Nunca na minha vida me imaginei pulando de uma janela, no meio de uma cidadezinha cheia de bruxas e outros seres mágicos. Mas uma coisa é certa, tudo isso que eu estou vivendo vai me render muitas inspirações para historias de fantasia. E, principalmente, para o livro de romance que Dominic me pediu. Escrever um romance cheio de fantasia nunca me pareceu tão atrativo como agora.
—Onde estamos? —Indaguei, vendo Harry destrancar a porta de uma casinha de madeira, em uma rua mais vazia e estreita daquela cidade.
Havíamos nos esgueirado pelas ruas e becos, tentando nos esconder de qualquer bruxa que pudesse nos reconhecer. Uma hora dessas, elas já devem saber que fugimos e estão atrás de nós.
—É um abrigo, por enquanto. —Ele abriu a porta e deixou que eu entrasse. Era pequena demais para se chamar de casa, já que era um único cômodo, com uma cozinha, uma mesinha com um par de cadeiras, um sofá e uma única cama de casal. —É do Noah. Ele não vem muito para as Terras Bruxas, mas quando vem fica aqui.
—Acha que ele vai vir atrás da gente aqui? —Questionei, olhando ao redor, um pouco ansiosa com a possibilidade de ficar sozinha ali com Harry, com aquela única cama para nos dois. —Será que ele já sabe que as bruxas o levaram?
—Eu espero que sim. Mas de qualquer forma, não podemos ficar aqui esperando. Uma hora as bruxas vem bater na nossa porta. —Afirmou, encolhendo os ombros. —E quero estar dentro de um navio com você quando isso acontecer.
—Como vamos entrar em um navio? —Me voltei para Harry, vendo ele caminhar até se sentar no sofá, parecendo cansado.
—Conheço alguns donos de navio que costumam passar pelo porto de Del Mar. Vou tentar encontrar um deles. —Harry olhou pra mim, abrindo um sorriso fraco, parecendo ficar sem jeito. —Você se importa de me esperar aqui, enquanto vou até o porto? Não quero coloca-la em risco. Mais do que já coloquei.
—Tudo bem. —Afirmei, sentindo minhas bochechas corarem pela forma que ele me olhava. —Só não demora, por favor.
Ele ficou de pé, caminhando até onde eu estava. Ergui o queixo para encara-lo, vendo que ele parecia querer dizer algo, sem saber como. Por fim ele sorriu e se aproximou, deixando um beijo na minha testa e caminhando até a porta logo em seguida.
—Vou ser rápido, prometo. Tente descansar um pouco. —Murmurou, antes de desaparecer pela porta.
Encolhi meus ombros, olhando ao redor. Eu podia dormir, já que a última noite foi péssima. Mas não estava com sono e minha cabeça estava cheia com tudo que estava acontecendo. Não conseguia parar de pensar em Katie e em como ela estaria, sabendo que eu desapareci do nada.
Caminhei por aquele cômodo, olhando tudo que tinha ali. Havia uma pequena estante também, perto da cama. Estava cheia de livros e frascos com coisas estranhas, como os que havia na casa e depois naquela sala onde estávamos presos na cela. Noah era um bruxo, então isso fazia sentido.
Puxei um livro, folheado as páginas. Haviam o que parecia ser receitas, feitiços ali, em uma língua diferente. Mas eu ainda conseguia entender o que diziam, sem conhecer a grande maioria dos ingredientes.
Coloquei o livro de volta no lugar, puxando o que parecia ser uma agenda. Haviam algumas coisas escritas nela. Informações sobre o dia do nascimento da princesa desaparecida, ainda recém nascida. Coisas que Harry e Noah estavam investigando.
—Ashley Baron, nascida no inverno de Velará, 23 anos atrás, em uma manhã congelante, quando uma tempestade de neve caia sobre o reino. —Murmurei, virando a folha. —Enviada para outra dimensão. Desaparecida.
Virei a folha de novo, vendo que a próxima tinha um desenho do que parecia ser uma lua minguante. Fiz uma careta, pensando no quanto aquele desenho me parecia familiar, como se eu já tivesse visto ele em algum lugar.
—Será que o Noah ficaria muito chateado se eu roubasse a agenda dele? —Perguntei, retoricamente, vendo que havia uma pena de escrever ali, coisa que me fez abrir um sorriso. Peguei a mesma e a agenda, indo para a cama e me sentando nela.
Aproveitaria o tempo ali para escrever meu livro. Ou o começo dele, já que eu tinha uma ideia muito boa em mente naquele momento. Usando as folhas que ainda estavam em branco na agenda, comecei a escrever, abrindo um sorriso ao perceber que a história estava fluindo para o papel com muita facilidade.
Só tinha uma única questão, não podia deixar Harry ler o que eu estava escrevendo em hipótese alguma. Já que era ele a inspiração principal para o livro. Mas ele não precisava saber disso. Pelo menos não agora, que as coisas estão tão estranhas e que não sabemos o que vai acontecer, enquanto não sairmos dessas terras repletas de bruxas.
—Princesa Ashley, onde quer que esteja, preciso muito que você apareça. —Afirmei. —Preciso muito mesmo.
Continua...