garota linda caminhando a passos incertos como se tivesse agonizando em seu sofrimento, enquanto lágrimas rolavam por seu rosto, e apesar de toda dor, ela não olhou para trás nenhuma vez.

GILBERT

Gilbert foi levado ao hospital onde trabalhava por iniciativa própria. Tinha sido um acidente tão estúpido que ele não saberia dizer de quem tinha sido a culpa. Ele falava com Anne ao telefone, e por isso talvez tivesse se distraído, e avançado um sinal. Fora imprudente da sua parte dirigir enquanto sua atenção estava mais na voz deliciosa que quase sussurrava em seu ouvido ao telefone, do que na rua movimentada à sua frente. Ele não precisava ter perguntado sobre o sabor de sorvete favorito dela, porque desde criança seu gosto não tinha mudado. Ela sempre preferira morango com cobertura por cima enquanto Gilbert gostava mais de chocolate sem nenhum tipo de cobertura. Então, ligar para ela apenas para receber uma resposta tão óbvia fora apenas uma desculpa para falar com ela. Gilbert não gostara de deixá-la sozinha, depois da semana que tiveram, mas, assim como Cole era o melhor amigo de Anne, Muddy era como um irmão para ele, e durante toda a vida contaram um.com o outro, e não parecera a Gilbert algo decente de se fazer ignorar o pedido de ajuda dele.

Felizmente, conseguira levá-lo para casa antes de tudo acontecer, e o melhor ainda foi que ninguém realmente havia se machucado seriamente. Gilbert ferira o braço superficialmente, e o motorista do outro carro tinha cortado a testa ao batê-la contra o para-brisa.

Depois de um exame rápido ficou constatado que o motorista do outro carro tinha bebido além da conta, e que fora o responsável por toda aquela confusão, o que deixou Gilbert aliviado por saber que sua imprudência de ter um celular nas mãos na hora da batida não tinha causado nenhum mal a ninguém. Foi somente naquele momento em que ele se deu conta de que Anne deveria ter ouvido tudo o que tinha acontecido, e sabe-se lá o que estaria pensando, precisava falar com ela o quanto antes, e foi por isso que procurou por seu celular no meio da bagunça que se tornara o interior do seu carro por causa da colisão. Todos os cds que estavam no porta luvas tinham caído ao chão por conta do impacto, e alguns documentos também tinham se juntado a eles. Quando encontrou o celular caído perto do banco do passageiro, o rapaz notou frustrado que ele tinha se quebrado com a queda, e o seu celular reserva não estava no carro no momento

Logo, ele percebeu que teria que esperar para chegar no hospital para poder contar a ela o que tinha acontecido. Ele imaginava exatamente como ela agiria, pois ele conhecia muito bem aquele lado dela que entrava completamente em colapso frente a qualquer emergência, principalmente agora com todas as ameaças pairando sobre eles. Ela estava insegura, e Gilbert precisava fazer algo para que Anne se desligasse de seus pesadelos e voltasse a viver uma vida mais calma. Ele a via todo os dias tensa demais, e queria que Anne sentisse que poderia confiar nele para protegê-la, ao invés de achar que ele poderia ser uma vítima de um sádico louco.

Somente quando chegara ao hospital, e fora atendido na emergência é que pudera pensar em uma forma de se comunicar com ela. Por sorte, Gabriela viera em seu socorro logo que ele estava sendo medicado pelo plantonista da noite.

- Gilbert, vim correndo quando soube. O que aconteceu? - Gabriela parecia aflita, e Gilbert se admirou com que velocidade as notícias corriam mesmo em um hospital enorme como aquele. Ele pensara que apenas em cidades pequenas as pessoas ficavam sabendo das más notícias na velocidade da luz, mas agora podia constatar que se enganara, o que fazia valer aquele velho ditado que dizia que más notícias eram tão rápidas quanto um barril de pólvora.

- Não foi nada, Gabriela. Eu acabei me envolvendo em um acidente bobo de trânsito. - ele explicou enquanto o médico que o atendia terminava de fazer os curativos.

- A Anne estava com você? - ela perguntou.

- Não, e isso está me preocupando, porque eu estava falando com ela no momento em que aconteceu e tenho certeza que ela ouviu tudo. Não pude falar com ela depois porque meu telefone foi danificado no impacto, e preciso urgentemente avisá-la que estou bem.

- Quer que eu peça para alguém ajuda-la? - Gabriela perguntou solicita.

- Você poderia ligar para ela? Vou passar o número.

- Claro. Pode falar que anoto. - Gabriela disse pegando a caneta que estava em seu bolso, um pedaço de papel e rapidamente rabiscou o número de Anne.

Naquele momento, Daniel entrara no quarto dizendo:

- Gilbert, como você está? Fiquei sabendo do acidente.

- Parece que nada passa despercebido nesse hospital. – Ele disse olhando significantemente para Gabriela, que corou sob o olhar de Daniel que só percebera sua presença naquele minuto.

- Desculpe, não sabia que já tinha visitas. - Daniel disse e Gilbert respondeu:

- Não seja ridículo. Vocês dois agem como se fossem estranhos e não trabalhassem no mesmo hospital.

- Claro que não. Você está imaginando coisas, Gilbert. - Gabriela disse sem encarar Daniel diretamente.

- Certamente não estou. - ele insistiu sem entender o clima estranho que se instalara ali.

- Vou ligar para Anne. Ela deve estar aflita sem notícias suas. – Gabriela disse, passando perto de Daniel que a olhou demoradamente, mas ela fingiu não perceber.

- Pode me dizer que diabos foi isso? - Gilbert perguntou, olhando interrogativamente para o amigo

- É complicado. - Daniel respondeu, enfiando as mãos dentro do bolso do seu jaleco.

- Então, tente me explicar porque Gabriela mal está falando com você.

- Outro dia dei uma carona para ela, e o papo estava tão bom dentro do carro que sem pensar eu a beijei, e parece que a ofendi terrivelmente. - Daniel disse parecendo chateado com o incidente todo.

- Você tentou pedir desculpas? – Gilbert perguntou.

- Sim, mas ela tem me ignorado já faz alguns dias, e sinceramente não sei o que fazer para que ela me escute. - Daniel parecia desanimado e Gilbert tentou ajudá-lo dizendo.

- Seja sincero, Daniel. Diga como.se sente e não fuja da situação. E se no final ela não quiser te desculpar, pelo menos você saberá que fez o melhor que podia. - Gilbert disse tudo aquilo pensando em Anne, e no tempo que perdera com sua mágoa. Felizmente enxergara a tempo o que deveria fazer, e abrira as portas do seu coração para ela de novo e não se arrependia. Anne era responsável por ele ser tão feliz agora, e nunca abriria mão disso, por mais difícil que fosse, por mais pedras que tivessem pelo caminho. Anne era a mulher da sua vida, e seria a mãe de seus filhos, e todas as coisas que partilhavam juntos agora, ele garantiria que continuassem da mesma maneira para sempre

- Obrigado pelo conselho, Gilbert. Prometo que vou pensar sobre isso. - Daniel disse dando um tapinha afetuoso em seu ombro. – Agora vou voltar ao trabalho. Tenho alguns pacientes para visitar em minha ronda noturna. - depois disso ele saiu, e deixou Gilbert sozinho.

O jovem médico fechou os olhos. O efeito do remédio para dor o estava deixando sonolento, mas, ele não queria dormir. Estava esperando que Anne aparecesse, ele tinha quase certeza que ela viria assim que recebesse o recado de Gabriela, e não podia negar que estava louco para vê-la. Algumas horas longe dela já o deixaram carente daquele jeito, e percebeu um pouco assustado que estava dependente demais daquela ruivinha que não lhe saía do pensamento.

Alguns minutos tinham se passado, e ele estava quase adormecido quando um movimento na porta de seu quarto lhe chamou a atenção. Ele abriu os olhos, e sentiu um contentamento súbito ao ver que Anne estava ali. Ela chegara mais rápido do que ele pensara, e era tão bom olhar para aquele rosto incrivelmente lindo. Ela usava roupas casuais, estava sem maquiagem e os cabelos estavam presos em um coque frouxo quase como se os tivesse arrumado daquele modo às pressas, e em nome de Deus, Anne estava mais maravilhosa assim do que quando se vestia para arrasar com seu coração. Ele adorava vê-la tão natural dessa maneira, pois apesar de lhe dar um ar mais jovem do que seus quase vinte e dois anos, ela transpirava uma feminilidade de mulher feita, daquelas tão seguras de si mesmas que cada movimento era seu corpo falando com uma sensualidade desinibida. Anne era toda sensual, mesmo que não tivesse consciência disso. E isso não se devia apenas ao fato de sua profissão explorar esse seu lado fascinante, e sim porque fazia parte dela, do seu jeito de andar, falar e de olhar para ele como se o desafiasse a descobrir o que estava pensando, e ele se tornara um expert em desvendar os pensamentos dela, principalmente se estivesse em sintonia com o que ele estava desejando.

Porém, naquele instante aqueles olhos magníficos estavam tristes, quase como se ela fosse começar a chorar em questão de segundos, por isso, ele perguntou sentindo a dor dela em si mesmo:

- Anne, o que foi? Por que está me olhando desse modo tão triste? – ela não respondeu, e ele sentiu que precisava abraçá-la, porque não gostava nem um pouco de vê-la infeliz, principalmente se a razão estivesse relacionada à ele. - Vem cá. – ao senti-la em seus braços, Gilbert suspirou. Estava sentindo falta dela desde que chegara ali depois do acidente, e ela era a única pessoa com quem queria estar. O perfume dela lhe trazia uma sensação familiar de conforto que o aqueceu por dentro, ao mesmo tempo que ao ouvir o choro dela ele compreendeu que as lágrimas derramadas naquele momento evidenciavam a tensão que o corpo dela carregava até ali.

- Por favor, amor. Não chora assim. Eu não suporto te ver triste. Eu estou bem, de verdade, não precisa se preocupar mais. – ela o olhou como se ele fosse extremamente precioso. Havia amor ali, mas outras emoções as quais ele não conseguia nomear. Eram profundas demais para serem descritas, entretanto ele podia senti-las em sua própria alma.

- Eu tive tanto medo. – a voz dela sofrida e quebrada o deixava magoado por não poder evitar que ela sofresse por ele, portanto ele disse:

- Perdoe-me, querida. Eu não queria te deixar preocupada. - Foi um acidente tão estúpido, felizmente a única coisa que ganhei foi um machucado no braço. – ela o olhou estranhamente, como se algo passasse por sua cabeça naquele momento, e antes que ele indagasse o que era, ela confessou:

- Você nãos sabe o que senti sem ter notícias suas. Pensei que enlouqueceria- Gilbert pensou que se estivesse no lugar dela, ele também teria se sentido da mesma maneira, pois pensar em um mundo sem Anne, era não ter mais nada pelo que viver. Ele apenas a abraçou e lhe disse palavras de consolo, mas, então o que ela disse a seguir o fez respirar tão fundo que pensou que sufocaria com a onda de emoção que o acometeu.

- Você faz ideia do quanto eu te amo? E te amar tem sido o meu destino desde que te conheci ainda tão menina, e nunca pude tirá-lo de mim mesmo quando fui embora, pensando que te odiava, tentando me convencer de que você não significava nada além de um namorico adolescente. E como eu estava errada! Quando retornei à Avonlea e te encontrei novamente foi que percebi que vivi em um deserto de sentimentos sem você por sete anos, e somente me senti viva novamente quando você me amou pela primeira vez, e te entreguei ali muito mais do que meu corpo de mulher apaixonada, eu coloquei minha vida toda em suas mãos. E é assim que você me tem, toda sua até o último fio de cabelo. É assim que te amo, Gilbert Blythe, completamente e perdidamente. Você é o capitão do meu coração e pode fazer dele o que quiser. - Gilbert não sabia o que pensar e nem o que dizer. Ele vinha sonhando com aquilo a tanto tempo, e naquele instante em que Anne lhe confessava tudo o que sentia, ele se sentiu inundado por uma alegria infinita, porém por que sentia que havia algo ali que não estava certo? Então, ele lhe perguntara o que aquilo tudo queria dizer, e ela continuou com sua confissão, deixando-o ainda mais intrigado.

- Porquê você tinha que saber como me sinto realmente. Eu sei que te disse algumas vezes que te amo, porém eu queria que soubesse que meus sentimentos vão além disso. Você é tudo o que sempre quis, e nunca amei ninguém dessa maneira, e nunca mais vou amar. Você foi o único homem da minha vida e sempre será você. Quero que se lembre que onde quer que esteja vai estar em meu coração, em meu sangue e em minha vida. – ele poderia ter dito alguma coisa, mas, como sentia que precisava mais do que palavras naquele instante ele a beijou, esquecendo-se momentaneamente de seu receio e de como tudo aquilo estava afetando a ambos. Ele necessitava daquele contato físico tanto quanto Anne, e senti-la tão entregue aquele momento como ele foi um combustível a mais para que sua paixão se acendesse. Gilbert tinha consciência de onde estavam, porém seu corpo não estava dando a mínima, e ele muito menos. Seu bom senso tinha ido para o espaço no momento em que Anne tinha lhe dito tudo aquilo, e tudo o que precisava era tocá-la e demonstrar o quanto ela também era-lhe valiosa. Porém, ela o interrompeu, lembrando-o de onde estavam, e como aquilo tudo pareceria se alguém os pegasse daquela maneira, e apesar desse concordar com ela, lá no fundo de si mesmo, seu corpo o odiava, por privar-se do prazer de senti-la um pouco mais. Então, ela disse que precisava ir, e ele pediu com seus olhos implorando:

- Eu só preciso de você para me sentir melhor. Por favor, amor fica comigo essa noite? Eu sei que deve estar cansada, mas, eu não quero passar a noite inteira nesse hospital sem você. – Apesar de parecer em dúvida se devia ficar ou ir, ela logo se decidiu dizendo:

- Está bem. Eu vou dizer para o Cole que ele pode ir para casa e passo a noite aqui com você. – ela saiu, mas, voltou logo, e passaram algum tempo conversando e rindo juntos, mas, apesar de parecer tão à vontade com ele, Anne estava estranha quase como se escondesse dele alguma coisa. Depois, Gilbert balançou a cabeça não acreditando no que acabara de imaginar. Desde que se declararam um para o outro, a sinceridades sempre fora o ingrediente principal do relacionamento deles, então, pensar que Anne tinha alguma segredo não revelado parecia tão ridículo, ou será que não era?

Ele acabou adormecendo, pois toda a medicação que tomara estava deixando-o zonzo de sono, ainda assim, ele procurou as mão de Anne, e as trouxe para seu peito, a fim de que ela pudesse sentir como o seu coração batia por ela mesmo ele estar se enveredando pelos caminhos da inconsciência.

Quando acordou, ela não estava mais por ali, e algo dentro de sua cabeça pareceu gritar que havia alguma coisa estranha, mas, acabou ignorando tal pensamento, imaginando que talvez Anne tivesse apenas ido tomar café na cantina do hospital e logo retornaria. Contudo, conforme o tempo foi passando, e nada dela parecer, ele teve certeza de que ela tinha ido mesmo embora sem se despedir dele. Por que? Será que tinha feito algo que a desagradara, e por isso sequer falara com ele naquela manhã? De repente, ele percebeu que estava se enchendo de teorias malucas de novo, e por esta razão, fez questão de bloquear aqueles pensamentos que o estavam deixando angustiado.

Talvez, Anne somente tivesse ido para casa, quando percebeu que ele ainda estava dormindo, e com certeza retornaria mais tarde. Assim que ele tivesse alta. Não que ele precisasse de uma acompanhante, era simplesmente porque queria que ela estivesse ali quando ele fosse liberado apenas com um curativo no braço; Assim, ele decidiu dormir mais um pouco, pois ainda era muito cedo, e porque queria estar bem disposto quando sua ruivinha viesse buscá-lo.

Em seguida, ele adormeceu, sem imaginar que a alguns quarteirões dali, Anne tinha outros planos que não eram exatamente o que Gilbert imaginara.

ANNE E GILBERT

Dor, era o que ela sentia? Ou era o vazio que a fazia sentir aquela inércia que a impedia de fazer tudo com a agilidade na qual necessitava? Ela tinha colocado algumas roupas dentro de uma pequena valise, pois ainda não sabia quantos dias ficaria fora, e também porque não tinha certeza para onde iria. Tudo o que sabia era que precisava deixar seu apartamento, e encontrar um lugar aonde pudesse acalmar a confusão em seu íntimo, e depois ter o discernimento de se decidir para onde viajaria.

Ela fechou a mala e se sentou na cama com a cabeça nas mãos, tentando não chorar, pois seus olhos estavam doloridos e inchados de tantas lágrimas que derramara nas últimas horas. Anne não queria deixar Gilbert naquele momento, mas, era preciso. Ela precisava ficar longe por um tempo até que encontrasse um jeito de descobrir quem estava fazendo aquilo tudo com ela, e afastar todo o perigo que todos aos seu redor estavam correndo, e especialmente ele.

Vê-lo no hospital a fizera tomar aquela decisão. De repente, ela se dera conta de que ele poderia ter se machucado bem mais do que aquela ferida em seu braço, e aquele acidente poderia muito bem ter sido premeditado para aterrorizá-la e fazê-la compreender de vez que estava dando murro em ponta de faca, e que ela não conseguiria se livrar daquele terror tão cedo. Anne se levantou e foi até a janela, tentando enxergar por entre as árvores. O seu perseguidor estaria ali agora, observando todos os seus passos? Ele estaria rindo do seu desespero, e principalmente do seu coração partido por abandonar mesmo que temporariamente o homem que significava tudo em sua vida? A raiva e o ódio fizeram seu rosto delicado se destorcer. Ela não iria se deixar contaminar por aquele sentimento, porém, eles lhe davam força para fazer o que decidira, e seguir em frente com seus planos.

O rosto de Gilbert surgiu sem sua mente, e ela tentou bloquear a imagem. Não podia pensar nele, não queria pensar nele, pois aquela sensação de estar se perdendo somente aumentaria. Por esta razão, não quisera ficar no hospital até o momento em que ele acordaria, porque não conseguiria deixá-lo. Fora mais sensato sair assim sem dizer nada, mesmo sabendo que Gilbert a odiaria quando soubesse o que ela tinha feito. Talvez ele pensasse que ela era covarde, que preferira fugir a lutar com ele para manterem o que tinham juntos, sem deixar que aquele maluco das ameaças atrapalhasse seu relacionamento. Porém, somente ela poderia dizer quanta coragem tivera que encontrar para sair fora do hospital, deixando Gilbert lá adormecido tão pacificamente e tão lindo. Assim, como tivera que encontrar a mesma coragem para arrumar as malas, e sair daquele apartamento que lhe trazia tantas lembranças de momentos dos dois que morariam em suas lembranças para sempre.

Anne se deitou na cama e abraçou o travesseiro, sentindo o perfume de Gilbert impregnado nos lençóis. Seu coração deu um grito desesperado ao fazê-la compreender tudo o que estava perdendo ao tomar aquela atitude. Ela estava mesmo preparada para sair da vida de Gilbert mais uma vez? Ela estaria mesmo disposta a ficar dias até meses longe dele, partindo assim ambos os corações? De repente, ela não tinha mais forças para continuar com aquilo, e odiou a fraqueza que ameaçava roubar-lhe a energia, mantendo-a presa àquela cama e ao calor imaginário de Gilbert. Ela nunca pensara que um dia se veria em uma situação em que teria que renunciar ao amor de sua vida para que ele pudesse viver com segurança. Como aquilo tudo acontecera? Que mal ela tinha feito para ser castigada com tanta severidade? Por que a vida tinha lhe presentado com algo tão maravilhosos, e agora tirava dela o ar que ela respirava, o sentido que tinha para acordar de manhã e sorrir? Nada mais seria igual a partir do momento em que ela e Gilbert estivessem separados. Ela já sentia dentro de si o sofrimento que seria nunca mais beijá-lo ou tocá-lo, e não ter o abraço dele a protegendo de seus pesadelos, mas era assim que deveria ser dali para frente, e ela seguiria com seu plano, mesmo que custasse sua própria felicidade.

Decidida, Anne se levantou da cama, pegou sua mala e caminhou até a sala. Ela não podia ir sem dizer uma palavra a Gilbert como se fosse uma ladra escondida na calada da noite fugindo covardemente de seu destino. Por esta razão, ela contaria tudo a Cole, e pediria que ele contasse a ele o que ela decidira assim que ela estivesse em uma distância segura, e Gilbert não pudesse encontrá-la.

Ela ligou para Cole, e a voz do animada do amigo chegou aos seus ouvidos fazendo seu peito se apertar:

- Olá, querida. Que bom que ligou, eu estava mesmo pensando em você.

- Cole, você poderia me fazer um favor? - ela respirou fundo, pois o ar lhe faltava devido à crise de ansiedade que estava a ponto de enlouquecê-la.

- O que foi, Anne? Está com a voz estranha. Aconteceu alguma coisa? - ele agora parecia preocupado enquanto esperava que ela lhe dissesse o que desejava.

- Não, mas, eu preciso te contar algo. - e assim, em poucos palavras, ela contou a Cole o que pretendia fazer, o que naturalmente não teve nenhuma aprovação ou simpatia por parte do rapaz que disse quase gritando:

- Está maluca, Anne? Por que quer fazer isso? Já pensou em como o Gilbert vai ficar? Você vai magoá-lo terrivelmente por nada.

- Como assim por nada? Você não entende que ele está em perigo? Que você está 'em perigo? Que qualquer pessoa que esteja perto de mim corre o risco de se machucar? Eu sou uma bomba-relógio ambulante, Cole, e não quero sentir de novo o que senti ontem ao ver o meu amor ferido por minha causa. - ela estava gritando também, mas, era de desespero. Será que Cole não entendia o que estava lhe custando tudo aquilo?

- Não, eu não entendo. Você está tomando uma decisão baseada em hipóteses que até agora não provaram ser verdadeiras. E também está tirando o direito de Gilbert decidir por si mesmo se quer ficar perto ou longe de você, e obviamente ambos sabemos qual é a resposta. Se você acha que agindo assim o está protegendo, você está enganada. Você já pensou no que Gilbert pode querer fazer ao saber que você o deixou por causa dessas ameaças? – não ela não sabia, e também não queria pensar naquilo. Gilbert não seria tolo em se arriscar por ela, ou seria?

- Cole, eu somente liguei para te pedir que se ele te perguntar onde estou, não conte a ele. Diga apenas que eu o amo mais que tudo, que não estou indo embora definitivamente, e que vou voltar assim que essa situação toda esteja resolvida.

- Por que, não diz você mesma? Acho que seria o mais correto de sua parte.

-Não posso. Ele tentaria me convencer a ficar, e eu sei que cederia. Por favor, Cole. Eu sei que é algo terrível para se pedir a um amigo, mas, faz isso por mim. - ela estava chorando, e se odiou por mais aquela fraqueza. Tinha que ser forte ou sucumbiria facilmente ao apelo de seu coração que lhe dizia para ficar e esquecer aquela história toda.

- Está bem. Anne. Eu falo com ele. Mas, por favor, quando chegar ao hotel, me avise. Quero saber onde está. - Cole disse em um tom de voz grave.

- Pode deixar. - ela respondeu, e desligou.

Em seguida, ela pegou a mala, saiu do apartamento e trancou a porta. O táxi que tinha chamado momentos antes tinha acabado de chegar, e assim que entrou nele, deu o endereço de um hotel fora da cidade que conhecia. Normalmente eles exigiam que se fizesse uma reserva com antecedência, mas, ela conhecia o dono e esperava que ele lhe arrumasse um quarto para que ela pudesse ficar por alguns dias. Enquanto se afastava do centro de Nova Iorque, Anne apenas pensava em Gilbert e em como ele reagiria à sua partida, e mais uma vez naquele dia ela chorou com a cabeça apoiada no vidro do táxi.

Enquanto isso, Gilbert olhava para o relógio e percebeu que Anne estava atrasada a pelo menos trinta minutos. Será que ela esquecera o horário que ele disse que deixaria o hospital? Ele pensou em ligar para ela, mas, então se lembrou que estava sem telefone, e não gostaria de usar o da recepção para isso. Os minutos foram passando, e Gilbert começou a ficar nervoso com aquela demora. Será que tinha acontecido alguma coisa para Anne se atrasar assim? Ele passou as mãos pelos cabelos, e depois começou a andar pelo corredor impaciente. Por fim, decidiu pegar um táxi e ir até o apartamento de Anne, pois seu carro tinha ido para o concerto depois do acidente. Talvez ela apenas tivesse perdido a hora e dormido demais, e por isso, não tinha aparecido no horário combinado.

Em pouco tempo, o táxi estava estacionando em gente do prédio de Anne. Gilbert pagou a corrida, e subiu os degraus que levavam ao andar dela, pois esperar pelo elevador levaria uma eternidade na ansiedade em que estava. Ele abriu a porta, e sentiu sua ansiedade aumentar quando deu de cara com a sala vazia. Gilbert chamou por Anne, mas, não recebeu nenhuma resposta. Assim, ele foi até a cozinha, e por fim entrou no quarto e não encontrou nem um sinal dela. Ele se sentou na poltrona que havia ali tentando imaginar onde ela estaria. Sua preocupação estava cada vez maior, e sua cabeça estava começando a doer de tensão. De repente, Gilbert olhou para o guarda-roupa e viu que uma parte dele estava vazia, e ele sentiu seu coração quase parar de bater. Ele não queria tirar conclusões precipitadas, e não queria pensar no que aquilo significava, por isso, ele ligou para a única pessoa que talvez pudesse lhe dar uma resposta.

- Alô, Cole. Desculpe-me se estou te atrapalhando, mas, eu queria te perguntar uma coisa. Eu estou no apartamento de Anne, e eu queria saber se ela te disse alguma coisa sobre ir viajar, porque encontrei uma parte do armário dela vazia, e não me lembro de ela ter me dito que teria que sair da cidade por algum motivo. - Cole ficou em silêncio, e Gilbert pressentiu que aquilo era um mau sinal.

- Gilbert, me espere ai que já estou chegando para falar com você. - Gilbert assentiu e assim que desligou o telefone, se sentou na sala sem saber o que fazer até Cole chegar. Ele ainda não tinha tomado o café da manhã, mas estava sem apetite nenhum. Não conseguiria engolir nada enquanto não soubesse o que estava acontecendo.

Cole não demorou muito a chegar, e quando Gilbert abriu a porta para ele, o rapaz pôde ver o desespero do jovem médico apenas com um olhar, e xingou Anne mentalmente por colocá-lo naquela situação.

- Cole, por favor, me diga. Onde a Anne está?

- Ela saiu da cidade, Gilbert.- Cole disse, tentando amenizar o golpe que Gilbert teria ao saber de tudo.

- Saiu da cidade? Por que? – ele não estava entendendo. Por que Anne sairia da cidade sem avisá-lo? - o olhar de Cole estava estranho, e Gilbert respirou fundo apreensivo pelo que o rapaz iria dizer.

- Você deve saber porque, Gilbert. - Cole disse, e Gilbert o olhou confuso. Então, Cole lhe revelou tudo, cada palavra que Anne tinha dito, os motivos, os medos e o desespero que ela sentira ao vê-lo no hospital.

- Por que ela não veio falar comigo, Cole? Ela nem sabe se é verdade que o acidente foi proposital. Por que ela preferiu me deixar de novo? - a raiva dele era palpável assim como a dor dentro dos olhos castanhos, e Cole pensou consigo mesmo." Anne, Anne, o que está fazendo, minha amiga?"

- Gilbert, dessa vez ela teve um bom motivo, não é como da primeira vez. - Cole disse tentando precariamente defender a amiga, mas, até ele não conseguia ver uma boa razão para isso.

- É para mim, pois dói do mesmo jeito. - Gilbert confessou, olhando para o vazio, e Cole sentiu pena por ver um amor tão lindo dividido daquele jeito. Ele esperava que Anne soubesse o que estava em jogo ali, pois se ela perdesse Gilbert naquele instante, ele nunca mais voltaria para ela, e o que seria de sua amiga então?

- Gilbert, eu sinto muito, Eu tentei convencê-la a não fazer isso, mas, você a conhece bem. Ela é realmente teimosa quando quer. Anne te ama, Gilbert e está sofrendo, você não imagina o quanto. - Cole disse com uma mão no ombro de Gilbert.

- Então, por que ela não está aqui? Por que está jogando fora o que estávamos construindo? Por que ela prefere ficar longe de mim do que lutar junto comigo? - Cole não tinha uma resposta para aquilo, e gostaria de saber o que dizer. Porém, a dor de Gilbert o desconcertava, e ao vê-lo daquela maneira ele estava sofrendo com ele na mesma proporção, então, não suportando mais ver aquele rosto tão triste, Cole disse:

- Gilbert, Anne ficou de me dizer onde ficaria hospedada. Assim, que ela me ligar eu te aviso. - uma pequena luz pareceu se acender naqueles olhos sombrios quando ele perguntou:

- Você faria isso por mim?

- É claro. Você sabe que torço por vocês dois, e sei que Anne está errada, contudo, ela precisa ser convencida disso, e nós dois sabemos quem é a única pessoa que pode fazer isso. Agora, eu vou para casa, pois estou no meio de um trabalho importante, mas, prometo que no primeiro contato dela, eu te ligo.

- Obrigado. - Gilbert quase sussurrou enquanto Cole se despedia e deixava o apartamento.

Quando se viu sozinho, Gilbert fechou os olhos tentando conter a mágoa do seu coração. Anne o tinha deixado sem uma palavra, sem um aviso, sem um telefonema, como se tudo que tivessem vivido não tivesse significado nada. Com que facilidade ela tinha desistido dos dois. Com que facilidade ela tinha lhe dito "eu te amo", e horas depois se afastara dele sem pensar no quanto aquilo tudo arrasaria com Gilbert de um jeito que ele não se recuperaria tão cedo. Ele queria chorar, mas, seus olhos estavam secos, sua alma estava seca sem Anne. Deus, onde ela estava? O apartamento estava tão vazio, seus braços estavam vazios e seu corpo doía de saudade dela. Ele voltou para o quarto onde a presença dela era mais forte, porque ali ele se lembrava de como era estar com ela, fazer amor e dormir com aquele sorriso que fazia o sol nascer dentro dele em um dia de primavera. Olhando ao redor, ele encontrou o robe que ela usava toda manhã ao se levantar da cama em cima de uma cadeira, pegou o tecido de seda em suas mãos, e o levou ao nariz aspirando o cheiro divino dela que ele não conseguia esquecer, porque estava espalhado por todo o seu corpo. Ele enlouqueceria se não pudesse falar com Anne, a falta dela estava afetando o seu sistema inteiro. Gilbert sabia que tinha que reagir, não podia ficar o dia inteiro trancado no quarto do apartamento de Anne, sofrendo daquela maneira, embora não tivesse vontade de fazer coisa nenhuma.

Ainda assim, ele se forçou a tomar um banho e preparar algo para comer. Depois, foi para a sala se deitando no sofá e olhando para o teto. Não conseguia tirar Anne de seu pensamento, o rosto dela o atormentava a tal ponto de ele querer gritar. De repente, o telefone fixo do apartamento tocou, e Gilbert correu para atender, e quase chorou de alivio quando ouviu Cole dizer.

- Gilbert, já sei onde ela está. Anote o endereço.

Momentos depois ele já estava dentro de um taxi, sentindo-se tão agitado que era difícil ficar sentado no banco do passageiro observando o taxista dirigir tão devagar que deixava os nervos dele em frangalhos. Ele queria gritar para que ele fosse mais rápido, mas, ele sabia que o rapaz só estava fazendo o trabalho dele e zelando pela segurança dos seus passageiros dirigindo na velocidade permitida.

Quando finalmente chegaram ao Hotel onde Anne estava hospedada estava quase na hora do almoço. Gilbert foi direto para a recepção, se apresentando como o noivo da Srta Cuthbert e dizendo que precisava urgentemente falar com ela. No primeiro instante, a recepcionista disse que não podia deixar que ele subisse sem a autorização da hóspede, mas, Gilbert jogou todo o seu charme contando uma história de namorados que estavam brigados, e que ele estava ali para fazer as pazes. Por sua sorte, a garota era romântica e o deixou subir, sem oferecer grande resistência.

Desta forma, ele subiu as escadas que levavam até o quarto dela, e encontrou o número da suíte sem nenhuma dificuldade. Ele bateu na porta ansioso, enquanto uma Anne chocada com sua presença aparecia em sua frente dizendo:

- Gilbert, como sabia que eu estava aqui? Cole! – ela disse.

- Vai m convidar para entrar ou vai continuar fugindo de mim? - ele perguntou sério, vendo Anne corar um pouco ao dizer:

- Claro, entre. - assim que ele colocou os pés para dentro do quarto, ela fechou a porta, enquanto tentava ficar a uma distância segura dele. Cole, não podia ter feito aquilo sabendo o quanto ela era fraca quando se tratava de Gilbert Blythe.

- Por que está fugindo de mim. Anne?

- Cole, não te disse? – ela perguntou se sentindo em terrível desvantagem. Ela usava apenas um roupão curto que chegava apenas até na metade de suas coxas, os cabelos estavam molhados porque ela tinha acabado de sair do banho quando ele tocou a campainha, e Anne não podia ignorar a maneira como ele a olhava como se a despisse, sabendo de antemão o que significava aquele brilho selvagem que via nos olhos castanhos.

- Sim, ele me contou, mais eu não pude acreditar que a mulher que me disse todas aquelas palavras lindas ontem é a mesma que se escondeu nesse hotel, me deixando para trás. - ele se aproximou dela, e Anne deu um passo para trás. A presença dele ali já estava dominando os seus sentido, e tudo no que pensava era que queria se atirar nos braços dele, mas se conteve, não podia ceder daquela maneira.

- Gilbert, não torne as coisas tão difíceis. Eu precisei fazer isso. Eu não podia ficar perto de você sabendo que você corre o risco de se machucar seriamente por minha causa. Será que não entende, que fiz isso justamente por te amar tanto, e não suportar a ideia de perder você? - os olhos dela marejavam, e Gilbert queria tanto trazê-la para seus braços e beijá-la até que ela desistisse daquela ideia tola de se afastar dele. Ele deu mais um passo em direção a ela, e de novo Anne deu outro passo para trás. Gilbert respirou fundo, percebendo que não seria tão fácil fazer Anne mudar de ideia, porém ele tentaria até que ela cedesse. Ele não deixaria que ela colocasse qualquer distância ente eles, pois o amor de ambos valia a pena ser preservado e vivido da forma mais intensa possível.

- Você por acaso me perguntou se eu concordava com isso? Você tomou uma decisão por si mesma e não me deu a chance de dizer o que eu pensava sobre isso.

- Gil. - ela disse de cabeça baixa. Ela sabia que ele tinha razão e estava envergonhada.

- Anne, nós nascemos para ficarmos juntos, será que não entende? Eu escolhi ficar com você porque eu te amo, e amar alguém implica correr riscos, se aventurar por caminhos perigosos, se entregar completamente sem pensar nas consequências. Eu estou aqui para te dizer querida, que não importa para onde você vá, quantos quilômetros vai colocar entre nós, eu irei atrás de você todas as vezes e te trarei de volta para os meus braços. - Anne levantou a cabeça, e ao ver todos os sentimentos de Gilbert por ela expostos em seus olhos, ela ofegou, e percebeu naquele momento que jamais poderia escapar daquele homem, pois o seu amor por ele estava em todos os seus poros, em cada fio de cabelo dela, em cada suspirar. Ele se aproximou de novo, e dessa vez ela não fugiu, mesmo porque não havia qualquer outro lugar onde desejava estar.

Os lábios dele esmagaram os dela, ao mesmo tempo em que ela suspirava ao sentir o gosto dele invadir a sua boca sedenta por aquele beijo que fazia todas as partes de seu corpo ganhar vida. Ela circulou o pescoço dele com as mãos, e suas pernas rodearam a cintura dele, enquanto as mãos dele desamarravam o cordão do roupão rosa dela. Gilbert quase gemeu alto ao ver que Anne não vestia nada por baixo além de uma minúscula calcinha preta de renda que foi retirada imediatamente por seus dedos ansiosos por tocá-la mais intimamente. O atrito da intimidade nua de Anne sobre o corpo dele ainda completamente vestido, fez Gilbert se apressar em levá-la para cama. Ele a deitou com cuidado sobre os lençóis de linho, se livrando das próprias roupas apressadamente, enquanto Anne o observava com o olhar pesado de luxúria e os lábios entreabertos, adorando a visão do homem nu a sua frente. Em seguida, ela o puxou para si, suspirando quando seus corpos se chocaram, a pele dela estava tão quente que logo Gilbert sentiu a sua ficar na mesma temperatura, a paixão dela como a dele era intensa, e não tinha medida nenhuma para queimar a ambos daquela maneira. Assim, os lábios dele cruzaram limites como nunca antes haviam feito, e ele se regozijou no prazer de amar o corpo daquela mulher como queria. O gosto dela era ainda mais estimulante quando ela se entregava daquele jeito, sem barreiras, objeções, sem medo, e era ainda mais excitante vê-la desabrochar em suas mãos como se ele fosse o inventor daquela bela criatura que o fazia chegar ao céu em questões de minutos. Anne se sentia enlouquecida por cada toque de Gilbert que não parava de dizer o quanto a amava. Como ela fora tola ao pensar que poderia sobreviver sem aquelas carícias, aqueles beijos que a levavam a um estado de excitação tão grande que a fazia murmurar o nome de Gilbert pedindo que ele não parasse nunca de tocá-la assim. Eles se deixaram levar pelo amor, muito mais do que pela paixão, pois a união de corpos que acontecia ali era a confirmação das promessas que tinham feito um ao outro. Não existia apenas uma Anne ou um Gilbert. Havia várias versões deles que juntos formavam a essência pura do que seus sentimentos significavam. E como uma canção bela e sedutora, Gilbert ouviu Anne gemer seu nome, e se deixou arrastar com ela para o pico da montanha mais alta onde o que encontraram quando chegaram lá foi a consagração daquele amor tão lindo que fizeram juntos mais uma vez.

- Senti sua falta. - ela sussurrou no ouvido de Gilbert.

- Eu também senti a sua. - ele respondeu beijando-a na testa. – Isso tudo só prova uma coisa.

- O que? – ela perguntou deslizando de leve os lábios pelo rosto dele.

- Que você é realmente minha. - ele disse, tocando as costas dela devagar.

- É você é meu, Dr. Blythe? – Anne perguntou sorrindo.

- Você sabe que sou seu de todas as maneiras que puder imaginar. – Ele respondeu com aquela chama ardente brilhando em seus olhos.

- Então, acho que quero provar um pouco mais desde homem que é todo meu. - ela disse com malícia, arranhando o peito dele com suas unhas bem feitas, vendo com satisfação Gilbert se contorcer de leve.

- Faça o que quiser amor. - ele respondeu. E assim, pelas horas seguintes, Anne o levou à loucura, fazendo Gilbert se entregar a ela da mesma maneira que ela tinha feito momentos atrás, e a cada sussurro, gemido e beijo trocados ela descobriu que aquele momento perfeito era o que fazia tudo valer a pena, e mesmo que ela que tivesse que caminhar uma estrada inteira cheia de espinhos, ela sempre encontraria um caminho de volta para aqueles braços que eram seu refúgio, sua proteção e o seu lar.

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