Anne with an e- Corações em j...

RosanaAparecidaMande

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Anne Shirley Cuthbert foi abandonada ao nascer em um orfanato por sua mãe biológica, mas ela nunca deixou de... Еще

capítulo 1- Lembranças
capítulo 2- amores do passado
Capítulo 3- sentimentos escondidos
Capítulo 4- Duas almas e um destino
Capítulo 5- Lado a lado com o amor
Capítulo 6- Nestes olhos teus.
Capítulo 7 - Emoções em conflito
Capítulo 8- O amor entre nós
Capítulo 9- Chamas de uma paixão
Capítulo 10- Apenas você
Capítulo 11- Corações apaixonados
Capítulo 12- Esse sonho de amor
Capítulo 13- Quando o coração se apaixona
Capítulo 14- O sentimento que vive em mim
Capítulo 15- Combinação perfeita
Capítulo 16- O que nos separa
Capítulo 17- Revelações
Capítulo 18- Expectativas
Capítulo 19- O que nos une
Capítulo 20- Tudo o que eu quis
Capítulo 21- Tudo o que sonhei
Capítulo 22- Tudo o que somos
Capítulo 23- O que me pertence
Capítulo 24- O tempo é algo relativo
Capítulo 25- O amor que te ofereço
Capítulo 26- Pensamentos proibidos
Capítulo 27- Pensamentos e desejos
Part 28- Provando do pecado
Part 29- O Jogo do amor
Part 30- Caprichos do coração
Part 31- Segredos e Desejos
Capítulo 32- Flertando com o perigo
Capítulo 33- O inesperado
Capítulo 34- Revelando um segredo
Capítulo 35- O incêndio
Capítulo 36- Uma esperança
Capítulo 37- O incêndio parte 2
Capítulo 38- Paraíso particular
Capítulo 39- As duas faces do amor
Capítulo 40- Idas e Vindas
Part 41- O retorno
Capítulo 42- Tudo o que existe entre nós
Capítulo 43- Como no princípio
Capítulo 44- Feliz Aniversário
Capítulo 45- Uma grande surpresa
Capítulo 46- O perigo mora ao lado
Capítulo 47- O inimigo nas sombras
Part 48- Amor e dor
Capítulo 49- As verdades do coração
Capítulo 50- Almas divididas
Capítulo 51- Palavras não ditas.
Part 52- O jardim do Éden
Capítulo 53- Ps: Eu te amo.
Capítulo 54- Eterno amor
Capítulo 55- Sua força em mim
Capítulo 56- Um só coração
Capítulo 57- Sem Regras
Capítulo 58- Sussurros e juras de amor
Capítulo 59- Entre o céu e o inferno
Capítulo 60- Lar
Capítulo 61- A promessa de uma vida
Capítulo 62- Entre as estrelas
Capítulo 63- De corpo e alma
Capítulo 64- Desejo e castigo
Capítulo 65- Ao cair da tarde
Capítulo 66- Vidas entrelaçadas
Capítulo 67- Amor imenso
Capítulo 68- Fogo
Comunicado
Capítulo 70- Sonhos perfeitos
Capítulo 72- Xeque Mate
Capítulo 73- Anjo Ruivo
Capítulo 74- Amor de diamante
Capítulo 75- Para sempre
Capítulo 76- Um Natal para relembrar
Capítulo 77- Tudo o que importa
Capítulo 78- Um grande novo ano
História Nova
Capítulo 79- A segurança dos seus braços
Capítulo 80- Can't take my eyes off you
Capítulo 81- Inesquecível amor
Capítulo 82- O casamento do ano
Capítulo 83- Lua de Mel Havaiana
Capítulo 84- Uma nova vida juntos
Capítulo 85- Inseguranças e Fragilidades
Capítulo 86- Ao nascer do sol
Capítulo 87- O caminho de volta
Capítulo 88- O ingrediente principal
Capítulo 89- Na alegria ou na tristeza.
Capítulo 90- O benefício da dúvida
Capítulo 91- Amor e mágoa
Capítulo 92- Impasse
Capítulo 93- Uma longa noite
Capítulo 94- Sob o mesmo céu
Capítulo 95- Juntos
Capítulo 96- A razão da minha felicidade
Capítulo 97- Alcançando as estrelas
Capítulo 98- Acerto de contas
Capítulo 99- A vida por um fio
Capítulo 100- Garota Extraordinária
Capítulo 101- Na dor
Capítulo 102- A beleza de Vênus
Capítulo 103- The way I love you
Capítulo 104- Reconstruindo sonhos
Capítulo 106- Um novo tempo
Capítulo 107- Entre a mágoa e o perdão
Capítulo 108- Redescobrindo o passado
Capítulo 109 - Universo particular
Capítulo 110 - Esposa perfeita
Capítulo 111- Paraíso na terra
Capítulo 112- Um futuro cheio de promessas
Capítulo 113- O perdão é a cura da alma
Capítulo 114 - Lucy
Epílogo
Agradecimentos
Prêmios

Capítulo 105- Amor de mãe

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RosanaAparecidaMande


 Olá pessoal. Desculpem-me a demorar em atualizar o capítulo. Ando meio desanimada, mas, prometo que continuarei escrevendo todas as fics todas as semanas, pois isso me ajuda muito a esquecer os meus problemas. Esse capítulo ficou intenso para mim em níveis de sentimentos, e por isso, eu espero pelos comentários de vocês para que eu possa continuar escrevendo sempre com muita inspiração e amor. Beijos. Desculpem qualquer erro ortográfico que eu tenha deixado passar. Beijos. Rosana.

ANNE

A ferida estava de novo aberta, e Anne tentou não demonstrar, mas, Gilbert a conhecia bem demais, e ela pôde ver no rosto dele a compaixão, o carinho e sobretudo amor. E foi ali que ela envolveu sua dor, a angústia de uma vida inteira, foi ali que ela permitiu que seu marido visse a sua completa vulnerabilidade, e que lhe oferecesse o bálsamo dos seus carinhos.

Fazia muito tempo que Anne não pensava nisso, pois era uma parte complicada de sua vida na qual enterrara fundo dentro de seu coração. A rejeição e o abandono de sua mãe deixaram sua alma marcada, mesmo que ela fizesse de tudo para não demonstrar, e por um bom tempo, ela fingira tão bem que até ela acreditara que aquilo tudo não mais a atingisse, e no entanto, bastou aquela carta para que ela percebesse que ela construíra um castelo de areia em cima de seus sentimentos, e com a primeira lufada de vento ele foi ao chão, e seu único apoio naquele vendaval de emoções era o homem que a abraçava e beijava seus cabelos, enquanto um mundo de lágrimas rolavam por seu rosto.

- Você está bem? - Gilbert perguntou preocupado.

- Eu não sei. - ela respondeu com sinceridade. Tudo o que sabia era que a dor era imensa, e por ser tão grande, ela não conseguia identificar qual parte sua doía mais.

- Desabafa, amor. Vai ser melhor. - Gilbert disse acariciando suas costas.

- Não consigo. Eu não saberia por onde começar. – ela disse tentando enxugar os olhos com o dorso das mãos

- Você ainda não leu a carta. Não acha que seria uma boa ideia dar uma olhada em seu conteúdo? - Gilbert perguntou com cuidado, talvez temendo uma resposta mais brusca à sua pergunta.

- Nada do que essa mulher queria me dizer me interessa. - Anne disse em um tom baixo e controlado.

- Querida, eu sei o quanto está sendo difícil para você essa situação, mas, não acha que ignorar a carta que sua mãe lhe enviou possa lhe causar algum arrependimento depois? - o toque dele em seu cabelos era tão bom, que Anne desejou ficar nos braços dele para sempre e esquecer que fora daquele quarto havia problemas e situações nas quais não desejava pensar.

- Eu não vou ler essa carta, Gil. Será que não podemos fingir que ela nunca existiu?

- Fingir que algo não existe não quer dizer que vai parar de nos assombrar. - ele disse beijando o topo da sua cabeça

- Eu vivi bem até hoje sem ter notícias dessa mulher, e acho que posso continuar assim pelo resto da minha vida. - ela disse com teimosia.

- Mas, se isso ainda te machuca não devia ser ignorado. – Gilbert se sentou na cama e puxou Anne para seu colo que se acomodou de maneira que pudesse ficar ainda mais agarrada a ele. Gilbert era seu porto seguro, e sem ele perderia sua direção facilmente.

- É justamente por isso que não quero ler essa carta. Depois de todos esses anos o que ela pode ter para me dizer? Ela me abandonou, Gil, e eu não quero ter nenhum contato com essa mulher. – Anne respondeu ainda chorando, fazendo Gilbert beijá-la na testa com carinho.

- Não quero te ver assim, meu anjo. Eu faria qualquer coisa para que você não se sentisse magoada dessa maneira.

- Não é culpa sua o que aconteceu comigo na minha infância, Gil. Desde que te conheci você esteve do meu lado e quando não pôde estar foi por minha culpa. Você é a uma das pessoas mais importantes do mundo para mim. Obrigada por mais uma vez estar aqui e segurar em minha mão. - Anne disse tocando o rosto de Gilbert com carinho.

- Eu sempre vou estar do seu lado, querida. Mas, eu devo insistir para que leia a carta, e saiba o que está escrito nela. Talvez ela seja importante para que você se livre dessa parte do seu passado que te machuca tanto. - Anne sabia que Gilbert estava certo, mas sua mágoa era maior que seu bom senso. Ela estava se sentindo de novo a garotinha que fora abandonada pela mãe, e isso a rasgava por dentro com o se fosse atingida por arame farpado.

Ela sempre soubera que ser deixada em um orfanato por sua própria mãe, e os sentimentos que desenvolvera depois disso eram seu assunto inacabado. Mas, só agora que era mãe também, ela entendia a extensão daquilo tudo em sua vida, e como isso moldara seu caráter e a relação que tinha com emoções que envolviam amor.

Era por isso que aos seus catorze anos quando vira Gilbert com uma garota, ela pensara de cara que ele preferia a outra menina a ela, e depois quando voltaram a namorar, ela competira ferozmente com a medicina por sua atenção, e que quando ele fora para a Alemanha em busca de um tratamento alternativo para o mal de Sarah, ela se sentira terrivelmente traída, pois em sua cabeça estava sendo abandonada outra vez, assim como sua mãe fizera, e que sempre seria trocada por coisas ou pessoas melhores do que ela.

Uma das coisas que salvara sua autoestima, além do amor de Gilbert por ela fora seus bebês. Eles fizeram despertar nela aquele instinto de sempre cuidar e preservar aqueles a quem se ama de todo o mal, o mesmo instinto que sua mãe não tivera por ela, e o mesmo tipo de sentimento que ela também não desenvolvera por Anne, já que preferira sair pelo mundo em busca de aventuras, ao invés de se dedicar a garotinha que precisava tanto do carinho materno. Por isso, ela prometera que daria a seus bebês tudo de si, para que eles não desenvolvessem o tipo de carência que Anne vira crescer com ela através dos anos. Ela não conseguiu controlar um soluço, e Gilbert a abraçou mais ainda e disse:

- Eu estou aqui, e se quiser chorar, não reprima seu sentimento, coloque para fora sua dor e eu juro que ficarei aqui até o final.

- Não vou desperdiçar meu tempo com isso. Não vale a pena. - Anne disse suspirando profundamente.

- Tudo bem, amor. Se quer que as coisas continuem dessa maneira, vou respeitar sua escolha. Agora, por que não se arruma? Eu quero te levar para dar uma volta lá fora. - ele disse, tentando parecer animado, mas, Anne não se sentia propensa a sair de casa naquele dia.

- Acho que quero ficar aqui. - ela disse com um sorriso triste.

- Não quero vê-la trancada nesse quarto. Você precisa ver a luz do sol, amor. - Gilbert disse, acariciando o queixo dela com o polegar.

- Não fica bravo comigo, Gil. Eu realmente não tenho vontade de sair hoje. - Ela disse tocando-lhe a mão de forma suave.

- Quer que eu chame o Cole para vir até aqui? Eu sei que ele é um dos seus poucos amigos que consegue te colocar para cima. - Gilbert sugeriu e Anne decidiu aceitar. Talvez estivesse precisando de um pouco do humor ácido de Cole para se sentir melhor.

- Está bem. Assim, você pode aproveitar sua folga do trabalho de forma mais interessante do que cuidar de uma cabeça tão complicada quanto a minha. - Ela disse se enroscando de novo no pescoço dele.

- Eu não poderia encontrar maneira melhor de passar minha folga do que cuidar de você e dos bebês o dia inteiro, mas, eu creio que o que você precisa agora é do amigo e não do marido, e isso, pelo menos no momento Cole sabe ser melhor do que eu.

- Você sempre foi meu melhor amigo, Gil. - Anne disse em protesto as palavras dele.

- E contínuo sendo, mas meu lado marido está no comando agora, e isso me faz me envolver emocionalmente nos seus problemas, e não creio que eu consiga te dar o conselho objetivo que você precisa ouvir. Talvez outra pessoa que esteja do lado de fora da questão te faça enxergar o que eu não consigo. - Gilbert disse, brincando com os fios dos cabelos dela.

- Tudo bem, amor. Não vou discordar de você. Porém, Cole não vai me fazer mudar de ideia a respeito da minha mãe. Ele sabe o que eu sofri quando a procurei e descobri que ela tem uma outra família. Ela nunca se importou comigo, mas, se casou novamente e teve outros filhos. Talvez a conta bancária de um homem rico fosse mais atraente do que criar sua própria filha. - Anne disse magoada.

- Você não sabe se foi isso que aconteceu, Anne. - Gilbert disse sério e com a voz suave, mas nem isso a fez evitar de perguntar com acidez:

- Você a está defendendo por acaso?

- Não, querida. Eu estou completamente do seu lado. Quero apenas que entenda que uma história tem sempre dois lados. Então, não se apague tão fielmente aos fatos que conhece. Você precisa ouvir a outra versão para tirar conclusões verdadeiras

- Vou pensar. Está bem? - Anne disse pegando a carta da mãe e a guardando dentro da gaveta como se fosse um animal peçonhento. - Pode me levar até a sala? - ela disse com um sorriso nos lábios.

- Claro. - ele disse, pegando-a com cuidado no colo, e a levando até o sofá da sala. Quando foi se afastar, Anne passou as mãos pelo pescoço dele, e o puxou para ela, capturando os lábios do marido em um beijo apaixonado e quente, fazendo Gilbert se sentar no sofá e a puxar para seu colo, intensificando o beijo até que ambos precisassem de ar.

- Eu estava louca para te beijar assim desde que você voltou de sua corrida. Você não sabe o quanto fica sexy todo suado desse jeito. - ela disse no ouvido dele.

- Não tanto quanto você fica ao acordar toda corada, e agarrada em mim. Sempre tenho que me controlar para não te segurar na cama mais tempo. - ele disse distribuindo beijos pelo rosto dela.

- Acho que podemos dar um jeito nisso mais tarde. O que acha? - ela disse com um sorrisinho malicioso, que fez Gilbert responder:

- Nós temos que ir devagar. Sua lesão acabou de se cicatrizar. - Gilbert disse prendendo a testa dela na sua.

- Eu já fiquei sem você tempo demais, Dr. Blythe. Não quero perder mais nenhum minuto de seus carinhos.

- Eu também não quero ficar longe de você e não vou. Só vamos nos amar em um ritmo diferente. Está bem?

- Está sim. - Anne disse, passando as mãos por aqueles músculos fortes sobre a camiseta que ele ainda usava depois da corrida. Seu marido era tão gostoso, que resistir a tudo aquilo era impossível. Só ela sabia o quanto tivera que penar por dois meses sem uma intimidade mais intensa com ele. Gilbert Blythe fora feito para amá-la completamente, e nunca aceitaria menos que isso.

- Vou ligar para o Cole e ver se ele pode vir até aqui hoje. - Gilbert disse se afastando de Anne e pegando seu celular.

- Vai mesmo fugir de mim assim, Dr. Blythe? - ela disse manhosa.

- Acredite, é mais difícil para mim do que para você. Entretanto, você ainda tem um assunto para resolver em sua cabeça, e mais tarde podemos voltar nesse assunto. - ele disse com uma piscada.

- Malvado! - ela disse, e Gilbert apenas gargalhou, saindo da sala e deixando-a sozinha.

Anne suspirou ao olhar pela janela. Ela não desejava pensar em sua mãe, mas mesmo assim ela o fez. A verdade de tudo aquilo além de não querer encontrá-la era que não queria que sua mãe a visse como estava naquele momento sem poder andar. Mesmo que Gilbert lhe afirmasse a todo momento que era temporário, ainda assim ainda ela tinha sentimentos frustrantes acerca daquilo, e tinha certeza de que se permitisse a visita de sua mãe, com certeza esse sentimento evoluiria para o fracasso e não fora assim que planejara que um dia a encontraria.

Em seus sonhos mais loucos ela imaginava que o dia que tivesse a oportunidade de encarar aquela mulher de frente, queria mostrar-lhe todos os seus sucessos, fazê-la ver que apesar de seu desamor e desprezo, Anne conseguira construir uma carreira sólida para si, e sua vida nada tinha da miserável que ela deixara para trás no orfanato, mas agora do jeito que estava, não tinha mais essa pretensão. Era melhor deixar o passado onde ele deveria ficar, no esquecimento.

Cole apareceu quase no fim da tarde, e Anne só percebeu quanta saudade sentia dele quando ela viu o rapaz surgir na sala de seu apartamento.

- Como você está irmãzinha? Gilbert me contou sobre a carta. - Cole se sentou ao lado dela no sofá e a abraçou.

- Eu ainda não a li. - Anne disse nos braços do rapaz.

- Por que não? - Cole perguntou espantado.

- Você sabe porquê. – Anne disse chorosa.

- Não tem curiosidade de saber o lado da história da sua mãe?

- Não mais. - Anne disse com a voz triste.

- Pense bem, meu amor. É a parte de sua vida que te falta. Você sempre me disse que queria conhecer a sua mãe.

- Disse bem. Eu queria. Agora, isso não me faz a menor falta.- Cole a olhou nos olhos e disse.

- Eu sei que está magoada, e não tiro sua razão, mas, eu também sei que não está sendo sincera quando diz que isso não te importa mais.

- O que quer que eu diga, Cole? Que me sinto humilhada pelo que ela me fez? Que eu me sinto rejeitada porque ela construiu outra família, e me largou para trás? Eu não acho que ela mereça minha consideração agora. - Anne disse quase soluçando e naquele momento o rapaz percebeu que nenhuma palavra por mais convincente que fosse acabaria com aquela dor, então, ele apenas se limitou a oferecer seu ombro onde Anne deitou sua mágoa por horas.

GILBERT

Sarah olhou para o pai, e deu-lhe aquele sorriso banguela de bebê que fazia o rapaz se derreter por muitas vezes quando olhava bem no fundo daqueles olhos azuis, e descobria ali a mesma essência de Anne, enquanto John permanecia entretido com um brinquedo que Gilbert comprara para ele naquela semana, mostrando ao mundo um temperamento completamente diferente da irmã.

Dois seres incríveis que faziam Gilbert se perguntar como ele e Anne puderam criar algo tão divino assim? Seus bebês eram tão lindos que ele não se cansava de admirar tanta beleza junta, além de ele já perceber uma certa inteligência incomum. Sarah era tão esperta quanto John e ambos aprendiam com rapidez qualquer coisa que Gilbert e Anne quisessem lhes ensinar, e isso enchia o papai coruja de orgulho.

Anne estava na sala com Cole, pois Gilbert quisera lhes dar privacidade para conversarem, e esperava que o amigo conseguisse fazê-la mudar de ideia quanto a ler a carta da mãe.

Sua esposa podia ser bem cabeça dura quando queria, e convencê-la de algo nesses momentos era realmente uma tarefa árdua. Ela não mudava de ideia fácil quando a situação tinha a ver com seus sentimentos, e às vezes chegava até às últimas consequências para entender que deveria ter sido maleável naquela ocasião.

Isso acontecera com ele muitas vezes durante seu relacionamento com Anne, e a última vez quase causara uma separação permanente entre os dois. Ela sempre se deixava levar por suas emoções, e não enxergava mais nada em sua frente a não ser a raiva que sentia, e isso sim poderia ser um péssimo conselheiro.

No entanto, ele imaginava o quanto ela sofria com aquilo, e nunca teria sabido se Cole não tivesse lhe contado. Anne guardara aquela mágoa dentro de si e aquilo se tornara gigantesco, pois uma dor não partilhada sempre tinha a tendência a crescer de forma acelerada.

Sarah lhe deu os bracinhos interrompendo sua reflexão, e logo John fez o mesmo. Ainda era possível segurá-los nos braços ao mesmo tempo, mas pela forma como estavam crescendo, isso se tornaria algo difícil de fazer em alguns meses.

Olhando para o rostinho de Querubim da filha, Gilbert sorriu. Ela tinha as mesmas sardas encantadoras de Anne em sua pele clarinha, embora ainda fossem bastante sutis. Gilbert se lembrava de quantas vezes Anne reclamara de suas pintinhas inconvenientes, como ela as chamava, porém, ele sempre as achara lindas assim como tudo nela, e esperava que Sarah também tivesse orgulho dessa sua marca registrada que a fazia tão parecida com a mãe apesar de seus cabelos escuros. John puxou alguns fios de seus cabelos, e Gilbert interpretou aquilo como desejo por atenção. Seu filho tinha as feições doces de um anjo, mas sua expressão sapeca o entregava. Gilbert imaginava que quando começasse a andar, seu filho seria uma criança bem ativa assim como a irmã, por isso, ele queria aproveitar aquela fase de bebê de cada um deles, antes que começassem a se tornar mais independente, e não apreciassem mais tanto o colo de seus pais.

- Então, meu amores? Do que querem brincar? Acho que essa garotinha linda ama minhas cosquinhas. - Gilbert disse esfregando seu queixo na barriguinha de Sarah, fazendo a menina gargalhar feliz. Depois se virou para seu garotinho ruivo e disse: - E esse menininho travesso? Também gosta das cosquinhas do papai? – e fez o mesmo com John o que tinha feito com Sarah, e o garotinho riu feliz com o carinho do pai. Ficaram assim por um bom tempo, entre risos e brincadeiras, até que Gilbert percebeu que era hora de Anne amamentá-los, pois ambos começaram a esfregar olhinhos, bocejando sonolentos.

Com cuidado, ele os levou até a sala onde Anne ainda conversava com Cole, e ao olhar para o rosto da esposa, ele notou que ela havia chorado, e isso lhe partiu o coração. Detestava vê-la assim infeliz, e por um momento, ele odiou a mãe de Anne por faze-la passar por isso, e desejou que ela não tivesse escrito aquela carta independentemente de quais tivessem sido seus motivos. Anne já estava enfrentando problemas demais com sua paralisia temporária e precisava de sossego para se recuperar de forma definitiva. Aquela carta chegara em má hora, e vulnerável como estava, sua esposa somente poderia estar se sentido péssima.

- Querida, Desculpe-me interromper sua conversa com Cole, mas, está na hora da amamentação dos bebês. - Gilbert disse, tentando fingir que os olhos vermelhos de choro dela não o estavam incomodando. Ele entregou os bebês para Anne enquanto ouvia Cole dizer:

- Eu também preciso ir. Tenho alguns trabalhos para terminar em meu apartamento.

- Não quer ficar para jantar com a gente? - Gilbert perguntou, mas Cole balançou a cabeça negando.

- Estou cheio de trabalho, doutor. Talvez um outro dia. E você, meu amor, espero que pense em tudo que conversamos. Até logo bebezinhos lindos. O tio Cole precisa ir, mas, volto logo para visitar vocês. - ele deu um beijo na cabecinha de cada um, e foi em direção a porta seguido por Gilbert.

- E como foi a conversa? - Gilbert perguntou assim que estavam longe de Anne.

- Não sei se foi muito promissora. Ela está muito magoada, e não tiro a razão dela, mas, eu também penso como você. Um encontro com a mãe poderia mudar muita coisa dentro dela, mas Anne parece irredutível. - Cole disse com a voz pesarosa.

- Tudo bem, Cole. Obrigado por tentar mesmo assim.- Gilbert disse apertando a mão do rapaz com afeição.

- Ela é minha irmã. Eu faço qualquer coisa para vê-la feliz. Só cuida dela, pois hoje Anne precisa muito de você. - Cole afirmou.

- Pode deixar. - Gilbert respondeu e assim o rapaz se foi.

Quando Gilbert voltou para perto de Anne, a cena adorável dela amamentando os bebês o fez sorrir como sempre. Ele se sentou ao lado dela, enquanto ela falava com ambos os bebês. John estava em seus braços e sugava o leite materno com avidez, enquanto Sarah permanecia em sua cestinha, e esperava pacientemente sua vez.

- Eu nunca vou deixar vocês. Essa é uma promessa que faço, e que nunca vou deixar de cumprir. Vocês têm que saber que prometer algo a alguém é muito importante, e faltar com a palavra dada é realmente algo muito feio. É por isso que a mamãe vai estar ao lado de vocês não importa o que aconteça. – Gilbert ouviu toda a conversa, e sabia que ela falava assim por conta de sua mãe, e isso o deixava ainda mais preocupado. Ela vinha guardando aquilo dentro de si por tempo demais, e isso não estava lhe fazendo nenhum bem.

Anne terminou de amamentar os dois bebês, e Gilbert os levou para o quarto completamente adormecidos. Em seguida, ele voltou para a sala, onde Anne estava com o olhar perdido na janela na qual se podia ver o sol se pondo devagar. Logo seria noite, e o céu que naquele instante tinha uma coloração avermelhada, ficaria completamente negro.

- Olha para mim. - ele disse, sentando-se de novo ao lado dela. Anne se virou e o encarou com seus olhos triste, ao mesmo tempo em que os dedos dele entrelaçavam os seus. Ele podia ver a batalha interna a qual ela estava travando, e ele sabia o quanto isso podia ser desgastante. Gilbert já passara por muitos momentos assim, e o seu pior inimigo nem sempre era alguém que estava do lado de fora, e sim alguém que estava do lado de dentro, ou seja, você mesmo.

- Como foi a conversa com Cole? - ele perguntou, mesmo sendo informado pelo amigo de Anne como aquilo tinha sido, mas, queria saber o que ela tinha dizer.

- Não foi nada diferente do que conversamos. Eu ainda não mudei de ideia, Gil. - ela disse suspirando pesadamente.

- Tudo bem, meu amor. Não precisa se desgastar assim. Faça somente o que seu coração mandar. - ele disse, beijando o dorso da mão dela.

- Meu coração está muito confuso. Acha que estou sendo uma pessoa muito má por não querer saber o que tem naquela carta? - Anne perguntou com ar de dúvida, e Gilbert respondeu:

- Você não é má, Anne. Está bem longe disso. Eu entendo suas razões e não a condeno de forma nenhuma. Apenas acho que você precisa pensar bem sobre isso para que não se arrependa no futuro. O que decidir é o certo para mim. - Gilbert disse, se sentando mais perto dela.

- Sinto-me exausta. - Anne disse, apertando as têmporas em sinal de desconforto, e Gilbert estendeu seus braços e disse:

- Vem cá. - em um segundo, Anne mergulhou neles e ficou ali como se tivesse encontrado a única segurança que poderia lhe dar o conforto que precisava. - Não gosto de te ver assim, anjo. Prefiro quando sorri para mim. - Anne levantou a cabeça, tocou a lateral do rosto dele devagar e pediu:

- Me beija. - ele colou os lábios macios dela nos seus, e trocaram um longo beijo onde as emoções falavam por si.

Anne desceu as mãos até a camisa que ele usava, e abriu cada botão, deixando que suas mãos fizessem uma excursão completa pelo tronco dele. Quando ela chegou no elástico do seu shorts, ele segurou a mão dela e disse baixinho:

- Não acho que seja uma boa ideia. Eu te disse que não podemos forçar demais sua lesão que embora esteja cicatrizada, ainda inspira cuidados.

- Por favor, querido. Eu preciso de você. Me mostra o quanto me ama. - ela disse, deslizando seus lábios suaves pelo pescoço de Gilbert que não queria ceder tão facilmente, ainda pensando em seus argumentos de antes. Eles precisavam ir devagar, mas ela parecia não querer isso, e nem estava lhe dando muito tempo para pensar. Anne se sentou em seu colo com uma perna em cada lado do corpo dele com a ajuda de Gilbert, já que sua paralisia dificultava seus movimentos. Devagar, ela começou se movimentar em seu colo para frente e para trás, agarrada ao pescoço de Gilbert, e com seus lábios grudados no pescoço masculino. Vencido pela sensualidade dela, e pela carência que ela não fazia questão de esconder dele, Gilbert a despiu. Primeiro foi sua blusa de mangas cavadas, que não possuía nenhum botão e com isso foi mais fácil tirá-la do corpo dela, suas mãos correndo pela pele quente e nua das costas dela, fazendo Anne gemer em seu ouvido, excitando ainda mais sua imaginação. Ela vestia uma saia, o que facilitou imensamente sua retirada junto com a calcinha minúscula preta, atiradas no chão por ele.

- Você está muito vestido. - Anne sussurrou acabando de tirar a camisa que ela abrira antes, puxando o shorts dele para baixo, sendo ajudada por Gilbert que também se livrou de sua cueca boxer. Ele queria levá-la até o quarto de hospedes, mas o jeito que estavam grudados dificultava qualquer tipo de movimento, por isso, ele desistiu permanecendo onde estavam, enquanto trocavam beijos cada vez mais quentes, e Anne continuava a se movimentar em cima de sua excitação, levando-o à loucura. Ele não ia aguentar muito tempo, pois ter sua esposa toda nua em seus braços, enquanto suas peles ardentes se grudavam, mãos e lábios acariciavam todas as partes um do outro que conseguiam alcançar, tornavam sua resistência cada vez menor. Anne jogou a cabeça para o lado, permitindo que Gilbert alcançasse em seu pescoço seu ponto mais sensível, e gemeu alto quando ele chegou em seus seios tocando-os com a ponta de sua língua. A excitação em seu corpos chegou ao nível máximo, e Gilbert quase não se controlava mais, seguindo seus instintos completamente viciados nela e na maneira como ela o tocava com suas mãos pequenas, e boca macia.

Então, ele estava dentro dela, naqueles movimentos frenéticos que faziam a ambos transpirarem como se uma fogueira interna fosse crescendo em seu ponto mais alto. Anne circulou o pescoço dele para se apoiar melhor, enquanto Gilbert a segurava pela cintura, seus corpos se chocando, suas respirações ofegantes, até que o prazer os pegou em cheio, levando-os para aquela esfera que pertencia aos dois, e mostrava um ao outro em qual intensidade se amavam. Assim, seus movimentos foram perdendo a força, até que cessaram completamente, mas ao invés de se separarem, eles ainda permaneceram abraçados, até que a penumbra da noite que tomava completamente conta do cenário lá fora fosse a única testemunha do bater de seus corações.

GILBERT E ANNE

Eles já tinham se deitado a horas, e embora estivesse completamente relaxada pelos momentos de amor no sofá com seu marido, Anne não conseguia parar de pensar.

Ela se virou de lado, e olhou para ele que ressonava pesadamente, e sorriu de leve. Gilbert era lindo no sentido amplo da palavra, e Deus! Como ele era quente. Sua intensidade a deixava sem ar, e seu corpo agia como se tivesse hipnotizado por aquelas mãos, e aquela boca que a deixavam totalmente arrepiada. Era bom poder sentir tudo aquilo em sua pele de novo, mesmo que ainda não pudesse ter todos os movimentos do seu corpo, porém Gilbert fazia de tudo isso apenas um mero detalhe que não atrapalhava nem um pouco o prazer um do outro.

Ser amada assim por ele sempre lhe dava energia nova, e todos aqueles meses que ficaram obrigatoriamente separados fisicamente a deixaram muito tensa e carente. Não era pelo sexo, e nem pela necessidade de ser tocada a todo custo. Era simplesmente porque precisava de Gilbert de todas as formas, e seu amor era a única ponte que tinha entre ela e sua real felicidade.

Ela estendeu a mão e tocou os cabelos dele com carinho. Gilbert se parecia tanto com seus bebezinhos quando estava assim relaxado. Seus cachinhos eram iguais os de John e se enrolavam facilmente em seus dedos, e ela não se cansava de admirar aquele rosto lindo que sempre a fascinara desde criança.

Suspirando alto, ela se aconchegou mais a ele, que automaticamente rodeou sua cintura com as mãos. Como dormiam assim todas as noites, abraçá-la era algo que Gilbert fazia sem pensar. Anne fixou seu olhar no teto e voltou a pensar em sua atual situação. Ela não sabia se estava preparada para encontrar aquela mulher que se dizia sua mãe. Fazia anos que pensava em Marilla e Matthew como as duas pessoas que mereciam toda a sua consideração assim como sua Tia Amélia. Portanto, Bertha Shirley não fazia parte de sua pequena família a muito tempo. O pai, Anne nunca tivera a menor curiosidade de saber quem fora, talvez porque Matthew houvesse ocupado esse papel totalmente em seu coração, e ela não sentia necessidade de que seu pai biológico aparecesse.

Ela não culpava Bertha por ter construído outra vida para si, o que a magoava era ela ter lhe feito uma promessa e nunca tê-la cumprido, e era por isso que Anne não conseguia perdoá-la. Em seu coração havia um espaço vazio que sempre estivera lá mesmo com todo o amor acolhedor de Matthew, o carinho imenso de Marilla, e a dedicação de sua tia. O que realmente a fizera se sentir completa novamente fora o sentimento incondicional de Gilbert e o nascimento de seus filhos que eram a coisa mais valiosa de sua vida, além de seu marido. É agora que pensara que sua ferida tinha sido completamente cicatrizada, ela se abria novamente, fazendo-a perceber que não a tinha cauterizado como imaginara.

Ela se virou devagar em direção à Gilbert novamente se envolvendo protetoramente nos braços dele. Como amava o calor que vinha do corpo dele, pois lhe dava um conforto imenso. Se perdesse um dia essa proteção que não deixava que nada a atingisse do lado de fora, não saberia o que fazer. Gilbert era como sua bússola, indicando sempre o caminho pelo qual tinha que ir. Mesmo agora, com todos os problemas que ela estava tendo por conta de sua paralisia, ele nunca a deixava desistir, e estava sempre ao lado dela a incentivando a ultrapassar seus limites, ainda mais naqueles momentos em que ela achava que aquilo tudo nunca iria passar. Gilbert era o único que a fazia acreditar que o futuro apenas lhe reservava coisas boas, porque ela merecia ser feliz.

Ela desviou o olhar do rosto de Gilbert e se lembrou da gaveta onde estava a carta de sua mãe. Anne a colocara lá porque queria esquecê-la completamente, mas, algo dentro dela a fazia pensar nisso toda vez que que sua mente escapava do seu controle.

De repente, a conversa que tivera com Cole e Gilbert veio em sua cabeça e por alguma razão, aquilo parecia queimar dentro do seu cérebro, e a decisão que tomou naquele instante. Deste modo, ela abriu a gaveta devagar para não acordar Gilbert, pegou a carta, e foi até a sacada do apartamento de cadeira de rodas para ler a carta, pois queria fazer aquilo sozinha sem ninguém por testemunha.

Assim, Anne desdobrou a folha que estava dentro do envelope, respirou fundo, e então começou a ler:

Querida Anne,

Eu sei que deve estar se perguntando porque depois de tanto tempo, eu resolvi te escrever, mas, quero que saiba que essa não é a primeira carta que escrevo para você desde que te deixei naquele orfanato, mas é a primeira que tenho coragem de enviar.

As razões que tive para o meu silêncio, eu quero muito te dizer pessoalmente, pois talvez uma carta como essa não explicasse com exatidão tudo o que aconteceu, e quero que olhe nos meus olhos e veja a sinceridade daquilo que preciso te dizer.

Apesar de estar a tanto tempo longe, eu tenho acompanhado sua vida. Eu sei de sua carreira, do seu sucesso internacional, do seu casamento, e da tragédia que a atingiu recentemente e que culminou com o nascimento de seus bebês gêmeos, a quem anseio conhecer, apesar de saber que não tenho nenhum direito a isso. Espero seja feliz mesmo com os infortúnios da vida, e que seu marido a ame como você merece. O intuito dessa carta não é te pedir perdão, pois isso, eu quero fazer pessoalmente. Quero apenas que me dê a chance de te encontrar e explicar meu distanciamento por todos esses anos.

Vou terminar essa carta assinando com meu nome, pois a palavra mamãe é algo a qual não tenho direito, uma vez que a deixei tão cedo, mas, isso, eu espero corrigir em breve, e mesmo que você não possa me perdoar, eu quero que saiba que nunca deixei de pensar em você. Vou deixar meu número de telefone, e caso aceite me encontrar, use-o para me contatar.

Com amor, Bertha.

Anne terminou a carta, e percebeu que estava chorando silenciosamente, e sentiu raiva se si mesma por estar fazendo exatamente o que prometera a si mesma que não faria, pois não queria admitir para si mesma que as palavras de sua mãe a tinham atingido de um jeito que não desejava.

Um toque suave em seu ombro a vez dar um pulinho assustada, mas logo viu que era Gilbert sem surpresa nenhuma, pois ele sempre sabia quando ela não estava mais na cama, assim como acontecia com ela quando a situação era inversa.

- O que está fazendo aqui fora a essa hora? - ele perguntou, se abaixando perto dela.

- Nada de especial. - ela disse, tentando disfarçar, mas, seus olhos vermelhos a denunciaram.

- Por que está chorando? - Gilbert perguntou preocupado.

- É só uma besteira minha. - Anne disse suspirando.

- Essa carta que está tentando esconder de mim não é besteira. Decidiu lê-la afinal? - Gilbert perguntou, segurando em seu queixo com cuidado.

- Sim. - ela respondeu, segurando firme na mão dele.

- O que diz a carta, Anne, para te fazer chorar assim? - ele perguntou, pegando-a no colo e se sentando com ela no chão.

- Ela diz que quer me conhecer e me explicar sua ausência durante esses anos.

- E você não quer isso? - Gilbert perguntou beijando a testa dela com carinho.

- Eu não sei mais o que quero. Uma parte de mim não consegue esquecer o que ela me fez, mas a outra parte quer saber de tudo mesmo assim.- ela disse deitando a cabeça no ombro dele.

- Não seria melhor aceitar o pedido de sua mãe logo? Assim, você tira esse peso de cima de você.

- Eu ainda não sei se quero. – Anne disse se sentindo cansada de todas aquelas emoções conturbadas dentro de si.

- Anjo, eu prometo que se aceitar conhecer sua mãe, eu vou ficar do seu lado o tempo todo. Acho que isso vai te fazer bem. - Gilbert disse trazendo-a para mais perto.

- Está bem. Acho que tem razão. Vou conversar com ela e acabar com tudo isso de uma vez. - Anne disse com um sorriso triste.

.- Então, vamos fazer assim. Eu vou te levar para o quarto. Você tenta descansar, e amanhã depois do café da manhã eu ligo para sua mãe e a gente marca aqui no apartamento para vocês conversarem. O que acha? - Gilbert disse, acariciando seus cabelos.

- Tudo bem. Obrigada. – Anne disse, tentando parecer mais animada, embora dentro dela a tristeza era perceptível.

- Você não precisa me agradecer, amor. Eu faço qualquer coisa por você. Sabe disso. – Ele respondeu, se levantando devagar com ela no colo.

Envolta nos braços do seu homem, Anne se permitiu relaxar enquanto Gilbert a levava de volta para o quarto, e quando se deitaram na cama, ela voltou a se agarrar nele que a ninava como ele fazia com seus bebês, e sem mesmo acreditar que conseguiria conciliar o sono naquela noite, ela adormeceu com Gilbert beijando seus cabelos.

O dia seguinte amanheceu um pouco tenso para Anne, que sentia um buraco no seu estômago e um aperto no coração. Gilbert fez o que pôde para que ela se sentisse mais confortável com aquela situação, porém, não teve muito sucesso. O encontro foi marcado para depois do almoço, e quando o horário foi se aproximando, ela sentiu que sua garganta apertava tanto que ela se sentiu sufocar.

- Fica calma, querida. – Gilbert disse sentindo seu nervosismo.

- Estou tentando. - ela disse apertando uma mão contra outra.

Então, a campainha tocou, e Anne se sentiu travar. Ela olhou para Gilbert em pânico, e ele lhe deu um beijo para acalmá-la e foi atender a porta. Anne ouviu-o falar com alguém, e logo ele pediu para a pessoa entrar. Foi aí que Anne viu sua mãe pela primeira vez, e percebeu que ela não era nada como ela tinha imaginado.

Bertha Shirley era ruiva como Anne, tinha cabelos longos que ela usava presos no alto da cabeça em um coque muito bem feito. Seus olhos eram verdes e não azuis como o de sua filha, mas a pele era branca igual, e também tinha as famosas sardas que deveriam ser a característica principal das mulheres da família Shirley. Seu corpo era franzino, as mãos bem cuidadas, onde Anne podia enxergar inúmeros anéis enfeitando seus dedos de unhas muito bem feitas. Ela não era tão alta quanto Anne, mas tinha uma beleza delicada, que faria qualquer homem olhá-la duas vezes, pois apesar de estar na casa dos quarenta anos, seu rosto não exibia nenhuma ruga.

- Olá, Anne. Eu sou sua mãe. – ela disse com simpatia assim que se aproximou da ruivinha.

- Eu sei. – Anne disse de maneira fria, e não fez nenhum movimento para abraçá-la ou apertar sua mão, e Bertha pareceu entender isso, pois também não a forçou a nenhuma situação constrangedora.

- E esse lindo rapaz é seu marido. Eu já o conhecia pelas fotos do seu casamento na internet. Vocês formam um lindo casal. – Depois, ela a olhou com certa compaixão e disse:- Sinto muito pelo que te aconteceu. Você realmente não merecia algo assim.

- Ela salvou a minha vida. O tiro que ela levou era para mim, e Anne se colocou na linha de fogo para se proteger. Nada do que eu fizer vai agradecê-la o bastante por isso. - Gilbert disse, passando o braço ao redor do ombro dela, como forma de proteção e Anne se enrolou toda naqueles braços musculosos que eram sua força naquele momento.

- Você foi muito corajosa, minha querida. – Bertha disse se sentando na poltrona que Gilbert lhe ofereceu de frente para Anne

- Não foi coragem, foi amor. Algo que você desconhece totalmente. - Anne disse sem se conter, o que lhe valeu um olhar chocado de Gilbert que disse:

- Anne!

- Tudo bem, Gilbert. Eu não a culpo por pensar assim.- Bertha disse com um sorriso apaziguador.

- Como sabe de tudo o que me aconteceu se nunca demonstrou nenhum interesse em mim a vida toda? - Anne perguntou, trincando os dentes de raiva.

- Eu acompanho sua vida desde que você veio para Nova Iorque. Sua Tia Amélia me mantinha informada. Você pode pensar o que quiser, mas eu sempre te amei, filha. - aquelas palavras magoaram mais ainda o coração de Anne, que não conseguia acreditar nelas.

- O que veio fazer aqui? - ela perguntou secamente.

- Eu queria te conhecer por que eu não pude fazê-lo antes, e porque eu queria te explicar que quando eu te deixei no orfanato e te fiz aquela promessa, eu nunca deixei de cumpri-la. Eu arrumei emprego em uma casa como babá, e levei anos para conseguir juntar o dinheiro que precisava para te levar para morar comigo, e quando voltei no orfanato, você já tinha sido adotada pelos Cuthberts. Eu não sabia onde eles moravam, e nem tinha dinheiro suficiente para contratar um detetive, pois o pouco que eu tinha não daria nem para o começo da investigação. E então sua Tia Amélia a trouxe para morar com ela, eu descobri e tentei falar com ela, mas, ela não me permitiu chegar perto de você, porém, ela me prometeu me dar notícias suas desde que eu te deixasse viver sua vida em paz.

- Entendo. – Anne disse, chocada com as revelações da mãe, mas seu coração endurecido não conseguia perdoá-la, então não pôde dizer mais nada, e sequer conseguia chamá-la de mãe.

- Se não for pedir muito, será que eu poderia ver os bebês? – Bertha perguntou esperançosa, o que fez Gilbert olhar para Anne que lhe deu sua permissão silenciosa.

Gilbert foi até o quarto, e pegou no colo Sarah e John que tinham acabado de acordar e os levou para sala. Assim que Bertha colocou os olhos neles, lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto e disse sem ousar pegá-los nos braços.

- Como são lindos. Parecem tanto com vocês dois.

- São sim. – Anne respondeu sem conseguir acreditar naquela demonstração de carinho pelos seus filhos, por mais sincera que ela tentasse parecer.

Gilbert se sentou no sofá com os bebês nos braços, enquanto Bertha não tirava os olhos deles. Então, Anne tomou coragem e perguntou novamente:

- O que realmente você veio fazer aqui? - Bertha levantou seus olhos tristes, e com a voz embargada respondeu;

- Eu vim até aqui porque essa é minha última oportunidade de estar perto de você.

- O que isso quer dizer exatamente? - Anne perguntou sem entender aquelas lágrimas e as últimas palavras de Bertha. Então, a mulher ainda chorando lhe disse:

- Eu estou morrendo, Anne. Eu tenho câncer.

-

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