A rainha Zoe não gostava nem um pouco de mim. Tive essa certeza quando ela me viu perambulando pelo castelo, tentando encontrar a biblioteca, e torceu os lábios em reprovação. Isso fez meu coração se contrair um pouco, claramente infeliz com isso.
Tudo bem, eu não precisava ser amada por ela. Não precisava da aprovação nem nada. Mas ela era mãe de Harry. E de alguma forma eu esperava pelo menos um sorriso de educação.
Mas não deixei isso me afetar. Continuei vagando pelos corredores, negando a ajuda de Joseph, para poder me acostumar e conhecer cada canto, por mais que meus dias ali fossem contados. Eu não sabia mais dizer.
—Sophia? —Olhei pra trás, vendo Maisie sair de dentro de um dos cômodos, de novo com o vestido sujo de vários tons de tinta. —Perdida?
—Tentando encontrar a biblioteca enquanto reconheço cada corredor. —Abri um sorriso sem graça, vendo ela rir. —O que está fazendo?
—Ah, sim... —Ela olhou para o vestido sujo de tinta. —Entre aqui.
Caminhei até ela, entrando na sala e entendendo o porque de tantas manchas de tinta. Maisie era pintora. Ou pelo menos tinha isso como hobby. Haviam telas e mais telas pintadas nas paredes, com desenhos que variavam entre pessoas e paisagens. Tintas e pincéis espalhados por algumas mesas e telas em branco, para serem pintadas também.
—Você ama livros, pelo que pude entender. Eu amo pintar. É o que me deixa feliz e me trás paz. —Afirmou, deslizando até um banquinho na frente de uma tela sobre um cavalete.
—Maisie, você pinta muito bem. —Afirmei, observando as telas nas paredes. —São lindas.
—Obrigada. —Ela abriu um sorriso radiante. —Algumas telas que estão nos corredores também são minhas. Nem todas, claro. A pintores mais talentosos que eu em Del Mar.
—Bobagem. Você pinta bem demais. —Rebati, ganhando um sorriso caloroso dela.
—Minha mãe não gosta. Quer dizer... ela não tem nada contra, mas odeia o fato de eu sujar todos os vestidos de tinta. Por ela eu nunca tocaria em um pincel ou tinta. —Ela abriu um sorriso nervoso, encolhendo os ombros. —Por sorte meu pai não se incomoda com isso e me deixa pintar a vontade. Além de Harry intervir por mim sempre que minha mãe resolve dar uma de... chata.
—Harry... —Mordi o interior da bochecha, vendo Maisie arquear as sobrancelhas. —Me disse que desenhava. Ele também tem um lugar como esse pra... pra trabalhar nos seus desenhos?
—Nos aposentos dele. —Murmurou, mordendo o lábio inferior, tentando conter um sorriso. —Quer ver?
—O quarto dele? —Soltei uma respiração pesada, cotando um pouco. —Não acho que seja...
—Ah, ele não vai se importar! —Retrucou, ficando de pé e agarrando minha mão. Antes que eu sequer rebatesse, Maisie já estava me arrastando pelos corredores em direção ao quarto de Harry, onde eu tinha certeza absoluta que não poderia ir, se quisesse manter minha sanidade.
[...]
Eu não deveria ter entrado lá. Sim, já tinha certeza disso antes mesmo de passar pela porta. Mas estando lá dentro, olhando cada desenho que estava grudado nas paredes, tive ainda mais certeza disso. O quarto de Harry era tão grande quando o que eu estava usando. Havia uma cama imensa, com um dossel de madeira escura, que combinava com os imensos armários.
Ao redor do quarto, em cada cantinho livre das paredes, haviam milhares de desenhos, e outros sobre uma mesinha no canto do quarto. Mas não foi isso que me surpreendeu. Foi o fato de grande parte deles conter meu rosto, de várias formas diferentes. Haviam desenhos de Maisie também, de Noah e dos pais dele. Cada cantinho contendo uma parte de alguém.
—Meu Deus! —Soltei uma risada nervosa, caminhando até uma das paredes, encontrando um desenho que tinha meu rosto e o de Katie. —Isso é tão... é tão...
—Apaixonante? É, eu sei. —Ela riu, soando sonhadora. —Ele gosta muito de você, Sophia. Só um cego pra não ver.
—Ah, não, ele não gosta. Não do jeito que você acha. —Afirmei, recebendo uma revirada de olhos dela.
—Você gosta de ficar em negação, não é? É óbvio que ele gosta de você. Os desenhos são mais uma prova disso. —Ela ergueu as sobrancelhas, abrindo um sorriso imenso. —É só questão de tempo.
—Questão de tempo pra que? —Fiz uma careta, pressionado meus lábios juntos.
—Você sabe. —Ela mordeu o lábio, caminhando de volta até a porta. —Quem sabe no casamento do príncipe de Alfreton.
—Sobre isso, não sei se seria uma boa ideia eu e Katie irmos, já que... —As palavras morreram na minha boca quando Harry abriu a porta do quarto e entrou, parando no meio do movimento ao ver que tinha companhia.
—Maisie! —Sibilou, lançando um olhar surpreso a ela.
—Olá, irmão! —Ela riu, ficando na ponta dos pés e dando um beijo na bochecha dele. —Só estava mostrando pra Sophia o quanto você está faxinado pela beleza dela. —Ela deu umas batidinhas no ombro dele. —Vou voltar para minhas tintas.
Maisie saiu dali, piscando pra mim ao fechar a porta e me deixar sozinha ali com Harry, que parecia um pouco sem jeito pela intromissão.
—Sinto muito. Maisie praticamente me arrastou pra cá. —Afirmei, enquanto ele me encarava sem dizer nada. Isso me fez corar e ficar ainda mais nervosa. —Eu não queria invadir seu espaço pessoal e também não estava xeretando suas coisas. —Comecei a falar rápido de mais, com o rosto pegando fogo. —Os desenhos são... são lindos. Você é muito talentoso. Não estava esperando ver tantos desenhos meus assim. Acho que... que...
—Sophia?
Mordi o lábio e parei de falar, olhando para Harry com as bochechas vermelhas e o coração batendo acelerado. Engoli em seco quando ele caminhou até mim, parando bem na minha frente e me obrigando a erguer o queixo para olhá-lo nos olhos.
—Gostou dos desenhos? —Indagou, com um tom de voz muito baixo.
—São lindos. —Afirmei, com os lábios um pouco trêmulos, enquanto os olhos de Harry estavam fixos nos meus. —Por que me desenhou?
—Porque você é linda. Porque penso o tempo todo em você. Porque quero marcar cada detalhe de você nesses papeis. Porque gosto de você e quero cobrir cada canto dessas paredes com seu rosto. —Declarou, curvando os lábios em um sorriso de canto, antes de aproximar o rosto ainda mais do meu. —Precisa de uma explicação melhor, Sophia? Tenho outra muito boa pra você, se essa não for suficiente.
Continua...