Anne with an e- Corações em j...

By RosanaAparecidaMande

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Anne Shirley Cuthbert foi abandonada ao nascer em um orfanato por sua mãe biológica, mas ela nunca deixou de... More

capítulo 1- Lembranças
capítulo 2- amores do passado
Capítulo 3- sentimentos escondidos
Capítulo 4- Duas almas e um destino
Capítulo 5- Lado a lado com o amor
Capítulo 6- Nestes olhos teus.
Capítulo 7 - Emoções em conflito
Capítulo 8- O amor entre nós
Capítulo 9- Chamas de uma paixão
Capítulo 10- Apenas você
Capítulo 11- Corações apaixonados
Capítulo 12- Esse sonho de amor
Capítulo 13- Quando o coração se apaixona
Capítulo 14- O sentimento que vive em mim
Capítulo 15- Combinação perfeita
Capítulo 16- O que nos separa
Capítulo 17- Revelações
Capítulo 18- Expectativas
Capítulo 19- O que nos une
Capítulo 20- Tudo o que eu quis
Capítulo 21- Tudo o que sonhei
Capítulo 22- Tudo o que somos
Capítulo 23- O que me pertence
Capítulo 24- O tempo é algo relativo
Capítulo 25- O amor que te ofereço
Capítulo 26- Pensamentos proibidos
Capítulo 27- Pensamentos e desejos
Part 28- Provando do pecado
Part 29- O Jogo do amor
Part 30- Caprichos do coração
Part 31- Segredos e Desejos
Capítulo 32- Flertando com o perigo
Capítulo 33- O inesperado
Capítulo 34- Revelando um segredo
Capítulo 35- O incêndio
Capítulo 36- Uma esperança
Capítulo 37- O incêndio parte 2
Capítulo 38- Paraíso particular
Capítulo 39- As duas faces do amor
Capítulo 40- Idas e Vindas
Part 41- O retorno
Capítulo 42- Tudo o que existe entre nós
Capítulo 43- Como no princípio
Capítulo 44- Feliz Aniversário
Capítulo 45- Uma grande surpresa
Capítulo 46- O perigo mora ao lado
Capítulo 47- O inimigo nas sombras
Part 48- Amor e dor
Capítulo 49- As verdades do coração
Capítulo 50- Almas divididas
Capítulo 51- Palavras não ditas.
Part 52- O jardim do Éden
Capítulo 53- Ps: Eu te amo.
Capítulo 54- Eterno amor
Capítulo 55- Sua força em mim
Capítulo 56- Um só coração
Capítulo 57- Sem Regras
Capítulo 58- Sussurros e juras de amor
Capítulo 59- Entre o céu e o inferno
Capítulo 60- Lar
Capítulo 61- A promessa de uma vida
Capítulo 62- Entre as estrelas
Capítulo 63- De corpo e alma
Capítulo 64- Desejo e castigo
Capítulo 65- Ao cair da tarde
Capítulo 66- Vidas entrelaçadas
Capítulo 67- Amor imenso
Capítulo 68- Fogo
Comunicado
Capítulo 70- Sonhos perfeitos
Capítulo 72- Xeque Mate
Capítulo 73- Anjo Ruivo
Capítulo 74- Amor de diamante
Capítulo 75- Para sempre
Capítulo 76- Um Natal para relembrar
Capítulo 77- Tudo o que importa
Capítulo 78- Um grande novo ano
História Nova
Capítulo 79- A segurança dos seus braços
Capítulo 80- Can't take my eyes off you
Capítulo 81- Inesquecível amor
Capítulo 82- O casamento do ano
Capítulo 83- Lua de Mel Havaiana
Capítulo 84- Uma nova vida juntos
Capítulo 85- Inseguranças e Fragilidades
Capítulo 86- Ao nascer do sol
Capítulo 87- O caminho de volta
Capítulo 88- O ingrediente principal
Capítulo 89- Na alegria ou na tristeza.
Capítulo 90- O benefício da dúvida
Capítulo 91- Amor e mágoa
Capítulo 92- Impasse
Capítulo 93- Uma longa noite
Capítulo 94- Sob o mesmo céu
Capítulo 95- Juntos
Capítulo 96- A razão da minha felicidade
Capítulo 97- Alcançando as estrelas
Capítulo 99- A vida por um fio
Capítulo 100- Garota Extraordinária
Capítulo 101- Na dor
Capítulo 102- A beleza de Vênus
Capítulo 103- The way I love you
Capítulo 104- Reconstruindo sonhos
Capítulo 105- Amor de mãe
Capítulo 106- Um novo tempo
Capítulo 107- Entre a mágoa e o perdão
Capítulo 108- Redescobrindo o passado
Capítulo 109 - Universo particular
Capítulo 110 - Esposa perfeita
Capítulo 111- Paraíso na terra
Capítulo 112- Um futuro cheio de promessas
Capítulo 113- O perdão é a cura da alma
Capítulo 114 - Lucy
Epílogo
Agradecimentos
Prêmios

Capítulo 98- Acerto de contas

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By RosanaAparecidaMande

Olá, pessoal. Desculpem a demora de postar o capítulo. Espero que gostem e me deixem seus comentários. Beijos. Vou corrigir depois.

ANNE

Gotas de chuva batendo na janela fez Anne despertar de seu sono pesado. Ela dormira feito um bebê, depois do passeio com Gilbert no parque de diversões, e como a noite terminara com os dois novamente naquele quarto, fazendo amor como antes. Ela sorriu, e olhou para Gilbert que até aquele instante não havia despertado, um fato raro, já que ele nunca perdia um dia de exercício como se fosse um ritual que ele precisasse seguir para passar o resto do dia bem.

Ele devia estar cansado como ela, Anne ponderou, e depois escondeu o rosto no travesseiro ao pensar no quanto aquilo a denunciava. Ela estava prestes a dar à luz e seu desejo por seu marido continuava insaciável. Será que deveria se envergonhar? Será que deveria colocar um freio naquele fogo todo que a consumia quando estava nos braços de Gilbert? Ela não esperava que aos seis meses de gravidez ainda estivesse se sentindo da mesma maneira que se sentia quando ela e Gilbert começaram a se relacionar intimamente. Uma vez ela perguntara sobre isso para Gabriela, e a médica respondera que relações sexuais em seu período gestacional a ajudariam a ter um parto mais saudável, pois servia como estímulo ao mesmo tempo que a relaxava. No entanto, às vezes ela achava que exagerava tanto na quantidade quanto na intensidade.

Anne nunca fora muito sensual antes de namorar Gilbert. Seu interesse em sexo era quase nulo, embora ela tivesse namorado homens extremamente experientes e sexualmente ativos, eles nunca conseguiram convencê-la a se entregar de livre e espontânea vontade. Mas, com Gilbert aquele cenário mudara em um piscar de olhos. De repente, ela se vira envolvida pelo charme dele, a sua beleza desconcertante, e seu jeito romântico e sexy de tocá-la e dizer-lhe coisas que faziam sua imaginação transportá-la para o mundo dos sentidos onde apenas Gilbert era capaz de despertar aquela loucura selvagem dentro dela. Ela lera uma vez que as gatas escolhiam seus parceiros para acasalar, e que essa escolha sempre recaía sobre o macho mais forte, e talvez isso também acontecesse com certas pessoas, talvez ela tivesse a necessidade de encontrar o parceiro perfeito para enfim deixar esse seu lado desabrochar, pois sabia reconhecer que nunca deixaria outro homem tocá-la se não fosse Gilbert, pois somente ele era capaz de deixá-la completamente satisfeita e rendida por ele ao mesmo tempo.

Ela olhou-o de corpo inteiro sem perder nenhum detalhe, e logo chegou a conclusão que mesmo que lhe dissessem que ela estava cometendo um pecado imenso, ela não tinha força de vontade nenhuma para resistir a própria luxúria deitada a seu lado na cama, e assim continuaria pecando, porque não conseguia sequer imaginar uma vida sem os toques de seu amado marido.

A chuva lá fora continuava a cair com toda a sua fúria , e Anne suspirou satisfeita ao seu lembrar que aquele dia era a folga de Gilbert, por isso, não precisavam acordar tão cedo, e mesmo já não tendo um pingo de sono, ela decidiu que sua preguiça para levantar era maior, e assim, ficaria na cama até que Gilbert acordasse. Seus bebês se mexeram, fazendo-a levar as mãos ao ventre já bastante arredondado. Ela ainda se surpreendia com aquele milagre dentro dela, dois bebês era mais do que tinha sonhado para si. De repente, ela se lembrou da consulta com Gabriela no dia anterior, e ficou triste.

Ela precisava reverter aquele quadro de anemia logo, ou seus bebês era que sofreriam as consequências, e ela nunca se perdoaria se eles nascessem com algum problema de saúde por sua causa. Embora Gilbert lhe dissesse para não se culpar, ela não podia esquecer que realmente negligenciara sua saúde, e por isso, estava naquela situação, mas, também acreditava no seu poder de reverter tudo, se realmente se empenhasse nessa tarefa.

Gilbert prometera ajudá-la, e ela acreditava que juntos poderiam superar mais aquele obstáculo, pois já tinham feito isso antes, e agora não tinha mais motivos para usar como desculpa. Seu amor estava de volta, a vida corria no seu próprio ritmo. Logo ela voltaria a trabalhar, e então a normalidade de antes seria novamente alcançada.

De repente, um aperto em seu peito a fez respirar fundo, enquanto seu coração acelerava as batidas. Não era uma sensação boa ou ruim, era apenas uma certa apreensão que ela não sabia como identificar de onde vinha. Ela não gostava desse tipo se sentimento, pois parecia ser o sinal de que algo estava a caminho, e Anne nunca sabia do que deveria se proteger, se deveria procurar ajuda, ou se estava sendo paranoica demais. Por isso, ela lançou outro olhar para Gilbert, desejando que ele estivesse acordado para dizer que tudo ficaria bem, mesmo sendo apenas fruto de sua imaginação sem limites.

Sem conseguir afastar seu medo, Anne acabou se levantando e ido até a janela observar a chuva caindo. E que espetáculo incrível era aquele ! De onde ela estava podia ver a cidade inteira de Nova Iorque sendo purificada com aquele milagre da natureza. Anne amava a chuva, e em dias assim, ela adorava o aconchego de sua casa, onde poderia assistir um filme, ler um bom livro, passar o dia todo na cama com Gilbert, e de todos os itens citados, esse era o que mais a atraía.

Ela saiu da janela, e voltou para a cama, pois ali estava seu verdadeiro aconchego. Assim que se deitou novamente, ela deixou que sua cabeça se apoiasse no peito de Gilbert, e ficou observando-o respirar calmamente, sentindo as batidas de seu coração que soava como música em seu ouvido, e se viu quase devorando aqueles lábios incrivelmente atraentes, que ela estava louca pra beijar naquele instante.

Sem querer esperar mais, Anne aproximou seu rosto do de Gilbert e contornou a boca dele com a ponta da língua, logo sentiu que ele reagia, quando o rapaz entreabriu os lábios, e fez os lábios dela se tornarem refém dos seus. O beijo foi excitante como sempre era quando se entregavam ao momento, ao mesmo tempo em que o rapaz corria as mãos pelas costas nuas dela, fazendo Anne perceber mais uma vez quanta força havia naquelas mãos. Quando não conseguiram mais prosseguir com sua batalha boca a boca, Gilbert disse dessa vez de olhos bem abertos:

- Você acabou de mudar meu conceito de acordar. Eu quero ser despertado assim todas as manhãs.

- Acho que posso lhe conceder esse desejo, Dr. Blythe.- Anne disse com um sorriso, sentindo os dedos de Gilbert escorregarem pelos seus cabelos.

- Que horas são?- Gilbert perguntou bocejando.

- Quase oito horas da manhã.

- Nossa, eu dormi tanto assim?- Gilbert perguntou examinando o rosto de Anne com atenção.

- Está chovendo, amor, é seu dia de folga. Então, eu imagino que dormir algumas horas a mais não vão estragar sua sequência de exercícios, já que pode usar a academia que temos no apartamento.

- Sim, eu sei. Não pretendo me levantar ainda, pois adoro quando acordamos assim inspirados.- ele disse se referindo ao beijo que tinham trocado ainda a pouco.- Agora me diga, minha pequena. Por que está tão tensa?- Anne riu internamente ao pensar que nada a seu respeito passava despercebido a Gilbert. Ela podia disfarçar o quanto quisesse, e ainda assim ele sempre acabava sentindo quando ela não estava bem.

- Como sabe que estou tensa?- ela perguntou com curiosidade.

- Seus ombros estão rígidos. Achei que tivesse ido dormir mais relaxada ontem. O que aconteceu para você acordar assim?

- Acho que preciso de mais beijos seus para voltar a relaxar.- ela disse, deixando um beijo molhado no peito de Gilbert onde ainda continuava apoiando sua cabeça.

- Amor, eu te conheço bem. Por que não me conta o que a perturba depois da noite incrível que tivemos? Tem alguma coisa a ver com nós dois?- ele perguntou preocupado.

- Não. Na verdade, nem eu mesma sei por que estou assim. É só um aperto no peito que não me deixa sossegada.- ela confessou, beijando o peito de Gilbert novamente.

- Andou tendo um daqueles seus pesadelos?

- Não, foi algo repentino que me acometeu agora a pouco. É mais parecido com um pressentimento, embora eu não acredite muito em coisas assim.- Anne admitiu pegando a mão de Gilbert e entrelaçando seus dedos. Ela gostava muito quando suas mãos se uniam daquela maneira, pois havia todo um simbolismo ali que para Anne significava que ela e Gilbert estariam juntos em qualquer situação.

- Eu acho que toda aquela situação no consultório de Gabriela ontem mexeu mais com você do que devia. Eu disse que não deve se preocupar, meu amor. Eu vou te ajudar a melhorar, e os bebês vão ficar bem assim como você.

- Eu tenho tanto medo, Gil.- Anne disse sentindo seu olhos marejarem.

- Vem cá.- ele disse, puxando-a para seus braços, e acariciando os cabelos dela.- Eu estou aqui. Você sabe que pode se apoiar em mim.

- Eu não quero que os bebês tenham problemas por minha causa. – Anne disse com as lágrimas se espalhando por seu rosto.

- Eles estão bem. Você ouviu o que Gabriela disse. Não fica assim, Anne. Eu detesto quando você está triste e eu não posso fazer nada para te tirar disso.- ele disse abraçando-a com força.

- Só por estar aqui comigo já me ajuda demais. Eu ficaria pior se estivesse sozinha. – Anne disse aprofundando o abraço. Era disso que precisava, de seu marido bem perto para que nunca mais pudesse perdê-lo.

- Você nunca ficará sozinha. Eu vou sempre te proteger e te amar como você merece.- Gilbert respondeu, beijando os seus cabelos.

- Eu te amo tanto.- Anne disse beijando Gilbert no rosto.

- Eu também te amo, Anne. Desculpe se te fiz pensar na última semana que não me sentia mais assim.

- Eu sei que me ama, Gilbert. Eu nunca duvidei disso. Só não se afaste de mim de novo, pois eu preciso de você demais.- ela disse, subindo as mãos pelos braços de Gilbert . Ficaram um nos braços do outro por alguns minutos, e depois Gilbert disse:

- Não quer se levantar e tomar café? Posso preparar aquela vitamina que você adora.

- Podemos ficar assim só mais um pouquinho? Eu estava morrendo de saudades de ficar com seus braços em volta de mim dessa maneira.- ela disse, fazendo Gilbert sorrir e dizer:

- Meus braços sempre estarão aqui para você. Eu também adoro tê-la entre eles . Tem ideia do quanto sentia falta de te abraçar desse jeito? Eu também senti falta dos meus cristais se mexendo para mim.- Gilbert desceu suas mãos até o ventre de Anne, onde os bebês se agitavam desde cedo. Eles pareciam adivinhar no tipo de humor que sua mãe estava,.- Eles parecem estar bem ativos hoje.

- Eles estão assim desde que acordei. Parece que estão loucos para vir ao mundo.- Anne disse sorrindo com ternura ao pensar nos dois bebezinhos que logo estariam ali entre eles.

- Você já conseguiu imaginar o rostinho deles?- Gilbert perguntou com curiosidade.

- Não tão nitidamente, mas, muitas vezes imagino que se pareçam com você.- Anne disse olhando para Gilbert.

- Acho que serão uma junção de nós dois.

- Serão lindos como o pai.- Anne disse sonhadora.

- E perfeitos como a mãe deles.- Gilbert completou.

- Eu sei que a Gabriela vai fazer meu parto, mas, posso te pedir uma coisa?- Anne perguntou colocando a mão na lateral do rosto de Gilbert.

- Claro, o que quiser, querida.

- Promete que vai estar comigo na hora do parto?

- Eu não perderia isso por nada no mundo.- Gilbert respondeu com seus olhos transbordando de amor. Anne às vezes se sentia insegura a respeito do nascimento dos bebês, e saber que Gilbert estaria lá fazia toda a diferença.- Agora, por que não saímos dessa cama, e vamos até a cozinha onde eu posso te alimentar, e aos nosso dois cristaizinhos?- Anne concordou, e quando ia se levantar, Gilbert a pegou no colo e a carregou até a cozinha.

- Gil, você sabe que não precisa me carregar assim. Eu posso caminhar sozinha.

- Eu sei, mas, eu adoro carregá-la e não me tire esse prazer- após essa confissão , Anne não disse mais nada, e tratou apenas de aproveitar o momento.

GILBERT

O café foi servido na varanda, pois Gilbert queria que Anne tivesse uma mudança de cenário mesmo que pequena. Ele sabia que sua esposa adorava a chuva, e esperava que a vista ali de cima pudesse fazê-la melhorar seu humor. Ele não gostava quando a via naquele estado, pois sabia bem para onde isso poderia levá-la. Experiências do passado lhe mostravam que toda vez que alguma coisa desestabilizava Anne, ela começava a traçar teorias de onde Peter Bell poderia estar. Nunca mais ela tocara no assunto, mas, Gilbert não era bobo, e a conhecia tão bem quantos sabia o nome de cada parte do corpo humano de cor.

Anne poderia não falar de seu maior medo, mas Gilbert tinha certeza que ele continuava lá dentro dela, assombrando-a nos momentos mais inesperados. Ele também tinha seus receios a respeito de Peter Bells, e todas as semanas, ele ligava para o delegado para saber se tinham notícias do paradeiro dele, e ele acabava obtendo sempre a mesma resposta. Peter estava sumido, e tinham perdido qualquer pista dele completamente.

O cara era muito inteligente, Gilbert tinha que admitir. Ele conseguia enganar a polícia, ia pra onde queria e quando queria. Criminosos assim sempre eram gênios, era uma pena que não usassem seu QI para coisas mais saudáveis do que ficar perseguindo pessoas. Peter não amava Anne, disso Gilbert tinha plena certeza. O que ele sentia era apenas uma obsessão grave de tê-la em seu poder e subjugá-la a sua vontade. Era um homem terrivelmente doente, em sua alma e coração, e para pessoas assim raramente havia uma solução. Ou acabavam trancafiadas em um hospital psiquiátrico, ou eram mortas por sua própria incapacidade de se protegerem de si mesmas. De qualquer forma, Gilbert estava ali para garantir que nunca mais ele se aproximaria de Anne, ou tocaria em um fio de cabelo dela, e agora tinha também os bebês para considerar.

Ele olhou para ela , enquanto a ruivinha tomava o seu café em silêncio, mirando a paisagem molhada e toda verde do Central Park. Era um privilégio morar de frente para aquele lugar maravilhoso, pois Gilbert sentia que podia respirar e viver a natureza todos os dias dentro de casa. Em Nova Iorque essa sensação era rara, pois o estilo cosmopolita estava por toda parte. Eram tantos carros, e tantos turistas ou mesmo habitantes que super povoavam as ruas todos os dias que chegava a ser sufocante. Gilbert não podia negar que gostava da movimentação, de ter opções variadas de diversões, além do que os lugares essenciais como farmácia, hospitais e supermercados eram acessíveis a todos, porém, ele também não dispensava o ar puro da fazenda, a alegria de acordar de manhã e ver um céu límpido sem poluição nenhuma, conhecer cada um dos seus vizinhos e cumprimentá-los pelo seus nomes, o que seria impensável naquela cidade imensa onde ele e Anne escolheram para construir sua família.

Gilbert tinha vindo para Nova Iorque por causa de Anne, e também ficara por ela e não se arrependia, pois seu lar sempre seria ela, e mesmo se ela quisesse ir para o Japão, ele a seguiria sem reclamar, pois seu amor por ela não conhecia distância e nem Continentes, por isso ele viveria bem em qualquer lugar desde que estivesse com sua esposa. Ele continuou observando-a descendo o seu olhar até o ventre dela já tão avantajado. Ela ficava linda grávida, muito mais do que quando era taxada de modelo mais bonita e bem paga do mundo. Ali ao natural com ele, Anne deixava sua verdadeira essência vir à tona, e toda a doçura da garota de catorze anos que ele amara e perdera uma vez estava em seus olhos. Ela dormia e acordava com aquela luz que a acompanhava desde o dia em que descobrira que estava gravida, e só aumentos após a outra descoberta incrível de que seriam gêmeos. Sua Anne era e sempre seria aquela garota maravilhosa que morava em seu coração desde os seus onze anos.

- Sente-se melhor?- Gilbert perguntou.

- Sim. Acho que foi besteira minha me deixar influenciar por um sentimento que eu nem sei se é real. Eu preciso reencontrar meu equilíbrio interior.- Anne disse tentando sorrir.

- Sentimentos são importantes, Anne, e não devem ser ignorados. Talvez você devesse prestar mais atenção neles, pois muitas vezes podem identificar uma dificuldade com a qual você ainda não consegue lidar.- ela o olhou pensativa e perguntou:

- Acha que tudo isso tem a ver com minha mãe?

- Eu não tinha pensado nisso, mas, talvez tenha uma relação. E vejo você com muito medo de falhar em seu papel materno com os bebês. E tudo o que acontece com sua saúde você faz relação com o seu papel como mãe. Eu quero que entenda querida, que o que quer que sua mãe tenha feito não foi sua culpa, e você não precisa ter medo, porque não é igual a ela. Não sabemos bem qual foi o motivo de ela ter ido embora, e nunca mais ter voltado, mas, eu estou aqui para te apoiar, e juntos vamos criar esses bebês com todo o amor do mundo.- Anne pousou sua xícara de café em cima da mesa, para enxugar duas lágrimas que rolaram, e então ela se virou para Gilbert e disse:

- Muito obrigada por estar aqui e por essas palavras, significam muito para mim.

- Eu as disse porque é verdade, Anne, Você vai ser uma mãe maravilhosa. Eu quase já posso vê-la com os dois no colo.- Gilbert disse, vendo o sorriso dela florescer. Era assim que queria ver sua Anne, feliz em todos os momentos.

-Só você mesmo para me fazer melhorar. Eu te amo, Gil.- Anne disse se levantando da cadeira, e se sentando no colo de Gilbert que a abraçou apertado.

- Eu também te amo, e não quero mais te ver triste assim. Tudo vai ficar bem, eu prometo.

- Eu sei. Você é o único que consegue me fazer acreditar em cada palavra do que me diz.

- Eu quero te ver feliz, Anne, e quero ser a razão dessa felicidade. Quando nos casamos, eu prometi que estaria a seu lado, cuidaria de você e te amaria pela minha vida toda. Eu sei que acabei quebrando um deles, quando te deixei aqui e fui para o hotel, mas a parte de cuidar de você e te amar para sempre eu pretendo seguir a risca. Você é minha mulher e sempre será a única para mim.- Anne o tocou no rosto, acariciando-o devagar, até que segurou o rosto dele entre as mãos e o beijou com todo o seu amor, Gilbert retribuiu, desejando fazer Anne entender que tinha sido sincero em cada linha do que dissera.

- Você não quebrou nenhum voto. Só foi embora porque eu praticamente te obriguei a isso, mas, o que importa é que voltou, e quero que saiba que sou muito feliz em ser sua esposa. Isso e os bebês são as únicas coisas das quais nunca vou me arrepender na vida.- Anne disse encostando sua testa na de Gilbert. Eles ficaram assim cerca de dois minutos, e depois o rapaz disse:

- O que quer fazer hoje? Estou de folga, portanto, eu estou à sua disposição, meu amor.

- Podemos ver um filme, e fazer pipoca. Faz tempo que a gente não faz algo assim.- Anne sugeriu saindo do colo de Gilbert, e ele imediatamente sentiu falta do calor dela, e segurou em sua mão para mantê-la próxima dele.

- Boa ideia. Vamos para a cozinha fazer pipoca, e depois podemos ver o filme que quiser.

Deste modo, eles se divertiram fazendo pipoca como nos velhos tempos, e Anne acabou fazendo leite com chocolate gelado para acompanhar, já que o tempo estava muito quente para qualquer outro tipo de bebida. O filme escolhido foi Nothing Hill, pois além de apreciar filmes mais antigos, Anne também sempre fora fã do ator principal, Hugh Grant. Gilbert gostava de outros estilos de filme, mas sempre acompanhava Anne em seus clássicos românticos. Ele achava extremamente encantador vê-la enxugar os olhos com lencinhos de papel nas cenas mais sentimentais, pois ela realmente entrava na história e se identificava com os atores em suas interpretações.

Quando o filme acabou com um daqueles finais felizes que a faziam sorrir de orelha a orelha, eles resolveram assistir mais um, dessa vez a escolha foi de Gilbert. Como eles gostava de filmes mais históricos, ele escolheu Até o último homem, e pensou que Anne não aguentaria as cenas de guerra, e acabaria dormindo, ou fixando sua atenção em um livro ou palavras cruzadas, mas, para sua surpresa, ela assistiu a todas as cenas e ainda fez alguns comentários sobre as partes mais fortes do filme. Quando a última cena foi mostrada, eles tinham comido quase toda a pipoca e tomado o leite com chocolate que Anne preparara. A tarde tinha ido embora, e o anoitecer se aproximava, assim, Anne se levantou do sofá e disse alongando seus braços acima da cabeça:

- Vou tomar banho.

- Posso ir com você?- Gilbert disse com os olhos brilhando que fez Anne rir e dizer:

- O que você acha?- ela disse de um jeito sugestivo, e Gilbert a seguiu.

- Banheira ou chuveiro?- ele perguntou e Anne respondeu:

- Quero o chuveiro hoje.

- Está bem.- ele disse, se despindo logo em seguida assim como Anne.

Ela soltou os cabelos e pegou o xampu que costumava usar e o entregou para Gilbert, que despejou uma grande quantidade nas mãos, e depois distribuiu pelos cabelos ruivos, massageando o couro cabeludo dela até as pontas. Anne fechou os olhos, e suspirou, enquanto ele continuava lavando os cabelos dela. O próximo passo foi o condicionador que ele usou finalizando a lavagem, e desembaraçando os fios dela com os dedos. Em seguida, ele a virou de frente, e quando viu que ela mordia o lábio inferior, ele ficou louco para beijá-la, e foi o que fez, fazendo com que ela se segurasse no pescoço dele, e esmagasse o peito dele com seus seios nus. Eles pararam de se beijar, e Gilbert a afastou dele por um instante para olhá-la por inteiro, e Anne pareceu ficar envergonhada, pois baixou o olhar.

- O que foi, amor?

- Nada, eu só me sinto um pouco constrangida quando você me olha assim.- ela confessou sem jeito.

- Por que? Eu já te vi assim milhares de vezes.- ele disse espantado com a confissão dela.

- Você sabe que eu não me sinto confortável com meu corpo dessa maneira.- ela disse ainda sem olhar para ele.

- Que bobagem está dizendo, Anne?

- Eu amo nossos bebês, e estou muito feliz que estejam crescendo dentro de mim, mas, eu não consigo me senti bem com meu corpo agora.- ela disse, e assim, Gilbert a puxou pela mão e disse:

- Vem comigo.- Anne o seguiu até o quarto, e ele a abraçou pelas costas e a colocou de frente para o espelho, onde seus olhos se encontraram enquanto ele dizia:

- Eu quero que você se observe e se concentre no que vou dizer.- Anne assentiu, e assim Gilbert continuou:- Você não tem motivos para se envergonhar, pois deve saber o quanto eu te acho linda dessa maneira. – ele colocou as mãos no seios dela e disse:- Você se lembra do quanto eles eram pequenos? E olha como estão arredondados e maiores agora, o que te deixa tão sexy, e me dá mais vontade ainda de tocá-los.- ele disse, arrancando um suspiro de Anne quando acariciou os mamilos rígidos e sensíveis com a ponta os dedos. Ele desceu as mãos pelos quadris, onde ele apertou com vontade, e disse no ouvido de Anne:- Aqui você está mais arredondada, e tão gostosa.- ele mordiscou a orelha dela, e Anne gemeu, mas não tirou os olhos dos dele no espelho. Ele levou as mãos até o ventre dela, e continuou sua descrição do corpo dela, assim como ia tocando-a para que entendesse que não havia nenhuma parte dela que ele não considerasse desejável:- E é aqui que estão nossos bebês, tão amados e concebidos por nós dois. Aqui está o nosso amor de uma vida inteira que vibra e cresce em seu corpo, mostrando ao mundo o quanto somos um do outro, e quanto o sentimento transcendeu nossos corações para criar duas vidas lindas que logo virão ao mundo, deixando nossa família completa. Como pode ter vergonha disso? Isso tudo é lindo, Anne. Essa transformação em seu corpo me faz admirá-la ainda mais. Você precisa se orgulhar disso, e não menosprezar a sua aparência, porque eu te amo ainda mais por isso.- Anne então se virou de frente para ele e disse:

- Então, me mostra como você me ama.- ela disse se pendurando no pescoço de Gilbert, que logo a deitou na cama e a beijou com toda a sua paixão. As mãos dele correram por todo o corpo dela, sua boca a fez delirar, principalmente quando tocou-lhe a intimidade úmida que pulsava por ele com toda a força. Gilbert rolou com ela pela cama, bagunçando completamente os lençóis, enquanto, ele continuava tocando a pele dela de todas as formas que conhecia, fazendo-a arfar muitas vezes, sentindo que ela chegava no seu limite assim como ele. Gilbert sabia o que ela queria que ele fizesse, mas, prolongou a tortura até vê-la implorando para que ele a possuísse, e quando ele fez isso, ele ouvi-a gemer o nome dele tão alto, que o excitou ainda mais. Assim, ele fez amor com ela, da forma que mais gostava, sem limites, e quando seu corpos chegaram até a satisfação plena dos sentidos, tanto Anne quanto Gilbert caíram esgotados sobre a cama, e assim que recuperou a voz, Gilbert disse no ouvido dela:

- Então, minha esposa linda, é assim que amo você.- e depois disso a beijou com uma doçura sem fim fazendo o peito de ambos bater feliz mais uma vez.- Acho que agora podemos terminar nosso banho. – Anne assentiu, e Gilbert a carregou para o chuveiro com um enorme sorriso no rosto.

GILBERT E ANNE

Alguns dias haviam se passado, e Anne acabara entrando no sétimo mês de gravidez. Novos exames foram feitos, e algum progresso em sua saúde tinha sido alcançado, por isso, ela se sentia mais feliz e confiante do que nunca de que se curaria da anemia severa que a acometera.

Naquela manhã em especial, ela se arrumava para ir ao trabalho, quando Gilbert entrou no quarto e a ficou observando por alguns minutos em silêncio até que Anne se virou e perguntou:

- Por que está me olhando dessa maneira?

- Eu estava apenas pensando no quanto minha mulher é linda.- Gilbert disse com um sorriso, e Anne sorriu de volta, sentindo-se tão sortuda por ter um marido que se importava em levantar sua alta estima.

- Obrigada, meu amor. Você continua lindo como sempre. Como foi a corrida?- ela perguntou observando os braços musculosos de Gilbert, seu peitoral que se destacava na camiseta regata branca, o shorts justo e preto que se colava em suas pernas, dando um destaque a mais aos músculos bem desenvolvidos daquela região, Os cabelos estavam completamente molhados de suor, fazendo com que os cachinhos grudassem na testa de Gilbert de um jeito encantador.

- Foi ótima como sempre. Queria que você me fizesse companhia pelo menos na caminhada.- Ele disse estendendo a mão para Anne que a pegou, e se sentou no colo do marido que estava também sentado na cama do casal.

- Você sabe que o máximo de exercício que consigo fazer com essa barriga são os de pilates, mas, eu prometo que assim que os bebês nascerem vou tentar acompanhar você.- Anne disse, observando os olhos castanhos do marido tão claros naquela manhã.

- Como está se sentindo essa manhã?- ele perguntou acariciando as mãos dela com carinho.

- Estou bem. Sem enjoos ou tonturas. Não se preocupe.- Anne disse olhando-o com amor.

- Se sentir qualquer coisa no trabalho, liga para mim, que vou correndo te buscar.- Gilbert pegou uma mecha ruiva do cabelo de Anne e brincou com ela por alguns minutos entre seus dedos. Ele amava aquele cabelo tanto quanto amava sua dona. Eram macios, brilhantes e combinavam tanto com Anne, que ele ficava encantado toda vez que olhava para ela.

- Não pode sair do trabalho toda vez que eu passar mal, Gil. Você tem suas obrigações com seus pacientes. – Anne disse, deslizando as mãos pelos braços dele, e sentindo seus músculos salientes.

- Você é mais importante para mim que qualquer paciente, e é por isso que te amo tanto.- Gilbert disse, beijando-a rapidamente nos lábios enquanto Anne transferia suas mãos para o rosto dele onde deixou uma terna carícia.

- Eu sei que sou importante para você, mas seus pacientes também são, e por isso, não posso afastá-lo deles toda hora em que não me sinto bem. Eu sei o quanto é dedicado à sua profissão, meu amor.

- Minha profissão é importante sim, mas, minha família vem em primeiro lugar.

-Muito obrigada por fazer de mim sua prioridade, mas, eu não quero que se preocupe mais. Eu estou bem, de verdade.- Anne disse, segurando o rosto dele entre as mãos, e o beijando com intensidade. Era tão bom ouvir de Gilbert que ela era a número um em sua lista de coisas importantes, pois ela ainda se lembrava do passado quando suas discussões eram justamente por se sentir colocada de lado, tornando a Medicina uma rival poderosa.

- Já tomou seu café da manhã?- ele perguntou assim que se separaram.

- Não, eu estava esperando por você.

- Vou tomar uma ducha rápida, me vestir e te encontro na cozinha em poucos minutos.- ele disse, e Anne assentiu saindo do colo dele para permitir que ele fosse tomar seu banho.

Ela não teve que esperar muito, pois como prometido, Gilbert reapareceu na cozinha em pouquíssimo tempo, já vestindo suas roupas brancas de médico, que Anne achava que o deixava charmoso demais. Ela estava quase suspirando olhando para ele, quando seu marido perguntou com um sorriso incerto:

- Agora é minha vez de perguntar por que está me olhando tanto?

- Porque o meu marido é o homem mais lindo e charmoso que já conheci. – Anne disse com os olhos brilhando, e Gilbert respondeu um tanto encabulado.

- Você sempre me deixa sem jeito quando me elogia dessa maneira.- Gilbert se sentou na mesa para o café da manhã, pensando que nunca se acostumaria com esse jeito de Anne olhá-lo como se ele fosse o homem mais bonito do mundo. Ele nunca fora bom em receber elogios sobre sua aparência, principalmente vindo de sua esposa, mas, não podia dizer que isso não o deixava também envaidecido, justamente por ela não ter olhos para mais ninguém a não ser para ele.

- Eu não sei como você ainda cora quando alguém diz que você é bonito. Eu achei que já estaria acostumado com isso a essa altura da vida.- Anne disse, achando adorável as bochechas rosadas de Gilbert apenas porque ela o elogiara como já fizera inúmeras vezes durante aquele relacionamento. Gilbert era tão modesto a respeito de sua aparência quanto era a respeito de sua capacidade de ser um médico competente, e tal qualidade a fazia amá-lo ainda mais.

- Acho que nunca pensei em mim mesmo como um homem bonito, ou sequer tive esse tipo de vaidade alguma vez em minha vida, eu sempre me preocupei mais com minha profissão e o que eu poderia aprender para me tornar um médico melhor.- ele disse com simplicidade que fez Anne responder:

- Mas, você é meu amor, um médico lindo e extremamente competente em tudo o que faz. E eu estou aqui para lembrá-lo disso sempre.- ela procurou a mão direita dele sobre a mesa, e levou-a aos lábios, sem tirar os olhos de Gilbert que a observava com um meio sorriso no rosto.

Eles sempre se comunicavam assim por meio de olhares, e pelo que Anne se lembrava desde criança tinham desenvolvido esse tipo de conexão. Quando estavam juntos, nunca precisavam falar muito, pois seus olhos eram o portal para qualquer comunicação que quisessem ter. Até mesmo o seu estado de humor era percebido dessa maneira. Anne sabia quando Gilbert estava triste, bravo, frustrado ou simplesmente irritado com alguma coisa, e vice versa. E naquele instante ela podia ver naqueles olhos castanhos que aprendera a amar, o sentimento enorme que compartilhavam em seus corações.

De repente, o sorriso dele morreu, e ele a puxou para seu colo e a abraçou com força. Anne ficou sem entender o motivo daquele gesto incomum, e perguntou, enquanto sentia Gilbert enterrar o rosto em seus cabelos :

- Gilbert, o que aconteceu?

- Nada, eu só precisava te sentir assim.- ele disse, sem conseguir explicar a ela o calafrio que passou por sua espinha como um pressentimento ruim que fez seu coração se apertar. Ele precisava abraçá-la para ter certeza de que ela estava protegida em seus braços.

- Amor, eu não estou entendendo. Não quer me explicar melhor no que está pensando?- Anne afastou-se um pouco dele, e quando o olhou, ela teve a impressão que os olhos dele estavam marejados. Aquilo a assustou, poucas vezes ela viu Gilbert chorar por alguma coisa, e agora que estavam bem não havia motivo para aquela tristeza repentina que o acometera naquele instante.- Gil?- ela perguntou segurando o rosto dele com as duas mãos, e viu consternada uma lágrima rolar pelo rosto dele.

Gilbert também não estava se entendendo. De repente, estava tomando café com Anne em uma conversa descontraída, e sentiu como se algo a estivesse ameaçando, como se ele fosse perdê-la e aquilo doeu mesmo sendo só um pensamento talvez sem fundamento, mostrando a Gilbert o quanto uma coisa assim poderia destruir sua fé na vida. Nunca conseguiria viver sem Anne, era amor demais para ser perdido assim.

- Desculpe-me, eu não sei o que me deu. Comecei a pensar em coisas tristes, e acabei me sentindo assim um pouco deprimido. Não ligue para isso, meu amor, foi besteira minha.- ele disse ao ver o rosto assustado de Anne.

- Tem certeza? Não quer me falar no que estava pensando?- ela perguntou, enterrando os dedos na nuca de Gilbert e fazendo-lhe um carinho do jeito que ele gostava, e fazia-o relaxar.

- Não é nada do que valha a pena comentar. Está tudo bem comigo.- ele disse tentando sorrir, enquanto aquele temor inesperado parecia querer fazê-lo sufocar.

-Se você diz eu acredito.- ela disse, fazendo um último carinho no rosto de Gilbert, e depois saiu do colo dele para que seu marido pudesse terminar o seu café assim como ela. Porém, todo o tempo ficou observando-o, apreensiva pelo que acabara de acontecer ali na cozinha. Gilbert nunca tivera um comportamento esquisito daquele tipo, e isso a preocupava. O que será que o levara a chorar daquele jeito? Será que estava doente? Não, ele parecia bem saudável, e não esconderia algo assim dela. Mesmo que já o tivesse feito a respeito de outras coisas, e fora ele que propora nunca mais esconderem nada um do outro, e ele não quebraria um trato assim logo de cara.

Ambos terminaram de comer ao mesmo tempo, escovaram os dentes, pegaram suas coisas, e quando Anne foi para o estacionamento do prédio naquela manhã com a intenção de cada um pegar seu carro, Gilbert disse:

- Eu vou te levar para o trabalho hoje.

- Não precisa, amor. Eu vou dirigindo.

- Anne, me deixe te levar, por favor.- a ruivinha viu um certo desespero naquele pedido, por isso disse:

- Tudo bem. Eu volto de táxi mais tarde..- Anne concordou, apenas para deixá-lo mais tranquilo. Gilbert parecia tão estranho naquele dia.

Assim, eles entraram no carro dele, e Gilbert dirigiu cerca de vinte minutos até que avistaram o prédio da agência onde Anne trabalhava. Gilbert parou o carro na porta, e se virou para Anne que desafivelava o cinto de segurança para sair do carro e disse:

- Posso te ligar mais tarde para saber como você está?

- Pode, mas, eu até agora não entendi o porque de tanta preocupação.

- Eu sempre me preocupo com você.- Gilbert disse, desejando que ela estivesse em casa e não ali.

- Sim, mas não dessa maneira exagerada.- Anne comentou.

- Eu só quero cuidar de você.

- Você cuida até demais , Gil. Preciso ir, amor, ou vou chegar atrasada. Gilbert assentiu, e quando Anne foi dar-lhe um selinho, ele capturou-lhe os lábios em um beijo quente e possessivo, que fez Anne suspirar, se agarrando aos pescoço de Gilbert, que aprofundou o beijo até que ambos ficassem sem ar. Ele acariciou as costas dela e disse:

- Me liga mais tarde.

- Ligo sim.- Anne deu-lhe um último selinho, e saiu do carro.

Gilbert observou Anne entrar na agência, e seu coração ainda apertado não parava de deixá-lo preocupado. Mesmo contrariado, ele foi para o trabalho sentindo que não devia ter deixado Anne sair de casa naquele dia, e passou toda a manhã com aquela sensação angustiante dentro do peito.

Para Anne que não tinha nenhuma preocupação dentro de si, as horas correram até que divertidas, pois após longos dias trancada dentro de casa, estar no meio de pessoas tão queridas lhe fazia tão bem que ela não parava de sorrir. Gilbert lhe ligou alguma vezes naquele dia, e ela não se importou porque sabia o quanto ele estava preocupado, e ela não queria ser motivo de mais tensão na vida de seu marido, pois para isso já bastava a profissão estressante dele.

A campanha para a qual estava fotografando estava mais focada em roupas para mulheres grávidas, e como tinha parceria com algumas Ongs, parte do lucro seria revertido para crianças carentes na África. Anne estava louca par contar sobre isso para Gilbert. Ele sempre comentara com ela que se não  estivesse casado e com filhos a caminho, ele gostaria de trabalhar no projeto médicos sem fronteiras, pois assim sentiria que estaria colaborando com a sociedade no papel que lhe cabia bem mais do que o trabalho que fazia na ala de Oncologia do hospital, embora ele também amasse o que fazia ali.

Após a cura de Brian, Gilbert se sentia muito mais confiante para tratar de casos parecidos ou iguais aos dele, fazendo-o quase se esquecer de sua mágoa por Sarah. Levara tempo, mas ele finalmente a deixara ir, e parara de prantear suas lembranças. Anne nunca pensara que um dia entenderia completamente o trabalho de seu marido e se orgulharia dele, depois de quase terem se separado para sempre por conta do ciúme de Anne em relação a medicina. Ela estava muito mais madura agora, e entendia que havia muito espaço no coração de Gilbert, para ela, os bebês e a profissão dele.

Muitas fotos foram tiradas aquela manhã, e uma delas, Anne pediu para o fotógrafo lhe enviar uma cópia, pois queria surpreender o marido. Nela Anne estava sentada no chão, com um top e a barriga de fora, a qual ela abraçava com todo o carinho, enquanto mantinha a cabeça jogada para trás, de olhos fechados como se estivesse meditando sobre algo importante.

Imediatamente, ela enviou a foto para Gilbert que logo lhe mandou uma resposta de volta que dizia: "Eu tenho uma mulher incrível, mal posso esperar para vê-la em casa novamente. Eu te amo, do seu Gilbert." Anne sorriu pela mensagem que recebera, e enviou par Gilbert a figura de um coração batendo que dizia: Uma só batida apenas por você. Te vejo mais tarde em casa. De sua Anne, e assim voltou a sessão de fotos, pois tinha várias delas para fazer antes de terminar o seu dia de trabalho.

Duas horas depois, ela tinha acabado, e foi para o camarim das modelo, onde se trocou, e fez uma ligação para Cole, que estava quase doido por conta de um trabalho que estava atrasado e a data de entrega se aproximava. Após acalmá-lo, e desligar o telefone Anne se despediu de todos do estúdio e caminhou até o ponto de táxi, onde o carro que pedira a esperava. Ela entrou no táxi, e enquanto voltava para casa, ela estava distraía pensando em Gilbert e no seu jeito estranho naquela manhã, que não viu o carro que seguia o dela a uma certa distância.

Assim que desceu do táxi em frente do apartamento, ela pagou o motorista e estava prestes a entrar no prédio, quando uma voz muito conhecida e também muito odiada disse para ela:

- Olá, Anne. Parece que nos encontramos novamente.

Ela se virou devagar, sentindo suas pernas tremerem, ao mesmo tempo em que dizia si mesma para ficar calma, pois de nada adiantaria um ataque de histeria naquele momento, que acabaria colocando-a em uma situação de perigo, e ela não tinha somente a si mesma para proteger e sim os bebês também. Corajosamente, ela ficou de frente para onde a voz tinha vindo, e foi quando viu Peter Bells vindo em sua direção. O seu andar era confiante, os seus movimentos ágeis demais, o sorriso detestável e irônico estava lá, porém eram os olhos que a assustavam, um poço de ódio, escuro e vazio. Seu coração disparou, e algo lhe dizia para correr e se esconder se fosse preciso, mas, ela não conseguiu se mexer, encarando seu perseguidor, seu desafeto e seu algoz, sabendo que dessa vez não havia escapatória, depois de todos aqueles meses sofrendo calada pelo medo, pela angústia de não saber onde aquele ser desprezível estava, ela finalmente o encontrara, e dentro de si mesma não podia se enganar, pois o acerto final de contas acabara de chegar.

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