Anne with an e- Corações em j...

By RosanaAparecidaMande

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Anne Shirley Cuthbert foi abandonada ao nascer em um orfanato por sua mãe biológica, mas ela nunca deixou de... More

capítulo 1- Lembranças
capítulo 2- amores do passado
Capítulo 3- sentimentos escondidos
Capítulo 4- Duas almas e um destino
Capítulo 5- Lado a lado com o amor
Capítulo 6- Nestes olhos teus.
Capítulo 7 - Emoções em conflito
Capítulo 8- O amor entre nós
Capítulo 9- Chamas de uma paixão
Capítulo 10- Apenas você
Capítulo 11- Corações apaixonados
Capítulo 12- Esse sonho de amor
Capítulo 13- Quando o coração se apaixona
Capítulo 14- O sentimento que vive em mim
Capítulo 15- Combinação perfeita
Capítulo 16- O que nos separa
Capítulo 17- Revelações
Capítulo 18- Expectativas
Capítulo 19- O que nos une
Capítulo 20- Tudo o que eu quis
Capítulo 21- Tudo o que sonhei
Capítulo 22- Tudo o que somos
Capítulo 23- O que me pertence
Capítulo 24- O tempo é algo relativo
Capítulo 25- O amor que te ofereço
Capítulo 26- Pensamentos proibidos
Capítulo 27- Pensamentos e desejos
Part 28- Provando do pecado
Part 29- O Jogo do amor
Part 30- Caprichos do coração
Part 31- Segredos e Desejos
Capítulo 32- Flertando com o perigo
Capítulo 33- O inesperado
Capítulo 34- Revelando um segredo
Capítulo 35- O incêndio
Capítulo 36- Uma esperança
Capítulo 37- O incêndio parte 2
Capítulo 38- Paraíso particular
Capítulo 39- As duas faces do amor
Capítulo 40- Idas e Vindas
Part 41- O retorno
Capítulo 42- Tudo o que existe entre nós
Capítulo 43- Como no princípio
Capítulo 44- Feliz Aniversário
Capítulo 45- Uma grande surpresa
Capítulo 46- O perigo mora ao lado
Capítulo 47- O inimigo nas sombras
Part 48- Amor e dor
Capítulo 49- As verdades do coração
Capítulo 50- Almas divididas
Capítulo 51- Palavras não ditas.
Part 52- O jardim do Éden
Capítulo 53- Ps: Eu te amo.
Capítulo 54- Eterno amor
Capítulo 56- Um só coração
Capítulo 57- Sem Regras
Capítulo 58- Sussurros e juras de amor
Capítulo 59- Entre o céu e o inferno
Capítulo 60- Lar
Capítulo 61- A promessa de uma vida
Capítulo 62- Entre as estrelas
Capítulo 63- De corpo e alma
Capítulo 64- Desejo e castigo
Capítulo 65- Ao cair da tarde
Capítulo 66- Vidas entrelaçadas
Capítulo 67- Amor imenso
Capítulo 68- Fogo
Comunicado
Capítulo 70- Sonhos perfeitos
Capítulo 72- Xeque Mate
Capítulo 73- Anjo Ruivo
Capítulo 74- Amor de diamante
Capítulo 75- Para sempre
Capítulo 76- Um Natal para relembrar
Capítulo 77- Tudo o que importa
Capítulo 78- Um grande novo ano
História Nova
Capítulo 79- A segurança dos seus braços
Capítulo 80- Can't take my eyes off you
Capítulo 81- Inesquecível amor
Capítulo 82- O casamento do ano
Capítulo 83- Lua de Mel Havaiana
Capítulo 84- Uma nova vida juntos
Capítulo 85- Inseguranças e Fragilidades
Capítulo 86- Ao nascer do sol
Capítulo 87- O caminho de volta
Capítulo 88- O ingrediente principal
Capítulo 89- Na alegria ou na tristeza.
Capítulo 90- O benefício da dúvida
Capítulo 91- Amor e mágoa
Capítulo 92- Impasse
Capítulo 93- Uma longa noite
Capítulo 94- Sob o mesmo céu
Capítulo 95- Juntos
Capítulo 96- A razão da minha felicidade
Capítulo 97- Alcançando as estrelas
Capítulo 98- Acerto de contas
Capítulo 99- A vida por um fio
Capítulo 100- Garota Extraordinária
Capítulo 101- Na dor
Capítulo 102- A beleza de Vênus
Capítulo 103- The way I love you
Capítulo 104- Reconstruindo sonhos
Capítulo 105- Amor de mãe
Capítulo 106- Um novo tempo
Capítulo 107- Entre a mágoa e o perdão
Capítulo 108- Redescobrindo o passado
Capítulo 109 - Universo particular
Capítulo 110 - Esposa perfeita
Capítulo 111- Paraíso na terra
Capítulo 112- Um futuro cheio de promessas
Capítulo 113- O perdão é a cura da alma
Capítulo 114 - Lucy
Epílogo
Agradecimentos
Prêmios

Capítulo 55- Sua força em mim

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By RosanaAparecidaMande

Olá, queridos leitores.. aqui está mais um capítulo. Deixei um pouco o suspense de lado para me focar em outro ponto importante da história e espero que comentem, pois preciso muito dos incentivos que os comentários sempre me dão. Creio que este capítulo ficou bastante profundo em questão de sentimento, espero que possam senti-los como eu ao escrevê-los. Obrigada por tudo. Beijos.

ANNE

O dia amanhecia devagar, e pouca luz iluminava o céu naquele instante ainda guardando os vestígios da madrugada que não tinha se dissipado totalmente. Anne acordou de repente, e se espreguiçou tentando dar mais elasticidade aos seus músculos um pouco entorpecidos pelo frio, ao mesmo tempo em que seus olhos lutavam para se acostumarem a escuridão do quarto em seu novo apartamento, buscando pela figura do homem que dormira ao seu lado na noite anterior, e notando intrigada que o espaço da cama onde ele estivera abraçado com ela estava vazio.

Era ainda muito cedo para ele ter ido para o trabalho, e ela apurou os ouvidos tentando escutar se o chuveiro estava ligado, mas, percebeu que estava silencioso demais. Assim, ela imaginou que Gilbert deveria estar na cozinha, pois muitas vezes quando ele perdia o sono, automaticamente se levantava e preparava um chá, e aquilo vinha acontecendo com bastante frequência naquela semana.

Anne estendeu a mão e pegou seu roupão que deixara em uma poltrona ao lado da cama, e o vestiu sobre o seu corpo nu. Dormia assim todas as noites desde que ela e Gilbert voltaram a namorar, pois uma vez que seu relacionamento com ele estava cada vez mais intenso, ela não via utilidade nenhuma em dormir de camisola ou pijama, porque não permanecia vestida muito tempo com eles mesmo. Anne tinha a sorte de ter um namorado extremamente apaixonado que adorava dormir pele contra pele, e ela logo descobriu que suas camisolas provocantes de seda não tinham o mesmo efeito sedutor sobre Gilbert do que tê-la sem roupa nenhuma em seus braços. Ela também não podia negar que adorava dormir com ele assim, sem nada que a impedisse de tocá-lo como quisesse, porque sentir o calor do corpo de Gilbert em conexão direta com o eu era a sua definição exata de paraíso na terra.

Anne calçou suas pantufas e foi até a cozinha a procura de seu namorado, mas, estranhamente ele não estava lá. Será que Gilbert saíra para correr? Não, ela pensou, ele não sairia assim no meio da madrugada sem dizer-lhe nada. Mas, então onde ele estava? Anne se perguntou, um tanto preocupada, enquanto voltava para o quarto, mas, no meio do caminho, ela viu uma luz fraca que vinha do escritório dele, e suspirou aliviada por saber que ele estava ali tão próximo dela.

Em outros tempos, Anne não se preocuparia, e voltaria a dormir tranquilamente. Porém, na época em que estavam vivendo, ela não conseguia relaxar um segundo quando Gilbert estava longe dela. O medo de que ele pudesse se machucar por sua causa a deixava em pânico, e ela descobriu que a pior parte de amar Gilbert daquela maneira era viver em um medo constante de perdê-lo por causa de um maluco que resolveu persegui-la sem ela saber porque.

Ela caminhou em direção ao escritório, e empurrou a porta devagar. A iluminação que vinha de dentro era fraca, porque Gilbert tinha acendido apenas a luz do abajur, deixando o resto do cômodo escuro. Anne olhou com cuidado cada canto do lugar, procurando por ele e o encontrou na área externa, observando a rua que àquela hora estava quase deserta.

Seus olhos viajaram por toda a figura de Gilbert, que vestia apenas a calça do pijama e mantinha seu dorso nu. O inverno ainda não tinha chegado, mas o ar de outono já era mais frio que o habitual, porem Gilbert parecia não sentir a brisa da madrugada que agitava seus cabelos negros, acariciando seu peito exposto e suas costas cheia de músculos. Ela sempre ficava encantada ao observá-lo em momentos assim em que ele parecia perdido em seus pensamentos, sem notar que Anne estava por perto admirando sua beleza surpreendente. Se tivesse uma câmera à mão naquele momento, ela certamente teria registrado aquela pose natural que ele fazia, segurando na barra de proteção do terraço, enquanto exibia uma parte do seu rosto de perfil. Gilbert daria um modelo maravilhoso, e ganharia a fama de maneira astronômica, pois ele tinha a graça natural que muitos modelos de passarela gastavam fortunas em cursos da área para ter, sua masculinidade tão evidente sem fazer esforço nenhum, e aquele ar de homem confiante que fazia qualquer mulher se render, inclusive ela que recebia doses e mais doses daquele charme todos os dias. Anne tinha realmente sido abençoada pelos deuses do Olimpo que lhe enviaram aquele Adônis em forma de homem para ser apenas seu.

Gilbert virou o rosto um pouco mais, e Anne percebeu que seu maxilar estava tenso, como se alguma coisa o estivesse preocupando, mas o que poderia ser? Ela notara aquele mesmo ar preocupado várias vezes naquela semana, e também tinha visto o leve cair de seus ombros, depois de ele ter ficado trancado em seu escritório no apartamento dele e no de Anne por várias horas, sem descanso. Ela quisera perguntar-lhe qual era o problema, mas achara melhor ele falar se quisesse, porque se fosse um problema com algum paciente, ele não diria por questão de ética profissional.

Mas mesmo assim, ela ficara se perguntando que demônios interiores o consumiam para deixá-lo abatido daquele jeito? Ela imaginava que ser um médico como ele que zelava tanto por seus pacientes não devia ser fácil lidar com tantos problemas humanos, mas, a Anne não parecia certo que ele se envolvesse tanto em um caso para ser afetado daquela maneira. Anne compreendia a paixão e a vocação que ele tinha para a medicina, porém, ela também sabia que deixar que isso lhe tirasse a capacidade de enxergar a vida com toda a beleza que ela realmente possuía não era nem um pouco saudável.

Ela foi até ele em passos leves, não querendo assustá-lo, se colocou ao seu lado e o abraçou pela cintura. Gilbert a olhou surpreso e depois sorriu-lhe de leve, beijando-lhe o topo da cabeça enquanto perguntava:

- O que faz aqui, Anne? Devia estar dormindo a essa hora. - as mãos dele se prenderam na cintura dela, puxando-a para mais perto. -

-Senti falta do meu namorado gostoso ao meu lado, e então, vim procurar por ele. Por isso, te faço a mesma pergunta. O que faz aqui fora sozinho, ao invés de estar na nossa cama dividindo-a comigo? Será que perdi a habilidade de entretê-lo por uma noite inteira, ou será que já se cansou de dormir ao meu lado? - Gilbert sorriu balançando a cabeça, e Anne sabia que ele estava se divertindo ao ouvi-la falar tão abertamente da intimidade que partilhavam. No passado, ela fora realmente tímida sobre esses assuntos, e costumava ficar vermelha quando alguém mencionava a palavra sexo, mas, depois de Gilbert lhe mostrara o quanto era bom se entregar para alguém por quem se estava apaixonada, todas as inibições se foram, sobrando entre eles aquela sinceridade gostosa de se dizer o que quisessem sem se preocupar com o duplo sentido das palavras, ou se deixavam vir à tona todas as emoções provocadas e sentidas em qualquer momento que estivessem juntos. Ele também não fingia ou escondia mais seus sentimentos dela, e falava exatamente o que queria sem se preocupar se tinha se excedido demais.

- Nada me faria cansar de você, Anne. Quanto mais ficamos juntos, mais eu te quero, e é impossível que isso se acabe um dia. - ele a abraçou bem junto dele, seu rosto se escondendo na massa de cabelos de Anne, permanecendo assim por alguns segundos. Depois, ele segurou seu rosto com ambas as mãos, e disse com seu olhar se fundindo ao dela;

- Que bom que está aqui. Não quis acordá-la, mas tê-la em meus braços é a coisa que mais preciso nesse momento. - Gilbert ficou olhando para ela sem tentar beijá-la.

Anne notou-lhe os olhos tristes, e mais uma vez se perguntou o que o estava atormentando tanto que o deixava tão vulnerável daquela maneira.

- O que foi meu amor? Eu percebi que tem estado estranho a semana toda. Não quer me dizer o motivo? - ela levou a mão ao rosto dele, e o acariciou, e Gilbert a abraçou mais forte fazendo com que ela encostasse a cabeça em seu peito. A pele dele estava fria por causa de sua exposição ao ar fresco da noite, e Anne rodeou os ombros dele com seus braços, tentando aquecê-lo um pouco com o calor de seu corpo.

- Não posso e nem quero falar disso agora. Talvez em outro momento eu consiga, mas por ora, quero apenas me livrar da sensação de que não sou a metade do médico que gostar ia de ser.- Anne levantou a cabeça espantada e falou:

- Como pode dizer isso? Você é um médico incrível.

- Não tão incrível assim. Eu passo dias dentro daquele hospital lutando contra o fantasma invisível da morte, e sinto que meus esforços têm sido em vão, Porque tudo o que consigo conquistar são batalhas não tão significativas assim.- a voz dele parecia cheia de frustração, e Anne tentou aliviar aquele peso dizendo:

- Não diga isso, querido. Eu sei que está chateado, embora eu não saiba o motivo, mas imagino que esteja relacionado com algum caso difícil que está te tirando o sono essa semana. Não deixe que isso te consuma, e te deixe insatisfeito consigo mesmo. Você é o melhor médico que conheço, e não digo isso porque sou sua namorada, mas, porque é verdade. Quero apenas que considere uma coisa. Nem tudo depende de você, e muitas vezes por mais que nos esforcemos por algo, não conseguimos atingir o resultado que desejamos, mas isso, não quer dizer que não se deva tentar outra vez. Cada momento é diferente, e cada tentativa é uma nova chance de dar certo na próxima vez. - ela sentiu os braços de Gilbert se estreitarem em volta dela, enquanto o ouvia respirar profundamente.

- E se depois de várias tentativas continuar dando tudo errado? - ele perguntou, e Anne sentiu que ele precisava das palavras dela para se sentir melhor. Então, ela disse com a voz cheia de carinho por ele:

- Então, só te resta aceitar a ideia de que você é apenas humano e que fez o melhor que podia. - Gilbert ficou em silêncio como se analisasse as palavras dela, e Anne sabia o quanto era difícil para Gilbert aceitar que não conseguiria alcançar o melhor resultado de algo. A palavra desistir nunca estivera em seu vocabulário desde que o conhecia, e ele era teimoso o bastante para insistir até a exaustão se fosse preciso se ele achasse que algo valia a pena o esforço. Mas, como o médico responsável que era, ela imaginava que tomar esse tipo de decisão era terrivelmente frustrante, por isso, talvez ele estivesse se sentindo tão deprimido, e questionasse suas capacidades médicas.

Após alguns minutos, ele afrouxou o abraço e ela pegou em sua mão e disse:

- Venha. Você precisa relaxar e eu vou te ajudar com isso. - Anne guiou Gilbert até o quarto, e o fez se deitar de costas na cama. Suas mãos trabalharam em seus músculos até sentir que a tensão abandonava o corpo masculino. Então, ela se deitou sobre ele, seu lábios descendo devagar por cada pedacinho daquela pele que ansiava pelos cuidados dela. Gilbert inspirou profundamente, mudou de posição e trouxe Anne com ele, seus corpos tão próximos, seus lábios quase colados, e seus corações presos na mesma batida.

- Está melhor? - ela sussurrou.

- Muito melhor. - Gilbert respondeu, capturando os lábios dela com os seus. O beijo não foi sensual e nem intenso demais, porém, foi quente o bastante para fazer Anne não desejar sair daquela cama, e nem se desprender daquele homem o dia todo. Eles não fizeram amor, mas acabaram adormecendo abraçados, e só despertando novamente quando o sol já estava alto no céu.

Anne não tinha trabalho naquele dia, e Gilbert somente iria para o hospital a tarde. Por isso, aproveitaram a companhia um do outro o máximo que puderam. Gilbert fez café, e o trouxe para o quarto em uma bandeja, onde o tomou na cama com Anne. Ela percebeu que ele estava com um humor diferente naquele dia, e parecia não ter pressa para se levantar, o que a fez estranhar um pouco, pois normalmente àquela hora ele já estava no meio de sua corrida a caminho do Central Park, mas, depois deu de ombro pensando que talvez fosse melhor para ele descansar mais tempo naquele dia, já que vinha trabalhando demais. E ela não ia ser hipócrita e dizer que não ia se aproveitar daquela oportunidade de ter o lindo Dr. Blythe mais tempo na cama com ela, porque sem vergonha nenhuma admitia que ia desfrutar de cada segundo daquela homem que a fazia suspirar só de olhar para ele.

Ela estava completamente apaixonada, e não escondia mais de ninguém aquela verdade. Quando começaram a namorar ela sabia que o que sentia por ele era forte, mas, não esperava que aquele sentimento se tornasse um furacão dentro dela, e a arrastasse para uma paixão sem limites, e a fizesse agir sem pensar. Anne era louca por Gilbert, e não se arrependia de ter se entregado completamente para ele. Desde a primeira vez em que fora dele, e até na noite anterior quando ele a fez experimentar mais uma vez do seu desejo por ela, ela compreendeu que tudo que faziam juntos desde o começo era certo, e seria assim até que ele a levasse ao altar e a tornasse sua esposa, e ela ansiava por esse momento como ansiara pela volta dele para sua vida, e agora que estavam mais unidos do que nunca, Anne não pretendia deixá-lo ir muito longe sem ela.

- O que quer fazer agora, Gil? - Anne perguntou, terminando de tomar seu leite, e colocando a xicara de volta na bandeja.

- Neste momento nada de especial, só quero ficar aqui com você. - ele disse deitando a cabeça no travesseiro e se virando para olhar para Anne.

- Você está se sentindo bem? - Anne perguntou com a testa franzida.

- Estou. Por que pergunta?

- Porque eu nunca te vi perder tanto tempo na cama de manhã. Você madruga todos os dias, e não perde uma oportunidade de se exercitar.

- Mas, hoje decidi que quero perder mais tempo com você do que com os exercícios. Você se importa? - Ele perguntou olhando-a de um jeito enigmático que a fez responder:

- De jeito nenhum. Na verdade, estou adorando a sua iniciativa hoje.

- Então, vem cá. – Ele e a puxou para seu peito e ficaram um bom tempo assim, namorando e conversando sobre coisas aleatórias. Gilbert estava bastante carinhoso aquela manhã, e Anne aproveitou para suprir toda a carência que sentia dele quando ele não estava ali com ela.

Eles acabaram se levantando quase na hora do almoço, tomaram banho juntos e depois prepararam uma refeição simples para ambos. Assim, as horas pareceram voar, e Gilbert teve que ir para o trabalho. Ele não parecera muito animado com a ideia, e Anne percebeu que realmente o problema deveria estar no hospital, e esperava que ele lhe contasse logo porque ela detestava vê-lo chateado daquela maneira.

Antes de sair, ele pegou as chaves do carro, se aproximou de Anne e disse:

- Te vejo hoje a noite? - Anne o abraçou pelo pescoço e respondeu:

- Claro. Que horas você volta?

- Por volta das nove. Vou ter um plantão longo hoje. - ele respondeu suspirando.

- Então, vem direto para cá, assim podemos jantar juntos. - Anne olhou nos olhos dele, e Gilbert colocou a mão em seu rosto acariciando-lhe as bochechas com o polegar.

- Está bem. Eu queria tanto não ter que ir. - Gilbert beijou-lhe os cabelos, e Anne aproximou seus lábios do dele dizendo:

- Estarei aqui quando voltar. - ela o beijou com carinho, e Gilbert a abraçou mais forte como se não fosse mais largá-la. Depois, a beijou na testa, tocou seu rosto pela última vez e saiu, deixando Anne aflita em seu coração por ele.

Cole lhe mandou uma mensagem, e combinaram de se ver em duas horas. Ele tinha voltado de Los Angeles no dia anterior, e disse que estava cheio de novidades para lhe contar, além de querer saber sobre tudo o que andara acontecendo na vida da amiga.

Anne o encontrou no centro da cidade, e foram direto para uma lanchonete onde costumavam lanchar juntos às vezes. Ele fez Anne lhe contar tudo sobre o seu namoro com Gilbert, e vibrou ao saber que estavam tão bem. Anne também lhe contou sobre o incidente no desfile, e o seu encontro com as amigas de Avonlea. Ela apenas não lhe falou sobre as ameaças que vinha sofrendo porque achou que ali não seria o lugar ideal para isso. E se ela conhecia Cole, ele ia surtar com tudo o que ela tinha que lhe falar, e ficaria paranoico com a história toda. Anne anotou mentalmente para revelar-lhe tudo em uma próxima oportunidade, pois não queria vê-lo sofrendo por antecipação, e nem correndo riscos desnecessários.

- Você parece feliz demais, se me permite comentar. Vai me contar a causa desse sorriso em seu rosto? - Anne perguntou, pois desde que o viu. Cole parecia estar cheio de segredos, e ria para si mesmo em alguns momentos quando ele pensava que ela não estava olhando.

- Talvez eu tenha uma novidade. - ele disse com ar de mistério.

- Cole, conte logo. Você sabe que odeio quando me deixa curiosa. - Anne disse apertando-lhe o braço.

- Está bem. Talvez eu esteja namorando. - Cole deu-lhe um grande sorriso e Anne arregalou os olhos sem conseguir acreditar.

- É mesmo? E quem é o felizardo? Eu conheço?

- Ele é fotógrafo. Seu nome é Jordan Smith. - Cole revelou com ares de apaixonado e Anne disse toda animada.

- Jordan Smith? Caramba, Cole. Ele é um gato! - Anne quase gritou e Cole riu de sua expressão engraçada.

- Não deixe o Gilbert saber que você tem observado mais do que devia as pessoas em seu trabalho. – Cole avisou com carinho.

- Eu não sou cega. É lógico que admiro as belezas ao meu redor. Mas, Gilbert não tem com o que se preocupar, eu sou totalmente na dele, e para o meu coração, não existe homem mais bonito e perfeito do que ele.

- Eu tenho que concordar que Gilbert é um homem lindíssimo, e fico imaginando como é ter aquele monumento em sua cama todas as noites. - Anne ficou vermelha e Cole olhou para ela incrédulo.

- Eu não acredito que depois desse tempo todo com o Gilbert, você ainda fique constrangida em falar de seu relacionamento íntimo. Ele sabe desse seu lado recatado? - Cole disse zombando dela e ela ficou séria dizendo:

- Eu não consigo ser tão comportada com ele. Gilbert me deixa louca. – Anne disse ainda mais vermelha ao se lembrar dos dois na noite anterior. Gilbert realmente mexia com sua cabeça de um jeito que nunca pensou que alguém fosse capaz. Qual mulher conseguiria ficar indiferente a um homem daqueles? Quando estavam juntos a única coisa na qual conseguia pensar era beijá-lo por inteiro, e até ela se surpreendia com esse seu lado passional. Esse era o efeito que Gilbert tinha sobre ela, era sedutor, inebriante e completamente sem controle.

- Posso imaginar muito bem como isso dever ser para você. – Cole disse malicioso.

- Cole, você não se cansa de rir de mim, não é? - Anne reclamou.

- Não estou rindo, na verdade. Estou encantado por vê-la tão apaixonada assim. Nunca pensei que isso aconteceria um dia. Você jurava de pés juntos que morreria solteira

- Eu sei. Nem eu mesma acredito. Acho que estava esperando pelo cara certo. - Anne concluiu.

- Não, você estava como sempre esteve esperando por Gilbert Blythe. - Anne não teve como contestar aquilo. Gilbert tinha sido seu sonho de menina que ficara adormecido dentro dela por anos, e que agora se tornara realidade da maneira mais incrível possível. Nem em seus sonhos mais ousados, ela pensara que um dia estaria vivendo um amor como aquele, nos braços do homem que tinha sido quase uma obsessão sua nos anos em que viveram separados. Não tinha como não se sentir nas nuvens diante daquele pensamento feliz. Ela olhou para o amigo que fixava o olhar em seu rosto cheio de expectativa e disse:

- Agora, chega de falar de mim e me conte sobre o seu novo crush.

Desta forma, eles conversaram por horas. Quando Anne se deu conta a tarde já tinha ido embora. Ela voltou para casa correndo, pois queria deixar o jantar pronto, antes de Gilbert chegar. Quem sabe ele não tomava coragem e lhe contava o que o estava aborrecendo tanto. Cheia de animação, ela se envolveu em suas tarefas na cozinha enquanto cantarolava uma música pensando no único homem que tomava conta de seus pensamentos, e por quem esperava ansiosamente a cada minuto do seu dia.

GILBERT

Gilbert dirigia para o trabalho, mas seus pensamentos dançavam inquietos dentro da sua cabeça. Ele não queria sentir-se tão pessimista, mas era difícil afastar a sensação de fracasso que se instalara dentro dele desde que recebera os últimos resultados dos exames de Sarah. Gilbert não sabia como lutar contra aquilo, não sabia mais em que direção deveria seguir. Ele não queria admitir que já tinha utilizado todas as armas que tinha, todos os recursos possíveis, porque se o fizesse teria que aceitar que chegara ao fim da linha e que estava na hora de recuar.

Mas, onde ele encontraria coragem para olhar nos olhos de Sarah e dizer que aquele era o fim, que ela devia viver da melhor forma possível o tempo que lhe restava, porque não havia mais nada que ele pudesse fazer para salvá-la? Aquilo o arrasava por dentro de tal maneira que ele tinha vontade de gritar.

Gilbert sabia que precisava falar com alguém antes que explodisse. A imagem de Anne surgiu em sua mente como a vira pela última vez aquela amanhã. Ele sentia que ela era a única que o entenderia, porque o conhecia mais do que qualquer outra pessoa. Ela o enxergava por trás de seu jaleco médico, e sabia como ele se sentia, pensava e agia em todas as situações, ela o conhecera bem antes de Gilbert estar envolvido naquele mundo que se dividia entre morte e vida , e nada mais, e ele tinha certeza de que podia confiar nela de olhos fechados, mas ele ainda rejeitava a ideia de deixá-la saber sobre os conflitos que se acumulavam dentro dele, porque estar com ela era o que mais desejava o dia todo, e ele não queria macular seus momentos com ela conversando sobre coisas que deixariam a ambos tristes.

Anne era uma benção em sua vida, e não sabia como demorara tanto para perceber que de todas as coisas boas que já tinham lhe acontecido, sua ruivinha era a melhor delas. Ela sempre lhe dava um fôlego extra para continuar em frente, ela era seu oxigênio, a dose de alegria que lhe escapava em sua vivência diária dentro de um hospital onde nem sempre as batalhas eram ganhas. Gilbert precisava dela bem mais do que pensava, e a cada dia mais. Ele necessitava sentir-lhe o perfume suave que lhe lembrava o florescer da primavera, para entender que ainda havia uma vida lá fora pela qual valia a pena lutar. Ele necessitava se afogar naqueles olhos azuis maravilhosos para entender, que o amor que pulsava em suas veias era mais forte que qualquer tormenta que pudesse ameaçar sua paz mental. Ele necessitava daquele corpo contra o seu para sentir que ali estava a única mulher que o libertaria das agonias da sua alma.

Gilbert não vinha dormindo bem a uma semana, acordava desesperado no meio da noite, com o coração disparado como se estivesse prestes a presenciar um desastre que o jogaria em um buraco escuro profundo. Como médico ele sabia que estava somatizando tudo em seu corpo por causa de seus pensamentos e das tensões que vinham se acumulando a semanas, mas ainda assim, ele não conseguia separar o que era físico ou emocional naqueles momentos.

Na noite anterior passara por algo assim, mas, bastou olhar para Anne e vê-la dormindo agarrada a ele tão confiante para que seu coração voltasse a se acalmar, e batesse em seu ritmo normal. Porém, Gilbert tinha certeza de que não voltaria a dormir tão cedo, por isso, se levantou com cuidado e foi em direção ao escritório que Anne decorara para ele. Gilbert não dissera para ela, mas, já tinha se apaixonado por aquele lugar. Era tão calmo e acolhedor, e o ajudava a pensar. Poderia ter ido até a cozinha e fazer um chá para ajudá-lo voltar a dormir como em noites anteriores, mas, por instinto sabia que não funcionaria aquela noite.

Assim, ele se deixou envolver pela brisa da noite, que apesar de mais fresca que o normal não lhe causava sensação desagradável nenhuma, e se perdeu na linha de seus pensamentos que cruzaram diversos caminhos diferentes, não permitindo que ele chegasse a conclusão nenhuma.

De repente braços macios o envolveram, e ele soube que Anne o descobrira ali em seu recanto solitário. Não fora sua intenção deixá-la sozinha na cama que vinham dividindo todas as noites, mas, precisava daquele instante sozinho consigo mesmo para ordenar seus pensamentos, contudo, ao ver aquele rosto que o olhava com preocupação, ele descobriu que era bem melhor dividir aquele momento com ela. Gilbert não lhe explicara exatamente o que fazia ali no meio da madrugada, mas assim como Gilbert sempre sabia quando Anne estava lhe escondendo algo, ela também pressentia quando ele não estava bem, e por isso quando ela lhe perguntara o que estava acontecendo, ele apenas respondera:

- Não posso e nem quero falar disso agora. Talvez em outro momento eu consiga, mas por ora, eu quero apenas me livrar da sensação de que não sou metade do médico que gostaria de ser. ele não tivera a intenção de revelar nada do que se passava em seu íntimo naquele momento, mas, o aperto em seu peito o estava fazendo ofegar, e acabou colocando para fora seus pensamentos mais sombrios, porque se os guardasse por mais tempo iria sufocar. A voz de Anne tão suave era um contraste com sua inquietação naquele momento quando ela disse:

- Como pode dizer isso? Você é um médico incrível.

- Não tão incrível assim. Eu passo dias dentro daquele hospital lutando contra o fantasma invisível da morte, e sinto que meus esforços tem sido em vão, porque o que consigo conquistar são apenas batalhas não tão significativas assim.- ele estava tão zangado e tão frustrado ao mesmo tempo, que não conseguia evitar que esses sentimentos transparecessem em suas palavras. Anne o olhou preocupada. e ele detestou apagar o sorriso dela. Ele não tinha o direito de descarregar suas decepções consigo mesmo em cima dela.

- Não diga isso, querido. Eu sei que está chateado, embora eu não saiba o motivo, mas imagino que esteja relacionado à algum caso difícil que está te tirando o sono essa semana. Não deixe que isso te consuma, e te deixe insatisfeito consigo mesmo. Você é o melhor médico que conheço, e não digo isso porque sou sua namorada, mas, porque é verdade. Quero apenas que considere uma coisa. Nem tudo depende de você, e muitas vezes, por mais que nos esforcemos por algo, não conseguimos atingir o resultado que desejamos, mas isso, não quer dizer que não deva tentar outra vez. Cada momento é diferente, e cada tentativa é uma nova chance de dar certo na próxima vez. - ela o surpreendera mais uma vez. Quando foi que ela se tornara tão sábia para lhe dizer tal coisa? Ela não sabia o bem que lhe fazia ouvir da boca dela palavras tão consoladoras, ele pensava, ao mesmo tempo que se dava conta do quanto Anne realmente o conhecia por dentro, e pela primeira vez na vida ele não se sentiu desconfortável de ser como um livro aberto para alguém, Porque de alguma forma, aquilo lhe dava certo conforto. Ele ainda deixou que mais um pensamento dele fosse exposto quando disse:

- E se depois de várias tentativas continuar dando tudo errado? - mais uma vez a sabedoria precoce dela o pegou de surpresa.

- Então, só te restar aceitar a ideia de que é apenas humano, e que fez o melhor que podia. - Depois disso, ele não conseguiu dizer mais nada, um cansaço imenso o acometeu e não pôde mais manter suas ideias coerentes. Anne o levara de volta para a cama, e lhe fizera uma massagem tão deliciosa que foi impossível não relaxar, e somente não fizera amor com ela de novo, porque não quisera usá-la como válvula de escape para suas frustrações, ele a amava demais para isso. Acordar depois disso foi mais difícil, e se levantar foi ainda pior, por isso, ficaram na cama até na hora do almoço e embora Anne tenha estranhado esse seu comportamento tão atípico, ela adorou a ideia de ficarem juntos daquela maneira como.se não tivessem obrigações ou responsabilidades com o mundo fora dali. Porém, ele tinha que trabalhar aquele dia, e realmente odiou aquilo. Não queria ir para o hospital onde todas as suas incertezas estavam lá esperando por ele, mas, eram um homem adulto e não um adolescente inconsequente, ele tinha que cumprir com suas responsabilidades, e ali estava ele indo mais uma vez para o hospital onde teria mais um dia difícil.

Gilbert desceu do carro no estacionamento, respirou fundo, e entrou no hospital, cumprimentando colegas pelo caminho, e indo direto ao seu consultório. Ele trabalhou exaustivamente por cinco horas, e depois, fez sua pausa costumeira para o café. Como ele não estava com ânimo para conversar com ninguém, Gilbert preferiu se sentar nos jardins do hospital, e observar o movimento das pessoas indo e vindo como um mero espectador comum, mas sua solidão durou pouco. Logo, Gabriela o encontrou e se juntou a ele enquanto dizia com um sorriso:

- Está se escondendo do de mim, Dr. Blythe?

- Não, estava apenas curtindo um pouco de solidão. – Ele sorriu-lhe de leve, não querendo que ela percebesse o real motivo de ele estar ali.

- Por que me parece que é mais que isso? - Gabriela o olhou interrogativamente.

- O que quer dizer?

- Você está tendo problemas com a Anne novamente? - Gilbert sorriu mais abertamente ao falar da namorada.

- Não. Anne é fantástica. Estamos muito bem.

- Dá para perceber só pelo seu sorriso. Que alívio! Pensei que estivessem brigado de novo.

- Não. Ela me completa de um jeito que nunca pensei que aconteceria. Como é possível que cada vez que eu olho para ela, eu me apaixono um pouco mais? – Ele perguntou mordendo o lábio inferior de leve.

- Porque é desse jeito quando amamos alguém de verdade.- Gabriela respondeu colocando as mãos no bolso do próprio jaleco.

- Eu estou vivendo um sonho, sabe. Eu a tenho amado a tanto tempo que não pensei que seria tão maravilhoso no mundo real.

- Eu estou muito feliz por você, Gilbert. E tenho certeza que Anne te ama do mesmo jeito. É tão nítido na maneira como ela te olha, o rosto dela se ilumina toda vez que você está perto. Eu torço muito por esse relacionamento, e espero que quando se casarem, eu seja uma das madrinhas, não abro mão disso. - Gabriela disse sorrindo.

- Não vou me esquecer. Tenha certeza. - Gilbert riu achando graça nas palavras dela.

- Agora, não quer me contar o que o está atormentando? - Gilbert suspirou, ficou calado ele um instante, e então resolveu desabafar:

- Os exames de Sarah chegaram.

- E? - Gabriela esperou que ele continuasse.

- Não há mais nada que eu possa fazer. - Gilbert baixou a cabeça como se aquelas palavras pesassem como chumbo em seu peito.

- Sinto muito. - Gabriela disse tocando o braço dele com simpatia. Ele apenas assentiu e continuou de cabeça baixa, o olhar perdido no chão.

- O que pretende fazer agora?

- Tenho que contar a ela, mas não sei como. - Gilbert disse com a voz abafada.

- Faça isso o mais rápido que puder. Quanto mais demorar, pior ficara para os dois.

- Eu sei. Mas, como se acaba com as esperanças de alguém assim? -

- Nesse tipo de situação não existe conto de fadas Dizer a verdade é ainda a melhor coisa a se fazer. - Gabriela concluiu, e Gilbert sabia que ela tinha razão. O difícil era conseguir ter coragem de falar aquilo tudo para Sarah, sabendo de toda a confiança que ela depositava nele.

Ele voltou ao trabalho sentindo seus ombros pesaram mais que antes. Precisava se decidir, e não sabia o que fazer, mas, ao mesmo tempo pensava, o que adiantaria adiar para outra semana ou outro mês? Seria difícil da mesma maneira, e protelar o que ainda estava por vir não faria bem a ninguém.

Gilbert terminou seu dia de trabalho, e foi direto para a casa de Anne. Precisava vê-la, tê-la em seus braços, precisava da presença dela para se sentir melhor. Ele mal estacionou o carro, e subiu as escadas que levavam ao apartamento de Anne sem paciência para esperar o elevador, seu coração batia acelerado, e em pouco tempo ele venceu a distância que ainda o separava da mulher que amava. Gilbert abriu a porta do apartamento com a chave que ela lhe deu, e quando se viu no meio da sala seus ouvidos foram atraídos pelo som da voz dela que cantava uma canção bastante popular do momento, levando-o imediatamente para a cozinha onde a encontrou totalmente entretida com a refeição que preparava. Gilbert a abraçou pela cintura, enterrou o nariz nos cabelos dela, fazendo-a suspirar enquanto dizia:

- Querido, não ouvi você chegar.

- Estava louco de saudades. - ele murmurou no espaço entre o pescoço dela e a orelha, enquanto suas mãos trabalhavam na cintura dela, levantando de leve a blusa que ele usava, tendo livre acesso a pele lisa da barriga que ele fez questão de acariciar como se fosse a mais linda obra de arte. O cheiro dela era inebriante, uma mistura de morango com flores, ele subiu a mão mais um pouco, e estava a um passo de alcançar os seios pequenos e perfeitos dela que não estavam cobertos por um sutiã dessa vez, mas sim por um top minúsculo que aderia às suas formas, deixando-o mais louco ainda por arrancá-lo dela. Anne suspirava cada vez mais alto, encostando o corpo no dele, e não conseguindo mais aguentar aquela provocação explícita, ela se virou de frente para ele, e atacou-lhe a boca com vontade, enquanto Gilbert a encostava na pia da cozinha, impedindo-a de escapar dele.

A blusa dela foi arrancada e jogada em algum lugar da cozinha, e o beijo quente foi acelerando até deixá-los quase sem nenhuma razão. Gilbert levou suas mãos até o top dela, e estava a ponto de tira-lo também quando o barulho do forno avisando que o bolo de carne que Anne estava assando ficara pronto interrompeu o momento dos dois, fazendo Gilbert praguejar baixinho. Anne desligou o fogo, e depois voltou para os braços de Gilbert que ainda tinha a respiração acelerada. Ele a abraçou apertado, e beijou-a na testa com carinho, correndo as mãos pelos cabelos dela em silêncio.

- O que foi tudo isso? - ela disse baixinho, observando o rosto dele preocupada.

- Eu estava com saudades. Desculpe se pareci afoito demais te agarrando desse jeito na cozinha. - ele sabia porque fizera aquilo. Não queria pensar em nada do que o estava angustiado naquele dia, e o único jeito fora aquele, pois quando estava com ela, Gilbert não conseguia se concentrar em mais nada a não ser naquela boca deliciosa sob a sua. Ele a estava usando como apoio de novo, e ele sabia que não era certo, porém, era mais forte que ele, mais forte que sua consciência, era somente o seu coração empurrando-o para ela em busca da paz que somente encontraria ali naquela mulher linda e tão cheia de vida.

- Você sabe que não me importo onde ou quando fazemos isso. Eu adoro quando me surpreende assim, mas você não me parece bem. Não quer conversar a respeito? – aquele olhar doce que ele adorava lhe dava a sensação de estar finalmente em casa. Anne era o seu lar e sempre seria.

- Será que podemos conversar sobre isso depois do jantar? – Gilbert perguntou. Ele não queria estragar o jantar que ela preparara com tanto esmero para ambos.

- Tudo bem. – Ela disse ainda com os braços ao redor do pescoço dele.

- Vou tomar banho. Volto logo. - Gilbert a beijou, foi até o banheiro, tomou uma ducha rápida e voltou em 15 minutos, com os cabelos úmidos e roupas mais confortáveis. Anne serviu o jantar, e conversaram sobre amenidades Na hora da sobremesa, ela olhou para Gilbert e disse:

- Vai me contar agora o que está se passando nessa cabeça? - Gilbert respirou fundo, e resolveu falar de uma vez. Ele e Anne estavam juntos e não deviam ter segredos entre ambos. Assim, ele contou tudo, observando o rosto de Anne mudar de expressão a cada segundo, por fim quando ele terminou de colocar para fora sua infelicidade com a situação

- Gil, eu sinto tanto. Eu sei o quanto você se esforçou para ajudá-la. – O olhar de amor de Anne naquele instante tocou fundo o coração de Gilbert que apertou a mão que ela lhe estendia sobre a mesa, e confessou sua maior angústia.

- Como se conta para alguém que ela vai morrer e nada mais pode ser feito?

- Eu não sei o que te dizer sobre isso. – Anne apertou a mão dele com mais força dando todo o seu apoio ao namorado.

- Eu vou para Charlotte Town amanhã. Preciso falar com a Sarah, não posso mais adiar isso. - Gilbert disse com os olhos atormentados

- Eu vou com você. Não vou te deixar passar por isso sozinho. - Anne disse deixando Gilbert surpreso.

- Anne, você sabe que não precisa fazer isso.

- Mas eu quero. Eu errei quando não te dei meu apoio para sua viagem à Alemanha, e mais ainda quando você precisou ficar mais tempo e eu me zanguei com você, e terminei nosso namoro. Perdoe-me Gilbert, agora eu sei que agi como uma menina mimada. O seu trabalho é muito importante, e quero te apoiar em tudo daqui para frente. - Gilbert continuou olhando para ela, e se perguntando se tinha como aquela mulher ser mais maravilhosa do que já era. Ele mal conseguiu responder por causa da emoção que as palavras dela lhe causaram;

- Obrigado, amor. Isso significa muito para mim.

- Então está resolvido. Eu vou com você amanhã para Charlotte Town visitar Sarah, aí podemos ficar para o fim de semana, e eu aproveito para ir até Green Gables.

E o seu trabalho? - Gilbert perguntou preocupado.

- Eu só terei que ir ao estúdio na próxima terça. Estou livre até Segunda- feira. – Gilbert ficou feliz com aquela notícia. Ter Anne ao seu lado quando fosse visitar Sarah no dia seguinte era tudo o que podia desejar, pois se sentiria mais forte par a fazer o que precisava.

Gilbert ficou no apartamento de Anne por mais algum tempo, depois, decidiu ir para o seu apartamento mesmo ela implorando para que ele passasse a noite com ela. Ele precisava arrumar as coisas para a viagem no dia seguinte, e resolver coisas alguns assuntos pessoais. Quando foi para a cama naquela noite, ele estava se sentindo um pouco mais aliviado, mas isso não impediu que ele tivesse um sono agitado cheio de sonhos inquietantes.

ANNE E GILBERT

Despertar foi extremamente difícil para Gilbert aquela manhã, pois não conseguira dormir como esperava. Foi uma má ideia ter optado por passar a noite em seu apartamento, mas ele precisara resolver alguns assuntos pendentes, e também quisera dar um pouco de espaço para Anne, pois ele praticamente passara todas as noites no apartamento dela naquela semana, e por mais que adorasse ficar com ela cada minuto possível, Gilbert sabia que tanto ele quanto ela precisavam manter sua individualidade, e fazer as coisas que lhe davam prazer.

Contudo, ele devia ter ficado com ela como Anne pedira tanto na noite anterior, pois após revelar a ela tudo o que o estava angustiado, ele se senti a aliviado por não esconder mais nada dela, porém, sua mente continuara torturando-o durante o sono por conta do que ainda teria que fazer, e por isso, a qualidade de seu sono fora péssima, e agora se sentia exausto, como se não tivesse dormido um minuto sequer.

Ele se arrumou rapidamente, tomou seu café, e foi até o apartamento de Anne. Ainda era muito cedo, mas ele combinara com a ruivinha de pegarem o primeiro voo para Charlotte Town, pois estava ansioso com toda aquela situação.

Como no dia anterior, ele foi até o terceiro andar pelas escadas, e não demorou muito até estar em frente do apartamento dela e apertando a campainha. Anne abriu a porta já completamente pronta para sair, e maravilhosa como sempre. Ela ficava linda com qualquer cor, mas o conjunto preto que ela usava a favorecia bem demais, fazendo Gilbert suspirar sem querer. Ela se aproximou mais, e aquele perfume que era somente dela aguçou-lhe os sentidos, trazendo pensamentos impuros à mente de Gilbert sem que ele pudesse evitar.

- Você parece cansado. Não dormiu bem? – Anne perguntou, seus olhos mapeando cada parte do rosto dele sem deixar que uma linha sequer lhe escapasse.

- Senti demais a sua falta. - Gilbert a atraiu para seus braços, permitindo que seu corpo inteiro reconhecesse cada curva do corpo dela. Ele realmente fora um tolo de ir para casa sozinho.

- Eu te convidei para ficar ontem à noite e você não quis. – ela disse com um sorrisinho maroto.

- Eu sei. Sou mesmo um idiota. - Gilbert respondeu, levando a ponta do nariz até o pescoço dela, e aspirando o odor divino que vinha dela. Anne sentiu seu corpo inteiro se arrepiar, e deu um passo involuntário para se colar ao corpo de Gilbert, e sentir a rigidez dos músculos dele contra os seus, quando seu olhar se fixou no relógio de ouro em seu pulso, e percebeu que tinham que ir. Ela gemeu de frustração ao perceber que não teriam tempo nem para um beijo decente e disse:

- Amor, está na hora. - Gilbert se fez de surdo e continuou correndo seus lábios pelo pescoço dela. A pele de Anne era macia demais para que ele resistisse, e Gilbert estava quase levando-a para o sofá da sala, onde teriam momentos tórridos antes de viajarem. Sua mente já o provocava com milhões de ideias quando ele foi interrompido por Anne que o fez voltar para a realidade dizendo

- Se você quiser chegar logo em Charlotte Town é melhor sairmos agora mesmo. – Gilbert fechou os olhos tentando se recompor, enquanto seu corpo inteiro gritava dizendo que ele fora um imbecil por não ter passado a noite com sua namorada, e que teria que esperar por horas para poder ficar sozinho com ela de novo.

- Acho que podemos ir então. - ele disse com um sorriso, colocando um braço ao redor da cintura dela enquanto com a mão direita ele pegava a pequena bagagem que ela estava levando para a viagem.

Um táxi já os esperava quando alcançaram a calçada, e assim se dirigiram até o aeroporto conversando bem pouco pelo caminho. A chegada até o aeroporto não demorou a acontecer, assim como o embarque e a decolagem aconteceram em bem pouco tempo. De repente, estavam voando rumo a um encontro que destruiria todos os sonhos de uma jovem que ainda tinha tanta coisa para viver e experimentar do mundo.

Gilbert tentava se distrair enquanto olhava para a paisagem lá fora, e às vezes, ele lançava olhares profundos para Anne que estava entretida com um livro que trouxera consigo. Porém, era inevitável o que teria que fazer e só a ideia daquilo estava lhe causando um princípio de for de cabeça. Ele nem parecia um médico experiente que já cuidara de tantas situações assim, mas em nenhuma delas tivera um amigo seu envolvido como agora, e aquilo complicava tudo.

Eles desceram no aeroporto de Charlotte Town cinco horas depois, e pegaram um táxi direto para a casa de Sarah. A cada curva que os aproximava mais da casa dela, Anne sentia Gilbert ficar mais tenso. Ela imaginou o quanto aquilo seria difícil para ele-, e por isso entrelaçou seus dedos nos dele, e colocou sua cabeça no ombro de Gilbert para dar lhe apoio.

Em questão de minutos estavam descendo do táxi, e apertando a campainha da casa de Sarah. A mulher que veio atendê-los não se assemelhava em nada com a garota simpática de quem Anne se lembrava de seu aniversário. Ela tinha emagrecido muito, as maçãs do rosto estavam encovadas e os cabelos sem vida. Quando os viu, o rosto pálido se iluminou mostrando a Anne que Sarah estava genuinamente feliz por vê-los ali.

- Gilbert, Anne. que bom que vieram. Você continua linda, Anne. – ela abraçou a ruivinha que não soube o que dizer a não ser:

- Obrigada.

- O que o trazem aqui nessa surpresa incrível? – Sarah disse beijando Gilbert no rosto.

- Eu preciso falar com você - Ele disse sério e ela logo compreendeu sobre o que se tratava. Anne se afastou propositalmente, fingindo estar interessada em um canteiro de rosas que Sarah tinha em seu jardim, para dar a eles a privacidade que precisavam para conversarem sobre algo tão sério.

Eles se sentaram na varanda, e de onde Anne estava, ela não conseguia ouvir nada a não ser um leve burburinho que vinha do som da voz dos dois. Depois do que pare cia ser uma eternidade, ela viu Gilbert pedir licença e sumir dentro da casa, e intrigada ela se aproximou de Sarah para ver o que tinha acontecido, e se ela precisava de alguma palavra de apoio, mas para sua surpresa, ela parecia muito bem para quem acabara de ter uma sentença de morte colocada sobre sua cabeça.

- Sarah, Onde o Gilbert foi?

- Ele disse que precisava de um minuto sozinho, e acho que ele foi ao banheiro. - Sarah disse olhando para Anne com simpatia. A ruivinha se sentou ao lado dela e perguntou:

- Ele te contou? -- Sarah balançou a cabeça em afirmativa, e Anne continuou. - Eu sinto muito.

- Não, querida, por favor não sinta. Eu estou bem. De verdade.

- Você é muito corajosa. Se fosse comigo eu não sei como reagiria. - Anne confessou.

- Eu sempre soube que seria assim desde o começo. E uma vez que se aceita o seu destino, as coisas se tornam mais fáceis. – ela olhou para a paisagem à sua frente deixando que Anne visse seu semblante resignado e voltou a falar. - Eu não tenho como agradecer a Gilbert tudo o que ele fez por mim. Ele deixou o seu país de origem, e foi para outro completamente estranho, deixando tudo que amava, inclusive você, para tentar encontrar uma possível cura para minha doença, e ainda tem lutado por todos esses meses em busca de algo novo ou outro caminho para continuar me ajudando. Eu nunca terei como pagar tudo o que ele fez por mim.

- Sarah, ele fez tudo isso porque ele te ama como amiga, e não suportava ideia de te ver sofrer dessa maneira. - Anne disse colocando suas mãos sobre as dela, sentindo-as completamente geladas.

- Gilbert é um homem incrível. Você é uma garota de muita sorte por tê-lo a seu lado. - ela olhou para Anne, e a ruivinha viu algo ali que fez seu coração se partir.

- Você o ama! - Sarah não negou, porque aquilo estava tão nítido em seus olhos que não saberia como escondê-lo.

- Sim. E sempre vou amá-lo. – ela fez uma pausa, depois voltou a olhar para Anne com o olhar suave e continuou. - Até vocês se reencontrarem, eu pensava que íamos nos casar, mas, então, as coisas mudaram e eu tive que aceitar que meu sonho não se realizaria. - ela disse aquilo de maneira tranquila, mas nem isso fez Anne se sentir menos mal pelo que ela acabara de ouvir.

- Perdoe- me, Sarah. Nunca quis lhe fazer nenhum mal. Quando voltei para Green Gables depois de sete anos sem ter colocado meus pés lá, eu não imaginava que as coisas entre Gilbert e eu fossem tomar o rumo que tomaram. Quando percebi, já estávamos envolvidos, e não consegui mais recuar.

- Não precisa se desculpar, Anne. Eu sempre soube que Gilbert não me amava. Ele sempre amou você e fico feliz em ver que a recíproca é a mesma. Vocês foram feitos para ficarem juntos, um amor assim não pode ser desperdiçado. Nunca sabemos como será nossa vida no dia de amanhã. - Sarah disse com a voz sem um pingo de mágoa, e Anne não pôde deixar de admirar aquela mulher tão forte que mesmo com todas as suas esperanças arrasadas, não parecia ter perdido a serenidade e lucidez para analisar tudo o que estava lhe acontecendo.

- Anne, você me faria um favor? – Sarah pediu com um sorriso.

- Claro. O que quiser.

- Cuide bem de Gilbert. Ele vai precisar muito de você quando tudo isso acabar. - ela evitou usar a palavra morte, mas ela parecia pairar sobre ambas como uma ameaça velada. - Ele não vai saber lidar com isso, e não vai aceitar as coisas de maneira tão fácil. Nos duas o conhecemos bem. - Anne balançou a cabeça concordando. A ironia daquilo tudo era que ali estavam duas mulheres apaixonadas pelo mesmo homem, e que já tinham visto todos os lados de sua personalidade marcante. A diferença era que uma transbordava de amor e vida, enquanto a outra via sua vida sendo apagada aos pouquinhos como uma vela ao vento.

- Eu prometo. – ela disse sorrindo, e apertando as mãos de Sarah com carinho.

Naquele momento, Gilbert apareceu e ao olhar para o rosto dele, Anne percebeu que ele tinha chorado, e ela sentiu seu coração se partir pela segunda vez naquele dia, pois ver Gilbert sofrer daquela maneira era quase insuportável. Eles se despediram de Sarah, e Gilbert prometeu que viria visitá-la sempre como vinha fazendo durante todos aqueles meses, e quando entraram no táxi novamente, Anne tocou o rosto dele com carinho e perguntou:

- Você está bem? - ele apenas e riu e deu-lhe um beijo na testa, mas Anne percebeu que ele apenas estava fingindo para não deixa-la preocupada como sempre.

Eles foram para a fazenda dele, e embora Anne tivesse planejado ir até Green Gables naquele dia, ela achou melhor deixar para o dia seguinte, pois ao olhar novamente para Gilbert, ela pressentiu que ele não estava em condições de ver ninguém. Mary havia deixado comida e sobremesa prontas na geladeira com um bilhete desejando-lhes boas-vindas, e convidando Anne e Gilbert para jantar com eles no dia seguinte.

O jovem médico mal tocou na comida, e pretextando que queria descansar um pouco, ele foi para o quarto deixando Anne sozinha com seus próprios pensamentos. Várias vezes durante a tarde, ela foi dar uma olhada nele, notando que ele apenas tinha se deitado na cama e olhava fixamente para o teto. Quando a noite chegou, Anne não suportou mais ver Gilbert encolhido na cama feito um animal ferido, e por isso, ela se deitou ao lado dele, acariciou seus cabelos e disse:

- Gilbert. Eu sei que está sofrendo, mas, por favor, querido, me deixa cuidar de você. Eu estou bem aqui ao seu lado, e por pior que seja tudo isso, nós vamos ficar bem – Gilbert se virou de frente para Anne, e segurou as mãos dela em seu peito dizendo:

- Eu não sei o que devo dizer ou como devo me sentir. Parece que tudo soa vazio quando eu tento. - Anne se aproximou mais afagando-lhe os cachos que caiam em sua testa e respondeu:

- Tudo fica mais leve quando colocamos para fora, amor. - Gilbert olhou intensamente aquele rosto lindo, admirando-a ainda mais na penumbra do quarto que fazia os olhos de Anne brilharem tanto que iluminavam a alma dele naquele instante tão escura e pesada. Assim, ele disse com a voz sufocada.

- Eu fiz tudo o que eu pude, Anne. Passei noites e noites estudando casos e li vários artigos que encontrei sobre a doença de Sarah. Fui para outro país achando que lá eu encontraria o caminho certo que guiaria Sarah até a cura, destruí meu relacionamento com você por causa de uma obsessão que só me serviu para provar o quão estúpido sou. Talvez eu estivesse enganado todo esse tempo, talvez eu esteja me iludindo achando que a medicina é minha vocação. Eu não consegui salvar Sarah, então que tipo de médico isso me torna? - a voz e os olhos estavam tão atormentados, buscando respostas para o seu aparente fracasso quando na verdade não havia nenhum.

- Isso te torna aquele tipo de médico que se importa, que é tão incrível e maravilhoso que é capaz de colocar sua vida pessoal em segundo plano apenas para ajudar alguém que precisa de você. Como pode dizer que é um médico medíocre, meu amor? Veja quantas pessoas você já salvou. Cuidou tão bem de Matthew, de mim muitas vezes, de Marylin. Como pode dizer que a medicina não é sua vocação quando é tudo o que desejou desde que éramos crianças, e vivia com aquele seu estetoscópio de brinquedos examinando todos os tipos de animais como se eles forem pessoas de verdade. Acho até que traumatizou o gato da Marilla de tantas vezes que enfiou um termômetro na boca dele para ver se tinha febre. Sem contar as vezes que me fez de sua paciente cobaia. – Gilbert riu de leve daquelas lembranças tão doces e felizes, mas que pareciam pertencer a milhões de anos atrás.

- Estou tão cansado, Anne. Não vejo mais sentido nisso tudo. Não suporto mais ver o sofrimento das pessoas e não poder fazer quase nada para ajuda-las. É doloroso demais saber que os recursos que temos nem sempre são suficientes para apagar a dor. Eu me sinto tão zangado comigo mesmo por ser tao limitado e medíocre. - ele estava com raiva, ela podia sentir, e muito triste também. Anne rezava que aquilo fosse apenas crise passageira, e que Gilbert não desistisse do que mais amava por causa de seu pesar por Sarah.

- Gil, eu imagino como está se sentindo, mas quero apenas que se lembre que você é um médico incrível porque é capaz de olhar para seus pacientes como seres humanos. Sofrer por eles não te torna fraco, te faz muito melhor, te leva à a um grau de abnegação humana que bem poucos são capazes de alcançar, e eu tenho muito orgulho de você. - Gilbert ficou em silêncio por um momento, saboreando cada palavra de Anne que ia aos poucos diminuindo sua dor, mas que não apagava o gosto da decepção que sentia por si mesmo.

- Agora, me diga, amor. O que quer que eu faça para que se sinta melhor? - ele continuou olhando o para ela, suas mãos segurando uma mecha ruiva entre os dedos, e com uma voz quase de súplica Gilbert respondeu.

- Tudo o que quero agora e preciso é de você. – Anne sentiu aquele olhar poderoso sobre ela, e soubera exatamente o que ele quisera dizer com aquelas palavras. Ela se levantou da cama, deu a volta e ficou de frente para ele, se despindo devagarinho sob o olhar inflamado de Gilbert que parecia querer queimá-la com sua intensidade. Quando ela tirou a última peça, Gilbert não escondia mais a força do seu desejo por Anne que parecia que iria explodir a qualquer instante. Ele a puxou para ele, deixando-a saber o quanto a queria. Suas mãos excitaram-na tanto que muitas vezes a levaram ao seu limite naquela noite. O toque de Gilbert era tão vigoroso que Anne pensou que não suportaria mais aquelas carícias que em seu corpo eram uma tortura imensa, e ela acabaria se entregando rápido demais. Ela sabia que ele precisava disso aquela noite, assim como ela estava refém daqueles beijos que eram a causa de ela querer aquele homem as raias da loucura. Gilbert estava totalmente envolvido naquele momento, e assim como Anne, ele quase não conseguia se controlar. Ele estava lutando para manter a razão, mas ela tinha desaparecido completamente no momento em que Anne encaixou seus quadris nos dele. Ele não conseguia mais pensar em nada, apenas sentia, e suas emoções o faziam se afogar cada vez mais naquele corpo que o deixava cada vez mais sedento pelo gosto dela, o cheiro dela, o amor que ela lhe oferecia sem pedir nada em troca. Gilbert queria tudo, precisava de tudo, e por isso, ele mergulhou cada vez cada vez mais fundo em seu desejo, até que suas forças o s abandonaram e ele se deixou arrastar com Anne naquela fúria insana que exigia tudo deles, mas também lhes dava tudo, e quando finalmente eles chegaram ao prazer imenso de terem seus corpos unidos como se fossem uma só pessoa, tudo se tornou uma grande roda gigante de sensações e suspiros.

Quando Anne recobrou sua razão, ela ainda estava agarrada a Gilbert, seus cabelos molhados de suor, suas pernas enroscadas nas dele, e seus lábios a um centímetro dos dele. Eles se olharam, e Anne notou aliviada que ele sorria de um jeito tão relaxado e feliz que a fez dizer:

- Você me faz a mulher mais feliz do mundo, e nunca vou me arrepender de todos esses momentos que temos juntos. Eu te amo demais, Gilbert.

- Eu também te amo do mesmo jeito, muito mais do que ontem, e ainda mais amanhã Você é a única mulher que me completa dessa maneira- ele acariciava as costas nuas dela com suavidade, fazendo um calor gostoso se espalhar por cada fibra do seu corpo.

- Prometa-me que vai ser minha para sempre. - ele disse em seu ouvido e ela respondeu em um sussurro.

- Você é o único homem para mim Gilbert. Nunca serei de mais ninguém além de você. Sempre fui sua desde o dia em que me entreguei à você pela primeira vez, pois nesse dia também te entreguei meu coração e jamais o tive de volta.

Eram tantas coisas para dizerem, tanto amor para declarar, mas naquele instante o cansaço os venceu, Então cada sentimento não confessado naquele momento onde seus corações estavam unidos, ficaram como que escondidos entre o sonho e a realidade, e que seriam expostos ao amanhecer quando o dia nascesse e a vida recomeçasse outra vez.

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