'Ange'
Davi ainda falava ao telefone como pude vê-lo através das paredes de vidro da biblioteca, eu paralisei quase no meio da sala ao ver que ele parecia bastante nervoso enquanto andava de um lado para o outro passando a mão nos cabelos... ele era tão absurdamente lindo que era impossível não ficar hipnotizada por ele, pelo movimento de seu corpo, pela forma como nunca deixa de ser estranhamente elegante e sensual... acho que ele nem é ciente de como fica irresistível quando está irritado, a forma como tenciona o maxilar, a forma intensa e um tanto voraz com que seus olhos ficam abaixo de suas sobrancelhas quase totalmente unidas... o jeito como seus músculos tensos se movem debaixo da roupa...
Antes que eu percebesse, eu estava praticamente salivando sobre a visão de Davi enquanto sentia que meu coração batia mais depressa agora, mas por outros motivos, minha respiração estava difícil por outro motivo também e todos eles se concentravam na região entre minhas pernas. Eu não podia acreditar na facilidade com que Davi consegue me desestabilizar sem nem ao menos me tocar ou olhar para mim, mas aqui estou eu no meio da sua sala observando-o e o desejando tanto quanto em qualquer outro momento.
Eu precisei abrir a boca para a entrada de mais ar quando Davi parou de frente para mim e ergueu seus olhos encontrando-os imediatamente com os meus e mesmo que estivéssemos um pouco distantes e com uma parede de vidro nos separando, eu senti como se estivesse me tocando... como eu poderia resistir a Davi? A forma como está me encarando agora torna a ideia absurda e impossível e me faz querer mandar tudo a merda de uma vez e voltar para aquela biblioteca e tê-lo para mim mais uma vez!
Eu queria não pensar no que ele fez e no que ele tem sobre mim... mesmo que parte de mim ainda quisesse acertar o rosto de Homeo e tirá-la do meu caminho, por que eu faria isso? Eu o amo? Sim, mas não vejo como ter esse sentimento por Davi vá nos levar para algum final feliz... Eu quero um final feliz? Acho que na verdade eu só quero um pouco de paz longe de tudo o que Davi consegue fazer comigo! Mas e se Chris e Eleonor estiverem certas? O que eu faria se... se...
Eu dei meia volta fugindo dos olhos de Davi e sem saber por que exatamente, eu subi as escadas numa corrida rápida até conseguir chegar ao seu quarto novamente e bati a porta fechada, quando entrei comecei a andar de um lado a outro automaticamente enquanto sentia minhas mãos começarem com seus tremores.
– Calma Angela... – digo a mim mesma levando as mãos até os cabelos fechando os olhos com força para afastar a imagem de minha mãe me olhando daquele jeito... aquele maldito olhar de 'Sinto muito'! Eu não precisava disso agora! E esse maldito 'E SE' pairando sobre mim não está ajudando... afinal como foi que Chris e Eleonor chegaram nessa conclusão? O que havia diferente em mim que indicava que eu podia estar esperando um bebê?
Corri até o banheiro parando em frente ao espelho um pouco distante da pia para pode ser capaz de ver a maior parte de meu corpo, inspirei profundamente e me medi lentamente no reflexo. Meu cabelo estava um pouco desgrenhado, meus lábios levemente inchados, meu rosto estava ficando corado, meus olhos estavam tão dourados quanto em qualquer outro momento da minha vida e um pouco dilatados demais... é eu estava radiante mesmo que estivesse perto de ter um colapso, e eu nem sei por que... ou talvez saiba e só esteja com medo demais para acreditar e ter um pontinho de esperança.
Corajosamente desci meus olhos para minha barriga sentindo um frio na espinha quando virei de lado só para conferir, talvez eu só estivesse engordando e elas haviam notado isso... mas não havia nenhuma diferença notável. Ergui o vestido para uma última conferida e com a mão cada vez mais trêmula e com a respiração começando a falhar eu toquei com as pontas dos dedos sobre meu estômago deslizando até a região do baixo ventre fazendo uma pequena pressão ali...
– Angela? – a voz de Davi me chamando com algum tipo de dúvida desesperada logo depois que a porta do quarto se abriu, me fez pular assustada e abaixar o vestido depressa o ajeitando – o que está fazendo? – pergunta Davi já atrás de mim como o vejo pelo reflexo com as sobrancelhas franzidas em genuína confusão e curiosidade. Eu engoli em seco e baixei meus olhos para a pia tentando pensar em alguma coisa, qualquer coisa... mas todas as palavras fugiram! O que eu poderia dizer? Puta merda e se...? Como é que eu vou dizer...? – você está bem? – pergunta e suspiro quando sinto suas mãos em meus ombros e isso é o bastante para aquecer e relaxar todo meu corpo. Chega a ser um pouco assustador às vezes... mas agora, agora só me impediu de ter um ataque. – Angela?
– Sim, eu estou bem – digo dando um passo para longe, porque mesmo que eu me sentisse bem quando me toca, eu não ia deixar isso tão óbvio para ele. – só precisava jogar uma água no rosto. – continuo, me preparando para fazer exatamente isso, evitando seu reflexo ou a forma como sua presença fazia meu corpo reagir como se tivesse sendo puxado por um ímã, eu me ocupei em molhar meu rosto...
– Ange... eu queria falar com você... – eu o interrompi me erguendo como também faço com as mãos quando meu corpo todo formigou quando ele usou meu apelido e aquele tom baixo e sedutor, Davi se calou e me deu uma toalha para secar o rosto e só quando me sinto preparada finalmente me viro para poder encará-lo.
– Não, nós não vamos conversar sobre nada que não tenha a ver com o trabalho... – Davi fechou a cara novamente com seus olhos adquirindo rapidamente aquele brilho irritado e ameaçador.
– Mas uma hora vamos ter que conversar... esclarecer coisas como você diz – diz cruzando os braços e arqueando uma sobrancelha como se eu realmente não tivesse escolha. Bom eu tenho. Eu posso continuar ignorando toda essa merda... pelo tempo que eu quiser... e precisar. Eu estou muito... abalada agora para ter qualquer conversa com Davi. Ele se aproxima e dando apenas um passo estava a centímetros de mim novamente, pondo as mãos sobre a pia me prendendo dentro dos seus braços. – e eu acho que devemos conversar agora... – diz o rosto tão perto do meu mais uma vez.
Isso é jogo sujo! Como ele espera que eu resista quando faz isso comigo, quando fica tão perto e me olha como se estivesse prestes a me devorar...? Eu odeio que consiga fazer essas coisas para mim. Eu realmente odeio! Eu tinha que tentar, depois de todas as vezes que já cedi hoje, não cair mais nos encantos dele... não podia deixar minha mágoa e a traição dele se desmanchar em luxuria assim, não pode ser tão fácil para ele agir como se nada tivesse acontecido, não é justo! Então reunindo meu pequeno e quase esgotado estoque de resistência eu consegui manter minha postura.
– Não pense que você ainda é alguma coisa para mim, Collins, por que você não é! Você é apenas meu chefe agora... – digo estreitando meus olhos para ele cruzando os braços para afirmar minhas palavras, Davi apenas abre aquele sorriso de lado filho da puta, que me fez engolir em seco novamente...
– Vamos ver... – diz com uma arrogância que fez minha boca se abrir, mas nenhum som saiu dela por dois segundos ou mais antes de eu fechar minha cara de vez. Mesmo que eu estivesse confusa entre estar feliz que Davi não havia realmente desistido de nós, eu estava tentando manter a raiva e a resistência acima de qualquer outro sentimento. Eu não preciso de esperanças agora!
– Vamos ver o caralho Collins...
– Winey – diz se afastando e pondo dois dedos sobre meus lábios me fazendo perder as palavras – você está certa em uma coisa, agora podemos apenas nos concentrar no trabalho, por favor? – pergunta tirando os dedos de minha boca e mantendo aquele sorrisinho maldito.
– Argh eu odeio você!
– Você já disse isso, pela segunda vez em horas. – diz franzindo o cenho levemente como eu, mas decido ignorar as imagens embaçadas da noite anterior em minha cabeça e focar no agora!
– É sempre bom lembrar! – digo passando por ele saindo apressada do banheiro.
***
Dizer que Davi estava intratável seria um baita eufemismo! Eu queria ir pra casa, mas aqui estava eu em sua biblioteca... trabalhando e já tomei toda a minha água que pedi pela trigésima vez e com paciência, Eleonor sempre me trazia, mas eu realmente precisava resfriar meu corpo constantemente.
Eu quis evitar uma grande discussão, onde diríamos palavras nada agradáveis um ao outro e das quais poderíamos nos arrepender depois, quando finalmente aceitei "botar minha bunda na porcaria da cadeira e enfiar meu rosto em todos aqueles papéis", foram essas as palavras de Davi em cada letra. Aquele bastardo idiota!
Devo admitir que todo esse trabalho complicado de Chicago tem conseguido me manter distraída e ocupada... mas vez ou outra quando erguia meus olhos para ver Davi do outro lado da mesa tão concentrado quanto eu, um frio descia até minha barriga só de imaginar que ali podia haver... e eu não podia evitar... eu era completamente incapaz de impedir um pequeno raio de esperança se infiltrar em meu coração... afinal 'E SE'?
Poderia ser bom... poderia ser meu ponto de equilíbrio afinal! Ainda havia a chance de eu não acabar como minha mãe... Meus pensamentos são interrompidos quando ouço o som de meu celular tocando com o som de emergência de Chris.
– Ela é impossível! – diz Davi revirando os olhos se ocupando em mexer em suas gavetas atrás da mesa enquanto franzia o cenho num misto de preocupação e confusão pela forma como Davi acabou de falar. Ele sabia quem era? Como?
– Vamos, me dê meu telefone de uma vez – digo me levantando e estendendo a mão quando Davi tirava meu celular de sua gaveta, ele apenas colocou o aparelho em minha mão e se encostou em sua cadeira cruzando os braços, eu arqueei uma sobrancelha para ele. – com licença! – digo me virando e saindo da biblioteca corri até a cozinha, eu precisei ligar de volta para Chris, já que o telefone parou de tocar assim que cheguei à cozinha, ela atendeu no primeiro toque.
– Eu vou matar você! – ela praticamente grita do outro lado e eu preciso afastar o telefone da orelha.
– Eu precisava de espaço...
– O caralho! Você ficou louca!?
– Ainda não... – murmuro – mas você está bem? Você ligou no toque de emergência...
– Eu estou ótima, você é que está fodida mocinha! Como pode desaparecer e não atender a porra do seu celular, Angela?
– Eu já disse, eu... é complicado Chris e agora eu estou...
– No apartamento do seu chefe, eu sei...
– Você... sabe? – o que está acontecendo aqui?
– Sim, eu liguei pra você umas cem vezes – (isso explica o "impossível" de Davi) – e ele atendeu em uma delas e disse que estava com você e que estava bem apesar de estar completamente bêbada e coberta de vômito!
Ah merda! Isso parece ruim! Eu não me lembro dessa situação fodida apesar de Davi ter me falado sobre eu ter passado mal... acho que estou feliz que não me lembro dessa parte, seria ainda mais constrangedor.
– Eu...
– Como você pôde beber, Angela?
– O que tem isso agora? Não estou tomando mais nenhum remédio, posso beber o que eu quiser!
– Não você não pode... não no seu estado...
– No meu estado? – pergunto quase gritando, mas levo a mão à boca olhando em volta da cozinha e para a entrada em direção à sala para ter certeza de que ninguém escutou isso – não estou em estado nenhum, Chris! – (eu acho) dessa vez falo quase num sussurro.
– Você não sabe!
– Sim eu sei, eu tenho certeza de que não estou em estado nenhum! – mesmo que eu tentasse me convencer disso, aquele pequeno raio de esperança me fazia sentir um peso no peito ao dizer isso.
– Mas se estiver...?
– Não estou...
– Vai ter de dizer a ele em algum momento! – eu tirei o celular de minha orelha e o olhei incrédula, ela estava ouvindo o que eu estava dizendo? Revirei os olhos antes de voltar o celular para a orelha.
– Olha Chris, eu não estou tendo essa discussão com você agora, se quiser pergunte a Lance porque eu tenho tanta certeza...
– Fada-se Lance e esse segredo maldito de vocês, afinal qual o seu problema além do medo de acabar louca?
– Quanta sensibilidade! – murmuro irônica começando a andar de um lado para o outro. Eu nunca consegui contar a Chris que eu não podia ter filhos, eu não conseguia mais aguentar aquele olhar de 'Sinto muito' de todas as pessoas que sabiam, e agora que ela está grávida sou simplesmente incapaz de ter essa conversa com ela e ela começar a chorar e dizer que 'sente muito'! Então que ela acredite que eu use algum contraceptivo que para ela tenha falhado...
– Ange, é sério! Precisa pelo menos fazer o teste... vou estar aqui como você estava para mim...
– Sim... bem... o problema aqui é que minha situação seria mais difícil que a sua, não que eu esteja admitindo alguma coisa...
– Bom, desculpe por isso, mas... você não vai ter opção como eu não tive, o único jeito é encarar e ir em frente... vai ter de dizer ao seu chefe que...
– Sim Chris – digo sarcástica entre dentes irritada que eu realmente ainda estava falando com Christina sobre isso na cozinha de Davi – a questão é que foi muito mais simples você dizer a Lance, vocês se amam e não há nenhuma grande merda acontecendo entre vocês, agora veja a minha situação! Davi é um cretino, você sabe o que ele fez e... e... como, por Deus, eu vou simplesmente olhar nos olhos de Davi que é meu chefe, repito, meu chefe que é um tirano filho da mãe e dizer que posso estar gra- ... grávida!? – pergunto com minha voz falhando na última palavra e tentando não gritar quando lágrimas quentes começaram a incomodar meus olhos e parando de andar no instante em que ouço o som de vidro de estilhaçando perto demais de mim.
– Ange... – a voz de Chris some quando o telefone cai de minha mão ao ver Davi parado e branco como uma estátua de mármore na entra da cozinha com a mão estendida onde deveria estar o meu copo de água, agora só cacos no chão. Meu corpo todo também congelou e por um minuto eu senti como se o mudo tivesse parado de girar e meu coração de bater.
– O que acabou de dizer? – sua voz era apenas um sussurro rouco.
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N/A: Esses serão os capítulos de hoje, então o próximo 'SINTO MUITO parte II, não foi postado ainda, vou avisar qndo voltar a postar, talvez agora só no fim de semana mesmo. Um bjão.