James Baron era um rapaz determinado, eu logo descobri. E isso me fez lembrar de Katie, que tinha esse exato toque de determinação e ousadia. Toda vez que encarava os olhos de James, via um pouco mais da minha amiga ali. Se antes eu achava tudo uma coincidência, agora eu tinha certeza que eles eram irmãos.
Descobri que James havia esvaziado a hospedaria, pra que nenhum hospede atrapalhasse a conversa dele com Harry. A dona, que eu soube ser uma senhora de 70 anos, estava muito ocupada nos campos de tulipas com o filho mais novo, para ouvir o que era dito dentro daquela construção.
—Você quer me dizer que ela está em Del Mar, mas não quer que eu pense que foram vocês que a levaram? —James falou, muito lentamente, enquanto se remexia de forma desconfortável na poltrona da pequena sala. —Isso é uma piada? Vocês fizeram o que? Contrataram uma súdita qualquer para fingir que ela é minha irmã?
—Eu sabia que você não iria acreditar. —Harry murmurou, soltando uma respiração frustrada. —Mas eu estou falando a verdade. Em minha busca por saber onde as bruxas a haviam levado, tropecei nela em Londres e agora ela está aqui.
—É claro que eu não vou acreditar! Não sou idiota, Harry. Deveria saber disso. Se não sabe, o idiota está sendo você então. —Exclamou, enquanto eu engolia em seco, encarando aquele príncipe irritado, enquanto estava de pé ao lado da janela.
—James, tente ser racional. —Harry abriu um sorriso fraco. —Acha que eu perderia meu tempo contratando uma estranha para fingir ser sua irmã?
—Para evitar uma guerra? Sim! —Sibilou, se curvando na poltrona para encarar Harry mais de perto. —Não vou deixar você me enganar com isso e muito menos permitir que faça isso com meus pais!
Pressionei meus lábios em negação, sentindo meu coração martelando no peito. Passei as mãos na roupa, sentindo minhas mãos soando. Mas com uma respiração pesada, me virei em direção a James, no momento que ele se colocava de pé. Ergui o queixo e marchei até ele, chamando sua atenção.
—Você ainda ousou ir em Londres e trazer essa mulher para enfeitar ainda mais a mentira. —Afirmou, me olhando de cima a baixo. —Não achei que chegaria a esse ponto.
—Meu nome é Sophia, obrigada por perguntar. —Abri um sorriso falso pra ele. —Segundo, você está sendo sim um idiota. Além de grosseiro e mau educado. Para um príncipe, devo dizer que eu estava esperando mais. —Afirmei, vendo o rosto dele se curvar em surpresa e irritação. —Se não quer acreditar, o problema é seu. Katie, minha melhor amiga, não é uma súdita qualquer que Harry achou no reino e contratou para essa farsa que você está criando na sua cabeça. Katie foi deixada em um orfanato quando ainda era só um bebê e cresceu lá junto comigo, sem saber absolutamente nada sobre sua família.
—Você...
—Eu ainda não terminei. —O cortei, vendo a testa dele se curvar em uma careta maior ainda. —Harry estava procurando por ela, porque você queria respostas e está super disposto a começar uma guerra por elas. Mas ai está, você tem suas respostas e pode ter sua irmã de volta, mas está agindo como um babaca idiota. Sinceramente, alteza, vai a merda. —Soltei, ouvindo Harry arquejar atrás de mim, chocado. —Eu estava muito bem com minha vida tranquila em Londres até Harry aparecer e trazer umas bruxas sem noção com ele. Eu vim parar nessa dimensão por conta dessa sua vontade maluca de começar uma guerra.
''E Katie, que estava muito bem sem saber da existência de vocês, veio parar aqui atrás de mim. Agora ela descobriu que é filha de um rei e uma rainha e que tem um irmão. Se quer continuar agindo como um maldito idiota, vai em frente. Mas não vou ficar quieta quando Katie está no meio disso e você está duvidando dela, sem nem a conhecer.''
Respirei fundo, sentindo meu rosto quente e os olhos do príncipe James em mim, com uma expressão que eu já não sabia o que significava.
—Você queria sua irmã, pois bem, ela está em Del Mar. Vai acreditar em Harry? Bem, isso já é problema seu. —Virei as costas, caminhando em direção a porta, antes de parar e me voltar pra ele de novo. —Só pra você saber, está fazendo um excelente papel de palhaço pra alguém que vai virar rei.
—Estou atrás da minha irmã, não acha que estou no meu direito de ficar com raiva e duvidar? —Questionou, antes que eu saísse dali.
—Se quer tanto a sua irmã de volta, deveria estar preocupado em conhece-la e tirar suas próprias duvidas com ela. —Afirmei, dando de ombros. —Não em começar uma guerra.
[...]
Depois da minha onda de coragem com príncipe James, me tranquei no quarto pelo restante do dia, não querendo saber o que ele e Harry conversariam. Estava mais preocupada em pensar que poderia ter colocado mais lenha na fogueira e dado a última coragem que faltava para ele iniciar a guerra.
Me perguntei por alguns segundos o que aconteceria com aquelas terras se uma guerra realmente se iniciasse. O mundo deles era muito diferente do meu, de uma forma que ainda me deixava mais curiosa a cada instante.
Ergui os olhos para a porta, quando ouvi duas batidinhas. Com o coração batendo forte no peito, fiquei de pé e caminhei até ela, abrindo a porta e encontrando Harry ali, com as mãos no bolso da calça e um ar casual, como se nada de errado estivesse acontecendo.
—Harry. —Murmurei, em meio a um suspiro pesado.
—Sophia. —Ele abriu um sorriso pequeno, tombando a cabeça de lado. —Vim convida-la para um passeio pela propriedade. Achei que isso seria bom, já que você passou a tarde toda no quarto.
—E o príncipe James? —Indaguei, mordendo o lábio inferior e olhando pelo corredor.
—Está ocupado com os próprios pensamentos. —Ele riu, fazendo um sinal para que eu o seguisse. —Você deu muito a ele, para pensar.
—Ele me irritou, não posso fazer nada. —Dei de ombros, um pouco envergonhada. —Fiquei com medo de ter dado mais motivos pra ele começar uma guerra.
—Ah, não, você o irritou sim. Mas também, fez pensar em Katie. —Harry afirmou, enquanto descaímos as escadas. —Vamos esperar ele tomar uma decisão. Não estava esperando ganhar um sorriso dele mesmo.
Sorri, negando com a cabeça, enquanto aceitava o braço de Harry e deixava que ele me levasse até aquele imenso campo de tulipas.
[...]
Aquele lugar era lindo, como todos os outros que eu havia passado na dimensão das estrelas. Mesmo as terras bruxas, em meio a todo aquele caos, era incrível. Eu podia sentir a magia em cada canto, escondida e esperando para ser descoberta. Era muito mais mágico que meu mundo, com suas cidades de pedra e humanos a toda volta.
Harry me levou até o campo, onde eu pude sentir o cheiro perfeito das flores, enquanto conversávamos sobre sua dimensão. Cada cantinho mágico que estava escondido naquelas terras.
—Quando estávamos em Londres, um dia, você me disse que as estrelas aqui realizavam desejos. —Comentei, lembrando de quando o levei para observar as estrelas no imenso telescópio. A nossa volta, a noite começava a cair e as constelações começavam a pintar os céus. —Elas podem mesmo realizar desejos?
—Sim. —Ele olhou para o céu, observando-as com um sorriso no rosto, parecendo pensar em algo muito longe. —Meus ancestrais contavam que havia uma época, em que elas desciam do céu e caminhavam entre nós, realizando os desejos mais profundos dos corações fortes e justos. Eram como fadas, com asas brancas e olhos tão brilhantes como diamantes.
—Elas... andavam por aqui, como... como humanos e bruxas e... —Harry soltou uma risada, me fazendo parar de falar.
—Sim, exatamente como você está imaginando. Estrelas de carne e osso. —Ele me encarou por alguns segundos, como se estivesse maravilhado com algo nos meus olhos. —Mas elas partiram a muito, muito tempo e nunca mais retornaram. A última estrela vista aqui, foi a mais de dois mil anos.
—Isso é muito tempo. —Afirmei, pressionando meus lábios, me sentindo maravilhada por saber daquela parte ainda mais mágica do seu mundo. —Por que elas partiram? Porque não voltaram mais?
—Eu não sei, Sophia. Nosso mundo era muito diferente na época que elas estavam aqui, que ainda nos visitavam. Os reinos eram unidos, as bruxas eram bem vindas e faziam parte de todas as cortes, da realeza... —Ele deu de ombros, voltando a olhar pro céu. —Agora somos separados, julgados e pensamos sempre no benefício da nossa própria espécie. Não as julgo por não retornarem mais.
—Bem, eu as julgo. —Afirmei, fazendo ele rir. —Talvez se elas estivessem aqui, as coisas ainda estariam bem como antigamente. Todos unidos.
—Não tenho tanta certeza. —Ele deu de ombros, soltando uma respiração pesada. —Acho que elas foram embora porque sabiam que tudo ficaria assim e não poderiam fazer nada. Estrelas não eram boas apenas em realizar desejos, Sophia. Elas eram serem mortais, invejadas por seu sangue puro e por sua beleza. Muitos desejavam o que elas tinham. Beleza, magia, poder, sonhos...
—Mas elas envelheciam e morriam como nós. Pra mim, isso as torna mais humanas. —Afirmei, vendo ele abrir um sorriso e concordar com a cabeça.
—Uma pena elas não serem mais reais. Eu tinha muitos pedidos a elas. —Afirmou, me fazendo rir e arquear as sobrancelhas, quando seus olhos se fixaram nos meus. —Quando olhar pro céu, Sophia, saiba que está olhando para o lugar que muitos ainda chamam de sexto reino, Estela.
—O reino das estrelas. —Olhei pro céu parcialmente escuro. —Deve ser um lugar lindo, como aqui é.
Fitei o céu por alguns segundos, até perceber que Harry estava se aproximando. Dei um passo para trás, tropeçando e quase caindo. Mas ele me segurou, me trazendo para si. Soltei uma respiração pesada, erguendo os olhos até ele, que agora estava a centímetros de mim, com a respiração acariciando meu rosto e os olhos iluminados na minha dimensão.
—Quer saber qual seria meu primeiro pedido a elas? —Indagou, fazendo meu coração errar algumas batidas, quando sua mão se erguer e acariciou minha bochecha.
—Qual? —Indaguei, quase como um sussurro.
—Você. —Afirmou, abrindo um sorriso muito grande. —Só pra avisar, vou beija-la agora.
E antes que eu pudesse responder, os lábios dele se chocaram contra os meus. Meu coração acelerou e meu peito se encheu de uma sensação forte, me fazendo agarrar a nuca dele e o puxar ainda mais pra mim, sentindo suas mãos me apertarem contra si, enquanto o beijo se tornava cada vez mais intenso e necessitado, com seus lábios explorando os meus e provocando tudo que conseguia de mim.
Continua...