SALVA PELO CHEFE (COMPLETO)

By rivanialima

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*Ainda não seu sei manterei essa capa, mas gostei, então vou mantê-la por enquanto.* + Vou voltar a postar al... More

AVISOS
PRÓLOGO
SINOPSE 2
A FOTO
FURIOSO
INCOMPETENTE?
O BEIJO
PEQUENO ESCLARECIMENTO
A DESCOBERTA
DAVI
FEVER
SEM CONTROLE
O DIA SEGUINTE
CALLEB?
[CORREÇÃO DE CAP.]QUASE UMA NOVELA E UM BEBÊ
[CORREÇÃO DE CAP.] FAÍSCA
O APAGÃO
CONFISSÃO
UMA 'QUENTE' NOITE DE CHUVA
I'M BACK
UMA SENSAÇÃO RUIM
MENSAGENS
PÉSSIMA MENTIROSA
A REUNIÃO
Correção (n é capitulo)
QUEM É B?
ESTOPIM
SEMI NU E COM TESÃO
DAVI
MARCAS
NÃO HÁ COISA ALGUMA... não pode haver...
FUGINDO
O BAILE parte I: Preparativos
ODEIO VOCÊ
O BAILE: preparativos parte II
DAVI
UMA DANÇA E UM BADBOY
MEU BALSAMO?
SITUAÇÃO DIFÍCIL
UM POUCO DE DIVERSÃO
DANÇA COMIGO AGORA?
O BAILE parte II: Escandalos
SEM PERGUNTAS
NÃO VOU DESISTIR
AT LAST
CONVERSA INTERESSANTE
Água ou Fogo?
AMOR OU MEDO?
[CORREÇÃO] A LIGAÇÃO
[CORREÇÃO] MELHOR REMÉDIO
QUEM ESTÁ FALANDO EM AMOR?
ENCONTRO MARCADO
AGENTE DUPLO?
ADIAMENTO (NÃO É CAPITULO)
VAMOS COMPENSAR ISSO, ENTÃO!
B de BENNET
NÃO QUERO QUE VÁ EMBORA
NÃO QUERO SER DE MAIS NINGUÉM
ESCLARECIMENTOS
CONFIDENCIAL
INUTILIDADE
Pequenissímo aviso
Seria covardia de minha parte?
Algumas informações... importantes
UMA CONVERSA COM MARIA
NÃO É CAPITULO
TROCA DE E-MAILS
EU O AMO
EU A QUERO
CÂMERAS DE SEGURANÇA
HAUNT
EXPERIÊNCIA
MAIS ERROS QUE ACERTOS
FOI A TEQUILA
SINTO MUITO: parte I
SINTO MUITO parte II
RESULTADOS DEVASTADORES
Clichês
CONVERSA NO ESCURO
DECISÃO MENOS ERRADA
HEREDITÁRIO
Ele é meu
RECONCILIAÇÃO
TROCA DE INFORMAÇÕES
CORRESPONDÊNCIA
NAMORADA
INSIGHT
BAILARINAS
CONVITE À AMEAÇAS
TRANSAÇÕES
DEDO NO GATILHO
INTERROGATÓRIO
LONDRES
DOMINGO DECISIVO
FLÓRIDA
PRECISO FAZER SOZINHA
LIBERTAÇÃO
REVELAÇÕES parte II
UM ENCONTRO DE VERDADE
PEDIDO DECENTE
EPÍLOGO
BÔNUS
Bônus 2
LIVRO POSTADO

REVELAÇÕES parte I

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By rivanialima


[GATILHO][DEPRESSÃO][AUTO-MUTILAÇÃO]

 'Ange'

– Deus... – murmurei sem consegui me impedir quando senti como se levasse um soco no estômago (e agora eu sabia literalmente como era) e a dor não é diferente, Davi me ouviu e quando ergueu seus olhos para mim ele pareceu surpreso em um primeiro momento, ele estava horrível parecendo não dormir a dias e ter envelhecido uns dez anos, ele não se moveu, mas quando vi um tipo de alívio em sua expressão, todo aquele medo desapareceu...

– Ange... – Davi murmurou meu nome com o mesmo alívio e emoção em seus olhos fazendo meu coração arrebentar meu peito e minhas pernas bambearem, então eu me aproximei e me ajoelhei ao seu lado sem desviar meus olhos do seu e fiz o que esperei uma semana para fazer, o abracei com toda a força que eu tinha e fui retribuída no mesmo instante com Davi me apertando muito mais forte contra seu corpo. – Ange! – diz ele novamente e eu me sinto única novamente como se eu fosse tudo que ele precisasse.

Percebi, surpresa que Davi estava realmente chorando quando o senti estremecer contra meu corpo... eu não pude dizer nada, só o segurei como ele fez comigo tantas vezes e me deixei sentir seu cabelo entre meus dedos... eu podia imaginar como é doloroso perder um filho, podia sentir sua dor também, e nada no mundo poderia ser dito que amenizasse essa dor. Não sei por quanto tempo ficamos ali segurando um ao outro até que Davi se acalmou e se afastou só para deixar sua testa contra minha, ele ainda tinha os olhos fechados então eu estendi minhas mãos e sequei uma duas lágrimas que ainda desciam por seu rosto. – eu teria sido um bom pai... – murmura ele com a voz rouca.

– O melhor! – digo segurando seu rosto fazendo-o abrir os olhos, ele até abriu um pequeno sorriso de lado.

– Você está mesmo aqui – diz pondo uma mexa solta de meu cabelo atrás da orelha franzindo levemente as sobrancelhas. – como sabia...?

– Isaac – digo interrompendo-o – ele que planejou tudo, me deu a passagem e até os endereços onde procurar você...

– E você veio... – diz me interrompendo, tocando meu rosto abrindo um pouco mais seu sorriso de lado, me olhando com aquele meu brilho particular que me fez sentir que valeu muito a pena ter vindo.

– O que seria de você sem mim!? – digo dando de ombros fazendo Davi soltar uma risada curta voltando a me abraçar.

– Exatamente! – quase sussurra contra meus cabelos, então ele me solta me dando um beijo na testa se levantando e me ajudando a levantar também envolvendo seus braços ao redor de minha cintura me mantendo por perto. – acho que eu deveria agradecer ao meu irmão por ter feito você vir para Londres, mas ele não fez mais que a obrigação depois de ter beijado você... – ele se cala quando é minha fez de rir um pouco.

– Eu pensei que estava tudo bem. – Davi estreita seus olhos para mim balançando negativamente a cabeça, mas com o vestígio de um sorriso.

– Agora está! – diz abrindo um sorriso maior me apertando um pouco mais contra ele, e eu só consigo abraçá-lo outra vez e foi quando meus olhos foram para o nome escrito na lápide e por um breve instante, eu pude imaginar um mini Davi com o mesmo cabelo, mesmo sorriso e olhos... e estremeci ao saber que ele realmente se foi e mesmo nem sendo meu, senti como se fosse... – o que foi? – pergunta Davi se afastando, senti seus olhos em mim, mas não conseguia tirar meus olhos do nome que também estava tatuado em suas costas... – sabe o que dói mais? – pergunta de repente me fazendo erguer os olhos para ele que agora encarava a lápide com um olhar perdido, eu franzi as sobrancelhas e esperei até que ele se voltasse para mim com um sorriso triste dessa vez – eu não ter tido a oportunidade de conhecê-lo e... saber se seria mesmo um bom pai agora... e se eu for um daqueles pais que...? – Davi se calou quando voltei a tocar seu rosto quando percebi que não estava indo para um bom caminho, me ergui um pouco e beijei seu rosto fazendo-o suspirar e relaxar seus ombros.

– Eu sinto muito que não o tenha conhecido, mas falei sério, você seria o melhor pai que ele poderia ter. – digo muito certa do que estava falando, Davi deu de ombros suspirando parecendo cansado.

– Bom, nunca vou saber – diz me fazendo ofegar um pouco ao me lembrar de que no que depender de mim, ele realmente não vai saber... – ele se foi! – continua me soltando e eu tentei não parecer tão abalada como eu estava por dentro quando ele voltou a se abaixar e beijando a ponta de seus dedos os colocou somente sobre o Caleb e eu lutei muito contra a quase incontrolável vontade de cair em lágrimas e engoli em seco quando Davi se levantou e me olhou com as sobrancelhas franzidas e o olhar um pouco escuro... – tudo bem...?

– Não! – digo com a voz totalmente trêmula e ele só acena com a cabeça voltando a me abraçar e eu afundo meu rosto contra seu peito sem aguentar mais! – eu si-sinto muito! – murmuro entre meus soluços, eu podia odiar essas palavras, mas eram as únicas que eu podia dizer, ele só me abraçou mais forte... e nem teria de ser eu a precisar de consolo agora, mas aqui estava eu.

************

Davi e eu voltamos ao primeiro endereço, era seu apartamento e era um pouco mais simples comparado ao de Nova Iorque, embora ainda tivesse uma vista maravilhosa da sala. Nós estávamos em um silêncio um pouco pensativo em um clima estranho desde que saímos do cemitério e ficamos assim por um tempo enquanto Davi mexia em alguma coisa na cozinha e disse que o ferimento da bala não o incomodava tanto agora.

Eu estava sentada a mesa apenas observando-o, eu sabia que ele estava com alguma coisa na cabeça, porque sua expressão mudava a cada dois minutos e essa sensação de que ele queria dizer alguma coisa estava me deixando nervosa, então eu decidi falar primeiro, ou melhor, perguntar.

– Por que sumiu do jeito que fez? – solto um pouco tensa, Davi parou por dois segundos antes de voltar ao que quer que esteja fazendo ainda de costas para mim.

– Eu... precisava pensar... – diz e mais vago que isso impossível, eu o sentia tenso também e eu não sabia se eu o deixava em paz ou empurrava um pouco mais...

– Pensar? Em que exatamente? – pergunto me arriscando a empurrar até ver onde daria, eu sentia que ele queria me contar alguma coisa, podia ver sua briga interna nas suas expressões de certeza a dúvida a cada minuto, era como se eu estivesse me vendo na noite em que descobri os diamantes e se eu sentia que podia explodir se não falasse...

Com Davi pode ser ainda mais fodido se ele não falar. Eu estava com um pouco de medo do que sairia dali, afinal ele podia ter decidido se afastar de mim por alguma razão que tivesse a ver com Margareth...

Davi parou e apoiou suas mãos sobre a pia e eu vi como os músculos de suas costas estavam tensos, mas ele ficou calado respirando aparentemente com dificuldade... quase desisti para deixá-lo quieto, mas...

– Afinal eu vim até aqui, não foi? E não foi só para ficarmos nos olhando... se quiser me dizer alguma coisa, por favor Davi, fala...

– Angela... – não era aquele tom de aviso como sempre, esse era mais como um pedido, mas eu não desisti, talvez ele precisasse mesmo de mim só para ouvi-lo... me levantei da mesa e me aproximei devagar até estar ao seu lado e coloquei minha mão levemente sobre seu ombro.

– Por favor, Davi... fale comigo! – peço o mais calma que eu consegui, então ele suspirou e colocou sua mão sobre a minha a segurando se virando para mim, as sobrancelhas franzidas e um olhar um pouco frio e sério, porém decidido... bom acho que consegui, mas não deixei de sentir o frio descendo minha espinha.

– Vem – diz ainda segurando minha mão e me puxando até a sala me fazendo sentar em seu sofá enquanto ele sentou na mesa de centro de madeira a minha frente, só então soltando minha mão e passando as suas em seus cabelos os deixando ainda mais bagunçados e eu esperei enquanto ele parecia perdido em pensamentos outra vez até que finalmente olhou em meus olhos e eu vi... um pouco de medo e... preocupação naquele azul e eu não gostei nenhum pouco disso – eu ouvi você aquela noite... – diz como se sentisse alguma dor, eu franzi as sobrancelhas ainda mais sem entender, em um primeiro momento, do que ele estava falando até que li em seu olhar todo intenso. Droga, ele me ouviu... quero dizer, eu iria dizer a ele que o amava em algum momento, mas... mas ele já sabia. Meu coração parou e voltou na sua loucura de sempre e eu não consegui dizer nada por alguns segundos...

– Você... me ouviu? – foi o que consegui dizer, ele só acenou com a cabeça me fazendo ter de me ajeitar no sofá – então por que não disse nada? – pergunto quando consigo voltar ao raciocínio normal, Davi permaneceu muito sério o que estava realmente me assustando um pouco.

– Porque eu não podia deixar que me amasse sem que soubesse de toda a minha história...

– Mas, em Chicago você...

– Eu sei – diz um pouco irritado, não parecia ser comigo – eu tenho a péssima mania de ser egoísta quando se trata de você! – diz fazendo uma pausa para respirar fundo se acalmando... um pouco pelo menos, eu não disse nada esperando que continuasse e ele o fez – você não sabe o quanto eu me senti aliviado e feliz em ouvir você dizer aquilo e em como eu pensei em nós dois juntos como um casal de verdade... – ele até sorriu um pouco ao dizer isso, mas então sua expressão decaiu outra vez – mas depois do que aconteceu com Homeo, você ter visto a fotografia de... – ele pareceu não conseguir dizer o nome, então eu o fiz.

– Margareth? – foi uma pergunta retórica é claro, ele abriu um pouco mais os olhos, surpreso – eu estive no centro de acolhimento, foi um dos endereços que Isaac me deu, é um lugar maravilhoso, aliás...

– Eu sei! – diz me interrompendo abrindo um sorriso muito rápido.

– Pode continuar, mas depois que eu vi que ela se parecia comigo... – digo fazendo um sinal giratório com a mão para que continuasse, tentei não soar tão irritada ou magoada, mas escapou e claro que Davi notou e fechou os olhos parecendo frustrado e irritado também, levou alguns segundos até que voltasse a me encarar ainda sério.

– Eu sabia que você encaixaria tudo nessa sua cabeça esperta e me odiaria e talvez nem me quisesse por perto...

– É, eu odiei você... ainda estou magoada, mas...

– Não! – Davi quase grita me interrompendo quando sabia o que eu ia dizer me fazendo recuar um pouco assustada – eu passei todo esse tempo longe pensando em nós, no que você significa para mim e me convencendo do que era o certo a fazer...

– Do que está falando...? – senti meu corpo gelar e tencionar quando vi a tristeza em seus olhos e em toda sua postura...

– Eu decidi que contaria tudo a você e deixaria que decidisse se ainda vai me amar ou não quando eu acabar...

– Davi eu não entendo...

– Vai entender – diz até um pouco frio me interrompendo outra vez – um minuto. – diz se levantando e indo até a cozinha outra vez enquanto eu ficava a cada minuto mais assustada e preocupada com o que Davi tinha para me contar. Ele voltou pouco tempo depois com uma garrafa de vinho e apenas uma taça. – acho que vai precisar de um pouco disso – diz servindo o vinho e me entregando, eu fiquei confusa e ainda mais preocupada, mas achei melhor aceitar, qualquer coisa fica um pouco melhor com um pouco de vinho. Ele voltou a se sentar na mesa e esperou que eu desse o primeiro gole no vinho – eu vou começar bem do início... – diz passando as palmas de suas mãos em sua calça, e seu nervosismo estava me deixando nervosa...

– Tudo bem! – digo tomando mais vinho e coragem para esperar de tudo, então Davi ficou com aquele olhar perdido, acho que estava mesmo... em suas memórias.

– Eu estava no último ano da faculdade tinha vinte e um anos e já tinha conseguido um emprego na área financeira em uma das maiores empresas de construção de Londres, a minha vida estava perfeita, e embora desde aquela época eu não gostasse de baladas com um aglomerado de pessoas me apertando de todos os lados, aceitei o convite de um amigo para ir num clube especial em comemoração a nossa formatura... eu só não esperava que as coisas fossem... acontecer como aconteceram...

Davi se ajeitou e limpou a garganta antes de continuar, eu tentava imaginá-lo com vinte e um anos tendo a vida dos sonhos de qualquer um... bebi mais um pouco antes que ele continuasse.

– Na primeira vez que sai com... Douglas, o colega de faculdade que acabou na mesma empresa que eu, fomos a um desses pubs comuns em Londres, só bebemos e conversamos por um tempo, até... até que eles chegaram, o tipo de grupo de pessoas que você percebe ser de uma elite ainda mais seleta, mas para minha surpresa Douglas os conhecia e ficou mais do que animado em me apresar a eles, foi... foi... – Davi engoliu em seco e percebi como ficava pálido, as mãos juntas embaixo no queixo enquanto apoiava os cotovelos nos joelhos, eu esperei pacientemente enquanto ele tentava com muito esforço pelo que notei, dizer as próximas palavras, não queria interrompê-lo ao tentar ajudá-lo, então tudo o que fiz foi beber mais do vinho... – quando nos conhecemos, Mar-... Margareth era um deles, mas ela meio que desaparecia no meio do grupo de cinco pessoas, quieta e sem fazer contato visual com ninguém por muito tempo, nem a notei no começo, até que Douglas a apresentasse... – Davi voltou a se calar franzindo as sobrancelhas como se lembrasse de algo que o tenha deixado confuso – mas havia uma coisa... na forma como ela me olhou, como se me reconhecesse de alguma forma, mas eu tinha certeza de que nunca a vira antes, mas quando eu a flagrava me encarando algumas vezes naquela noite em que bebemos com seus amigos, ela me olhou daquele jeito estranho, não dei muita importância, era arrogante o bastante para estar acostumado a mulheres me olharem de todos os jeitos estranhos possíveis, ela só era mais uma, um pouco diferente, mas só mais uma... – um sorrisinho sarcástico curvou o canto dos meus lábios, mas não disse nada, Davi não olhava para mim, então não percebeu minha expressão – eu tentei falar com ela, tentando ser educado, mas ela não dizia muita coisa, então não insisti por muito tempo, só percebi que ela era a pessoa central do grupo quando pediu para ir embora e todos simplesmente... foram... – aquele franzir nas sobrancelhas, outra vez – eu devia ter notado o que estava acontecendo quando Douglas sempre encontrava um motivo para me levar de clube em clube e onde quer que fosse, ela estava, meu colega só dizia que escolhia os melhores lugares por isso aqueles cinco sempre estavam lá também – Davi soltou uma risada, um tanto nervoso – como fui ingênuo – murmura passando os dedos na testa, então volta a se ajeitar, suspirando, ainda sem olhar diretamente para mim – em uma noite fomos, eu e ela... deixados sozinhos na mesa, nem me lembro mais da desculpa que deram, mas foi quando tive a leve suspeita de que queriam armar alguma para nós dois, eu disse a minha suspeita a ela – outro sorriso, nervoso – ela deu de ombros, olhou diretamente em meus olhos por mais de um minuto, pela primeira vez e perguntou se eu tinha algum problema com isso, fiquei chocado que ela tenha falado em um tom mais alto e assertivo do que custava usar, eu só perguntei se ela sabia sobre o que os amigos estavam tentando fazer, ela deu aquele sorriso pequeno que não parecia se encaixar no rosto, ela era bonita, mas parecia... um daqueles retratos melancólicos e frios de séculos atrás, não tinha ideia do que se passava na cabeça dela, não transmitia nada com aqueles olhos, o que me deixou curioso em relação aquela garota estranha, devia ter notado que tinha algo errado... antes de ir parar... naquele lugar... – Davi se calou mais uma vez passando as mãos pelo cabelo e finalmente erguendo os olhos para mim, piscando uma vez antes de descer os olhos por meu corpo e voltar ao meu rosto, como se tivesse se certificando de alguma coisa, suspirou com que achei que fosse alívio, mas o sentimento se foi ao perceber que ainda tinha coisas a contar – queria não ter de contar...

– Que lugar? – foi tudo o que perguntei antes de me servir de mais vinho ao perceber que pela forma como os ombros de Davi se tensionaram a história ia ficar complicada.

– Tudo bem, melhor... acabar com isso – diz se levantando por um momento voltando a cozinha e dessa vez trazendo um copo com gelo e uma garrafa diferente com ele, uísque pelo que notei da cor, voltou a se sentar a minha frente se servindo da bebida, me ofereceu com um sorrisinho nada feliz, neguei com a cabeça, ele colocou a garrafa na mesa e tomou um gole generoso, passando a língua nos lábios logo depois – Bom – a voz rouca me deu arrepios, mas só me ajeitei no sofá, esperando que limpasse a garganta antes de continuar – eu nunca havia estado num lugar como aquele, Douglas só me lava a lugares normais para caras da nossa idade e aquele lugar novo, do lado de fora nem parecia ter um clube ali e quando entrei, meu amigo riu do choque em meu rosto...

*cerca de onze anos atrás*

Que foi Davi? Parece até que viu um fantasma? – Douglas e eu não éramos exatamente amigos, mesmo que já tivéssemos saído juntos muitas vezes, não sentia nenhuma intimidade de amigos entre nós, era estranho, mas ele foi o único que decidiu me encher o saco e tentar ser o tipo de 'amigo' irritante que não te deixa ficar em casa.

Que droga de lugar é esse? Uma casa de swing? Você não me trouxe pra uma casa de swing, não é? – o ambiente do clube era um tanto escuro com uma leve luz avermelhada com uma música lenta em um ritmo sensual que me deu calafrios, algumas mulheres estavam com pouca roupa e algum tipo de coleira no pescoço e seguiam homens vestidos com ternos... mas algumas mulheres andavam com roupas de couro bastantes estranhas e tinham algum homem em seu encalço como se fossem cachorrinhos, a maioria deles somente vestido com calças jeans e também tinham a coleira no pescoço como as outras mulheres... aquilo me chocou ao extremo a ponto de eu dar meia volta e tentar sair, mas Douglas me impediu me fazendo voltar.

Não, isso não é uma casa de swing, está vendo alguém transar aqui? – eu apenas neguei com a cabeça olhando em volta com mais atenção, e apesar do ambiente ser extremamente sensual, deixava apenas aquela sensação de que o sexo não era somente o ato físico por aqui. – qual é, você não está nenhum pouco excitado com tudo isso? – eu estava é claro, eu sou homem e havia mulheres maravilhosas seminuas andando para todo lado... o que me deixava com um nó no estômago era ver aqueles homens com coleiras...

Por que me trouxe aqui? – minha pergunta fez Douglas rir e me levar para o bar pedindo a bebida para nós dois.

Você precisa relaxar...

Como eu vou relaxar no meio de homens quase sem roupa? Isso é... estranho, você é estranho! – ele ri outra vez me deixando irritado e não sei porque simplesmente não fui embora, Douglas não era mais forte do que eu e não teria me impedido se eu realmente quisesse ir...

Você está dando atenção para a coisa errada, amigo. – assim que Douglas terminou de falar, ele mesmo virou meu rosto para o lado e foi então que eu vi Margareth parada lá a um canto parecendo delicada demais naquele ambiente... brutal demais para alguém como ela...

**

– Você disse que havia conhecido ela através de um sócio... – eu estava completamente envolvida na história, mas não consegui evitar, Davi arqueou uma sobrancelha para mim e inspirou.

– Eu disse! – e eu entendi porque ele havia dito apenas isso antes, ele só não queria dizer que a havia conhecido em um clube de DS, quero dizer, eu me sinto completamente chocada que aquela moça fria da foto tenha feito parte de algo como isso...

– Você também disse que não era dominador...

– E eu não sou... não sou mais... nunca quis ser...

– Não é mais? – eu perdi um pouco o controle e alterei um pouco a voz, Davi me encarou impaciente e eu tentei me acalmar voltando a tomar o vinho e me ajeitar no sofá – tudo bem, continue. – digo tentando me manter mais calma, Davi pareceu ficar um pouco tenso e voltou a passar as mãos pelos cabelos.

– Eu espero que você me entenda Angela, porque apesar de ter vivido muita coisa antes de descobrir aquele clube, aquele tipo de coisa era completamente nova pra mim e eu nunca fui do tipo que se nega a viver coisas novas ainda mais se forem...

– Excitantes? – tinha um pouco de sarcasmo, mas eu já estava tentando ser o mais compreensiva que eu conseguia... eu estava surpresa, talvez mais para chocada em descobrir que eu não estava completamente errada sobre Davi e essa sua atitude dominante, mas porque ele havia negado com tanta veemência quando perguntei a ele por mensagem, eu ainda vou descobrir. Fiz sinal para que Davi continuasse e ele fez.

**

Assim que a vi eu notei que ela me olhava de um jeito ainda mais diferente... como posso dizer? Apesar do olhar parecer tímido e singelo era como se ela me chamasse com um desejo completamente novo para mim, ninguém havia me olhado daquele jeito, como se eu fosse o único homem naquele lugar, mas não era do tipo romântico, era algo muito diferente e mais sombrio, eu acho.

Parece que ela te escolheu mesmo... – Douglas dá tapinhas em meu ombro como se me parabenizasse, mas eu não conseguia desviar meus olhos dela... como ela podia estar num lugar como aquele?

Me escolheu pra que? – Douglas bufou ao meu lado.

Você entende alguma coisa de DS? – ele estava nervoso e eu fiquei meio perdido com a sigla, ele voltou a bufar – Dominação e submissão te diz alguma coisa? – foi quando eu desviei meus olhos dela para encarar Douglas.

Você fala com aquela coisa de chicote, mordaça e amarrar e... toda essa coisa?

Mais ou menos, há muito mais envolvido do que só chicote e mordaça, aquela garota escolheu você para ser o Mestre dela...

Eu não vou ser mestre de ninguém... – eu estava me levantando e dessa vez eu iria embora.

Você nem sequer experimentou, você pode ser um dominador e nem sabe disso, tenho certeza de que é você quem dá as ordens na cama...

Isso não é da sua conta! – eu tentei ir embora, mas lá estava Douglas na minha frente e eu queria socar seu rosto inglês.

Escuta, você não vai aceitar definitivamente só em ir lá e... falar com ela, já se conhecem, você realmente não quer saber como é? Se você não gostar, é só ir embora e eu nunca mais falo sobre isso... – apesar de não conseguir ver como Margareth se encaixava naquilo tudo, pensei se conseguiria tirar aquela frieza de seu rosto se... pensei que era um pervertido ao pensar naquilo, não queria e nem podia me envolver com ninguém, muito menos daquele jeito...

Eu nunca fiz nada parecido com... com... isso – eu olhei ao redor enfatizando o que eu queria dizer – eu não acho que posso...

Você nem tentou, vem... antes de falar com ela, tem uma pessoa que pode ajudar a abrir um pouco mais sua mente. – Douglas me levou para a dona do clube e para a minha absoluta surpresa era uma das minhas professoras na faculdade e uma das sócias da empresa onde trabalhava.

Davi! – pareceu bastante animada quando disse meu nome e eu me forcei a não recusar assim que a vi sentada ali naquela mesa enorme vestida como se fosse uma rainha cheia de dourado, vermelho e preto – que bom que conseguiu trazê-lo Douglas. – ela falou com ele como se o conhecesse mais do que deveria e isso me fez embrulhar o estômago e eu quase vomitei quando ela realmente o beijou. Ela era bonita e bem conservada, mas tinha um pouco mais que o dobro da nossa idade...

Obrigado, senhora! – eu olhei chocado para Douglas, eu não conseguia acreditar nessa cena toda.

Como é que é? – eu tentei não gritar, mas foi impossível, ela se chamava Samantha O'Connor e ela olhou para mim como se eu fosse algum tipo de presa, foi bem desconfortável.

Eu estive de olho em você durante essas últimas semanas, Davi... esperando que tivesse idade suficiente para trazê-lo até minha casa, aliás feliz aniversário atrasado...

De olho em mim? Trazer-me pra sua casa, pra que? Eu não vou ser como Douglas se é isso que...

Não, bonitinho! Você não tem perfil submisso, embora seja tentador tentar...

Mas não vai! – eu fiquei surpreso quando ela recuou um pouco por causa do meu tom, eu não tinha a intenção de assustar ou qualquer coisa assim, mas eu também não me desculpei, eu estava falando sério sobre ela não tentar aquilo que fez com Douglas, comigo.

Não, eu não vou... seria perda de tempo e eu não mandei Douglas trazer você aqui para a submissão, eu vou ser direta Collins, eu poderia mostrar esse mundo a você, ensiná-lo e deixá-lo acreditar que pertence a esse mundo, você tem um perfil dominante e tenho certeza de que pode facilmente pegar o jeito, mas quero deixar claro porque quero você, mandei que o trouxesse para ajudar minha neta, Margareth, a moça com quem tem se encontrado e que você viu lá fora. – ela pareceu triste e preocupada quando falou sobre Margareth.

Mas por que eu? E como poderia ajudá-la e o que eu ser ou não dominante tem a ver com tudo isso? – claro que eu estava confuso e até um pouco assustado com tudo aquilo, mas agora eu também estava preocupado e curioso, afinal porque uma moça tão jovem e bonita como Margareth precisaria da minha ajuda? E num lugar como aquele?

Douglas, nos deixe! – ele respondeu aquele 'sim senhora' sinistro e saiu da sala sem olhar para trás, nós nos sentamos e ela me olhou quase como Margareth havia me olhado há pouco e eu fiquei ainda mais preocupado – eu não tinha muito contato com meu filho desde que ele se casou, eu não gostava muito de sua esposa, para mim ela era estranha e agressiva demais... a família dela também não era muito boa e eram todos muito... estranhos e antipáticos... foi um erro eu ter me afastado, porque minha intuição não estava errada sobre aquela mulher! Minha Marge teve uma infância horrível nas mãos dela, e meu filho que eu criei para ser um bom homem... curvou-se aos caprichos dela e deixava que ela maltratasse a pequena filha deles, eu não sei por que ela fazia aquelas coisas horríveis com a própria filha e eu não soube sobre os maus tratos até que deixaram Marge com a babá e todos, inclusive os pais daquela mulherzinha partiram numa viagem de carro, mas houve um acidente e ninguém sobreviveu, Marge tinha doze anos quando aconteceu e a única família que ela tinha naquele momento, era eu e quando ela chegou aqui magra e pálida com o cabelo cortado como se fosse um garoto, cheia de marcas de cortes e queimaduras pelo corpo... eu jurei que se a mãe dela não tivesse morrido eu mesma a mataria! Agora Margareth é muito calada e seu semblante sempre é triste e vazio como se ela estivesse trancada dentro de si, ela nunca falou sobre o que acontecia naquela casa com ninguém, nem mesmo com os especialistas que contratei, mas quando dei um diário a ela, consegui que se abrisse através das palavras e eu juro que nunca li nada tão assustador na minha vida! Destruíram minha Marge, Davi, destruíram sua pureza... ela tinha tudo para ser uma menina feliz, mas a trancavam no porão e a deixavam lá por dias, segundo o que ela escreveu no diário, só por ela ter dito um 'mas' para a mãe! Eu sei que ela está sofrendo por tudo o que aconteceu, embora ela não demonstre, eu sei que está... eu acho que ela acabou se fechando porque a mãe também não gostava quando ela chorava ou demonstrava qualquer tipo de sentimento, foi o que ela também escreveu no diário, que tudo o que ela fazia ou não fazia já era motivo para os dolorosos castigos, então ela teve que aprender a esconder seus sentimentos...

Isso tudo é muito triste e realmente assustador, senhora O'Connor e eu sinto muito que ela tenha passado por tudo isso... mas não vejo como eu poderia ajudar...

Espere, por favor, escute! – eu estava me levantando para ir embora, aquilo tudo era deprimente demais e eu estava começando a me sentir enjoado, triste e claro furioso! Eu não entendia como uma mãe poderia fazer esse tipo de coisa com a própria filha... mas o tom quase desesperado dela me fez esperar. – quando Marge veio morar comigo ela parecia estar indo bem, embora não falasse, seu semblante estava mudando... mas eu estava enganada, eu a peguei muitas vezes se mutilando e por mais que eu tentasse ajudar e perguntar a ela porque, ela nunca me dizia e nada do que eu fazia ajudava! Mas teve uma vez que ela me disse, na verdade foi a primeira vez que ela falou comigo e ela me disse que a dor era a única coisa com que ela estava acostumada e era a única coisa que a fazia se sentir viva, lhe dava algum prazer na vida e afastava a outra dor, a dor que ela não sabia de onde vinha... – ela já estava chorando enquanto eu estava mais uma vez surpreso e assustado, era muita coisa para mim e eu queria ir embora e esquecer tudo isso, mas eu não consegui me levantar da cadeira. – eu podia entendê-la, afinal eu tenho um clube com algumas pessoas exatamente como ela...

Masoquistas? – eu tentei, mas não pude deixar de soar sarcástico, ela acenou com a cabeça antes de responder.

Sim, a principio imaginei que Margareth só se torturava para escapar de uma dor mais profunda, mas descobri que não era só por isso, então há três anos, quando ela completou vinte e um anos eu a trouxe aqui, queria que ela estivesse num lugar seguro onde pessoas seguem limites e regras de segurança, eu tinha medo de que se ela ficasse procurando por seu tipo de alívio sozinha acabaria se ferindo gravemente como aconteceu uma vez e ela ficou no hospital por dias... então quando eu apresentei esse mundo a ela pela primeira vez eu vi alguma emoção em seu rosto e soube que ela estaria segura aqui.

Onde eu entro nessa história?

Margareth tinha um mestre, mas ele era liberal demais com ela e a deixava infringir regras e ultrapassar os limites a ponto de se ferir tanto quanto ela fazia antes, e Margareth também não se sente bem em relação ao sexo em si, entende? Não é como se isso fosse importante para o prazer dela já que a mãe a arruinou nesse sentido também, mas algumas vezes ele não a respeitava nesse sentido, enfim, eu o expulsei da casa e agora Marge precisa de alguém que imponha limites, todos aqui sabem quem realmente manda, o submisso tem total controle de tudo, mas ainda precisa de alguém que a guie que a domine...

E você quer que eu faça isso?

Não, Margareth quer!

O que? – surpreso outra vez, dessa vez eu me levantei sentindo um frio descer minha espinha. – c-como se nos vimos poucas vezes e nem trocamos mais do que... do que algumas palavras?

Eu a levei para empresa algumas semanas atrás, estava preocupada em deixá-la sozinha, foi lá que ela viu você, embora você não a tenha visto e ela viu em você um Dominador, quis te conhecer, por isso os... encontros com Douglas...

Explica porque ela me olhou daquele jeito na primeira vez, mas... eu não posso fazer isso! Eu posso ter perfil de dominador e toda essa coisa maluca, mas eu não sinto prazer em... em...

Como sabe? – eu não respondi imediatamente, porque eu não sei exatamente porque, eu estava pensando sobre o assunto, mas eu não era como aquelas pessoas lá fora, aquilo não era pra mim.

Eu me conheço o suficiente para saber que não! Boa noite senhora O'Connor, eu sinto muito que não possa ajudar, espero que sua neta encontre alguém que possa!

Eu fui embora sem deixar que ela falasse mais nada, eu até corria o risco de ser demitido, mas eu não me sentia capaz de me envolver com tudo aquilo! Eu tinha uma vida boa e normal e não queria estragar isso.

Eu voltei ao trabalho na segunda já esperando minha demissão, mas ela não veio, o que apareceu foi um convite para um jantar na casa da senhora O'Connor o qual eu não poderia recusar... eu não sabia o que ela estava planejando e fiquei com preocupado com isso, pensei em não ir ao tal jantar, afinal eu poderia arrumar outro trabalho... mas por alguma razão que eu questiono até hoje, eu fui.

Foi um jantar normal, embora Margareth não tivesse se juntado a nós por estar indisposta segundo Samantha, ela não parecia estar com raiva de mim e imaginei que ela havia me entendido e que estava tudo bem.

Mas pior do que ter ido a esse jantar, foi ter decidido ir ao banheiro e no caminho de volta a sala passei por vários quartos e foi quando ouvi o choro desesperado de uma mulher e me atrevi a abrir a porta que eu fiquei completamente envolvido nessa história. Margareth estava no chão em prantos e toda cheia de cortes nos braços e nas pernas... aquilo me desmontou por dentro, eu nunca tinha visto uma mulher chorar, não de verdade... e ela estava tão machucada que pensei que poderia morrer com todo aquele sangue... e quando ela olhou para mim ela parecia com medo e desesperada e eu só consegui me aproximar dela e abraçá-la com sangue e tudo.

Por favor... por favor... – ela repetiu isso tantas vezes e cada vez era uma apunhalada... eu não sei por que ela havia me escolhido, mas eu não me sentia capaz de dizer não a ela... ela precisava de mim e eu jamais poderia me perdoar se desse as costas a Margareth, não quando eu vi o quão desesperada ela estava.

Tudo bem, vai ficar tudo bem! – quando eu disse isso a ela, Margareth simplesmente parou de chorar e me abraçou de volta e senti que ela me agradecia.

Então Samantha me mostrou e me ensinou tudo o que eu precisava saber sobre DS por alguns meses antes de me envolver definitivamente com Margareth, e mesmo contra a vontade, ela insistiu que eu 'treinasse' com algumas submissas de sua casa... Quando eu entrei em um daqueles quartos extremamente limpos e organizados cheios de todo tipo de ferramenta para tortura e prazer como Samantha dizia, pensei que ficaria nervoso ou ansioso, mas eu nunca me senti tão calmo e quando eu vi uma mulher ali a minha mercê e que confiava em mim a ponto de entregar seu corpo e sua submissão para mim descobri um lado meu... que hoje eu não gosto nenhum pouco, quero dizer, era minha primeira vez e eu sabia exatamente o que fazer, como fazer e... eu estava... gostando daquilo...

***

– Você é mesmo um Dom... – eu não consegui evitar outra vez e foi mesmo uma afirmação, porque não pude deixar de me lembrar daquela noite que fui punida por ter ido jantar com meu tio e o ignorado... e se ele sabia exatamente como fazer...

– Eu não sou, Angela. – diz sério e convicto me fazendo piscar e sair do meu torpor, eu estava me sentindo tão dentro de sua narrativa que era como ver um filme e ainda participar dele, e eu só percebi que estava chorando e toda encolhida no sofá quando ele parou e olhou diretamente para mim frio, sério e distante. – quer que eu pare, se você precisar de um tempo para...

– Você fez sexo com elas também, com essas... submissas...?

– Angela... – era o tom de pedido, mas eu queria saber, talvez porque eu também goste da dor...

– Fez ou não? – pergunto um pouco alterada, Davi passou as mãos pelo cabelo e me olhou como um último pedido, mas fiz minha expressão de teimosia e ele grunhiu daquele jeito sexy, mas eu não tinha que prestar atenção nisso.

– Quando pediam, eu fiz! – diz me encarando irritado, eu engoli em seco... eu sei que faz muito tempo, mas ainda me senti enciumada sobre isso. – quer dar um tempo...?

– Só continua, ok!? Eu vou pensar sobre tudo isso quando contar tudo! – digo enxugando meu rosto, deixando o vinho de lado... ele não estava ajudando em nada de qualquer maneira.

– Ok... – diz ele num suspiro e eu me preparo.

***

Quando eu percebi que estava me envolvendo demais naquele mundo e me tornando aquilo que eu não queria e não estava ali para ser, eu não queria entrar naquele lugar novamente, só entrei ali por Margareth.

Eu tentei conversar com Margareth para entramos em algum tipo de acordo em ter o nosso lugar e ela concordou, e ela tinha o lugar perfeito, a antiga mansão da família onde Margareth morava.

Com o passar dos meses nós estabelecemos um tipo de relação que eu não esperava, éramos quase como... amigos, conversávamos, bom geralmente ela apenas me perguntava como tinha sido meu dia e me ouvia como se tudo o que eu dizia fosse incrível, ela ainda era a moça pálida e com aquela expressão quase em branco como se não sentisse nada, meio cabisbaixa com a voz muito baixa e mansa, mas eu conseguia um meio sorriso ou outro de vez enquanto, íamos almoçar juntos e mesmo que ela parecesse alienada do mundo ao seu redor eu sabia que de algum jeito ela via e percebia tudo... Até que uma noite quando eu a levava de volta para a casa de Samantha, ela me surpreendeu.

O senhor se casaria comigo? – eu já havia acostumado a sua voz baixa e calma, então não foi difícil ouvi-la, e também ela nunca me chamava de Davi, ou você... ela me via apenas como senhor, ela me chamou de mestre algumas vezes, mas eu não me senti bem com isso, então ficamos apenas no senhor... eu fiquei em choque por alguns segundos sem conseguir dizer nada. Casar? Eu? Com alguém como ela? Não que ela não fosse alguém com qualidades abaixo, mas... casamento parecia mais do que nosso relacionamento significava – eu sei que a gente nunca faz sexo e eu agradeço que você não cobre isso de mim, mas... eu quero me casar, minha mãe me dizia que eu era nada e homens não se casam com nada, mas eu sempre quis me casar, eu não cobraria de você fidelidade na cama, porque eu não posso dar a você o que precisa, mas... eu só queria... eu... – ela nunca havia falado tanto ou se exposto tanto quanto fez naquela hora e quando eu percebi que ela estava apertando suas unhas em sua perna percebi que ela estava se lembrando de algo doloroso demais para ela e por um momento eu não soube o que fazer... como eu poderia me casar com ela? Eu não a amava e eu sei que ela também não sentia esse tipo de ligação comigo... eu olhei para seu rosto e como em raros momentos havia um sentimento ali: raiva e dor! Quando eu vi que ela estava machucando sua pele peguei uma de suas mãos e a segurei fazendo com que ela olhasse para mim.

Eu me caso, Margareth!

****

– Você só queria protegê-la, não é? – eu estava interrompendo outra vez, Davi apenas acenou com a cabeça perdido em pensamentos – se tivesse dito não, ela provavelmente teria voltado para o clube e...

– E se ferindo até uma hora seu corpo não aguentar mais e...

– Entendi, tudo bem... não vou mais interromper! – Davi me deu um olhar cético e eu tentei me manter firme.

****

Nós nos casamos semanas depois sem nenhuma cerimônia, embora Margareth estivesse vestida de noiva como desejou, apenas assinamos papéis e não houve festa nem nada disso, ela mesmo quem não quis nada disso.

Tudo parecia estar dando certo, quando Margareth sentia que precisava de mim, nós íamos para a velha a mansão onde eu era o DOM que Margareth tanto queria e uma parte de mim também queria e depois voltávamos para nosso apartamento, ela não quis se mudar para a mansão, porque jamais se sentiria bem morando lá e eu apenas concordei.

Foi quando eu descobri que ela simplesmente amava rosas brancas, ela dizia que trazia um sensação boa olhar para ela, então ela sempre decorava o apartamento com elas... Os meses passavam e eu sentia Margareth cada vez mais distante, às vezes quando chegava ao apartamento era como se ela nem estivesse lá, com seu silêncio e seu rosto e seus olhos em branco, eu me preocupei por um tempo, perguntando e tentando trazê-la para mim, mas o único momento em que ela estava presente e demonstrava prazer e felicidade era quando estávamos na mansão.

Mesmo sem perceber ou querer me acostumei com aquilo, com o vazio de Margareth e sua falta de sentimentos, não importava o quanto eu gritasse com ela sobre qualquer coisa, mesmo que eu tentasse brigar com ela sobre qualquer coisa, uma mancha no tapete ou a correspondência que ela ainda não havia ido pegar... ela não se importava, apenas abaixava a cabeça e só se retirava quando eu me acalmava e ela podia pedir permissão para sair da sala.

Ainda me assusto com a rapidez com que me acostumei com essa situação, e de repente eu já não me importava em perguntar a ela se estava bem, se havia algo de errado... ela estava ficando quase invisível para mim, nós nem dormíamos no mesmo quarto. Mesmo que eu tenha me acostumado a tudo aquilo, sentia que não foi pra isso que me casei com ela, pra deixá-la virar um fantasma e que ela me usasse quando achasse que precisava, eu dizia a ela que precisava se cuidar, precisava de ajuda psiquiatra pra superar todo aquele bloquei emocional... tentei dizer a ela que pararia e acabaria com tudo se ela ao menos não tentasse... disse que estava cansado de ter alguém em casa que não se deixava ser sentida...

Foi na noite seguinte ao meu desabafo que ela entrou no meu quarto e me surpreendeu... mesmo que ela tenha dito que eu podia dormir com outras mulheres, eu ainda não havia procurado nenhuma e já fazia muito tempo... mas então ali estava Margareth no meu quarto sem roupas! Eu ainda não entendia o que ela estava fazendo até que ela disse.

Eu quero saber como é... – aquela mesma voz calma de sempre me fez sentir um frio na espinha.

Margareth, é melhor você voltar para...

Desculpe interromper, mas eu quero ser... sentida – ela ter jogado aquela palavra assim em cima de mim me fez engolir em seco – preciso saber como é de verdade, sem qualquer coisa no caminho, por favor! – ela não me deixou responder e me beijou, nós nunca havíamos nos beijado antes, mas acho que ela nunca havia beijado ninguém antes, então ela só deixou seus lábios firmes e fechados nos meus... eu tentei afastá-la, mas ela disse todos os 'por favores' do mundo até que cedi.

Foi a nossa primeira e única noite juntos, e não sei dizer o que aquilo significou, por mais que eu acreditasse que eu me sentiria diferente em relação a ela depois daquela noite, continuou tudo exatamente como estava antes, Margareth apenas disse que foi diferente de tudo o que já havia passado, mas não apareceu mais em meu quarto e eu não sentia a liberdade de simplesmente ir até ela... tudo havia voltado ao normal, talvez o comportamento dela tenha melhorado e ela estivesse mais presente, falasse um pouco mais e dava mais pequeno sorrisos...

Mas exatos três meses depois, ela me contou a notícia mais feliz e incrível que um homem poderia receber... eu seria pai! Eu não conseguia me conter de pura felicidade, ela sorriu quando me viu feliz, eu esperei seu sorriso alcançar seus olhos, mas não aconteceu... e então fiquei preocupado em como seria para ela criar um filho e eu sei que talvez fosse demais para ela, então eu teria de assumir toda a responsabilidade sobre ele, mas eu não me importei porque ser pai era um dos meus sonhos secretos e quando me casei com Margareth eu vi esse sendo adiado ou até esquecido, mas aquela nossa única noite havia me presenteado com um filho e eu consegui ver que todo meu esforço em ajudá-la e mantê-la segura, estava valendo a pena.

Eu acreditava até que ela poderia mudar quando visse seu filho nascer e percebesse que precisava dela também, ela saísse desse mundo vazio onde ela se escondia... eu esperava muito que isso acontecesse.

Depois que ela me contou que estava grávida, ela concordou que não deveríamos mais ir para a mansão, porque seria perigoso... ela realmente parecia bem com isso, por uns dias eu até a senti entusiasmada com a ideia de ter um bebê, pensei que a sensação de ser mãe a estava ajudando a evoluir e esquecer o que aconteceu, foi quando decidimos reformar a mansão e fazer o centro de acolhimento, eu estava feliz que Margareth não precisaria mais dela e ela pareceu tão verdadeiramente feliz com isso, ela falava mais do que jamais havia falado, fazendo planos e sonhando com todas as crianças que seriam ajudadas, parecia tão focada e... realizada...

Até que dois meses depois eu a encontrei na banheira com a água avermelhada e seus braços e pernas cortados, eu tentei manter a calma e não brigar com ela, então eu só a tirei de lá, limpei e cuidei dos ferimentos, mas quando percebi que aqueles não eram os únicos, que havia muito mais ainda cicatrizando eu percebi que ela não havia melhorado ou evoluído nada, e eu, a pessoa quem devia estar cuidado dela não percebi, não notei enquanto ela escondia seu corpo me mostrando apenas toda aquela alegria sobre a mansão para despistar outros sinais... Então eu briguei com ela como nunca fiz antes e ela chorou como nunca antes também.

Talvez seja melhor que nos separemos, se você não se importa com o bebê, eu me importo e posso ficar com ele sozinho...

Me desculpe! – era só isso que ela repetia de joelhos e chorando, mas eu não falei com ela até que eu me acalmasse, o que levou alguns dias e foi quando eu decidi que eu deveria tirá-la de Londres, quem sabe mudar um pouco o ambiente ajudasse.

Fazia um ano que eu havia me casado seria pai e ainda não havia contado a minha família, não queria que soubesse o tipo de relacionamento eu tinha, mas essa seria a oportunidade perfeita pra tentar fazer esse casamento bom para Margareth também.

Foi óbvia a surpresa de todos quando cheguei com uma esposa grávida de cinco meses, mas conhece minha família, eles a acolheram e embora tenham notado o modo frio e distante de Margareth não pareceram se abalar, estavam felizes demais com a vinda do bebê e fizeram até mesmo um daqueles jantares para apresentar Margareth para as o resto da família e amigos, foi quando Homeo a conheceu...

Em poucos dias eu já estava planejando ficar, e mudar com Margareth para Nova Iorque parecia uma ideia incrível e talvez ela só estivesse precisando de novos ares, Samantha sabia que sua neta estava em boas mãos e não questionou sobre essa viagem, nem sobre qualquer outra coisa desde que nos casamos.

Em duas semanas eu havia encontrado uma bela casa e levei Margareth para ficar uns dias na casa, já que estávamos na casa dos meus pais por insistência deles, mas agora seria um lugar nosso onde poderíamos encontrar um meio de conviver para criar nosso filho... eu pensei que realmente daria certo, ela até decorou a casa com as rosas brancas... mas durante um mês inteiro Margareth estava me implorando para lhe causar a dor que ela queria... ela chorava como se já estivesse com a pior dor do mundo, ela nunca havia gritado antes, mas ela o fez durante um mês inteiro, principalmente à noite quando eu tinha que fechá-la em seu quarto sem qualquer objeto perigoso, só para manter a ela e ao bebê seguros!

Senhor, por favor! Eu preciso... preciso muito... por favor! – e era isso quase a noite toda, até ela se cansar e desmaiar de sono. Eu estava começando a ficar seriamente preocupado com o bebê, ela não se alimentava direito e estava sob estresse e eu não podia dar o que ela pedia, eu tentei, mas havia um limite seguro para ela e o bebê, mas nesse limite a dor não era suficiente pra ela, mas mais do que eu dava, não era seguro.

Eu sentia que podia enlouquecer se ela continuasse, e quando pensei em levá-la a um lugar onde... onde poderiam ajudá-la, de repente ela parou e voltou à calmaria da fria e distante Margareth e mesmo desconfiado me deixei acreditar que ela estivesse superando... mas ela não estava, assim que ela voltou a usar roupas cumpridas que cobrissem do seu pescoço até os pés, eu soube que ela estava se mutilando outra vez, não sei como ela havia conseguido algo para se cortar, eu havia guardado tudo o que era cortante e trancado em um lugar seguro...

****

Davi se calou ficando ainda mais pálido de repente e sua expressão era de alguém que havia encontrado a peça que faltava para o quebra cabeça...

– Aquela vadia! – ele disse num murmuro se levantando, eu fiquei quieta e calada deixando que ele terminasse seu raciocínio, porque pelo que eu podia notar ele estava pensando em alguma coisa importante! Então ele olha para mim parecendo furioso, mas continua me contando. – mas aparentemente Homeo estava entrando em minha casa a mais tempo do que eu imaginava e estava 'ajudando' Margareth... foi por isso que naquela noite... naquela maldita noite, eu voltei a encontrá-la ferida na cozinha...

****

Ela estava chorando, mas não era de arrependimento ou medo... ela parecia irritada, bom eu estava cansado daquilo, muito cansado! Eu percebi que quando a vi no chão da cozinha que já não me preocupava com o que Margareth sentia ou não há muito tempo... ela nem ao menos estava tentando, porque eu deveria me preocupar? Eu tentei cuidar dela, tentei ajudá-la, mas ela não estava se esforçando nem mesmo um pouco para tentar superar seus problemas, ela apenas havia aceitado se afundar no mundo masoquista dela...

Você não se preocupa nem mesmo com seu filho? – eu tentei fazê-la ver a realidade do que ela estava fazendo, ela me olhou do chão parecendo que havia sofrido um acidente horrível, ela nunca pareceu tão furiosa e fiquei preocupado com que ela poderia fazer.

Eu nunca quis um bebê! – ela gritou diretamente comigo pela primeira vez, ela até se levantou sozinha ainda que toda ferida e suja de sangue. – eu não quero isso em mim... eu não posso ter um filho...

Tem razão, você não pode! – eu também estava gritando com ela, porque mesmo que não devesse o que ela disse me magoou, muito! – você não consegue se importar consigo mesma, que dirá com um filho! Você é apenas um corpo vazio e a único motivo pelo qual ainda não internei você é porque está com o MEU filho e quanto a ele não se preocupe, ele será somente meu quando nascer... e você vai para onde quiser, porque eu estou cansado de você, Margareth! Você nem ao menos está tentando melhorar, nem mesmo está lutando contra essa coisa dentro de você...

Fala como se fosse simples! E não pode falar sobre mim quando você também gosta da dor tanto quanto eu, eu sei que você é um sádico, Collins... – eu estava um pouco surpreso que ela estava realmente se expressando com tantas palavras e raiva nelas, era um daqueles momentos raros de Margareth e eu nunca sabia o que podia acontecer...

Eu não sou um sádico, eu estava apenas tentando mantê-la segura de si mesma...

Engane-se se quiser senhor! Mas sabe que eu estou certa...

Eu não preciso disso para sentir prazer, Margareth... não senti a menor falta durante todo esse tempo...

Não? Tem certeza? Não quer me punir agora por estar sendo insolente e pondo em risco seu preciso filho? – a resposta para sua pergunta era sim, um lado meu, aquele lado que eu não gosto, queria muito castigá-la, mas eu sempre fui racional e tinha um perfeito autocontrole.

Meu filho é muito mais importante do que qualquer desejo meu Margareth! Se você não sente isso é porque já não sente nada há muito tempo e eu sinceramente não acredito que você possa ser ajudada, e eu não sei como posso continuar com isso quando você não QUER ser ajudada...

Não pode me deixar! – ela mudou de raiva para desespero em apenas alguns segundos e de repente ela estava de joelhos aos prantos e eu não consegui sentir nem mesmo pena dela, estava tão cansado... – eu... eu preciso de você...

Você não precisa de mim, precisa da dor e eu não vou mais dar isso a você!

Mas você também precisa disso, você sabe que sim! – eu me ajoelhei a sua frente tentando fazer com que ela olhasse para mim e assim talvez me entendesse.

Preciso do meu filho seguro, em um bom lar com uma boa família, uma família normal, Margareth... eu não posso continuar a ceder aos seus desejos... – ela voltou a ficar furiosa a ponto de me empurrar e se levantar.

Se você não vai me dar o que eu quero, então vou encontrar alguém que me dê! – ela disse isso correndo para fora da cozinha, eu me apressei até ela e a alcancei antes que conseguisse sair da casa, ela lutou contra mim, mas obviamente não era mais forte do que eu, não quando nem mesmo comia o bastante – se você não me quer mais, simplesmente me deixe ir! – ela continuou lutando até que a coloquei em um quarto de hóspedes no primeiro andar onde era seguro, perto do chão e sem escadas, o quarto ainda não havia sido devidamente mobiliado, só tinha um colchão confortável e um armário antigo de madeira maciça preso à parede, então ela não podia quebrá-lo nem movê-lo, ela estaria segura ali.

Não vai sair daqui enquanto estiver esperando meu filho, depois disso vai para um lugar onde vão poder te ajudar melhor do que eu! – disse enquanto fechava a porta, não queria ter de fazer aquilo, queria que ele me ouvisse, queria que ela entendesse... pensei em levá-la a um hospital no dia seguinte, conseguir que ficasse lá sendo cuidada e vigiada por pessoas qualificadas... que cuidariam dela e do meu filho da forma que precisava ser feito.

Eu não quero ter nenhum bebê, não quero nada se mexendo dentro de mim! Você é um homem desprezível, Collins! Está me ouvindo? Sabe que eu preciso disso, você prometeu me ajudar... prometeu cuidar de mim! Agora está me negando isso... e ainda diz que não é um sádico! Eu odeio você! Desprezível! Está ouvindo? É isso que você é... – e ela continuou gritando e me chamando de desprezível e sádico por horas e a cada vez que ela dizia eu sabia que de algum jeito era verdade, porque eu me lembrava das coisas que fiz durante quase um ano naquela mansão em Londres e de como aquela parte de mim gostava daquilo...

Eu me odiei e me odeio até hoje por não ter tentando ajudá-la de outra maneira, ter encontrado uma saída e não entrado no mundo dela e me envolvido do que jeito que fiz! Poderia ter sido diferente se eu a tivesse tirado daquele mundo e dado a ela um tipo de ajuda diferente... mas eu me deixei seduzir por tudo aquilo porque também não fui forte o suficiente para resistir aos meus próprios fodidos desejos...

Eu não ia conseguir continuar ouvindo aquilo então eu sai para dar apenas uma volta no quarteirão refrescar a cabeça e tentar me acalmar o máximo possível, quando voltei para casa tudo estava silencioso, até demais eu corri até o quarto de hóspedes para vê-la e ela estava dormindo, ainda estava toda suja e machucada então cuidei dela, tirei a roupa suja, limpei os ferimentos e senti uma parte de mim se quebrar quando vi as marcas de sua unha em sua barriga, ela estava de quase seis meses então já dava para notar muito bem a gravidez.

Ela nunca havia se recusado a fazer todos os exames e fazia apenas algumas semanas que haviam dito que era um menino e como minha mãe, eu gosto de nomes bíblicos e Caleb me pareceu perfeito, embora Margareth nem se importasse com isso, ela apenas ficava completamente desligada de tudo durante o ultrassom, como estava enquanto eu cuidava dela e a colocava de volta no quarto de hóspedes só por segurança.

Lembro-me de ter ficado olhando para ela por um tempo tentando imaginá-la sendo uma jovem comum e feliz, ela era bonita poderia ter feito muita coisa, mas ali estava ela sem qualquer sentido de vida... nem mesmo ser mãe a fazia mudar...

Não muda nada que cuide de mim, se não me dá o que eu preciso... – ela sussurrou me surpreendendo.

Estou fazendo isso apenas por Caleb, você já não significa nada para mim! – e eu queria tê-lo comigo logo, não sei se poderia suportar mais de Margareth e suas crises...

Vai me jogar fora depois? Você é mesmo um homem desprezível, Davi... não se esqueça disso! – essa foi a primeira e última vez em que ela me chamou de Davi.

Eu a deixei no quarto e não disse nada a ela quando sai e tranquei a porta, fui para o porão onde tinha alguns equipamentos de treinos, eu estava frustrado e furioso e precisava liberar essa energia de alguma forma e eu treinei até a exaustão, mas o meu erro foi não ter voltado para cima, eu tinha que ficar de olho em Margareth, mas eu não fiz!

Eu acordei quando estava quase sufocado com a fumaça que já tinha tomado todo o porão e quando percebi o que estava acontecendo corri para cima, mas assim que abri a porta do porão...

*******

Davi se calou e eu podia ver o desespero e a dor em seu rosto, sem hesitar me aproximei me sentando ao seu lado e quando peguei em sua mão que estava fechada, ele a abriu e me deixou entrelaçar meus dedos com os seus, eu fechei os meus com força nos seus e continuei olhando-o mesmo que ele ainda estivesse com os olhos presos em um ponto fixo no chão, ele me surpreendeu quando voltou a falar.

*****

A minha casa, a casa que eu imaginei ver meu filho crescer estava completamente tomada pelo fogo, eu senti o calor queimar meu rosto imediatamente, mas tudo o que conseguia pensar era em chegar até o quarto e tirar Margareth de lá, eu não podia deixar que ela acreditasse na última coisa que eu disse a ela, não podia deixar nada acontecer ao meu filho!

Então mesmo correndo o risco de não conseguir atravessar a sala, eu fiz cobrindo minha boca e meu nariz com o braço eu tentei enxergar a porta do quarto de hóspedes e eu até hoje sinceramente não sei como consegui chegar até a porta sem que o fogo tivesse me alcançado.

Quando eu cheguei ao quarto vi a porta levemente aberta e em chamas e antes que eu pudesse sair do caminho ela se desprendeu com o portal e tudo caindo em cima de mim, eu me abaixei imediatamente, mas senti uma das piores dores que eu já sentir em toda minha vida queimando em minhas costas, acho que a adrenalina e a vontade de salvar Margareth e meu filho me fizeram empurrar toda aquela madeira de cima de mim arranquei a camisa quando percebi que havia fogo nela e mesmo com a dor dilacerando grande parte de mim, eu entrei no quarto e vi o colchão em chamas assim como o armário, mas Margareth não estava, olhei em volta e não a vi em lugar nenhum, eu gritei por ela, mas não houve resposta.

Eu estava começando a ficar tonto com a fumaça e com a dor horrível que ainda queimava minhas costas, mas que parecia estar no corpo todo, quando eu estava pronto para sair do quarto e procurá-la pelo resto da casa o enorme armário rangeu e de repente caiu se partindo fazendo brasas se espalharem por todo lugar e a parede também começar a ceder... foi quando encontrei Margareth debaixo dos destroços do armário que voltava a se envolver nas chamas...

Eu não sei como, não consigo entender bem como eu fiz isso, mas eu fui até lá e sem me importar com o fogo eu a tirei de lá orando para que ela estivesse bem... que meu filho estivesse bem, afinal àquilo era madeira maciça e grande parte dele havia caído sobre ela.

Também não sei exatamente como saí da casa com Margareth em meus braços, mas me lembro de chutar a porta da entrada e ela cair sem qualquer esforço e fiquei aliviado quando estávamos no gramado em frente à casa no ar puro.

Mas quando eu olhei para ela, seus olhos estavam levemente abertos e vazios como sempre... percebi o sangue em meio ao seu cabelo escuro descendo por sua têmpora até a bochecha e também havia sangue em seu nariz... eu nunca senti tanto medo como senti naquele momento, eu a balancei e a chamei em desespero tentando acreditar que aquilo não estava acontecendo... a sensação de estar completamente sem chão é a pior que alguém pode sentir, é como se você sentisse também que fosse sufocar até a morte e ninguém poderia ajudá-lo.

Não sei por quanto tempo eu fiquei abraçado a ela até que os paramédicos, a policia e os bombeiros chegaram, eles a tiraram de mim e a levaram para a ambulância e me lembro perfeitamente da expressão desolada que o paramédico fez quando tentou ouvir o coração dela... eu tentei ir com ela, mas me impediram e a única coisa de que me lembro antes de apagar completamente e acordar no hospital é do paramédico balançando a cabeça em negativa antes que fechassem as portas da ambulância e do que eu disse a ela...

********

– Margareth não resistiu aos ferimentos na cabeça e nem meu filho, segundos os médicos ambos já haviam falecido quando chegaram no hospital... e a última coisa que ela ouviu de mim é que ela não significava nada! Durantes anos eu acreditei que ela havia se matado, a investigação da polícia determinou que havia sido suicídio e nada tirava da minha cabeça que ela tivesse feito aquilo por causa das coisas que eu disse a ela, e por ela saber que Caleb era muito importante para mim, nem se importou em levá-lo com ela só para se vingar, talvez...

– Mas não foi suicídio – murmuro fazendo com que Davi olhasse para mim ainda meio perdido em pensamentos, ele franziu as sobrancelhas e apenas acenou com a cabeça. – foi Homeo quem estava por trás de tudo, ela mesma confessou... aposto que ela até convenceu Margareth a ficar no armário só para que ela sufocasse até a morte... – me calei limpando a garganta quando Davi dessa vez ergueu as sobrancelhas para mim surpreso. – desculpe, eu não queria...

– Tudo bem, você, com certeza, está certa... Homeo confessou... aquela noite, ela gritou para todos ouvirem na verdade, que ela havia matado Margareth... que havia matado meu filho por mim, ela dizia que havia feito aquilo tudo por mim, que sabia que Margareth tinha problemas, que me salvou dela e que impediu que eu tivesse um filho maluco como ela... que se alguém tinha realmente culpa sobre o que aconteceu era eu e eu sabia que era verdade...

– Mas não é! – digo séria, fazendo Davi olhar para mim, ele negou com a cabeça se levantando e soltando minha mão passando as mãos pelos cabelos e eu sabia que ele estava angustiado, mas eu não podia deixar que ele acreditasse no que Homeo disse – eu ouvi atentamente tudo o que me disse Davi – eu vou até ele ficando a sua frente para que pudesse olhar em meus olhos e visse a verdade neles – você só tinha vinte e um anos quando conheceu Margareth e se envolveu com tudo aquilo, mesmo sendo um adulto, ainda era muito jovem e completamente sem experiência naquilo tudo, ninguém nessa idade tinha que receber a responsabilidade de cuidar de alguém com os problemas sérios que Margareth tinha, eu entendo porque você decidiu ficar e cuidar dela, e entendo o que Homeo quis dizer sobre sua "alma benevolente e altruísta", você tem um coração bom demais para dar as costas a alguém que precisava de você... eu acredito seriamente que mesmo Margareth sendo uma pessoa problemática, ela era inteligente o suficiente para ter manipulado você sem que nem mesmo notasse, eu entendo que tenha sentido compaixão por ela, por tudo o que ela passou com os pais, também teria sentido a mesma coisa, eu senti a mesma coisa, mas ter passado por tudo aquilo não fazia dela uma boa pessoa, Davi... – eu me calei quando Davi pareceu confuso sobre o que eu estava tentando falar, então suspirei fundo antes de voltar ao meu raciocínio – eu não a conheci, mas tudo o que percebi foi que ela usou você, ficou ainda mais claro quando ela disse que encontraria alguém que desse a ela o que ela queria quando você se negou a fazer... a avó dela e ela mesma fizeram você sentir pena dela, viram em você uma pessoa boa e "ingênua" o suficiente para isso... – continuo fazendo as aspas com os dedos, Davi ainda parecia perdido e tentei continuar – olha Davi, não estou diminuindo a gravidade da situação em que Margareth estava eu realmente sinto muito por tudo o que ela passou, mas ela estava usando isso para prender você a ela, você aceitou cuidar dela e ser o 'senhor' dela porque ela precisava de ajuda e tinha problemas, se ela melhorasse se ela tentasse realmente melhorar e evoluir...

– Eu a deixaria! – completa ele finalmente entendendo minha linha de raciocínio! – ela sabia que eu não a amava...

– Exatamente! – digo um pouco aliviada.

– Acredita mesmo nisso? – Davi parecia ainda estar pensando sobre o assunto, seus olhos estavam vagos e ele não olhou para mim quando fez a pergunta.

– Absolutamente! – minha certeza chamou a atenção de Davi outra vez, mas ele ainda parecia angustiado e triste demais.

– Mas eu deveria ter tentado outra maneira... mas eu...

– Você não teve culpa alguma com o que aconteceu, Davi! Você a ajudou da maneira que acreditava ser a certa naquele momento, se você descobriu que tinha uma parte sua que gostava daquilo, que podia realmente ser um Dom, não há mal nenhum nisso! – dou de ombros quando digo isso e Davi parece realmente surpreso, ele até arqueou uma sobrancelha e me olhou com mais atenção dessa vez – você fez sua escolha, você decidiu que essa parte sua não comandaria sua vida, porque ela não era a mais importante para você, e você mesmo disse que não precisava daquilo, que haviam coisas mais importantes para você do que ser um Dom! Então você não tem que ficar remoendo tudo isso... – dei um passo para mais perto sem tocá-lo, Davi pareceu ficar confuso outra vez então me aproximei um pouco mais – você me disse que não estava acostumado a lidar com os sentimentos de outra pessoa, mas só porque você sentia que já não ligava mais para os de Margareth, não quer dizer que você não se importava! Davi você com certeza tem sofrido durante anos só pela última coisa que disse a ela, entendo a tatuagem agora... eu posso entender que você realmente tenha desacostumado a pensar antes de dizer ou fazer qualquer coisa as outras pessoas por Margareth sempre parecer não se importar com a forma como falava ou agia com ela, mas isso não quer dizer que você no fundo não se importe...

– Mas eu podia talvez ter encontrado outra maneira de ajudá-la se...

– Você fez tudo o que podia por ela Davi – eu segurei em seus braços dessa vez, balançando-o para que voltasse sua atenção totalmente para mim, e ele fez me olhando com a testa franzida – tudo bem que você não é totalmente o mocinho da história, mas você também não é o grande vilão! Ela também não quis se ajudar e talvez muita coisa fosse diferente se tivessem feito escolhas diferentes, mas tudo aquilo já aconteceu, Davi... e eu sinto muito que tenha perdido alguém tão especial, mas isso também não foi culpa sua, você enfrentou uma casa em chamas e ganhou uma cicatriz e tanto para salvá-los... a questão não é sobre você não ter ficado perto dela aquela noite... Homeo tinha um plano e se não tivesse dado certo naquela noite ela continuaria tentando, a culpa de nada daquilo foi sua... você também não tem que esquecer o que aconteceu e seguir em frente, seria impossível, mas tem que encontrar uma maneira de perdoar... perdoar desde Douglas até Margareth... até a si mesmo! – assim que eu disse a última parte eu lembrei de meu próprio passado e de como eu deveria seguir meu próprio conselho... Davi me surpreendeu com um abraço forte e reconfortante, ainda que ele era quem precisava disso.

– Obrigada por não sair correndo! – murmurou contra meus cabelos, eu o apertei um pouco mais me deixando sentir seu perfume. Claro que eu estava um pouco assustava e ainda um pouco chocada com tudo, mas quando entendi o que Margareth estava fazendo com ele, não me senti nenhum pouco arrependida por não ter gostado dela desde a primeira vez em que vi sua foto na gaveta de Davi, claro que também me senti mal por ela, ser torturada pelos próprios pais era algo horrível e eu sabia como era, ela sofreu por mais tempo do que eu, mas eu podia entendê-la ao menos um pouco... mas ainda não justifica o fato dela ter obrigado Davi a fazer parte daquilo só porque ela decidiu que o queria! Mas agora eu sei que Davi sempre foi um bom homem... que como Isaac disse é um homem fodido pela vida e que havia perdido toda a alegria e a energia para viver depois de se culpar durante anos por algo que ele não podia controlar ou mudar.

– Você dividiu a sua história comigo, como havíamos combinado, isso não muda nada, Davi, eu ainda vou ficar aqui com você, não importa o que! – digo erguendo minha cabeça para poder olhar em seus olhos e ele sorriu um sorriso de verdade que alcançou seus olhos e os fez ter um pouco de brilho, o meu brilho... ele havia dito o mesmo para mim depois de mais um ataque meu quando encontramos os diamantes e se ele podia lidar comigo tendo um surto, eu não ia deixar de amá-lo por ter um passado complicado como esse, ele havia cometido erros por se importar demais... não havia como eu não amá-lo por isso! E eu estava prestes a finalmente dizer a ele, mas ele apertou um pouco mais seus braços ao meu redor e me beijou... e, porra, eu senti saudade disso! Foi um daqueles beijos lentos que se permitia sentir tudo um do outro!

– Eu quero que você venha comigo. – diz ao se afastar eu concordei mesmo sem saber exatamente para onde estávamos indo.

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