SALVA PELO CHEFE (COMPLETO)

By rivanialima

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*Ainda não seu sei manterei essa capa, mas gostei, então vou mantê-la por enquanto.* + Vou voltar a postar al... More

AVISOS
PRÓLOGO
SINOPSE 2
A FOTO
FURIOSO
INCOMPETENTE?
O BEIJO
PEQUENO ESCLARECIMENTO
A DESCOBERTA
DAVI
FEVER
SEM CONTROLE
O DIA SEGUINTE
CALLEB?
[CORREÇÃO DE CAP.]QUASE UMA NOVELA E UM BEBÊ
[CORREÇÃO DE CAP.] FAÍSCA
O APAGÃO
CONFISSÃO
UMA 'QUENTE' NOITE DE CHUVA
I'M BACK
UMA SENSAÇÃO RUIM
MENSAGENS
PÉSSIMA MENTIROSA
A REUNIÃO
Correção (n é capitulo)
QUEM É B?
ESTOPIM
SEMI NU E COM TESÃO
DAVI
MARCAS
NÃO HÁ COISA ALGUMA... não pode haver...
FUGINDO
O BAILE parte I: Preparativos
ODEIO VOCÊ
O BAILE: preparativos parte II
DAVI
UMA DANÇA E UM BADBOY
MEU BALSAMO?
SITUAÇÃO DIFÍCIL
UM POUCO DE DIVERSÃO
DANÇA COMIGO AGORA?
O BAILE parte II: Escandalos
SEM PERGUNTAS
NÃO VOU DESISTIR
AT LAST
CONVERSA INTERESSANTE
Água ou Fogo?
AMOR OU MEDO?
[CORREÇÃO] A LIGAÇÃO
[CORREÇÃO] MELHOR REMÉDIO
QUEM ESTÁ FALANDO EM AMOR?
ENCONTRO MARCADO
AGENTE DUPLO?
ADIAMENTO (NÃO É CAPITULO)
VAMOS COMPENSAR ISSO, ENTÃO!
B de BENNET
NÃO QUERO QUE VÁ EMBORA
NÃO QUERO SER DE MAIS NINGUÉM
ESCLARECIMENTOS
CONFIDENCIAL
INUTILIDADE
Pequenissímo aviso
Seria covardia de minha parte?
Algumas informações... importantes
UMA CONVERSA COM MARIA
NÃO É CAPITULO
TROCA DE E-MAILS
EU O AMO
EU A QUERO
HAUNT
EXPERIÊNCIA
MAIS ERROS QUE ACERTOS
FOI A TEQUILA
SINTO MUITO: parte I
SINTO MUITO parte II
RESULTADOS DEVASTADORES
Clichês
CONVERSA NO ESCURO
DECISÃO MENOS ERRADA
HEREDITÁRIO
Ele é meu
RECONCILIAÇÃO
TROCA DE INFORMAÇÕES
CORRESPONDÊNCIA
NAMORADA
INSIGHT
BAILARINAS
CONVITE À AMEAÇAS
TRANSAÇÕES
DEDO NO GATILHO
INTERROGATÓRIO
LONDRES
REVELAÇÕES parte I
DOMINGO DECISIVO
FLÓRIDA
PRECISO FAZER SOZINHA
LIBERTAÇÃO
REVELAÇÕES parte II
UM ENCONTRO DE VERDADE
PEDIDO DECENTE
EPÍLOGO
BÔNUS
Bônus 2
LIVRO POSTADO

CÂMERAS DE SEGURANÇA

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By rivanialima

Esse capítulo é bem grandinho mesmo, não deu pra dividir, então deixei assim. É isso.

***____***____***____***


 'Davi'

Quinta-feira e todos provavelmente já foram embora enquanto eu fico aqui em minha sala tentando ocupar minha mente com trabalho... três dias e eu ainda não me livrei daquele relatório, mas também não consigo lê-lo... Dois longos e malditos dias sem vê-la! Christina me obrigou a dar esse espaço a Angela, mas eu sei que ela está certa, mas não consegui me impedir de ligar para ela para ser totalmente ignorado em todas as vezes

Fui até seu prédio por não ser capaz de ficar tanto tempo longe... eu lutei comigo mesmo para não tentar subir e falar com ela novamente e dizer todas as coisas que eu queria, mesmo que não fizessem sentido nenhum, mas eu não podia pressioná-la, como Christina disse, com Angela não funciona assim, mas estou cada vez mais impaciente... eu sinto falta de tê-la por perto e saber que ela não está atrás daquela porta do outro lado da sala, só me deixa ainda mais irritado e frustrado! Isso está ficando cada vez mais insano...

– Ei, Davi! – diz Mike entrando em minha sala sem nem ao menos bater me fazendo fechar minha gaveta com força. Eu tenho que me livrar dessa foto, eu realmente não sei por que a mantenho comigo! Certo, talvez eu a mantenha realmente para me fazer lembrar do porque eu não queria, não podia e principalmente não merecia ter mais ninguém em minha vida... e talvez, só talvez, eu estivesse olhando para ela procurando alguma direção, alguma pista do que o que estou fazendo com Angela sobre não desistir, seja a coisa certa. – você parece acabado! – diz Mike se sentando na cadeira em frente a minha mesa, eu solto um suspiro cansado passando as mãos por meu rosto e subindo até os cabelos antes de erguer meus olhos para ele, Mike balança a cabeça ao ver meu rosto e fazendo uma careta, assoviou – já tentou falar com ela? – pergunta me olhando com receio e até um pouco de pena pelo que percebi, fechei minha cara para ele me encostando em minha cadeira.

Eu não precisei contar nada a Mike para que ele soubesse de algum jeito o que havia acontecido, bom ele não sabia sobre o relatório, nossa mãe manteve isso apenas entre nós, mas Mike assim que soube sobre Homeo, soube também das outras coisas. E eu também não precisei contar tudo o que houve entre Angela e eu para que ele soubesse, na verdade Mike sempre desconfiou de minha implicância com Winey e ele é esperto demais para simplesmente não perceber quando as coisas meio que mudaram entre ela e eu e também ele ter visto a marca que Angela havia deixado em mim ajudou bastante em suas deduções.

– Já! – digo um pouco frio e rude – mas ela me ignorou e só fala comigo pelo e-mail da empresa e sobre trabalho. – digo olhando automaticamente para a caixa de e-mail aberta na tela de meu computador só para ver se ela havia mandando qualquer outra coisa, mas não havia nada, pelo menos não de Angela.

– É, ela odeia você... – diz Mike se encostando em sua cadeira levando as duas mãos atrás da cabeça e esticando as pernas a sua frente com um sorrisinho sacana, o fuzilo com meu melhor olhar matador e apesar de ter se encolhido um pouco, não perdeu a pose. – Homeo apareceu outra vez como disse que faria? – pergunta um pouco mais sério.

– Não, ainda não, mas de qualquer forma eu tenho que falar com ela, resolver as coisas...

– Mandá-la para a puta que pariu. – diz me interrompendo como se acrescentasse seriamente uma coisa a minha pequena lista, não consegui segurar o riso, foi curto e fraco, mas eu ri e fiz um pouco mais quando Mike se manteve sério arqueando uma sobrancelha para mim como se perguntasse qual a graça – você sabe que aquela mulher é o dobro da megera nojenta caça dotes que a Jessica é, não sabe? – pergunta se endireitando e me encarando seriamente o que é um pouco raro em Mike e isso só me fez sorrir um pouco mais largo.

– Sim, Mike... eu sei exatamente o tipo de mulher que Cassidy é...

– Então você não vai deixar uma mulher como a Ange escapar pra ter uma mulher como Cassidy pendurada em você, não é? – pergunta se inclinando sobre minha mesa estreitando seus olhos azuis para mim.

Em um primeiro momento eu fiquei em choque. Depois eu não conseguia acreditar no que Mike estava me dizendo, quero dizer, Mike é o tipo de cara que não gosta de compromissos, bom eu tinha meus próprios motivos para manter as mulheres em minha cama e longe da minha vida, mas Mike... acho que ele é apenas um homem que define perfeitamente o clichê 'ame-as e deixei-as', por simplesmente querer aproveitar o melhor de cada mulher e ele queria isso para todos os homens e se negava a deixar que eu entrasse em qualquer relacionamento já que Isaac já havia tombado na guerra contra os relacionamentos (pelo menos até o último fim de semana).

Agora aqui está ele, mesmo com raiva por Ange ter acabado com seu encontro com uma das pouquíssimas mulheres com quem ele mantinha contato por mais de uma vez, dizendo pra que eu não a deixasse escapar...!? Minha expressão de surpresa e espanto deve ter o feito perceber o que havia dito, porque ficou aparentemente desconfortável e limpou a garganta antes de voltar a encostar em sua cadeira.

– Bem... você sabe... se for pra se amarrar que, pelo menos, valha muito a pena. – diz quase como um murmúrio e quase não fui capaz de entender o que dizia, eu tentei não demonstrar o estremecimento que passou por meu corpo com a palavra 'amarrar', já que vários pensamentos sobre o que essa palavra pode significar e com Ange no meio passou pela minha mente... bem eu precisei me ajeitar em minha cadeira sendo minha vez de ficar desconfortável, não só pela imagem incrivelmente erótica na minha cabeça, mas também pela ideia de... me amarrar... eu sei que disse a Ange que eu a queria pelo tempo em que eu vivesse, mas nunca cheguei tão longe... mas que se dane, não me importaria nenhum pouco em me amarrar de todas as maneiras em Angela, a ideia na verdade me sentir realmente livre e esse sentimento me faz abrir um pequeno sorriso... Quando olho para Mike ele está com um pequeno sorriso no canto da boca também e... Ah não! Ele também!? Qual é dessa expressão toda cheia de mistérios?

– Então Winey vale muito a pena? – pergunto um pouco sarcástico eu diria, Mike apenas alarga seu sorriso deixando-o com aquela cara de moleque sacana que ele tem.

– Você sabe que vale. – diz me oferecendo uma piscada, mas eu podia ver o quanto ele estava sendo absolutamente sincero e apesar do ar sacana, ele não estava falando apenas em sexo aqui... ele admirava Angela, assim como eu.

– Sim, eu sei... – digo abrindo mais um pequeno sorriso pensando no sorriso doce que ela tem, pensando em como mesmo com os problemas que tem, ela não abandona a empresa, não deixa o trabalho e mesmo querendo acreditar que é por minha causa, eu sei que ela admira meu pai, eu sei que ela respeita muito a família Parker e a minha para abandonar o barco quando ele está passando por uma tormenta, eu nunca acreditei realmente que ela estivesse envolvida com toda essa merda... minha Ange é corajosa!

E ela fica tão linda quando está irritada e ainda mais linda quando está envolvida no trabalho e fica toda concentrada mexendo no cabelo ou com aquela expressão profissional que a deixa tão... deslumbrante de um jeito todo dela, eu gosto de observá-la quando está envolvida no trabalho porque ela sempre me surpreende em como consegue cuidar de tudo e andar por ai como se ela fosse a chefe e não eu e isso só consegue me deixar ainda mais louco por ela.

Mas se fosse escolher quando mais gosto de observá-la, é quando Angela fica perdida demais no prazer para saber que diz para mim o quanto gosta do meu perfume, da minha voz... de como gosta como nossos corpos se encaixam... eu tenho aqui comigo que ela realmente nunca notou que diz essas coisas para mim e o quanto me deixa louco quando as diz e como me faz querer que nunca acabe só para ter pra sempre a imagem de seu rosto quando estou dentro dela e quando alcança seu clímax... a forma como diz meu nome, a forma como seu rosto a faz parecer ainda mais com um anjo... a forma como seu corpo fica quente e relaxado contra o meu e como cabe perfeitamente dentro dos meus braços é simplesmente a coisa mais linda e excitante que eu já vi e senti em toda minha vida e me faz perceber o como eu não sou mais capaz de viver sem tê-la comigo, mas eu sei que não é só pelo sexo... nunca foi! É pura e simplesmente por ela... tudo nela!

– Eu sei! – repito para mim mesmo dessa vez.

*******

'Ange'

Devia ser umas sete horas da manhã de sexta-feira e eu estava me olhando no espelho de corpo inteiro próximo ao meu guarda-roupa. Vestido preto, manga longa sem nenhum grande decote, mas com duas fileiras de botões dourados na frente e nas mangas como detalhes, e tinha a barra um pouco rodada e ficava um pouco acima do joelho, botas cuissardes pretas com um bom salto e um sobretudo vermelho e um cachecol branco... por baixo um conjunto de cinta liga preto como as meias que Chris insistiu que eu usasse... na verdade foi ela quem me produziu toda, ela até me convenceu a fazer alguma escova em meu cabelo para deixá-lo com menos ondas nas pontas e usasse meu batom vermelho sangue, eu achei tudo um pouco exagerado... ela está um pouco estranha pra falar a verdade, nesses últimos dois dias em que fiquei em casa, mas trabalhando de alguma forma, Chris parece... elétrica com alguma coisa, ela se nega a me dizer o motivo.

– Eu devia por calças, está frio lá fora. – digo girando um pouco o corpo vendo como os saltos finos da bota realmente levantavam minha bunda.

– Por isso o vestido de mangas longas e as botas. – diz Chris ainda de pijamas mexendo em meu notebook sentada sobre minha cama com as pernas cruzadas como os índios, ela revisava o e-mail que eu estava mandando para Davi e os outros para fazer uma reunião de emergência logo de manhã, eu queria falar sobre Lucy e o que Holly me contou.

Eu revirei os olhos para ela e voltei a me encarar no espelho. Eu me sentia de alguma forma diferente, desde que Davi esteve aqui na última vez eu passei esse dois dias o ignorando quando tentava falar comigo sem que fossem assuntos da empresa e tentando entender como e quando foi que fiquei completamente insana e realmente me apaixonei por ele... mas descobri que não tinha uma data ou um momento exato, então podia ser desde o primeiro dia em que o vi ou na praia no último fim de semana... mas esse nem era o maior problema aqui.

O problema é: e agora? O que vou fazer com isso? Já não posso ignorá-lo e estou surpresa que ainda não tenha perdido minha mente em nenhum momento ao pensar sobre o que eu sinto por Davi, na verdade aconteceu totalmente o contrário, saber que o... amo e admitir isso a mim mesma só parecei tirar um peso enorme dos meus ombros!

Mas isso também não quer dizer nada, porque eu acho melhor não fazer nada em relação a isso, só vou continuar indo até toda essa merda na empresa acabar e eu então vou embora! Talvez eu faça Davi me pagar pelo que fez durante esse tempo, o pensamento me fez abrir um pequeno sorriso e meus olhos pareceram se ascender um pouco mais e olho-me de cima a baixo no espelho pensando que talvez eu deva dar a Davi o mesmo castigo que me deu quando estive em seu apartamento depois do meu jantar com Bennet, mas dessa vez não vou ceder a ele, estarei pronta e com meus sentimentos sob controle... meu sorriso se alarga em meu rosto.

– Uau... que sorriso perverso é esse? Está me assustando. – diz Chris aparecendo atrás de mim no espelho sorrindo apesar das sobrancelhas um pouco franzidas.

– Nada. – respondo dando de ombros e alisando meu casaco me viro para encará-la, Chris arqueia uma sobrancelha, cética e até coloca uma mão em seu quadril.

– Você está planejando alguma coisa malvada. – afirma estreitando seus olhos acinzentados para mim e abrindo um pouco mais seu sorriso quando ergo as sobrancelhas tentando parecer surpresa e completamente inocente, até levo minhas mãos até o peito.

– Eu? Não estou planejando nada. – digo desviando dela para acariciar Vince ainda deitado em minha cama e procurar minha bolsa, porque eu não me lembro onde acabei de deixá-la.

– Ange... – diz Chris atrás de mim em um tom de aviso, mas eu notei um pouco de diversão em seu tom.

– Na verdade estou planejando tomar café em algum Starbucks no caminho, estou louca por um croissant de chocolate. – digo para desviar a mente de Chris de onde quer que ela esteja indo com ela e porque eu realmente estava morrendo por um pouco de chocolate – você vem? – pergunto parando de andar por meu quarto para encará-la que tinha uma expressão estranha quando desceu seus olhos para meu estômago unindo um pouco mais as sobrancelhas. – o que? – pergunto olhando para o mesmo lugar que ela, vendo os botões pretos de meu casaco, fechados e normais.

– Nada... – diz, mas não desvia seus olhos de meu corpo e eu fico parada confusa enquanto ela sobe seus olhos até meu rosto me avaliando de um jeito realmente muito estranho, suspiro um pouco irritada com sua atitude repentinamente estranha.

– O que foi? – pergunto outra vez pondo as mãos na cintura.

– Você está... diferente. – diz abrindo um pequeno sorriso e inclinando a cabeça levemente para o lado me medindo outra vez de cima a baixo. Engoli em seco e abri a boca para dizer alguma coisa, mas não saiu nada então eu só respirei fundo e revirei os olhos para ela novamente e encontrando minha bolsa sobre minha penteadeira, me apresso em sair.

– Olha eu preciso do meu croissant e não posso me atrasar pro trabalho, então por mais que eu adorasse ficar e conversar sobre como você é que está estranha, eu preciso ir – digo me aproximando dela para lhe dar um rápido beijo em seu rosto e sair do quarto, mas Chris segurou meu pulso antes que eu pudesse alcançar a porta, eu bufo irritada quando me volto pra ela, mas Chris parecia muito séria e isso me fez franzir o cenho preocupada. – o que...?

– Você e Davi usaram proteção, certo? – pergunta me interrompendo num tom receoso, mas sério e preocupado o suficiente pra que eu a olhasse um pouco atordoada.

– Mas... do que você... o que você...? – eu me calei quando ela outra vez desceu seus olhos para meu estômago e depois olhou nos meus olhos de forma significativa e levei mais um segundo para entender o que ela estava querendo me dizer, e quando a ficha caiu, eu fechei minha cara e soltei meu pulso de seu aperto sentindo um aperto no peito e meu estômago revirar – não tenho tempo pra isso, Christina. – digo de forma rude e vi quando ela ficou surpresa que usei esse tom e também disse seu nome todo, mas antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa saí apressada do quarto pisando duro enquanto sentia minha garganta se fechar com alguma emoção que eu não queria saber exatamente qual era, peguei meu celular e minhas chaves sobre o balcão de minha cozinha e praticamente corri até a porta, mas antes que eu fosse capaz de abri-la, ouvi Chris gritar do meu quarto.

– Pode acontecer, Ange! – ela soou séria e eu daria tudo para que eu pudesse ao menos sentir que ela estava sorrindo como se estivesse brincando, mas não havia nenhum tom assim.

Eu a ignorei e ainda bati minha porta com força quando saí para o corredor a tempo de ver Lance chegando com uma sacola em mãos, ele me olhou assustado, imagino que minha expressão não era das melhores, notei o pequeno ferimento na maçã de seu rosto já quase cicatrizado e ao redor havia somente uma mancha amarelada do que um dia foi roxo como vi quando finalmente pode vir me ver na quarta-feira.

– O que foi que...?

– Nada! – interrompo-o passando por ele sem olhar para trás.

– Ange! – Lance me chama parecendo preocupado, eu solto um suspiro, frustrada e giro para poder olhá-lo.

– Está tudo bem, estou indo tomar café fora hoje, Chris está em meu quarto se esse for o café da manhã dela – digo forçando um pequeno sorriso apontando para a sacola em suas mãos – tenho que ir. – digo quando ele abria a boca para dizer alguma coisa e fico feliz em saber que o elevador está funcionando outra vez... isso talvez explique como Davi chegou aqui em cima tão rápido... balanço a cabeça afastando a lembrança.

Dois croissants e um copo de café Latte depois, eu estava a caminho da empresa com mais dois desses doces franceses deliciosos pra viagem... ok, qual é a minha e esse recente interesse absurdo em croissants? Parada em um sinal vermelho com a chuva começando a cair outra vez, eu olhei para a embalagem no banco do passageiro e franzi o cenho pensando no que Chris insinuou em meu apartamento... imediatamente balancei a cabeça e afastei essa ideia.

Impossível! Exatamente como o médico disse a tempos atrás! Mas mesmo assim senti um frio na barriga e aquele caroço em minha garganta outra vez sentindo uma pontada de desespero, eu apertei a direção de meu carro com força até meus dedos ficarem brancos e minha respiração estava se descontrolando como meu coração, e só percebi que o sinal estava verde quando alguém buzinou atrás de mim.

A fim de ter um pouco de paz até chegar à empresa decidi ouvir um pouco de música, deixei meu celular no suporte e coloquei no aleatório, só para quase enfiar meu carro na traseira do Audi a minha frente quando ao em vez de frear, acelerei quando a voz de Adam Levine cantando 'Animals' soou alto de mais dentro do meu carro.

– Mas o que diabos está acontecendo hoje!? – pergunto a mim mesma parando a porcaria da música e tirando meu celular do suporte jogando-o no banco traseiro.

Quando estacionei meu carro em minha vaga costumeira na garagem subterrânea da empresa eu não consegui sair dele imediatamente, meus olhos foram automaticamente para a vaga vazia onde devia estar o carro de Davi, mas vi no relógio no painel do carro que ainda não eram oito horas... então aqui estava eu, trêmula e nervosa encostada ao meu banco tamborilando os dedos na direção cada vez mais rápido enquanto meu coração tenta seu caminho garganta acima.

Eu não deveria estar tão nervosa! Eu passei a noite toda me treinando para enfrentar Davi sem que eu começasse a chorar outra vez ou apenas voasse em seu pescoço ou qualquer coisa assim... eu tinha que me manter em equilíbrio, calma e fria!

– Vamos, Ange, você pode fazer isso! – digo a mim mesma pegando minha bolsa e meus croissants pronta para sair do carro até que eu vi um Volvo SUV preto entrando e parando exatamente na vaga de Davi. Franzi o cenho para o carro até reconhecer que era o mesmo que estava parado em frente ao meu prédio na última vez em que Davi esteve em meu apartamento, bom pelo menos na porta dele...

Quando Davi saiu, meu coração traidor errou uma batida até começar a sua loucura, ele parecia bem com seus cabelos mais curtos do que me lembrava, organizados jogados para o lado e em um terno de um azul escuro que se moldava tão perfeitamente em seu corpo que era irritante, ele ajeitou sua gravata de um azul mais claro e como se de repente tivesse sentido meu olhar sobre ele, virou seu rosto na minha direção e não sei exatamente porque eu me abaixei em meu assento praticamente deslizando até o chão, mas eu fiz mesmo assim.

– Merda! – murmuro comigo mesma, minha respiração é alta enquanto me mantenho abaixada por alguns instantes e fico um pouco aliviada quando ouço o som do travamento do alarme de seu carro e tomando um pouco mais de coragem me ergo só o suficiente para saber se ele ainda estava ali, mas quando tudo se mostrou absolutamente silencioso e vazio, meio desajeitadamente jogo minha bolsa e meus doces de volta no banco do passageiro e volto a me sentar corretamente sobre meu banco encostando a cabeça contra ele e fechando os olhos com força.

Isso foi péssimo! Agi como uma completa covarde... como vou enfrentá-lo e estar ao seu redor durante todo o dia? Quando as lágrimas ameaçam a se acumular em meus olhos, eu os abro e me encaro em meu espelho retrovisor franzindo as sobrancelhas para mim.

– Você vai entrar nesse prédio e vai agir como uma mulher adulta que está mandando o chefe ir se ferrar se tentar alguma merda pra cima de você! – se bem que não vou ficar surpresa se tentar, porque eu com certeza vou fazer do seu dia um inferno! Esse pensamento me faz sorrir, o meu sorriso perverso.

Pegando meu batom em minha bolsa eu faço um rápido retoque e inspirando profundamente guardo meus doces em minha bolsa grande o suficiente pra isso e me apresso até o elevador. Nos minutos em que fiquei sozinha me encarando no reflexo nas portas do elevador eu pensei se eu realmente deveria provocar a fera ou só me manter o mais fria e distante possível... eu ainda me sentia cansada e ainda estava com uma ressaca sentimental que estava me deixando mais nervosa do que estaria em dias normais... eu realmente não sei se serei capaz de provocá-lo sem sofrer com isso também, talvez a indiferença tenha algum efeito melhor sobre Davi e me mantenha protegida... mas eu também o queria completamente fora da casinha... afinal, só porque o amo não quer dizer que eu não possa fazê-lo pagar por isso... droga, e eu nem sei se ele leu ou não aqueles papéis, ele não dá nenhum sinal de que tenha feito... eu deveria perguntar... Não, melhor não... eu acho que não estou muito a fim de ouvi-lo se explicar, nem sobre o relatório nem sobre Homeo, apesar de estar curiosa pra saber por que é que ele praticamente a expulsou do prédio e porque se deu o direito de se intrometer na minha vida, talvez eu o ouça algum dia, mas agora eu só o que longe de mim, só que sem nem um pouco de paz... solto uma risada sarcástica no momento em que as portas do elevador se abrem no meu andar.

Tudo ainda está muito tranquilo, a maioria dos outros funcionários só chegam daqui à meia hora. É estranho estar aqui depois de três dias, mesmo que tudo pareça exatamente como era antes, sinto como se fosse meu primeiro dia. Meu salto parece ser o único som por aqui enquanto caminho apressada até minha sala e sem dirigir um olhar para a porta ao lado entro na segurança de minha confortável sala e a encontro perfeitamente arrumada, acho que Lance se deu ao trabalho quando veio buscar minhas coisas.

Eu tento permanecer calma mesmo que eu consiga ouvir meu coração batendo forte e rápido dentro de meu peito. Eu sei que ele está em sua sala, eu posso sentir isso... é meio louco, mas eu realmente sei que ele está ali, do outro lado da porta sentado em frente a sua mesa com toda Manhattan as suas costas e com aquela sua expressão fechada, fria e profissional que só o deixam com aquele ar irresistível...

Solto um gemido de frustração pelo pensamento apoiando as mãos em minha mesa, quando olho para onde minhas mãos estão, às lembranças vem como se fossem jogadas com força dentro da minha cabeça e fico momentaneamente sem ar para logo depois estar ofegante e um pouco tonta. Balanço a cabeça e me afastando da mesa me ocupo em tirar o cachecol e pendurá-lo em um dos ganchos de madeira em minha parede junto com meu casaco logo depois.

Como se fosse no automático eu estava saindo de minha sala para preparar o café e levá-lo até Davi, mas eu paro com a mão na maçaneta franzindo o cenho ao máximo... 'ele não merece meu café, ele ficou três dias sem, pode se acostumar a ficar sempre sem', penso voltando para minha mesa decidindo começar meu expediente e ver se alguém respondeu ao meu pedido urgente de reunião assim que chegassem à empresa.

Então enquanto esperava meu computador ligar decidi comer meus croissants cheios de chocolate sem me importar em porque eu estava com uma vontade sem fim de comer esse doce. Eu já estava na metade do segundo quando verifiquei os e-mail e vi que até mesmo Lance já havia respondido e todos concordaram imediatamente. Eu não pude deixar de sorrir com a mensagem de Lincoln.

"Que bom que está melhor, fico feliz em te ter de volta por aqui, 'senhorita Winey'". Eu pude até sentir seu sarcasmo com meu nome entre aspas, afinal era um e-mail incorporado, Davi podia ver a mensagem e claro que foi por isso que Lincoln fez isso. Agora que tudo já estava organizado decidi verificar o montante de trabalho que teríamos para o dia e eu descobri que seria muito, mais do que eu imaginava. Essa reunião com Nicoladelli tão em cima da hora ferrou com tudo...

– Mas o que...? – não consigo terminar a pergunta quando vejo ali marcados em vermelho na agenda eletrônica de Davi, nos dias dezenove e vinte de abril, uma viagem para Chicago e como se isso já não fosse loucura suficiente, ele deixou um pequeno adendo: eu deveria ir também!

Nem ferrando que vou viajar com Davi! Não! E ainda dois dias antes da reunião com os italianos!? Isso é... ridículo! Pura loucura... De onde foi que ele tirou essa ideia? E por que essa viagem agora? O que pode ser tão importante que ele não pode ir sozinho!? Ele só pode estar louco se acha que eu vou aceitar fazer essa viagem! Algumas batidas na porta me fazem suspirar tentando me acalmar. Bom, pelo menos eu sei que não é Davi, porque ele nunca bate.

– Entra! – digo me ajeitando e me limpando da bagunça que fiz com o croissant, minha voz sai rouca, mas alta o suficiente e um segundo depois Lincoln está entrando em minha sala com um pequeno vaso branco com pequenas e charmosas florezinhas amarelas e antes que eu perceba estava retribuindo seu radiante sorriso e minha irritação anterior esquecida ao vê-lo tão aparentemente feliz de repente.

– Bom dia! Você parece ótima. – diz enquanto eu me levantava.

– Me sinto ótima. – digo um pouco animada, Lincoln me olha de cima a baixo e gira o indicador me fazendo rir, mas eu dou uma voltinha finalizando com uma pose.

– É, eu posso ver – diz mexendo as sobrancelhas sugestivamente me fazendo rir um pouco mais. – que bom que está bem, Ange – diz passando o braço ao redor de meus ombros me puxando para mais perto num quase abraço depositando um beijo firme em minha testa sobre minha franja me fazendo suspirar um pouco alto com o contato numa mistura de tensão pela proximidade e contentamento pelo ato de carinho, mas não consegui abraçá-lo de volta e acho que ele sentiu um pouco da minha tensão já que se afastou logo depois – ãh... minha mãe e eu soubemos do que houve no baile beneficente e eu sinto muito que eu não pude estar lá pra ver você acabando com aquela mulher que tenho de confessar, ninguém na minha família suportava... – diz fazendo uma pausa me fazendo rir outra vez, mesmo que eu tenha ficado um pouco mais tensa por saber que a família de Lincoln sabia mesmo o que havia acontecido, mas ele não parecia decepcionado nem nada disso, pelo contrário ele abriu mais seu sorriso – me lembre de nunca chatear você – diz ficando um pouco sério e então me estende o pequeno vazo com as florezinhas – graças a Maria, minha mãe soube que esteve doente, então nós dois queríamos dar essas prímulas pra você, eu queria ter ido ao seu apartamento, mas o chefão ali nos deixou realmente muito ocupados por aqui, e eu não mandei ninguém levar, porque eu queria entregar pessoalmente.

– Obrigada, Lincoln... são tão lindinhas – digo pegando o vasinho de suas mãos e abrindo um sorriso sincero – agradeça a sua mãe por mim também. – digo tocando as pétalas amarelas e macias das pequenas florezinhas, Lincoln apenas acena com a cabeça mantendo um pequeno sorriso de lado que o deixou realmente bonito e por um minuto um pouco constrangedor, eu acho, nós ficamos assim nos olhando sem muita coisa para dizer – essas são aquelas flores comestíveis, não é? – pergunto fugindo do seu olhar intenso demais e me ocupando em achar um cantinho em minha mesa para colocá-las e as coloquei ao lado de uma das fotos onde estava com Chris.

– É sim, também são flores medicinais, acho que foi por isso que minha mãe as escolheu... – diz Lincoln se aproximando e ficando ao meu lado apoiando-se um pouco na mesa e cruzando os braços – pelo menos quando enjoar delas, você pode simplesmente comê-las. – continua dando de ombros ao piscar para mim. – Bom, temos que voltar ao trabalho, espero que tenha gostado mesmo das flores. – diz abrindo aquele sorriso largo e radiante outra vez e eu automaticamente retribuo.

– Eu gostei sim, são lindas... obrigada – digo e antes que eu pudesse pensar melhor sobre isso ergo um pouquinho meus pés para deixar um beijo rápido em seu rosto, ele pareceu surpreso por um momento quando ergueu as sobrancelhas, mas depois sorriu satisfeito. – deixei uma marca de batom em você. – digo e já estava com minha mão em seu rosto tentando limpar no instante em que minha porta se abre e Mike e Davi estavam entrando (como eu disse, sem bater), mas paralisam na porta ambos franzindo o cenho ao me verem com a mão no rosto de Lincoln.

Mike apenas arqueia uma sobrancelha numa pergunta silenciosa enquanto a expressão de Davi se torna fria e intimidadora, vi seu maxilar tencionar assim como toda sua postura, ele até cruzou os braços... quando seus olhos de um azul gélido e escurecido encontraram os meus, senti como se tivesse engolido pedras de gelo que desceram congelando o caminho até meu estômago e um calafrio desceu por minha espinha.

Ele não lembrava em nada o homem acabado na porta de meu apartamento há dois dias! Pisco algumas vezes para afastar essa imagem de minha mente e me lembrar de que Davi não merece e muito menos precisa que eu me importe! Ele está muito melhor agora, pelo que posso ver...

– Deixa que eu limpo. – diz Lincoln quase num sussurro me fazendo voltar a olhá-lo, ele sorria levemente parecendo apreciar alguma piada interna, percebi um pouco de diversão brilhando em seus olhos, ele segurou minha mão que ainda estava em seu rosto e a tirando de lá, havia um borrado de vermelho ali ainda... eu mais sujei do que limpei no fim das contas. Ele enfiou a mão livre no bolso interno de seu terno preto e tirou um lenço branco – mamãe. – explica.

– Tudo bem. – digo soltando minha mão da sua me voltando para os irmãos parados em minha porta tentando não parecer tão afetada pela presença de Davi que estava me fuzilando com seu olhar intenso, o que estava me deixando bamba e trêmula por dentro. Eu posso fazer isso! Posso enfrentá-lo! Eu consigo... ainda mais quando me lembro da cena que vi quando entrei em sua sala na última vez. Então eu inspiro fundo cobrindo meu rosto com uma expressão tão fria quanto à dele. – então, do que vocês dois precisam? – pergunto, fico aliviada que minha voz tenha soado firme quando eu não me sentia exatamente assim por dentro.

– Nós viemos... – Mike fez uma pausa me olhando de cima a baixo de forma avaliativa o que me fez sorrir principalmente quando percebi Davi revirando os olhos ao seu lado – vê-la, saber como está... essas coisas. – diz finalmente olhando em meus olhos sorrindo de um jeito estranho, era como se ele guardasse um grande segredo e não fosse me contar, isso me fez franzir as sobrancelhas.

– Eu estou bem, muito bem na verdade...

– Posso ver. – murmura Davi sarcástico, movendo seu olhar gélido para Lincoln que guardava o lenço de volta em seu terno com o rosto limpo, ele só abriu um sorriso de lado que não alcançou seus olhos de qualquer maneira, ele também tinha um olhar duro sobre Davi, e pela expressão meio preocupada e meio divertida de Mike, ele também notou a tensão no ar. Bom, isso era ridículo e desnecessário...

– Muito bem, já que todos já viram que estou bem, eu acho melhor já nos prepararmos pra reunião que eu pedi e que todos concordaram... – digo dando a volta em minha mesa e me sentando já que minhas pernas estavam começando a fraquejar – é melhor irem indo, eu preciso falar com Mike a sós um minuto! – digo abanando a mão para Lincoln e Davi que ainda se mediam em alguma conversa silenciosa de homens.

– Comigo? – pergunta Mike erguendo as sobrancelhas parecendo realmente surpreso, eu reviro meus olhos para ele antes de responder.

– Sim, com você.

– Ok... é isso ai rapazes, perderam a vez, agora sou eu. – diz Mike sinalizando com as duas mãos para a porta, Davi balança a cabeça e fecha os olhos por alguns instantes antes de abri-los e encontrar os meus imediatamente, engulo em seco por ainda encontrar aquela intensidade que faz meu corpo todo formigar.

– Muito bem, mas eu queria falar com você antes da reunião também... Winey. – diz Davi, e mesmo que a frase devesse ter um ar de sugestão, ela soou mais como uma ordem, esse era o tipo de coisa que só Davi sabia fazer. Sentindo meu coração bater ainda mais forte contra meu peito, não senti que estava pronta para ter um momento a sós com o senhor Collins, então eu arqueei uma sobrancelha mantendo minha fachada fria e impassível escondendo todas as conflituosas emoções dentro de mim.

– Não acho que tenhamos qualquer assunto que conversar senhor Collins. – digo num tom baixo e forçadamente calmo como qualquer um podia notar.

– Eu tenho certeza que temos Winey, posso lembrá-la de vários deles se precisar. – diz no mesmo tom que o meu me lançando um olhar desafiador e eu queria jogar o pequeno vaso com minhas flores em seu rosto bonito, onde só havia uma pequena marca do ferimento na sobrancelha e uma leve lembrança de algum roxo próximo aos olhos... eu podia abrir aquele corte novamente, era só eu ter uma boa mira... mas eu não podia estragar o presente que Lincoln e sua mãe me deu com tanto carinho, não é!?

– Tudo bem, senhor Collins, como quiser. – digo desviando meus olhos dos seus para minhas flores amarelas e ajeitando meu vasinho sobre minha mesa pensando que não valia mesmo a pena estragar meu presente.

– Então, até daqui a pouco... Winey. – diz Lincoln e quando o encaro eu retribuo o seu sorriso acenando com a cabeça e ele se adianta até a porta onde Davi ainda estava parado olhando para minhas florezinhas e depois para mim, eu apenas o encaro indiferente e volto para minhas flores quando estreitou seus olhos e me fez sentir aquele calafrio outra vez.

– Então... o que quer falar a sós comigo? – pergunta Mike assim que Davi fecha a porta atrás de si meio relutante pelo que pude notar, antes que a fechasse de vez. Mike puxou a cadeira perto da parede para frente de minha mesa e se sentou meio largado nela, com os braços cruzados e o tornozelo direito sobre o joelho esquerdo me encarando com uma sobrancelha arqueada e foi quando percebi que ainda estava irritado comigo e isso me fez rir levemente. – ainda se divertindo as minhas custas, não é? – pergunta estreitando seus olhos azuis, ironicamente, angelicais para mim.

– Não seja tão rancoroso – digo ainda sorrindo, mas Mike não se desfaz da carranca e isso só o faz ainda mais engraçado. – além disso, pelo menos você aprendeu a não ser um intrometido fofoqueiro.

– Eu? – pergunta teatralmente chocado me fazendo revirar os olhos. – não sou nada disso! – diz me fazendo encará-lo com um arquear de sobrancelha e olhar sarcástico. – ok, talvez eu só quisesse...

– Se intrometer? – pergunto – mas isso não importa, não foi pra isso que pedi que ficasse – digo balançando a cabeça afastando essas malditas lembranças que sempre vão fazer meu coração acelerado e meu corpo quente. – eu pedi pra falar com você... – digo interrompendo-o quando abria a boca para voltar a falar alguma bobagem – pra perguntar uma coisa e quero que seja absolutamente sincero comigo, não vou julgá-lo nem nada disso e também quero que me diga se aconteceu qualquer coisa estranha e...

– Certo, certo Angela, vamos com calma... Vá direto para a pergunta e vemos o que fazendo depois, tudo bem? – diz me interrompendo e ficando um pouco mais sério se ajeitando na cadeira, acho que minha expressão o alertou de que o assunto era mesmo muito sério. Eu respiro fundo sentindo um misto de culpa por estar tão desconfiada de Lucy e medo se o que Holly disse for a verdade.

– Tudo bem... ãh... como começar...?Você e Lucy...? – eu não consegui terminar a pergunta e Mike franziu as sobrancelhas aparentemente confuso.

– O que tem eu e Lucy? – pergunta inclinando a cabeça levemente para o lado ainda confuso. Bufei um pouco irritada que ele simplesmente não entendeu, tudo bem que fui meio vaga, mas a insinuação no meu tom foi bastante evidente, pelo menos para mim.

– Certo, vou ser mais direta então. – digo ajeitando meus ombros ficando ereta em minha cadeira apoiando minhas mãos sobre a mesa, voltei a respirar profundamente. – você teve ou tem alguma coisa com Lucy? – pergunto tentando não falar muito depressa, Mike ergueu as sobrancelhas, dessa vez genuinamente surpreso e quando ele fez aquela expressão de culpado com mordida no lábio e olhos semicerrados, meu estômago caiu. Merda! Eu cai contra o encosto de minha cadeira e levei minhas mãos até minha testa tentando manter minha respiração regulada.

– Por que o interesse nisso? – pergunta Mike se ajeitando e se inclinando sobre minha mesa apoiando seus cotovelos sobre ela, eu olho para ele através de meus dedos que agora estão sobre meu rosto.

– É melhor eu contar tudo na reunião. – digo me levantando sentindo uma onda de raiva passar por mim. Eu podia não me importar com quem Lucy dorme ou não, aliás, não faria nenhuma diferença ela ter transado com Mike, mas tem diferença quando ela se envolveu de forma suspeita com outros colegas de trabalho! Eu queria não acreditar, mas... se Holly disse que ela esteve com Mike e era verdade, porque as outras situações não seriam também!?

– Ange, espera! – diz Mike me alcançando quando eu já estava pronta para sair de minha sala – eu realmente espero que você explique isso direito, porque você não pode me culpar nem nada...

– Tudo bem Mike, isso não tem a ver só com você, tem a ver com a situação das contas também. – digo fazendo-o franzir as sobrancelhas ao máximo. – eu vou explicar, vamos...

– Um momento ai, lembre-se que Davi quer falar com você. – diz apontando para a outra porta que interligava nossas salas. Soltei o que pareceu um grunhido irritado fazendo Mike soltar uma risada entre dentes, mas ele logo ficou sério quando lancei a ele meu olhar furioso. – vou esperar na sala de reuniões junto com os rapazes, até lá. – diz abrindo a porta e saindo rapidamente me deixando queimando sozinha.

Andando de um lado a outro, ainda em minha sala, sentindo minha raiva crescendo, não duvido nada que eu vá dizer a Davi algumas verdades bem ofensivas! Argh! Estou tão irritada... eu o odeio tanto agora! Odeio que possa mandar em mim aqui, odeio que consiga mexer comigo da forma como faz só com um maldito olhar! Odeio que tenha acabado com tudo só por ser um cretino intrometido... odeio que eu ainda o quero... eu quero dizer a ele que o odeio, quero gritar isso no seu rosto e depois nunca mais vê-lo... porque eu sei que de alguma forma se eu continuar aqui por muito tempo em algum momento eu... eu vou acabar cedendo outra vez.

– Não! Eu sou mais forte do que isso! – murmuro para mim mesma ainda andando de um lado a outro com o som de meus saltos soando no estranho silêncio do ambiente. Respiro fundo algumas vezes e tento relaxar um pouco o corpo mesmo que isso pareça impossível. Eu só tenho que entrar lá me manter firme e engolir toda e qualquer influência que ele tem sobre meus sentimentos e meu corpo.

Somos só senhorita Winey e senhor Collins! O que aconteceu do último domingo para trás é isso... apenas passado e não vai se repetir, mesmo com todas as explicações que Davi der... mesmo que eu saiba que eu o amo... não vou deixar esse amor me destruir!

– Vamos lá, Ange! Mande o amor à merda e vamos enfrentar o senhor Collins! – sussurro comigo mesma parando de andar e ajeitando meu vestido e meus cabelos. Conto até três e quando coloco minha mão na maçaneta, ela gira sem que eu tivesse tempo de fazê-la e então a porta está aberta e eu prendo a respiração quando Davi quase choca seu peito com o meu, mas fica perto... muito perto, me envolvendo com o calor de seu corpo.

Meu rosto até quase na altura do seu por causa dos saltos e eu só preciso mover meus olhos um pouco para cima para poder encontrar os seus e instantaneamente sou praticamente engolida por aquele azul escurecido e intenso e ainda tem seu perfume caro que me envolve e me faz querer me inclinar até seu pescoço e inalar profundamente...

Antes que eu pudesse entender o que eu estava fazendo, estou erguendo minhas mãos sem desviar meus olhos dos seus sentindo aquele calor familiar descer por minha espinha e se alojar nas partes apropriadas de meu corpo, entreabro meus lábios para a entrada de uma quantidade maior de ar quando meus pulmões pareceram pequenos demais e então espalmo minhas mãos contra seu peito sentindo-o subir e descer uma pequena fração mais rápido que o normal, meus olhos são atraídos para sua boca quando ele solta uma pequena lufada de ar contra meu rosto me fazendo molhar os lábios quando a vontade de me inclinar para frente e encontrar sua boca, tentadoramente perto, na minha me fez com a boca seca.

Voltando a olhar em seus olhos que tinham um misto de surpresa e aquele calor familiar que fazia cada parte do meu corpo se incendiar muito facilmente, deslizei minhas mãos por seu peito sentindo-o duro e firme exatamente como me lembrava, eu as levei em direção aos seus ombros fazendo Davi respirar um pouco mais depressa enquanto levava minhas mãos agora em direção ao seu pescoço e parando no colarinho de sua camisa de linho branca envolvendo-a com meus dedos e os descendo até alcançar o nó de sua gravata e então eu a ajeito deixando-a perfeitamente alinhada.

Dou um pequeno passo para frente colando meu corpo ao seu, engolindo um suspiro quando senti aquela corrente elétrica passando por cada parte do meu corpo, ouvi Davi inspirar e ficar um pouco tenso. Abro um pequeno sorriso de lado e erguendo um pouco meus pés desvio meu rosto do seu fechando os olhos por dois segundos me deixando sentir seu corpo no meu com certa saudade e sentindo um pouco mais do seu perfume, meu rosto encosta no seu e o sinto macio com a barba feita e quente contra minha bochecha... volto a engolir outro suspiro e com minha boca perto o suficiente de sua orelha, os cantos dos meus lábios roçam em sua pele quando eu evoco minha voz de algum lugar no fundo de minha garganta

– Só ajeitando sua gravata. – digo um pouco mais alto que um sussurro e quando o sinto se mover, me apresso em me afastar e passar por ele entrando em sua sala me mantendo de costas para Davi, enquanto andava tranquilamente por sua sala até sua mesa, ('tranquilamente' exteriormente falando, porque por dentro eu estava como um vulcão em erupção, toda quente e amolecida sentindo uma necessidade infernal de voltar até ele e...) balanço a cabeça afastando o pensamento. Bom, eu havia conseguido me afastar a tempo não foi? Sorri me sentindo um pouco orgulhosa de minha coragem e minha resistência, mesmo que eu agora esteja me sentindo toda quente, eu acho que consegui um bom resultado...

– O que foi isso? – pergunta Davi atrás de mim, a voz um pouco rouca e notei que estava irritado, eu me virei assim que cheguei a sua mesa e me apoiei nela me inclinando muito levemente para trás me apoiando em minhas mãos também, e eu o vi ainda parado na porta de minha sala, as mãos nos bolsos da calça um, olhar escurecido e ainda lascivos demais para meu próprio bem, as sobrancelhas unidas na sua melhor e mais sexy expressão sombria.

Eu não sei se fico satisfeita por ter conseguido provocá-lo, ou se mudo de ideia e me afaste, porque pela forma como está me olhando agora eu definitivamente posso dizer que ele pode e vai me devorar a qualquer momento...

– Já disse, só estava arrumando sua gravata. – respondo tentando soar o mais indiferente e profissional possível. Davi desvia seus olhos para o chão acho que se perdendo em pensamentos por alguns instantes. Bom, aqui estou eu sozinha com Davi em sua sala... e eu nem estou surtando com isso, se estou um pouco trêmula foi por ter estado perto demais dele.

Eu não devia estar caindo em prantos por estar exatamente onde eu os vi com suas bocas... juntas? Não devia estar perto de um ataque por vê-lo parado exatamente onde deixei aqueles papéis jogados? Eu sinto um calafrio ruim quando penso que Davi pode ter lido toda aquela merda, mas... mas quando eu olho para ele todo elegante, profissional e muito sexy naquele terno eu só consigo amá-lo tanto quanto o odeio! Eu quero torturá-lo e me torturar junto no processo, porque... como vou mantê-lo longe se isso é absolutamente impossível?

A única maneira seria indo pra longe, mas ainda não posso fazer isso, então eu tenho que apenas... continuar minha luta de anos contra Davi. Eu estou sendo mais forte do que eu esperava quando penso que nem ao menos estou perto de perder minha mente ou começar a chorar... se bem que acho que chorei o suficiente quando eu nem sequer devia ter chorado.

– Você vai me torturar, não vai? – pergunta de repente me tirando de meu devaneio deprimente, ergo meus olhos para ele para vê-lo erguendo os seus também, só que mais devagar e passando por todo meu corpo e como sempre ele parece me despir só com aquele olhar sedutor vagando lentamente por mim. Eu já estava praticamente molhada, ofegando e amolecida quando ele finalmente chegou ao meu rosto, mas mantive alguma postura e forço um sorriso de lado.

Eu não deveria, eu realmente não deveria... não é a coisa adulta, racional e certa a se fazer, eu deveria apenas seguir com a vida da melhor maneira possível longe dele... mas tomada por uma ousadia resultante do último passeio de seus olhos por meu corpo, me empurro sobre sua mesa me sentando sobre ela e me permito cruzar as pernas mais lentamente do que o necessário sem me preocupar com como o vestido se moveu um pouco para cima. Acho que devo agradecer a Chris. Os olhos de Davi desceram automaticamente para minhas pernas e vi quando engoliu em seco voltando a ajeitar sua gravata afrouxando um pouco o nó pelo que pude perceber. Meu sorriso aumentou ligeiramente.

– Vou levar isso... – ele faz uma pausa para puxar uma respiração profunda ainda com os olhos em minhas pernas – como um sim! – termina se ocupando em abrir os dois botões de seu colarinho e finalmente erguendo seus olhos para os meus enquanto enfiava as mãos nos bolsos da calça outra vez, ele estreitou seus olhos para mim ficando imediatamente irritado quando viu meu sorriso.

– Ache o que quiser, Collins. – digo dando de ombros, Davi tenciona seu maxilar e desce seus olhos rapidamente para minhas pernas outra vez, só para soltar algum murmuro que não entendi bem já que ele estava do outro lado da sala. Então ele balançou a cabeça levemente antes de fechar a porta atrás dele e com passos muito calmos e com os olhos presos nos meus ele se aproximou fazendo meu coração ficar imediatamente descompassado como minha respiração, principalmente pelo olhar predatório com que estava me encarando, mas eu não podia ceder agora, não é? Então me mantive firme, ou o mais firme que eu consegui.

– Angela...

– Collins! – digo interrompendo-o quando parou a menos de um metro de distância e pelo seu tom, ele não estava falando sobre trabalho... e ele me chamou de Angela, então ele não era o senhor Collins e no momento eu não estava aceitando outro se não meu chefe, mesmo que eu o estivesse torturando, como ele disse.

Davi suspirou passando as mãos pelo rosto e então pelos cabelos os deixando desgrenhados e por um instante quis que fosse eu a passar as mãos pelos fios escuros e lisos, mas logo afastei esse pensamento. Meu desejo por Davi não pode ser mais forte que minha resistência... e eu tenho de resistir a ele por que... por que... porque eu o odeio também, é claro. Ele passou dos limites e me magoou além da conta com aquele relatório e depois com aquele beijo e eu não posso simplesmente passar por cima disso só porque descobri que estou mais do que apaixonada por ele. Eu nem sei se sou realmente capaz de perdoá-lo por isso...

– Ainda vai me deixar explicar algum dia? – pergunta me olhando com mais seriedade agora. Eu vou? Senti meus pulmões se comprimirem e um aperto no peito só de imaginar que ele tenha lido... bom, se ele leu... Davi não me dá qualquer sinal de que tenha feito.

Quando sinto aquele caroço de emoção se instalar em minha garganta e percebo que estou perdendo o controle, me levanto de sua mesa ainda olhando em seus olhos, que me remetem ao homem que esteve todo encharcado na porta de meu apartamento... e eu não posso lidar com isso... ainda.

– Não temos tempo pra isso, Collins, temos muito trabalho pra fazer. – digo, tentando soar o mais fria e firme possível, e sem lhe dar chance de resposta ao ver como parecia cada vez mais irritado e atormentado, desviei de seu corpo para alcançar a porta, mas então a mão de Davi estava na minha, fazendo aquela corrente elétrica atravessar todo meu corpo e suspiro surpresa quando ele a segurou com firmeza, mas sem dor e me puxou de volta só soltando minha mão para segurar em meus braços me fazendo virar para estar de frente com ele outra vez, seu toque mesmo que por cima do tecido da manga do vestido conseguia queimar minha pele.

Eu queria que um dia tudo isso parasse... que esses efeitos de Davi sobre mim acabassem e eu pudesse estar ao redor dele sem estar num estado constante de excitação e coração acelerado e toda essa merda que você só vê em malditos livros e nunca imagina ser possível de acontecer! Afinal, como uma pessoa é capaz de desestabilizar completamente a outra e ter todo esse efeito e esse poder invisível...?

– Eu estou realmente sem tempo pra isso, Davi! – digo irritada mais comigo mesma e a facilidade com que meu corpo se entrega e se derrete todo por sua causa. Eu tento me livrar de seu aperto, mas ele só o firma ainda mais me deixando ainda mais irritada. – quer me soltar!? Temos uma reunião pra...

– Por favor, não volte a fugir de mim... – diz num sussurro, seus olhos naquele brilho suplicante que me fez parar de lutar por um segundo enquanto estremecia levemente. – não pode continuar a fazer isso...

– Fugir? – pergunto tentando não gritar – eu não estou fugindo, só estou tentando voltar ao trabalho, eu não vim por três dias, lembra? Preciso...

– Angela, quando é que vai me deixar explicar? – pergunta Davi me interrompendo seu tom quase beirando a imploração.

– Eu já disse que não importa mais...

– Mas eu já disse que importa pra mim, Angela...

– Davi, olha... aqui não é nem o lugar e nem o momento pra isso, ok?

– Então, quando? – pergunta me puxando para mais perto me fazendo suspirar e colocar as mãos contra seu peito, dessa vez só para mantê-lo longe. Não confio nenhum pouco em mim com ele tão perto por muito tempo. Eu nem deveria querê-lo por perto, eu deveria estar com um ódio absolutamente repulsivo por ele e o impedisse de sequer tocar em mim... mas eu não consigo controlar isso, não posso controlar o que sinto por Davi e já me cansei de tentar. Tudo o que posso fazer é apenas resistir.

– Eu não sei, Davi... – digo tentando dar de ombros soltando um suspiro realmente cansado, eu sinceramente não via como ele se explicar mudasse alguma coisa, eu não quero ouvi-lo falar sobre o que leu sobre mim ou porque apenas pediu aquele relatório... não quero ter nada a ver com seus problemas com aquela Homeo e não estava mesmo a fim de discutir sobre toda essa merda. Já passei dias demais doente com noites em claro pensando em tudo isso... chega! Não importa mais, porque eu vou embora depois que tudo acabar... Ele apertou meus braços um pouco mais forte para depois soltá-los voltando a passar as mãos por seus cabelos.

– Certo – diz Davi num suspiro descendo seus olhos para algum ponto no chão parecendo perdido em pensamentos por dois segundos antes de voltar a me encarar olhos nos olhos, eu podia ver que estava um pouco irritado – mas vai me ouvir, algum dia? – pergunta arqueando uma sobrancelha seus olhos com aquele brilho particular meu que me fez inspirar profundamente.

– Talvez... eu realmente não sei o que isso vai mudar...

– Angela...

– Collins! – o interrompo novamente quando voltou a usar aquele tom que me faz derreter por dentro.

– Deus! Como você é teimosa... mas tudo bem – diz me interrompendo quando estava prestes a protestar. – não vou pressioná-la.

– Ótimo! Podemos voltar ao trabalho agora? – pergunto um pouco sarcástica fazendo Davi abrir um pequeno sorriso de lado um pouco debochado eu diria, eu vi a irritação crescer um pouco mais nos seus olhos, mas minha pergunta me faz lembrar uma coisa importante. – ãh, antes de irmos... o que é aquela loucura de viagem para Chicago dois dias antes da reunião com os italianos? Você ficou maluco!? – pergunto fazendo uma expressão grave cobrir os rosto de Davi... ah aqui está o senhor Collins! – eu não posso fazer essa viagem...

-Sim, você pode e você vai! – diz no seu tom frio e autoritário me fazendo estreitar meus olhos para ele.

– Não pode me obrigar...

– Sim, eu posso! – diz abrindo aquele seu sorrisinho sarcástico que me faz ofegante ao mesmo tempo em que me tira do sério – sou seu chefe Winey, e se eu digo que preciso de minha assistente em uma viagem, ela vai comigo na maldita viagem. – diz com seu rosto ficando a centímetros do meu quando a última palavra saiu de sua boca por estar se inclinando para mim a cada palavra que dizia num tom baixo, calmo, mas surpreendentemente ameaçador e um pouco intimidante, ainda mais com seus olhos adquirindo aquele brilho maldoso... engoli em seco quando aquele calor desceu por minha espinha fazendo partes do meu corpo se contorcer, ainda mais com seu rosto tão perto do meu.

Eu abri a boca para protestar, na verdade eu ia mandá-lo a merda se estava achando que só por ser meu chefe podia me obrigar a fazer uma porra de uma viagem, mas algumas batidas na porta e um Mike apressado entrando na sala me fizeram fechar a boca e me afastar a um passo para trás de Davi, Mike ia dizer alguma coisa, mas fechou a boca de repente olhando entre seu irmão e eu arqueando uma sobrancelha com curiosidade brilhando em seus olhos azuis.

– O que foi agora? – pergunta Davi aparentemente inabalado pela interrupção... parecendo muito bem para o homem praticamente desesperado em minha porta, então ou ele se recupera mais rápido do que a maioria das pessoas, ou é muito bom em esconder suas emoções, até porque eu vi um pouco daquele homem ensopado há alguns minutos, não é?

– Achei melhor vir ver se não estavam começando a Terceira Guerra Mundial... e dizer que estamos ficando atrasados com os compromissos do dia... eu interrompi alguma coisa muito séria? – pergunta voltando a olhar curioso entre Davi e eu erguendo as sobrancelhas com algum tipo de esperança no rosto, eu revirei os olhos.

– Não, nós já estávamos indo. – digo sem dar a Davi a chance de alguma resposta e me apressando para minha sala.

******

– Antes de começarmos essa reunião e de chamar Chase aqui, eu preciso fazer uma pergunta a você Lincoln. – digo quando estávamos todos na sala de reuniões mais reservada que tínhamos, era no mesmo andar, mas ficava mais afastada de qualquer outro lugar.

Seria intimidante olhar para a mesa e ver quatro homens muito bonitos, muito elegantes e sérios me encarando de volta, mas eu de alguma forma tinha que manter meu controle... ainda mais com o olhar intenso que Davi está dirigindo a mim e é como se estivesse me tocando me deixando quente... e irritada por isso! Lincoln franziu o cenho um pouco surpreso, mas acenou com a cabeça.

– Você viu Lucy... com algum funcionário da empresa? – pergunto me sentindo nervosa de repente. Eu sei que talvez não tivesse nenhum fundamento desconfiar de Lucy, mas essa pulga atrás da minha orelha está realmente incomodando.

Lance pareceu mais surpreso que qualquer outro na mesa, Mike só arqueou uma sobrancelha desconfiado e eu estava evitando olhar para Davi, Lincoln uniu ao máximo suas sobrancelhas descendo os olhos para a mesa como se estivesse se lembrando ou tentando se lembrar, até que voltou seus olhos para mim confuso inclinando a cabeça levemente para o lado.

– Sim, bem... foi estranho na verdade... – diz desviando seus olhos dos meus novamente parecendo se perder em sua mente novamente.

– O que foi estranho? – pergunta Lance olhando entre Parker e eu ainda surpreso e mais confuso. Eu soltei um longo suspiro me sentindo toda pesada de repente.

– Eu a vi com Larry na garagem uma vez...

– Com Larry? – é Mike que fica surpreso dessa vez.

– Merda! – murmuro – e na segunda-feira, ela trabalhou com você na segunda? – pergunto um pouco alto demais, um tanto desesperada... procurando alguma justificativa para Lucy na minha cabeça (mesmo que ela ter vindo e ter deixado Homeo entrar não tivesse nada a ver com o real assunto da reunião)... Lincoln juntou as mãos sobre a mesa parecendo desconfortável de repente e vi um pouco mais de cor subir por seu pescoço e tingir um pouco seu rosto... ora, ora, mas ela não perdeu tempo mesmo, até mesmo Lincoln caiu nas graças dela.

– Bem... sim, como minha secretária não pôde vir ela se ofereceu... – Lincoln se cala parecendo descobrir alguma coisa quando ergueu as sobrancelhas e fazendo uma expressão de derrota no segundo seguinte. Eu caio contra o encosto da cadeira fechando os olhos com uma mistura de raiva, decepção e desespero borbulhando dentro de mim e isso fez minhas mãos começarem a tremer um pouco.

– Angela... o que está acontecendo? – pergunta Lance preocupado, e quando volto a abrir os olhos eu vejo que todos estão me olhando da mesma forma. Empurro minha cadeira para trás me levantando.

– Eu já volto. – digo saindo da sala de reuniões e indo a passos rápidos até a mesa de Holly que havia chegado há alguns minutos, ela ainda estava guardando sua bolsa quando parei ao seu lado.

– Bom dia... – diz abrindo um leve sorriso ao erguer seus grandes olhos verdes para mim, mas seu sorriso se vai no instante em que vê minha expressão séria e provavelmente intimidadora. – algo errado? – pergunta franzindo as sobrancelhas.

– Preciso que venha comigo – digo me virando e olhando de relance para a mesa ainda vazia de Lucy sentindo um peso esmagador apertar meu peito, mas logo me apresso de volta para a sala de reuniões e não preciso olhar para trás pra saber que Holly já estava em meu encalço, ela também estava de salto e respirava um pouco alto e rápido demais. – não se preocupe Holly. – digo para acalmá-la lançando a ela um pequeno e rápido sorriso antes de voltar para frente, eu a ouvi soltar um suspiro de alívio junto com um 'Certo'.

Assim que entramos, Holly se encolhe ao ser recebida com quatro pares de olhos curiosos, preocupados e naturalmente intimidantes. Ela se senta ao meu lado como pedi e peço também que conte tudo o que viu, exceto é claro sobre Mike e seus detalhes! Ela me olha um pouco desesperada e receosa, mas Davi tratou de exigir que ela abrisse logo a boca naquele seu jeito rude e autoritário, eu o fuzilei de volta e ficamos alguns segundos nessa pequena guerra de olhares, antes de Holly começar a falar sobre os flagras de Lucy...

– Mas não há nada nas fitas de segurança nesses dias. – diz Mike olhando para Holly num misto de interesse e desconfiança, a pequena ruiva ao meu lado não se abala e o encara de volta. Ela parece segura demais para estar mentindo...

– Como assim não tem nada? – pergunto.

– Miller não aparece em nenhuma das fitas. – esclarece Davi tamborilando os dedos na mesa perdido em pensamentos sem olhar para ninguém em particular.

– Eu não estou mentindo! – diz Holly ficando aparentemente irritada.

– Vamos ver essas fitas então. – digo me levantando outra vez e ninguém se nega a me seguir até a sala de segurança alguns andares acima. Pensei que deveria pedir pra que Jason saísse, mas quando chegamos lá descobrimos que era seu dia de folga. Menos mal.

– Você também pode sair, por favor, Steve. – digo para o homem enorme que pensei ser descendente de russo ou alemão, depois de pegar as fitas que pedimos na estante embutida na parede que era trancada com cadeado... ele nem hesita com meu pedido e nos deixa sozinhos na sala.

Na sala de segurança, em uma das paredes, havia uma enorme tela de LCD onde as imagens eram divididas em vários quadros de diferentes áreas do prédio e haviam também mais três TVs de 40', eu acho, também com a tela divida em pequenos quadros de imagens e na bancada de madeira clara abaixo da grande tela estavam teclados de computador e alguns Joysticks pequenos e pretos, tudo parece moderno demais para eu lidar, mas aparentemente os homens por aqui sabiam o que fazer já que ocuparam as cadeiras vagas. Holly, que eu pedi que viesse, e eu ficamos de pé, mesmo que Lincoln nos tivesse oferecido cadeiras também.

– Eu acho que gosto de você assim, Winey... toda no comando. – diz Mike se sentando em uma das cadeiras giratórias e girando-a como um menino de seis anos faria e quando para está olhando para Holly com uma sobrancelha arqueada numa pergunta silenciosa.

– Eu acho que não deveria estar aqui, eu posso voltar ao trabalho...

– Não, é melhor que veja as fitas também. – diz Davi interrompendo Holly enquanto enfiava uma daquelas fitas estranhas e prateadas no equipamento cheio de botões abaixo da bancada. Um minuto depois estamos vendo em todos os quadros as gravações dos corredores do nosso andar da semana passada, Davi adianta as imagens de durante o dia até o horário em que Holly falou ter visto Lucy primeiro com Jason...

– Mas o que? – pergunta ela surpresa quando ninguém aparece no corredor da hora mencionada por ela, Holly apoia as mãos sobre a bancada ao lado de Mike, estreitando os olhos para a imagem parecendo irritada, ao seu lado Mike ergue seus olhos para ela parecendo confuso e um pouco decepcionado. Eu balanço a cabeça me concentrando na tela vendo o corredor vazio... – volta isso! – exige Holly de forma autoritária fazendo Davi olhá-la sombriamente, mas ela nem nota o que me faz segurar um sorriso.

– Também acho que precisamos voltar a fita. – digo me aproximando da bancada ficando atrás da cadeira onde estava Lincoln que passava os dedos em seu queixo pensativo demais. Davi volta a fita mais três vezes e realmente não vemos nada fora do lugar. Não houve ninguém naquele corredor.

– Isso é impossível! – diz Holly exasperada. Eu não sabia bem o que pensar. Ela ainda parece segura demais do que está dizendo mesmo com as provas contra ela.

– A pergunta é, por que você mentiria sobre isso? – pergunta Davi parando a fita e encarando Holly de forma intimidadora, ela se encolhe um pouco, mas não perde a postura. Solto um suspiro frustrada. O que há de errado aqui afinal? Eu sinto que alguma coisa está fora do lugar e não sei se é Holly com sua atitude firme mesmo diante do olhar intenso de Davi, ou a fita que não registra a passagem de... ninguém!? Mas eles não ficaram até tarde trabalhando? Holly não estava sozinha no andar naquela noite.

– Espera um momento – digo indo até Davi – a garagem, pega a fita da garagem. – peço um pouco ansiosa, Davi abria a boca para protestar, mas eu não permiti que fizesse mostrando a ele minha melhor expressão de teimosia, ele esconde um sorriso no canto da boca antes de fazer o que pedi. Adiantando até a hora que interessava todos suspiraram quando novamente não registrava a imagem de ninguém!

– Mas eu estava lá... Chase e eu estávamos, na verdade. – diz Lincoln voltando a fita novamente, Davi coloca as duas fitas para rodarem ao mesmo tempo, cada uma em uma metade da tela enorme, mas dessa vez eu não observei a imagem, meus olhos voaram para os centésimos de segundos rodando no canto da tela e foi com espanto que eu percebi...

– As fitas foram editadas! – digo um pouco mais alto que um sussurro – volta as duas, outra vez. – peço sem olhar para Davi, mas ele faz imediatamente. – ali está, estão vendo como os segundos estão irregulares? – pergunto apontando para os números brancos rodando no canto da tela, ora pulando do dois para o quatro e tão rápido que se você piscar não conseguiria notar, volta para o três e ora voltando do seis para o cinco, mas imediatamente indo para o sete... e isso se repetia umas quatro vezes até que tudo se normalizava e corria normalmente.

– Eu disse que não estava mentindo. – diz Holly chamando a atenção de todos para ela que continuava inabalável em sua atitude.

– Então... – começa Mike, mas Davi o interrompe.

– Muito bem, Chase! Obrigado pela ajuda pode voltar ao trabalho agora e não diga nada a Miller. – diz Davi todo sério e concentrado nas imagens outra vez, eu ofereço a Holly um sorriso agradecido e ela apenas acena com a cabeça com curiosidade brilhando em seus olhos quando lança para a tela um último olhar antes de sair da sala.

– Parece que descobrimos os suspeitos da área de segurança e sistemas. – diz Lincoln se levantando aparentemente um pouco chocado ainda.

– E possivelmente a comandante também... – diz Mike apontando para uma das TVs onde em um dos quadros mostrava Lucy saindo de seu carro na garagem enquanto falava ao telefone, ela parecia um pouco exaltada pelos movimentos que fazia com a mão livre e também pela expressão irritada em seu rosto.

Eu me senti traída, decepcionada e magoada enquanto a olhava... por quatro anos ela foi uma amiga para mim, foi a única que me tratou como uma também, enquanto todas as outras mulheres apenas me olhavam torto e diziam o quanto eu havia me vendido por ter chegado aonde cheguei na empresa... mas agora tudo o que consigo pensar é que ela também só quis ser minha amiga por eu ser assistente pessoal do presidente da empresa... ela só quis se aproximar de Lance por ele ser um dos maiores responsáveis pelas contas também... agora faz todo sentido.

Mas eu só não consigo acreditar... Ela era tão doce e... e tão... Lucy! Ela era o tipo de pessoa que você nunca espera que faça mal nem a uma mosca, sempre tão contente e amável e... parece que estou falando de alguém que morreu, mas no fim eu acho que foi isso que aconteceu, afinal. A boa Lucy que eu tinha na minha cabeça morreu...

– Eu não acho que ela seja a comandante. – diz Lance, mas eu estou olhando para a imagem da garagem onde Lucy continua parada próxima ao seu carro ainda falando ao telefone cada vez mais irritada pelo que posso ver, eu nunca a vi daquele jeito antes, mas acho que nunca a conheci de verdade no fim das contas.

Eu tento não deixar a sensação da perda de alguém que foi realmente especial pra mim a ponto de nunca me sentir desconfortável com seu abraço, me fazer ficar toda emotiva quando sinto aquele caroço incomodar minha garganta.

– Como não? Foi ela quem saiu com todos os homens por aqui pra conseguir o que quer que ela precisasse... – diz Mike e pelo seu tom ele parecia irritado.

– Eu não estou envolvido nisso – murmura Davi – mas eu acho que Baker está... – ele parece relutante em dizer e mesmo que eu estivesse realmente prestes a chorar, consigo dar um sorriso, todo esse orgulho vai acabar com ele um dia.

– Certo? – pergunta Lance em seu tom debochado.

– Que seja! – diz Davi, mas meus olhos ainda estão na tela e meio que estou tentando saber o que é que Lucy está dizendo, mas não é tão fácil quanto parece nos filmes. – acho que Miller tem um chefe e é essa pessoa a responsável por tudo isso.

– Isso está saindo do... controle? – murmuro quando consigo entender o que Lucy dizia agora que ela girou e ficou completamente de frente para a câmera com seu carro cobrindo metade de seu corpo.

– O que? – perguntam os quatro ao mesmo tempo confusos atrás de mim.

– Lucy... – digo apontando para a tela da TV e para um dos quadros onde Lucy agora estava desligando o celular e pegando a bolsa de dentro de seu carro. – ela disse algo como: isso está saindo do controle e que não tinha culpa ou alguma coisa assim... – digo me voltando para eles quando Lucy desaparece do alcance da câmera, eu fico paralisada quando os encontro olhando para mim um pouco chocados eu acho. – o que? – pergunto arqueando uma sobrancelha.

– Você leu os lábios dela? – pergunta Mike parecendo realmente bastante surpreso.

– Bom... não foi assim tão fácil, eu nem sei se era isso mesmo que ela estava dizendo, mas foi o que pareceu. – digo dando de ombros meio incomodada com todos aqueles pares de olhos sobre mim como se tivessem nascido chifres na minha cabeça.

– Mas por que ela teria dito isso? O que está saindo do controle? – pergunta Mike.

– Talvez tenha a ver com Chicago, ela não ficou sabendo que estaremos indo pra lá na próxima semana? – pergunta Lance me deixando surpresa.

– Espera... – digo chamando a atenção de todos de volta pra mim – nós? – pergunto girando meu indicador abrangendo a todos na sala.

– Sim, Angela, nós! – responde Lance com um olhar que pedia desculpas. – mas nós vamos só na quarta-feira...

– Preciso ir antes, porque Doyle pediu uma reunião particular e envolvia algumas contas com alguns problemas. – diz Davi me olhando de uma forma desafiadora, como se pedisse que eu contrariasse agora, sabendo que eu não podia. Filho da mãe!

– Certo, mas que problemas? É parecido com o que está acontecendo aqui? – pergunto sentindo um nó no estômago que estava começando a me incomodar a sério! Eu estava começando a ficar em pânico só com a ideia de que a merda que está acontecendo é bem maior do que eu imaginava. E meu tio ainda desapareceu por esses dias e ainda não recebi nenhuma carta que ele disse que chegaria... nada!

– Ele não quis falar por telefone, nem e-mail... disse que precisava ser pessoalmente. – explica Davi com um ar preocupado também.

– Bom... até lá, o que vamos fazer com Lucy Miller? – pergunta Mike, eu solto um suspiro voltando ao sentimento deprimente de alguns instantes atrás... como eu poderia olhar para ela sem me sentir traída?

Aquele bolo de emoção também está de volta me impedindo de falar enquanto sinto o peso do que tudo isso significa, o envolvimento de Lucy nisso tudo, os problemas agora em Chicago também... a empresa está a beira do precipício e seja quem for o responsável por tudo isso, com certeza, não se importaria em dar o empurrão final.

Sentindo minha visão se turvar um pouco eu tento puxar um pouco mais de ar para dentro, mas notei que estava um tanto difícil e ainda havia minhas mãos tremendo e meu estomago que não parava de girar... Ar! Eu preciso de ar... e um banheiro.

Sem dizer mais nada ou sequer olhar para qualquer um, abro a porta um pouco forte demais e saio quase correndo ouvindo alguém me chamar, mas ignoro e ficando irritada quando me lembro que não estava em meu andar e que os banheiros aqui ficavam pra outra direção e sentindo que estava perto de colocar tudo em meu estômago pra fora enquanto ele continuava a girar, giro em meus pés e dessa vez corro para um corredor que levava para os banheiros e praticamente me jogo dentro de um dos box me encostando a porta fechada sentindo a ânsia ir e vir algumas vezes enquanto sentia aquele suor frio em minha nuca e o incômodo debaixo da língua que me faziam engasgar algumas vezes.

Eu tentava respirar mais tranquilamente inspirando e expirando várias vezes tentando também afastar a tensão que subia por minhas costas e os tremores em minhas mãos me concentrando em outra coisa... qualquer coisa, mas tudo que havia em minha mente eram problemas.

A traição de Lucy, a empresa a beira de ser destruída juntos as famílias Parker e Collins... o que Chris disse hoje mais cedo... com essa lembrança a frase que Chris disse antes de eu sair do apartamento, precisei me ajoelhar quando senti todo meu café da manhã ser recusado por meu estômago.

Depois de perder todo meu café da manhã, jogar uma água no rosto e enxaguar diversas vezes minha boca, eu estava me olhando no espelho. Ninguém precisa me maquiar para fazer um filme de fantasmas e isso é o quão pálida eu estou! Meus olhos estão abertos em descrença e pânico... muito pânico! Minhas mãos tremiam mesmo apoiadas a pia e meu coração parecia bater tão alto que eu mal ouvia minha respiração, se é que eu estava respirando! "Pode acontecer, Ange!".

– Não, não pode! – digo entre dentes batendo meu punho fechado sobre o mármore da pia. – esqueça isso, Angela! – digo ao meu reflexo mudando minha expressão assustada para uma mais séria e mais firme.

Tenho muita coisa com que me preocupar, coisas que estão acontecendo e não com ideias malucas e impossíveis! Respirando fundo diversas vezes, tento acalmar as ideias em minha cabeça e focar no que é importante!

– Muito bem, vamos lá Angela! Tem que se concentrar em ajudar a empresa a sair dessa e não entrar em pânico – continuo dizendo a mim mesma no espelho – Lucy traiu sua amizade, mas não pode deixar isso te abalar tanto assim, foco! Tem que manter em mente o que é importante... priorizar, Ange... priorizar! Esqueça Davi e foque no senhor Collins, sem provocações, só trabalho! – digo acenando decida para o espelho.

Foi o que eu tentei fazer por algum tempo. Depois que voltei do banheiro, tive de responder quatro vezes que eu estava perfeitamente bem. Menti quatro vezes, mas ninguém precisava saber... De qualquer forma antes de voltarmos todos realmente ao trabalho, Davi decidiu que era melhor esperarmos até fazer qualquer coisa em relação à Lucy, afinal ela é o mais perto que temos do responsável pelos desvios, então tínhamos que mantê-la por perto e quem sabe chegaríamos ao culpado.

Todos concordaram e agora, estou com Holly em minha sala enquanto resolvemos novamente questões de agenda e por causa da viagem na próxima semana tudo ficou ainda mais complicado e com dias lotados de trabalho... teríamos que fazer hora extra. Mais tempo que o habitual ao redor de Davi? Isso é fodido!

Mesmo que eu estivesse tentando focar no trabalho e agir normalmente, não era tão fácil quanto parecia. Eu estava evidentemente agitada e nervosa, até mesmo Holly notou enquanto eu não parava de batucar meus dedos sobre a mesa ou o salto de minhas botas no chão... eu me sentia agitada, mesmo que eu dissesse a mim diversas vezes para me acalmar, que tudo estava o mais bem que a situação poderia estar, o que no fim das contas nem era muito, mas enfim ainda tínhamos algum tempo para tentar colocar as coisas em ordem, pelo menos tínhamos alguém em quem manter o olho e mesmo que essa pessoa fosse uma das minhas amigas, ou foi até ontem, tínhamos um ponto de partida...

Isso era bom de alguma forma, mesmo que meu tio tenha desaparecido e eu não tenha recebido nenhuma carta até agora, eu esperava que tudo estivesse correndo para um bom caminho... Mas eu estava só tentando me enganar, minha agitação não tinha nada a ver com o que estava acontecendo na empresa, minha agitação tinha a ver com o homem do outro lado da porta e com o que Chris me disse hoje de manhã...

Depois que Holly saiu há algum tempo e nem sei há quanto, acho até que o telefone tocou algumas vezes e acho que Holly atendeu também... Eu fiquei olhando fixamente para a tela de meu computador sem sequer ver o que estava nela.

– Vai querer que eu pegue o almoço pra você? – pergunta Holly colocando sua cabeça ruiva através de um vão da porta que ela abriu depois de duas batidas, a menção de comida fez meu estômago roncar, bom considerando que eu havia perdido todo meu café da manhã é absolutamente normal que eu esteja com tanta fome.

– Sim... – digo, mas o telefone me interrompe e quando vejo que é a linha de Davi, inconscientemente, me encolho contra a cadeira sentindo um tremor de antecipação se espalhar por meu corpo... e eu nem sei de onde veio tudo isso afinal. Recomponha-se, Winey!

– Eu volto daqui a pouco. – diz Holly fechando a porta logo depois, eu tomo uma respiração profunda antes de atender.

– Winey...

Estarei fora para o almoço, provavelmente não estarei de volta para a reunião com o... o...

– Senhor Anderson? – pergunto soando um pouco sarcástica considerando que o homem era um dos mais importantes e influentes no ramo imobiliário desse lado do país!

Isso, vamos ter que remarcar isso...

– Remarcar? Não podemos remarcar! Nunca foi tão difícil conseguir uma reunião com esse homem e eu não vou ligar pra ele e dizer que vamos ter que remarcar, ele provavelmente vai procurar outra empresa pra consultoria e...

Tenho certeza de que vai conseguir fazer isso, Winey! – diz me interrompendo com aquele seu tom frio e cortante me fazendo engolir em seco e o leve tom irônico me fez irritada imediatamente.

– Mas...

Você pode pelo menos uma vez fingir que eu sou seu chefe e que é capaz de me obedecer sem retrucar, Winey!? – eu pude sentir sua tensão e sua irritação vindo em ondas através do telefone e ele estava sendo absolutamente sarcástico e isso indica que ele realmente está nervoso.

– Sim, eu acho que posso. – digo sem conseguir afastar o tom debochado de minha voz e eu realmente arrepiei quando o ouvi rosnar do outro lado.

Ótimo! – e então ele desliga na minha cara.

– Bastardo idiota! – murmuro comigo mesma. Eu posso cuidar desse telefonema depois do almoço.

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