Anne with an e- Corações em j...

Von RosanaAparecidaMande

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Anne Shirley Cuthbert foi abandonada ao nascer em um orfanato por sua mãe biológica, mas ela nunca deixou de... Mehr

capítulo 1- Lembranças
capítulo 2- amores do passado
Capítulo 3- sentimentos escondidos
Capítulo 4- Duas almas e um destino
Capítulo 5- Lado a lado com o amor
Capítulo 6- Nestes olhos teus.
Capítulo 7 - Emoções em conflito
Capítulo 8- O amor entre nós
Capítulo 9- Chamas de uma paixão
Capítulo 10- Apenas você
Capítulo 11- Corações apaixonados
Capítulo 12- Esse sonho de amor
Capítulo 13- Quando o coração se apaixona
Capítulo 14- O sentimento que vive em mim
Capítulo 15- Combinação perfeita
Capítulo 16- O que nos separa
Capítulo 17- Revelações
Capítulo 18- Expectativas
Capítulo 19- O que nos une
Capítulo 20- Tudo o que eu quis
Capítulo 21- Tudo o que sonhei
Capítulo 22- Tudo o que somos
Capítulo 23- O que me pertence
Capítulo 24- O tempo é algo relativo
Capítulo 25- O amor que te ofereço
Capítulo 26- Pensamentos proibidos
Capítulo 27- Pensamentos e desejos
Part 28- Provando do pecado
Part 29- O Jogo do amor
Part 30- Caprichos do coração
Part 31- Segredos e Desejos
Capítulo 32- Flertando com o perigo
Capítulo 33- O inesperado
Capítulo 34- Revelando um segredo
Capítulo 35- O incêndio
Capítulo 36- Uma esperança
Capítulo 37- O incêndio parte 2
Capítulo 38- Paraíso particular
Capítulo 39- As duas faces do amor
Capítulo 40- Idas e Vindas
Part 41- O retorno
Capítulo 42- Tudo o que existe entre nós
Capítulo 43- Como no princípio
Capítulo 44- Feliz Aniversário
Capítulo 45- Uma grande surpresa
Capítulo 46- O perigo mora ao lado
Capítulo 47- O inimigo nas sombras
Part 48- Amor e dor
Capítulo 49- As verdades do coração
Capítulo 50- Almas divididas
Capítulo 51- Palavras não ditas.
Part 52- O jardim do Éden
Capítulo 53- Ps: Eu te amo.
Capítulo 54- Eterno amor
Capítulo 55- Sua força em mim
Capítulo 56- Um só coração
Capítulo 57- Sem Regras
Capítulo 58- Sussurros e juras de amor
Capítulo 59- Entre o céu e o inferno
Capítulo 60- Lar
Capítulo 61- A promessa de uma vida
Capítulo 62- Entre as estrelas
Capítulo 63- De corpo e alma
Capítulo 64- Desejo e castigo
Capítulo 65- Ao cair da tarde
Capítulo 66- Vidas entrelaçadas
Capítulo 67- Amor imenso
Capítulo 68- Fogo
Comunicado
Capítulo 70- Sonhos perfeitos
Capítulo 72- Xeque Mate
Capítulo 73- Anjo Ruivo
Capítulo 74- Amor de diamante
Capítulo 75- Para sempre
Capítulo 76- Um Natal para relembrar
Capítulo 77- Tudo o que importa
Capítulo 78- Um grande novo ano
História Nova
Capítulo 79- A segurança dos seus braços
Capítulo 80- Can't take my eyes off you
Capítulo 81- Inesquecível amor
Capítulo 82- O casamento do ano
Capítulo 83- Lua de Mel Havaiana
Capítulo 84- Uma nova vida juntos
Capítulo 85- Inseguranças e Fragilidades
Capítulo 86- Ao nascer do sol
Capítulo 87- O caminho de volta
Capítulo 88- O ingrediente principal
Capítulo 89- Na alegria ou na tristeza.
Capítulo 90- O benefício da dúvida
Capítulo 91- Amor e mágoa
Capítulo 92- Impasse
Capítulo 93- Uma longa noite
Capítulo 94- Sob o mesmo céu
Capítulo 95- Juntos
Capítulo 96- A razão da minha felicidade
Capítulo 97- Alcançando as estrelas
Capítulo 98- Acerto de contas
Capítulo 99- A vida por um fio
Capítulo 100- Garota Extraordinária
Capítulo 101- Na dor
Capítulo 102- A beleza de Vênus
Capítulo 104- Reconstruindo sonhos
Capítulo 105- Amor de mãe
Capítulo 106- Um novo tempo
Capítulo 107- Entre a mágoa e o perdão
Capítulo 108- Redescobrindo o passado
Capítulo 109 - Universo particular
Capítulo 110 - Esposa perfeita
Capítulo 111- Paraíso na terra
Capítulo 112- Um futuro cheio de promessas
Capítulo 113- O perdão é a cura da alma
Capítulo 114 - Lucy
Epílogo
Agradecimentos
Prêmios

Capítulo 103- The way I love you

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Von RosanaAparecidaMande

Olá, mais um capítulo postado. Por favor, me deixem seus comentários, pois eles sempre me incentivam na continuação da história. Beijos.

GILBERT

- Só mais um pouco amor. Não desiste. – Gilbert disse incentivando Anne a utilizar a bola de Pilates para ajudá-la nos exercícios de fisioterapia.

Três vezes por semana um profissional da área vinha no apartamento deles para auxiliá-la com seus exercícios diários, e nos outros dias, Gilbert era quem lhe dava assistência com os movimentos que precisava realizar.

Não era um processo fácil, pois a maioria dos exercícios demandava certa força física que para ele que estava em suas condições normais eram relativamente muito simples, mas para Anne que não sentia as próprias pernas ainda, era como estar lidando com um quilo de concreto sem apoio algum. Para facilitar o trabalho muscular dela, Gilbert utilizava alguns aparelhos do Pilates que tinha em casa, e também contava com a orientação da professora do estúdio onde ele e Anne frequentaram na época da gravidez dela.

Ele a teria levado pessoalmente até lá, mas, Anne se recusara a ir sem lhe dar uma explicação real para isso, mas Gilbert imaginava que ela não se sentisse confortável com os olhares em sua direção, o pesar explícito em cada rosto que a fazia se lembrar que já fora como todas as pessoas ali, tivera uma vida normal, caminhara com as próprias pernas, e agora não conseguia dar um passo sem precisar dos braços de seu marido como apoio. Por esta razão, para evitar o desencadeamento de outra crise de inferioridade, como vinha acontecendo nos últimos dias, Gilbert conversava com a professora de Pilates semanalmente, e que o orientava em como desenvolver atividades proativas dentro de casa para fortalecer a musculatura das pernas e quadris, tornando assim a recuperação de Anne mais rápida.

Gilbert fazia tudo o que estava a seu alcance para que Anne não se sentisse desmotivada, pois ele temia que ela abandonasse o tratamento ao perceber que cada dia seria uma nova luta para conseguir alcançar o mínimo de movimento, e ainda assim poderia se levar muito tempo para que ela conseguisse dar um passo que fosse, levando-a a pensar que não valeria a pena empregar tanto esforço físico e emocional em algo que não lhe traria resultados imediatos.

No entanto, Anne dava o seu máximo em cada exercício, mesmo quando lágrimas amarguradas escorriam por seu rosto quando um movimento se mostrava difícil de realizar, ou sua testa estava banhada de suor. Ele via a aflição refletida nos olhos muito azuis, os raros sorrisos que ela lhe dava dizendo que estava tudo bem, enquanto seu rosto crispado lhe mostrava que ela estava à beira da exaustão. Ainda assim, ela continuava, talvez porque Gilbert sempre lhe lançasse um olhar de desafio provocando-a como nos velhos tempos, e isso a incitasse a mostrar a seu marido que não era tão frágil assim, e que embora precisasse dele para se locomover na maior parte do tempo, ela iria cumprir o objetivo do dia e conseguir alcançar a bola que ele colocara um pouco mais longe dessa vez.

Anne era tão valente que fazia o coração de Gilbert se encher de orgulho por ver no rosto dela a mesma determinação que ela exibira nos momentos mais cruciais de sua vida. Ela nunca fora de fugir de uma boa briga, e sempre dera sua cara a tapa, mesmo que isso significasse que teria que empregar o dobro do esforço para sair vitoriosa. Sua dedicação aos bebês era comovente, e o amor que ela demonstrava por eles cada vez que o tinha nos braços era lindo demais de se observar. Ela já era capaz de dar banho neles sem ajuda, e cronometrava cada mamada de maneira quase obsessiva.

Gilbert sabia que ela agia assim, pois tinha medo que por eles serem prematuros seu metabolismo fosse mais frágil que o das crianças que nasceram em seu tempo normal, então, estariam propensos a maiores enfermidades que outras crianças, por isso, a sua neurose em relação a nutrição de John e Sarah, que eram tratados pela mãe como pequenos príncipe e princesa, a quem Anne dedicava toda a sua atenção durante o dia.

Apesar de toda sua boa vontade para com os exercícios realizados com o incentivo de Gilbert, a ruivinha parecia mais fragilizada naquela tarde, cuja oscilação de humor fora percebida pelo marido assim que ele entrou no apartamento.

Anne parecia ter chorado, mas, Gilbert não quis pressioná-la, pensando que ela tinha direito a sua privacidade, e que se quisesse lhe contar o que a estava a incomodando, ela o faria no momento certo.

Gabriela o tinha alertado para esses momentos mais delicados. Então , ser paciente com ela era tudo o que Gilbert podia fazer, além de lhe oferecer seu apoio incondicional. Contudo, não era fácil para ele vê-la se debatendo em seus vários estágios de aceitação e revolta contra o que lhe acontecera, sem que pudesse ao menos aliviar-lhe a pressão dos pensamentos. Ele entendia que era uma batalha dela contra ela mesma, pois seu pessimismo em alguns momentos sabotava sua recuperação, e a única coisa que parecia injetar-lhe um pouco de ânimo eram seus filhos que sempre lhe arrancaram um sorriso do rosto, mesmo quando o seu dia parecia ter sido um dos mais escuros.

Por isso, naquela tarde, ignorando completamente o olhar distante de sua esposa, Gilbert iniciou os exercícios habituais, os quais Anne realizou sem muita vontade, a julgar pela maneira como encarava cada um deles como se fossem a coisa mais difícil de fazer, sendo que eram os mesmos exercícios que nos outros dias quando ela se mostrava mais receptiva, eram feitos sem tanta dificuldade aparente.

- Vamos, amor. Precisa se esforçar um pouco mais.- ele disse, tentando fazer com que ela não desistisse facilmente.

- Não consigo.- ela disse com a voz zangada.

- É claro que consegue. Esses exercícios são os mesmos que fizemos a dois dias atrás. – Gilbert disse pacientemente, massageando-lhe a panturrilha com carinho.

- Eu já disse que não consigo!- ela disse mais zangada ainda, seus olhos flamejantes faziam com que Gilbert pudesse ver sua teimosia natural que não vinha se manifestando naqueles dias, porque ela se tornara maleável diante das circunstâncias. Porém, naquela tarde ela resolvera deixar esse seu lado vir à tona, e ele sabia que teria problemas.

- Qual é o real motivo de hoje você estar tão desanimada, meu amor? Nos últimos dias tem se mostrado tão otimista. Alguma coisa aconteceu nesse período em que fiquei fora no trabalho?- A mão dele lhe acariciou o rosto sério e tão introspectivo, que Gilbert tinha a impressão que nada quebraria aquele seu olhar de gelo naquele instante.

- Será que não vê que não adianta, Gil? Estou cansada de repetir os mesmos exercícios todos os dias, e não conseguir mexer os dedos dos meus pés um milímetro.- Ela baixou cabeça, deixando que seus longos cabelos ruivos lhe caíssem pelo rosto escondendo-o parcialmente, e Gilbert tinha quase certeza de que ela fizera isso para esconder seus olhos prestes a transbordar em lágrimas.

- Nós já conversamos sobre isso antes, Anne. Você sabe que isso leva tempo.

- Talvez eu não seja tão paciente como eu pensei que seria. Talvez todo mundo esteja enganado, e eu não seja tão forte como dizem que sou e eu não passe de uma grande covarde. – Anne falava aquilo com tanta raiva, como se todo o ressentimento guardado dentro de si por todo aquele tempo fosse endereçado apenas a ela mesma. Gilbert se espantou com sua reação, ainda mais por conta da agonia que via nos olhos dela, e isso o deixou tão arrasado que quase permitiu que ela percebesse como a dor dela o afetava diretamente, mas, ele sabia que não podia se dar a esse luxo, pois se ele desmoronasse também, não restaria nada que os mantivesse em pé.

- Anne, você tem feito progressos, mesmo que não consiga enxergar ainda. Esses exercícios são importantes para o fortalecimento da musculatura de seus quadris e pernas. Quanto menos esperar vai estar andando de novo.- Anne o olhou de um jeito tão apagado como se não acreditasse em nada do que ele dizia. Porém, ela se absteve das palavras, balançou a cabeça e a projetou para frente, encostando-a no ombro de Gilbert que a acolheu com todo o seu amor enquanto continuava a dizer:- Amor, por favor, tenha só mais um pouco de fé. Não desista.

- Não posso mais. Não consigo.- ela disse, mostrando a ele toda a sua exaustão e desesperança.

- Não fale dessa maneira. Você é uma das pessoas mais corajosas que conheço.- Gilbert falou, beijando os cabelos dela, acariciando-lhe a base da espinha, enquanto Anne se agarrava em seu pescoço em busca de apoio.

- Não sou mais, Gil. Não tenho mais forças. Isso tudo tem sido duro demais para mim. Sinto-me no meu limite.- Ouvi-la falar como se estivesse derrotada, fazia Gilbert se perguntar se não estava falhando como marido e como médico. Ele era em parte responsável pela recuperação dela, no entanto seus esforços pareciam estarem naufragando junto com as esperanças de Anne, contudo ele se recusava a deixá-la desistir, porque ela era-lhe preciosa demais para que ele permitisse que ela se entregasse assim.

Eles estavam sentados no chão da sala, abraçados como se nunca mais fossem se largar, e percebendo-lhe o cansaço, Gilbert se levantou com ela no colo, e a levou para o quarto onde a colocou devagar sobre a cama, ajeitando-lhe os travesseiros, ao mesmo tempo em que seus dedos se moviam sobre os fios sedosos, tentasse acalmar seu tumulto interior. Anne permaneceu de olhos fechados por alguns minutos como se meditasse em sua solidão interior, e quando os abriu ainda pareciam triste, e tentando animá-la, o rapaz resolveu tocar no assunto que vinha adiando a dias, mas que achou que aquele momento seria o ideal.

- Amor, eu andei pensando. O que vamos fazer para o seu aniversário?- ao invés de sorrir como ele imaginara, Anne o encarou com uma expressão grave e respondeu:

- Não quero nada, Gil. Nas condições em que estou não me sinto animada para nada. Por favor, esqueça isso.

- Amor, apesar do que pensa, nós temos muito que comemorar, e o nascimento dos bebês é uma dessas bençãos.- Ele podia entender que ela não estivesse com muito ânimo para grandes festas, mas uma reunião íntima só para os amigos não podia faltar, e ele sabia que Anne apreciava esse tipo de coisa.

- Gil, os nossos bebês são a coisa mais importante da minha vida, e eu os amo com todo o meu coração, mas eu realmente não vejo motivo para termos uma festa agora.- ela disse, apertando a mão masculina na sua, e Gilbert aproveitou para acariciar-lhe a palma.

- É seu aniversário, Anne. Você sempre gostou tanto de comemorar.

- Não esse ano. Eu quero apenas esquecer de tudo o que aconteceu nos últimos dois meses. Por favor, querido, vamos apenas ignorar esse assunto, está bem?- Gilbert ia retrucar, mas, percebeu que naquele instante não ia conseguir nada dela, assim apenas se calou, trouxe cabeça de Anne para seu ombro, e ficou acariciando os cabelos dela por um longo tempo.

Horas depois, Gilbert a ajudou com o banho, e Anne recusou o jantar que ele lhe ofereceu, deixando-o preocupado, pois como sempre o estado emocional de sua esposa estava lhe cobrando mais do que devia . Logo após ela amamentar os bebês e colocá-los para dormir , o rapaz teve uma ideia e esperou que desse certo, pois ele não gostava quando Anne deixava de se alimentar.

Assim, ele foi para a cozinha e preparou algo que ele sabia que Anne adorava, pois trazia sua infância feliz de volta e todos os momentos que Gilbert e ela tiveram juntos em um tempo onde a vida era tão simples, e eles sequer podiam imaginar o que o futuro reservava para os dois, No momento em que tudo ficou pronto, o rapaz colocou o que preparara em uma bandeja e foi para o quarto, rezando para que sua ideia tivesse bons frutos.

Anne tinha os olhos presos no berço dos bebês, e em seu rosto havia uma ternura comovedora. Seu olhar desviou para Gilbert no momento em que ele entrou no quarto, e uma expressão de surpresa tomou cona de sua expressão facial quando ela viu o que ele trazia nas mãos.

- Gil.- ela disse balançando a cabeça como se não acreditasse no que o marido tinha feito.

- Achei que precisava de um incentivo já que não quis jantar.

- Panqueca com mel derretido por cima. Que ideia adorável, Dr. Blythe.- ela disse com um sorriso singelo se formando em seus lábios.

- Tudo por esse sorriso lindo, minha querida.- ele disse beijando-a na face macia, recebendo em seguida um olhar de gratidão de Anne que o aqueceu todo por dentro. Em seguida, ele cortou um pedaço da apetitosa panqueca e disse em tom de brincadeira ao levá-la aos lábios de Anne:- Agora, abra essa boquinha linda, que vou alimentar minha esposa.

E assim ela o fez, e nos minutos que se seguiram, Gilbert a incentivou a saborear cada pedaço do alimento que a arremetia a um passado cheio de calor e lembranças da cozinha aconchegante dos Blythes, e quando terminou de comer, Anne tocou o rosto dele e disse:

- Obrigada por ser tão bom para mim.

- Obrigado a você por ser um anjo em minha vida.

Um beijo doce selou aquele momento, e ambos se abraçaram, sabendo que dores poderiam existir e tristezas também, porém , eles tinham algo poderoso que nunca deixaria que se perdessem ou desistissem, eles tinham um ao outro.

ANNE

Estavam no meio da manhã naquela quarta-feira de verão, e Anne se encontrava na praça perto do apartamento com John nos braços, enquanto Sarah estava deitada em uma cestinha perto da mãe em seus movimentos inquietos de uma garotinha de quase dois meses. Um vento calmo soprava, bagunçando de leve os cabelos da ruiva, transformando-os em ondas suaves, contrastando com os fios do bebê em seus colo que a olhava com curiosidade, sabendo por instinto que ali estava sua progenitora de olhos azuis como os de sua irmã, sorriso angelical e doce que cantarolava para ele uma canção de ninar que ela vinha repetindo durante todos aqueles dias, desde o seu nascimento.

Anne segurou um cachinho de John nas mãos, e o fitou com um amor maternal maior do que qualquer outro que pudesse sentir, além do sentimento que carregava pelo marido que era igualmente imenso, e continuou a sorrir. Olhar para aquele rostinho tão parecido com ela mesma, que também a encarava com os olhos castanhos do pai a deixava tão emocionada que por vezes acabava em prantos por se dar conta da perfeição que criara junto com Gilbert. Seu amor por ele lhe dera frutos tão lindos que era a única coisa que a tirava de seus momentos de desânimo agora.

Era a primeira vez que saía de casa depois de ter se enclausurado por quase dois meses inteiro dentro do apartamento, porque não tinha vontade de encarar o mundo do lado de fora em suas condições físicas limitadas. Porém, Gilbert a convencera a dar uma chance novamente para a vida a cores que acontecia fora de seu mundo reservado, e ali estava ela se divertindo com seus bebezinhos enquanto o marido corria no Central Park.

Ela não podia negar que respirar o ar puro lhe enchia de uma vitalidade diferente, e olhando ao redor de si podia ver todo o movimento ao seu redor, apesar da calma que pairava no ar àquela hora, onde a cidade de Nova Iorque ainda não estava no seu pico de atividade, ela quase se sentia parte daquilo novamente, mas, ainda assim, preferia o refúgio do seu apartamento onde podia esconder do mundo sua mágoa por não ser mais quem fora durante seus vinte e um anos de vida, que se transformariam em vinte e dois no próximo sábado.

Anne sabia que estava mergulhada em uma onda de autopiedade que não lhe fazia nenhum bem, mas, não conseguia não se revoltar com tudo o que Peter Bells lhe roubara com aquele tiro, e agora tinha que lutar contra uma limitação que a impedia de fazer tudo com o que estava acostumada antes, embora Gilbert tivesse lhe garantido que poderia realizar qualquer coisa que desejasse, porém de uma forma diferente.

A cadeira de rodas continuava no apartamento, e embora Anne detestasse a ideia de utilizá-la, ela tinha cedido algumas vezes de extrema necessidade e se deixado conduzir pela sua "inimiga", como ela costumava se referir ao odiado objeto, pois ela lhe lembrava sua incapacidade de colocar suas pernas para fora da cama todos os dias de manhã, e como ficava arrasada por não poder carregar seus bebezinhos por todo o apartamento como qualquer outra mãe faria.

Ela olhou para Sarah que parecia ter se aquietado naquele momento, enquanto se entretinha como o desenho de uma abelhinha na lateral da cestinha, e depois encarou John novamente que brincava com o botão de sua blusa azul de algodão e sentiu seu coração pesar. Anne tinha feito tantos planos em relação aos pequeninhos, e a maioria deles haviam sido frustrados pelo que acontecera, e embora não desejasse ficar se lamentando pelo leite derramado, ela podia sentir a frustração se agitar em suas entranhas, deixando-a com um gosto estranho na boca. Contudo, ela também não podia deixar de se lembrar das palavras do marido no dia anterior quando dissera que tinham que comemorar o nascimento dos bebês, e isso seria o único sentido que daria para seu aniversário naquele ano, pois essa fora sua única alegria naqueles dois meses em que via seus dois milagres crescerem, e irem aos poucos perdendo sua fragilidade de crianças prematuras.

- Não vejo a hora de levar vocês para Avonlea.- ela disse para um John que a fitava com seu olhar dourado naquele instante. – Vamos conhecer o vovô Matthew e a vovó Marilla, e vocês serão estragados com tanto mimo que eu sei que eles vão dar a vocês. – ela riu das próprias palavras, e depois continuou:- O que acha John? Vai se apaixonar pela fazenda como seu pai? Será que teremos mais um médico no futuro ou um fazendeiro?- Em seguida, ela se virou para Sarah, e a tomou nos braços, pois a menina já começava a dar sinais de impaciência dentro da cestinha. Assim, ela tocou o rostinho da menina com os lábios e perguntou:- E o que temos aqui? Uma futura professora de literatura como a mamãe ou será que também será uma cirurgiã como o papai?

- Eu vou amar o que quer que escolherem como profissão de vida.- Gilbert disse, se sentando ao lado da esposa, e beijando-a na testa.

- Como foi a corrida, amor?.- Anne perguntou, ao olhar para os músculos do marido suados e expostos em uma regata branca, e suspirou. Gilbert parecia mais atraente a cada dia que passava, e mexia com a imaginação dela de um jeito, que às vezes ela mesma ficava chocada com a direção dos seus pensamentos quando estavam assim tão à vontade.

- Revigorante como sempre. E você, como está se sentindo aqui fora?- ele lhe perguntou com seu olhar preocupado que raramente abandonava o rosto dele agora, e Anne pensou com certo pesar, que a culpa era dela. Ela amava o sorriso de Gilbert, porém, ele não sorria tão frequente ultimamente só por causa dela. Anne sabia da responsabilidade que ele continuava a carregar nos ombros, por vê-la ainda sem movimento nas pernas, e por seus picos instáveis de humor por conta disso. No entanto, por mais que ela estivesse sofrendo com o que lhe acontecera, tê-lo salvado era a única coisa em sua vida da qual nunca se arrependeria, pois não haveria um sol para ela se Gilbert não estivesse ali com ela. Ele era seu porto seguro, seu lar para o qual voltaria sempre que as coisas dentro dela estivessem pesadas demais, ele fazia parte de cada átomo do seu corpo, respiração e bater descompassado do seu coração. Seu mundo nunca mais seria o mesmo sem Gilbert Blythe.

- Acho que foi uma boa ideia ter vindo. Estou me sentindo ótima.- ela disse sorrindo, e viu os olhos dele se iluminarem, ao mesmo tempo em que a mão dele afastava uma mecha de cabelo de seu ombro para massagear o local com carinho.

- Adoro te ver sorrindo. Leva qualquer coisa ruim do meu dia embora. Você é o meu paraíso azul, Sra. Blythe.:- o sorriso dela aumentou, e Anne tocou o maxilar dele dizendo:

- Você é tudo para mim, Gil. Nunca se esqueça disso. Eu sei que esses últimos dois meses tem sido um campo de batalha para nós dois, e que boa parte da culpa é minha. No entanto, meu amor por você continua o mesmo, não diminuiu um só milímetro, e arrisco dizer que está maior. Você é um homem incrível, e me faz feliz, mesmo que eu não tenha te deixado saber disso nos últimos dias.

- Eu só queria fazer mais por você, meu amor. Eu me sinto tão impotente vendo você lutar sozinha para voltar a ficar bem. – ele lhe deu um selinho, e Anne encostou sua testa na dele e respondeu:

- Eu não estou lutando sozinha. Você está comigo em todo esse processo. Se não fosse por você, eu nem sei onde eu estaria agora.

- Tudo o que eu quero é que tudo volte a ficar bem, Anne. Eu preciso que você volte a ter fé no que te digo, porque toda vez que sinto que você está a ponto de desistir, é como se eu perdesse mais um pouquinho de você e isso quebra o meu coração.- Anne ouviu assombrada a  confissão de Gilbert. Não podia imaginar que ele estava se sentindo assim, e a sensação de que estava sendo injusta com ele aumentou.

Gilbert estava a seu lado todos os dias de onde não saiu desde que ela voltara do hospital. Ele lhe dava força, a incentivava em tudo, fazia todos os exercícios recomendados pelo fisioterapeuta com ela, e tudo o que tinha feito desde então fora reclamar, e magoar seu marido que via seus esforços em ajudá-la, encontrar uma barreira de autopiedade que devia envergonhá-la. Gilbert merecia mais do que ter a seu lado uma mulher desmotivada e deprimida. Não fora assim que ele a conhecera, não fora com essa mulher pessimista que ele se casara. Gilbert passara pelo inferno como ela, pois a vira à beira da morte e a ponto de perder seus dois cristais, e enfrentava com ela cada uma de suas dificuldades, acreditando mais em Anne que ela mesma. Como podia retribuir tanta dedicação com lágrimas e recriminações pessoais?

- Perdoe-me, meu amor.- ela disse encarando o rosto tão amado que olhou para ela interrogativamente.

- Pelo que, querida?

- Por te fazer passar por toda essa situação . Eu deveria estar agindo com mais otimismo ao invés de despejar sobre você minhas mágoas. Eu confio em você, Gil, com todo o meu coração, e se ainda não desisti dos exercícios e das minhas esperanças é porque seu amor me ajuda a continuar em frente, Obrigada por nunca me abandonar.- Gilbert tocou-lhe todo o rosto com seus dedos, sentindo a adoração dele por ela naquele toque singelo.

- Eu sempre estarei aqui, Anne, porque sou seu marido e eu te amo. O que te prometi naquele altar é meu objetivo de vida, e vou cuidar de você até que esteja bem velhinha e rabugenta.- ele disse rindo, fazendo Anne rir junto.

- Eu não sou rabugenta.

- É sim, só um pouquinho, mas, não tem importância, pois eu te amo exatamente por isso.

- Eu também te amo, Dr. Blythe para sempre.- eles se beijaram com um beijo de amor onde seus sentimentos eram expostos aos quatro ventos, sem que escondessem nada.

- Vamos para casa?- ele perguntou

.- Vamos sim, pois preciso alimentar esses dois bonequinhos aqui.- Anne disse entregando John para Gilbert enquanto ela segurava Sarah em seus braços e se ajeitava na cadeira de rodas que odiava usar, mas que naquele dia se fazia necessária.

- Você também precisa se alimentar, Anne.

- Eu sei, prometo comer todinho o meu almoço se prometer me fazer panquecas de novo hoje à noite.- ela disse com um sorriso maroto.

- Claro que sim. O que não faço por esses olhos azuis lindos?- ele perguntou, olhando-a intensamente.

E assim, foram para casa, enquanto Anne pensava no quanto aquele pequeno passeio lhe fizera bem, e prometera a si mesma repeti-lo em breve ao lado de seu marido lindo, e seu dois bebezinhos adoráveis e em cima das próprias pernas.

GILBERT E ANNE

Vinte e dois anos, Anne pensou naquele sábado especial, observando com atenção no espelho sua tez clara, ainda sem nenhuma linha de expressão, as sardas que sempre foram odiadas por ela em sua adolescência, agora eram vista como um encanto adicional em um rosto que já estampara as capas de revista mais famosas do mundo. Outro mérito de seu marido que de tanto elogiar suas irritantes pintinhas, acabara por fazê-la gostar delas também.

Apoiada no encosto da cadeira para lhe dar a firmeza que suas pernas ainda não tinham, Anne se olhou de corpo inteiro, apenas de lingerie preta como fizera muitas vezes durante sua gravidez, e ficou satisfeita com o que viu. Seu corpo estava de volta a antiga forma esbelta, e apenas suas curvas um pouco mais acentuadas e seus seios mais cheios por conta da amamentação denunciavam que ela carregara em seu ventre por sete meses dois bebezinhos, pois todo o resto continuava exatamente igual.

Apesar de sua jovialidade tão aparente, ela se sentia mais madura por dentro, pois tanto o seu casamento quanto à maternidade lhe deram aquele verniz de mulher que sempre desejara, e que encantava seu marido de muitas maneiras.

Todas as noites ela capturava aquele olhar quente dele sobre ela, lhe declarando explicitamente como ela ainda mexia com a cabeça dele vestida apenas com uma camisola de seda sobre seu corpo esguio, assim como ele ainda lhe provocava todos os tipos de sentimento quando olhava para aqueles músculos firmes em um corpo incrivelmente másculo, mantido com suas corridas e exercícios na academia que tinham no apartamento, provando-lhe que em qualquer tempo ou qualquer lugar, ela sempre seria loucamente apaixonada por seu marido.

A vida íntima dos dois ainda não tinha voltado a ativa de antes, pois estavam esperando que a lesão de suas costas causada pela bala disparada por Peter Bells fosse declarada por exames que estava completamente cicatrizada, portanto até lá Gilbert não queria correr nenhum risco. Mas, isso não impedia que trocassem carícias quentes e ousadas na hora do banho, no sofá da sala ou mesmo no quarto de hóspedes para onde Gilbert a levava quando a paixão deles chegava a um ponto em que não conseguiam resistir um ao outro, porque Anne não se sentia confortável fazendo isso com seus bebezinhos dormindo no mesmo quarto que eles, embora tivesse acontecido uma vez quando Gilbert quisera lhe provar que ela ainda era uma mulher completa apesar de sua lesão, e assim, eles iam contornando sua sede um do outro por meio de carícias que não os deixavam completamente satisfeitos, mas que pelo menos não os deixavam totalmente carentes um do outro.

- Que mulher linda.- ela ouviu Gilbert dizer assim que ele entrou no quarto, a abraçou pela cintura, e deixou um beijo molhado em seu pescoço.

- Obrigada, meu amor. Mas, ainda não se cansou de olhar para mim depois de tanto tempo de convivência?- seu olhar se encontrou com o de Gilbert, e o que ela viu lá dentro foi uma chama tão intensa que a deixou tão quente quanto ele quando seu marido respondeu:

- Podem-se passar cinquenta anos , e vou continuar te achando a mulher mais linda do mundo. – com a ajuda de Gilbert ela virou-se de frente, e trocaram um daqueles beijos que Anne sabia para onde os levaria, se não tivessem o autocontrole necessário para o desejo que sempre gritava em seus corpos em momentos assim.

As mãos de Gilbert em sua cintura foram parar em seus quadris, e por fim desceram para seu bumbum, onde ele acariciou com vigor sobre sua calcinha de renda, apertando-o de vez em quando contra o próprio corpo. Ela arfou, e Gilbert desceu os lábios pelo seu pescoço, parando atrás da orelha de Anne, arrancando-lhe vários suspirou quando brincou com a língua naquele ponto, fazendo com que ela apertasse o ombro dele com força, tentando conter os arrepios que subiam por seu corpo em ondas excitantes. Então, Gilbert se afastou dela ofegante, e disse:

- O aniversário é seu, e eu é que ganho esse presente incrível.- ele disse olhando-a da cabeça aos pés.

- Você também é um presente e tanto, Dr. Blythe, com o qual tenho o prazer de acordar e conviver todos os dias.- ela disse, seguindo com os dedos a linha do maxilar dele.

- Feliz Aniversário, meu amor. Como se sente aos vinte dois anos?

- Esplêndida, meu marido. Principalmente por ter você a meu lado nesse sábado ensolarado. – Anne disse com um sorriso.

- Você viu que céu incrível temos lá fora? Tão azul quanto seus olhos maravilhosos .- Gilbert disse, mergulhando seu olhar no azul oceano de sua mulher que eram tão parecidos com os de Sarah, e faziam seu coração pulsar tão forte quanto à primeira vez que os tinha visto.

- Que honra, Dr. Blythe. Você tem sempre poesia em suas palavras.- Ela viu os lábios dele se curvarem em um imenso sorriso, e prendeu a respiração por um segundo ao olhar para aquele rosto maravilhoso.

- Você é uma poesia inteira, meu amor. Da cabeça aos pés.- Gilbert a beijou de novo, mas desta vez ele teve o cuidado de não deixá-la próxima dele demais , ou acabariam na mesma situação que antes, e do jeito que sentia falta dela, era melhor não arriscar sua sanidade mental.

- Quero que se arrume hoje à noite, pois vou te levar para passear.- ele disse quando se separaram.

- Eu achei que tínhamos combinado de não fazermos nada esse ano no meu aniversário – Anne disse, vestido um robe por cima da lingerie com a ajuda de Gilbert.

- Não é nada demais. Eu só não quero que o aniversário de minha esposa passe em branco.- ele disse , levando-a até a cama em seus braços. Anne ia dizer que não estava com vontade de sair, mas, ao ver o marido tão animado com a ideia de saírem juntos, ela não teve coragem de dizer não.

- Está bem, se faz tanta questão. Mas, e os nossos bebês? Não quero deixá-los com uma babá estranha que não está acostumada com os hábitos deles.- na verdade, ela odiava a ideia de se afastar de suas duas joias por um minuto sequer, depois de passar dois meses inteiros cuidando deles a cada minuto do seu dia.

- Não se preocupe. Eu pedi a Norma que ficasse com eles esse sábado e ela concordou.- ele respondeu feliz por ela ter aceitado, pois estava preparando uma surpresa que esperava que fosse inesquecível, pois Anne merecia por conta de tudo o que sofrera naquele ano, e em especial nos últimos dois meses.

- Parece que já tem tudo preparado.- Anne disse olhando-o de maneira séria como se esperasse por uma explicação mais detalhada do que ele tinha em mente, mas, Gilbert não lhe diria, pois tinha tudo planejado para aquela noite.

- Mais ou menos. Só quero que tenha uma noite linda como merece.

- Eu teria uma noite linda aqui em casa, com você e nossos bebês. – ela disse abraçando-a pelo pescoço, enquanto Gilbert continuava com o sorriso enigmático em seu rosto que lhe dizia que ele estava lhe escondendo alguma coisa. Anne conhecia bastante seu marido para saber que quando ele o olhava com aquela expressão toda compenetrada, havia mais do que ele estava lhe contando. Mas, ela resolveu deixar que o mistério continuasse até quando Gilbert resolvesse contar-lhe o que de fato tinha preparado.

- Não tente pular fora agora. Você já aceitou.- ele disse jogando a cabeça de lado, e depois lhe dando um sorriso preguiçoso que fez Anne jogar seus cabelos para trás e dizer:

- Fique sossegado que vou me submeter a essa armadilha que me preparou, Dr. Blythe, já que não tenho como escapar de suas mãos.- ela viu o semblante de Gilbert se encher de malícia quando ele perguntou:

- Tem certeza que quer escapar de minhas mãos?

- Não seja descarado, Dr. Blythe. Você me entendeu.- Anne disse. empurrando o peito dele de leve, que segurou sua mão e beijou-a suavemente enquanto respondia:

- Estou brincando, amor. Vou cuidar dos bebês enquanto descansa, está bem?- ele se levantou e foi até o bercinho onde John e Sarah já estavam acordados, e os tomou nos braços com todo o carinho paternal que existia dentro dele. Anne ainda não tinha se acostumado a esse tipo de cena, e sempre ficava emocionada com a maneira como seu marido cuidava dos pequeninos, e como seus bebezinhos embora fossem muito pequenos, já tinham aquele olhar de adoração que Anne costumava ver no rosto das pessoas que conheciam Gilbert, fossem seus pacientes ou amigos. A verdade era que Gilbert tinha um jeito com as pessoas que o tornava especial a todas elas, inclusive aos seus filhos que ainda estavam aprendendo a entender a importância que aquele rapaz sorridente tinha em suas vidas.

Logo que ele saiu do quarto, Anne resolveu seguir o conselho de Gilbert e descansar por algumas horas, pois a medicação que ainda tinha que tomar por conta de sua lesão ainda a deixava sonolenta e sem energia. Quando pareceu que tinha apenas fechado os olhos, Anne acabou acordando com os raios solares que em determinados momentos mudavam de posição, atravessavam as fretas da janela cuidadosamente fechada, e acabavam atingindo em cheio o lado da cama que ela dormia.

Anne estava pronta para reclamar dessa inconveniência quando seus olhos alcançaram o relógio em cima do criado mudo, e a fez exclamar de surpresa ao perceber que tinha dormido por quatros horas seguidas. Ansiosa porque a hora de amamentação dos bebês tinha passado, Anne chamou por Gilbert que veio imediatamente ao som de sua voz, quase como se tivesse mola nos pés.

- Acordou, querida?

- Por que me deixou dormir tanto? Eu deveria ter amamentado os bebês a uma hora atrás.- ela disse de maneira agitada.

- Fique calma, meu amor. Eu já os amamentei. Você esqueceu que deixa seu leite materno guardado na geladeira em garrafinhas para justamente esses inconvenientes? John e Sarah estão devidamente alimentados.

- Obrigada, meu amor. Você sabe o quanto fico aflita quando não posso alimentá-los no horário certo. Não quero atrapalhar as funções metabólicas deles.- Anne disse com sua expressão facial nitidamente aliviada.

- Está tudo sob controle. Antes que eu me esqueça, Matthew te ligou a uma hora atrás e pediu que você retornasse a ligação assim que possível.- Gilbert disse, entregando-lhe o celular que ela havia esquecido na mesinha da sala.

- Você não contou a ele, não é?- ela perguntou preocupada.

- É claro que não, querida. Ele sabe sobre os bebês terem nascido prematuros, mas não falei em que circunstâncias nasceram.- Gilbert a tranquilizou.

- Eu quero manter essa história assim até que eu possa andar, e ir visitá-los pessoalmente. O coração de Matthew não é tão forte e não quero preocupá-lo ou a Marilla com minha situação. É bem capaz dele pegar o primeiro voo para Nova Iorque se souber o que aconteceu.- Anne disse, discando o número de Green Gables.

- Consegue imaginar Matthew em um avião?- Gilbert disse rindo ao pensar no pai adotivo de Anne com uma mala na mão no aeroporto de Avonlea.

- Não, mas também não descarto a ideia, já que Matthew é imprevisível.- um barulho se fez ouvir do outro lado da linha e a voz inconfundível de Matthew chegou até ela fazendo Anne sorrir.

- Alô, Matthew. É a Anne.

- Oi, meu amor. Que saudades. Quando vai vir nos visitar com as duas perolazinhas?

- Matthew, eu ainda não posso viajar por conta das minhas condições físicas. Gilbert deve ter lhe explicado.

- Sim, ele disse que os bebês nasceram prematuros por causa de sua anemia, e que você ainda está muito fraca e precisará de alguns meses para se recuperar.- Anne suspirou descontente. Não gostava de mentir para seu pai adotivo, mas, era o melhor naquela situação. Matthew ficaria com o coração partido se a visse inválida em uma cama, mesmo que fosse temporariamente.

- Sinto muito, Matthew. Eu sei o quanto você e Marilla estão ansiosos para conhecer os bebês.

- Não sinta, meu amor. Sua saúde vem em primeiro lugar. E não se preocupe. Eu e Marilla já os conhecemos. Gilbert nos manda um vídeo deles todas as semanas pelo celular da minha irmã. Eles são tão lindos, querida. Tão parecidos com você e Gilbert. John Blythe ficaria encantado de conhecer essas duas joias raras.- enquanto Matthew falava, Anne não podia deixar de sorrir ao saber o que Gilbert tinha feito. Seu marido sempre pensava em tudo.

- Obrigada, Matthew. A Marilla está por aí?

- Não, ela precisou sair para ajudar uma amiga que está doente. Mas,o meu telefonema é para te desejar um feliz aniversário meu amor, e essas palavras são também de Marilla.

- Muito obrigada, Matthew. Prometo que vou tentar melhorar logo para ir te visitar.- Anne respondeu, passando a mão pelo rosto onde uma lágrima rolara de saudade do seu amigo mais querido e tudo o que se relacionava com Green Gables.

- Fique tranquila, minha menina. Preocupe-se em ficar forte de novo. Bem , preciso desligar. Até breve.

- Até breve, Matthew.- Anne disse, desligando o telefone com o coração pesaroso, mas feliz.

Momentos depois, Gilbert veio buscá-la para almoçarem juntos, e depois passaram o resto do dia na companhia um do outro e dos bebês, que estavam começando a criar gosto pelas brincadeiras que Gilbert fazia com eles. Quando a noite finalmente chegou, Anne estava ansiosa por não saber o que Gilbert planejara, e por isso, tentou arrancar alguma informação dele que não a deixasse tão a esmo a respeito do que fariam, mas, Gilbert manteve o mistério dizendo:

- Anjo, não se preocupe. Apenas fique linda e deixe o resto comigo.

Assim, Anne se limitou a se preparar para aquela noite da melhor forma que conseguiu, embora seu coração batesse forte em expectativa. Gilbert conseguira contagiá-la com sua animação e bom humor a respeito daquela noite, e a ruivinha já se via ansiosa para descobrir logo o teor da surpresa de seu esposo.

Como não sabia bem o que vestir, ela escolheu um vestido estampado de verão de mangas cavadas e decote canoa, de comprimento médio e que valorizava suas curvas. Como acessório, ela usou um conjunto de brincos e colar de pérolas, e os cabelos, ela os arrumou em uma trança única e elegante. A maquiagem foi leve, apenas um batom dourado e sombra azul para realçar seus olhos, e por último, ela colocou duas gotinhas de seu perfume favorito atrás da orelha.

Quando Gilbert apareceu no quarto para buscá-la, o olhar que ele lhe lançou já revelou a Anne tudo o que ele pensava sobre sua aparência, e assim que ele a pegou no colo, seu marido disse;

- Maravilhosa. Você está iluminada essa noite.

- Obrigada, meu amor. Eu me arrumei assim só para você.- ela disse aspirando o perfume de Gilbert. Céus! Como seu marido era cheiroso. Gilbert usava três tipos de colônia que ela adorava, mas aquela de Giorgio Armani que ele comprara recentemente era a definição exata do que seu marido era: forte envolvente e sexy.

Ele a carregou até a sala, e a colocou sentada no sofá, enquanto lhe entregava uma caixa enfeitada com laços e fitas vermelhas.

- Eu pensei em um presente apropriado para você nessa nova fase, e não consegui imaginar algo mais perfeito que esse que está aí nessa caixa. Espero que goste, meu amor. Não é nenhuma joia, ou perfume caro, mas tem um significado imenso para nós dois.- Anne pegou o presente em suas mãos com os olhos brilhando, e quando o abriu e viu o que havia dentro, ela olhou para Gilbert com o sorriso mais feliz que ele vira em todos aqueles dias , e disse:

- Um álbum, meu amor. Que perfeito! – Conforme, ela ia folheando as páginas, Anne viu que já havia várias fotos dos gêmeos, com as datas todas organizadas na caligrafia forte de Gilbert desde o nascimento deles até última semana em que estiveram no parque.- Isso é uma preciosidade, Gil. Muito obrigada. Nenhuma joia seria mais valiosa que isso.

- Que bom que gostou, querida. Agora você pode continuar o álbum registrando você mesma cada momento dos nossos cristaizinhos.- ele disse, segurando na mão dela com carinho.

-É o que farei.- ela concordou.

- Está na hora de irmos. Vou pedir a Norma que traga John e Sarah para que você se despeça deles.- Gilbert disse, indo atrás da enfermeira que cuidaria dos bebês naquela noite, e logo voltou com ela que trazia seus bebês nos braços já banhados e prontos para dormir. Ao pensar em se afastar deles mesmo que por poucas horas, o coração de Anne se apertou, e teve que dizer a si mesmo que ficaria fora por pouco tempo, e logo estaria de volta para velar o sono deles como fazia todas as noites.

Quando entraram no carro, Gilbert viu seu olhar triste, ele disse:

- Não fique assim, meu amor. Eles ficarão bem com Norma. Vamos curtir essa noite juntos que é tão especial para você.

- Desculpe-me. É a primeira vez que me separo deles, e é difícil desapegar depois de dois meses tendo-os em meus braços todo o tempo.- Anne respondeu, tentando sorrir sem muito sucesso.

- É natural, meu amor. Mas logo vai estar com eles de novo.- Anne assentiu, e ficou muito quieta com seus pensamentos a todo momento voltando para os bebês que ficaram com Norma no apartamento. Quando se deu conta, Gilbert já estava estacionando o carro, e ao ver onde estavam, ela o olhou surpresa e disse:

- Esse é o mesmo restaurante que você me trouxe quando descobrimos que teríamos gêmeos.

- Sim.- Gilbert disse todo sorridente.

- Amor, Como vamos entrar, se não consigo caminhar até lá?- Anne disse preocupada. Ela realmente não imaginara que Gilbert a traria em um lugar público, e só de imaginar quantas pessoas haviam ali dentro, Anne começava a sentir calafrios.

- Não se preocupe.- Gilbert respondeu, ajudando-a tirar o cinto de segurança, e abrindo a porta para ela. – Eu te carrego até lá.

- Você ficou maluco, Gil? Todo mundo vai ficar olhando.- Anne disse espantada com as palavras do marido.

- Não as pessoas que estão ali dentro e que são suas amigas. A propósito, eu reservei o restaurante todo somente para o seu aniversário.- ele disse com um sorriso ladino que deixou Anne mais espantada ainda.

- Você fez o que?

- Isso mesmo que você ouviu.

- Isso deve ter te custado uma fortuna.- Anne disse balançando a cabeça incrédula.

- Na verdade, não me custou um centavo. O Dr. Phillips é amigo do dono daqui, e quis te dar esse presente, quando me ouviu conversando com o Daniel sobre o que eu desejava fazer. Eu sei que você não se sentiria bem no meio de pessoas estranhas nessas condições em que se encontra, por isso tive essa ideia.

- Eu nem vou te falar o quanto você é incrível, pois a essa altura você já sabe pelo tanto de vezes que já disse isso.- Anne estava simplesmente encantada pelo homem singular que tinha a seu lado. Só ele mesmo para pensar em algo tão original, colocando a autoestima dela em primeiro lugar.

- Você é que é incrível, só tem que voltar a acreditar nisso.

Deste modo, ele a tomou nos braços, sem nenhum protesto de Anne que estava adorando ser carregada daquele jeito pelo homem que amava enquanto todas as estrelas do céu brilhavam acima de suas cabeças.

Ao entrarem no restaurante, eles foram aplaudidos por todos os amigos ali presentes, fazendo Anne corar de prazer por uma recepção tão calorosa. Então, Gilbert a levou para uma mesa onde Daniel e Gabriela estavam onde permaneceram boa parte da noite. Antes do bolo ser cortado, Gilbert caminhou para o palco onde havia o karaoque da outra vez , pegou o microfone e disse;

- Bem, essa é a segunda vez que venho até aqui falar da mulher da minha vida. A primeira foi quando ela estava grávida de nossos filhos gêmeos, e agora que eles nasceram, eu quero reafirmar o quão maravilhosa ela é, e como eu a amo com toda a minha alma.- ele se virou diretamente para Anne que o olhava quase que hipnotizada e recomeçou seu discurso apaixonado:- Querida, eu sei o quanto esse momento tem sido difícil para você, e que muitas vezes você pensa que não vai conseguir superá-lo, mas, eu sei que vai, porque dentro desse seu coração tem tanto amor pela vida, e agora por nossos filhos que não permite que desista. Você tem sido minha alegria, Anne. Desde que nos conhecemos ainda tão jovens, eu sempre soube da importância que você teria em minha vida, por isso, eu quero te dizer que cada minuto que passamos juntos é precioso e único, e não importa o que tivermos que passar, vamos conseguir chegar do outro lado inteiros, porque você vive em mim como eu vivo em você, e é isso que torna o nosso amor tão perfeito. Feliz aniversário, meu amor, e que mais anos venham para que possamos comemorá-los juntos.

Assim, a música The way I love you da banda Passenger começou a tocar, e Gilbert caminhou até Anne .cantando cada linha, deixando-a ainda mais emocionada, e chorando feito uma criança.

How many times can I tell you
You're lovely just the way you are

Don't let the world come and change you
Don't let life break your heart

Don't put on their masks
Don't wear their disguise
Don't let them take the light that shines in your eyes

If only you could love yourself the way that I love you

How many times can I say
You don't have to change a thing

Don't let the time wash you away
Don't let worry ever clip your wings

Discard what is fake
Keep what is real
Persue what you love
Embrace how you feel

If only you could love yourself the way that I love you

And if you ever chose a road that leads nowhere
All alone
And you can't see right from wrong

And if you ever lose yourself out there
Just come home
And I'll sing you this song

How many times can I tell you
You're lovely just the way you are

Don't let the world come and change it
Don't let life break your heart

Quantas vezes posso lhe dizer
Você é encantadora do jeito que é

Não deixe o mundo vir e mudar isso
Não deixe a vida quebrar seu coração

Não coloque as máscaras deles
Não use o disfarce deles
Não deixe que eles tomem a luz que brilha em seus olhos

Se você pudesse se amar do jeito que eu te amo

Quantas vezes posso dizer
Você não precisa mudar nada

Não deixe o tempo te levar embora
Não deixe a preocupação podar suas asas

Descarte o que é falso
Mantenha o que é real
Persiga o que você ama
Abrace como você se sente

Se você pudesse se amar do jeito que eu te amo

E se você já escolher uma estrada que não leve a lugar nenhum
Sozinha
E você não pode ver o certo do errado

E se você se perder por aí
Apenas volte para casa
E eu vou cantar essa canção pra você

Quantas vezes posso lhe dizer
Você é encantadora do jeito que é

Não deixe o mundo vir e mudar isso
Não deixe a vida quebrar seu coração

Quando Gilbert terminou de cantar, ele estava parado na frente de Anne, e se inclinou para enxugar o rosto dela que naquele instante estava completamente banhado de lágrimas, e disse beijando-a de leve nos lábios:

- Por favor, meu amor, não chora. Eu quero apenas ver você sorrindo essa noite.

- Estou chorando, porque estou feliz. Amei a surpresa, meu amor.

- Então, vem dançar comigo?- ele convidou, estendendo-lhe a mão.

- Mas, eu não posso dançar. Você se esqueceu?- ela disse em um sussurro.

- É claro que pode, querida. Esta noite você pode qualquer coisa.- ele tirou-lhe os sapatos, e depois a pegou com cuidado e a colocou sobre os seus pés, e começou a se mover devagar ao som da música Photograph de Ed Sheeran.- Está vendo? Estamos dançando.

Anne não respondeu, e apenas enlaçou o pescoço de seu marido, encarando aqueles olhos que mais pareciam um mar de mel, enquanto rodopiavam lentamente pelo salão, e ela desejou que aquela noite nunca acabasse, e que pudessem ficar presos naquela doce magia para sempre.

Tam

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