Parei na frente da lareira quentinha, agradecendo por Harry ser um príncipe e ter arrumado um quarto decente pra mim e para Katie, mesmo que o navio não fosse o melhor de todos.
—Você está bem mesmo? —Katia indagou, colocando roupas secas, enquanto eu tirava as minhas.
—Ah, eu estou. Só cansada de toda essa loucura. —Afirmei, encolhendo os ombros ao enfiar a mão dentro da jaqueta e sentir a agenda ensopada nas minha mãos. —Merda!
—O que foi? —Katie olhou pra mim, enquanto eu balançava a cabeça negativamente e colocava a agenda perto da lareira, esperando que as folhas secassem e não se desmanchassem.
—Nada. —Soltei o ar com força, me livrando das roupas úmidas. —Eu estava pensando em você, sabia? Em quão preocupada você ficaria comigo quando percebesse que eu havia sumido.
—Eu percebi em poucas horas, quando você parou de responder minhas mensagens. —Abri um sorriso e olhei pra ela por cima do ombro. —Mas quando Noah me contou sobre Harry e esse lugar, eu não acreditei. Mas então ele pegou uma pedra, segurou ela na mão e desapareceu em um piscar de olhos, surgindo na minha frente segundos depois.
—Bem, eu simplesmente fui trazida pra cá, então. —Dei de ombros, vestindo as roupas secas, me sentando na frente da lareira para me aquecer. Katie se juntou a mim no mesmo instante, passando o braço ao meu redor, enquanto eu escorava minha cabeça no ombro dela.
—E por que me pareceu que Harry não ficou nem um pouco feliz com você pedindo para ir pra casa? —Perguntou, enquanto arqueava as sobrancelhas.
—Ah, por favor, não me olhe dessa forma. —Soltei uma respiração pesada, sentindo meu rosto corar. —Eu acho que só o peguei de surpresa. Mal tínhamos pisado no navio e eu soltei a pergunta.
—Surpreso não é uma forma que eu descreveria a expressão dele. Mas se você prefere acreditar que aquele príncipe encantado lá fora não sente nada por você, vai em frente, meu bem. —Afirmou, com um tom provocativo no final.
—Ah, não vou perder meu tempo discutindo isso com você, bruxinha. —Zombei, vendo as bochechas de Katie se tingirem de vermelhas, enquanto ela arregalava os olhos e se virava pra mim.
—Não acredito que você está usando isso contra mim, Sophia! —Gemeu, parecendo frustrada. —Tenho vontade de matar o Noah por isso.
—Bobagem. Isso ai é só desejo incubado. —Soltei, explodindo em uma gargalhada quando Katie me deu uma cotovelada, parecendo tentar não rir da situação.
—Você me paga, Sophia. Era pra eu estar no meu trabalho uma hora dessas e não em outra dimensão. —Afirmou, se aconchegando perto de mim.
—Maluquinha. —Dei um beijo da bochecha dela. —Fico feliz que esteja aqui comigo. Pelo menos não estou ficando louca sozinha.
—Não mesmo. —Katie concordou, abrindo um sorriso.
[...]
Peguei a xicara fumegante de chá que Noah me estendeu, antes de se sentar ao lado de Harry, de frente para a mesa imensa de madeira do capitão do navio, que havia disponibilizado sua cabine para Harry, já que ele é um príncipe. Percebi que ele pode conseguir qualquer coisa que quiser aqui, apenas por ser filho do rei. Eu não deveria ficar surpreso com isso.
—As novidades são as seguintes; primeiro: seus pais me expulsaram do castelo depois que eu voltei com a noticia do seu sumiço. O que devo ressaltar que não é nenhuma surpresa pra nenhum de nos dois. —Harry pressionou os lábios, olhando para Noah como se estivesse constrangido pelo ato dos pais. —Segundo: Maisie está noiva. Terceiro: James estava perambulando pelo reino, o que eu não vejo como uma coisa muito boa...
—O que? —Harry se voltou pra ele, com o rosto vermelho. —O que disse?
—James estava perambulando...
—Não, sobre a Maisie! —Harry soltou uma lufada de ar. —Como assim está noiva? Desde quando?
—Er... então, foi ideia dos seus pais. Eles acham que pode ser bom uma aliança com essa tenção com o reino de Velará. —Noah deu de ombros. —Maisie não me disse quem é. Mas levando em consideração todos os reinos.
—Só pode ser Altadena. —Harry afirmou, se remexendo desconfortável na cadeira. Olhei para Katie, que estava no sofá ao meu lado, também prestando atenção na conversa. —O que Maisie achou disso?
—Ah, ela amou a noticia. —Noah afirmou, com ar zombeteiro. —Você já pode até imaginar a felicidade dela com esse provável casamento.
—Você a conheceu? —Me voltei para Katie, vendo ela morder o lábio e assentir com a cabeça.
—Fui em um baile com Noah. No castelo. —Ela abriu um sorriso pra mim. —Você tinha que ver, Sophia, parecia que eu estava dentro de um livro de época.
—Hm, então a senhora já está indo até em bailes com o Noah? —Sussurrei, tampando a boca coma mão para não gargalhar e chamar a atenção dos dois, quando Katie soltou um xingamento.
—Eu só fui porque isso tinha a ver com você. —Se defendeu, mas as bochechas denunciavam o quanto ela tinha ficado envergonhada. —Não me provoca, juro que nunca mais deixo você em paz, por causa do Harry?
—Tudo bem? —Eu e Katie olhamos para Harry, percebendo que ele e Noah estavam olhando para nós duas com as sobrancelhas erguidas.
—Sim. —Abri um sorriso nervoso pra ele. —Demora muito para chegarmos?
—Não, já devemos estar perto de Del Mar. —Harry ficou de pé e foi até a janela, olhando para algo no horizonte. —Sei que vocês duas vão querer voltar pra casa. Mas talvez seja bom aguardar um pouco, pra ver como as coisas com as bruxas vão ficar. —Harry se virou, olhando pra mim. —Quer dizer... não quero que elas acabem indo atrás de você de novo. Ou de Katie agora.
—Claro. Quando for seguro voltar então. —Concordei, um pouco entorpecida pela forma que Harry estava me olhando, como se Noah e Katie não estivessem ali. Minhas bochechas coraram e eu desviei os olhos, sentindo um frio imenso na barriga.
Harry se sentou ao lado de Noah e voltou a conversar com ele sobre o príncipe de Velará, enquanto eu pensava em como as coisas iriam ficar quando chegássemos no reino e que fosse seguro voltar pra casa.
Esse conto de fadas maluco com bruxas, príncipes e dimensões iria acabar.
Continua...