Anne with an e- Corações em j...

By RosanaAparecidaMande

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Anne Shirley Cuthbert foi abandonada ao nascer em um orfanato por sua mãe biológica, mas ela nunca deixou de... More

capítulo 1- Lembranças
capítulo 2- amores do passado
Capítulo 3- sentimentos escondidos
Capítulo 4- Duas almas e um destino
Capítulo 5- Lado a lado com o amor
Capítulo 6- Nestes olhos teus.
Capítulo 7 - Emoções em conflito
Capítulo 8- O amor entre nós
Capítulo 9- Chamas de uma paixão
Capítulo 10- Apenas você
Capítulo 11- Corações apaixonados
Capítulo 12- Esse sonho de amor
Capítulo 13- Quando o coração se apaixona
Capítulo 14- O sentimento que vive em mim
Capítulo 15- Combinação perfeita
Capítulo 16- O que nos separa
Capítulo 17- Revelações
Capítulo 18- Expectativas
Capítulo 19- O que nos une
Capítulo 20- Tudo o que eu quis
Capítulo 21- Tudo o que sonhei
Capítulo 22- Tudo o que somos
Capítulo 23- O que me pertence
Capítulo 24- O tempo é algo relativo
Capítulo 25- O amor que te ofereço
Capítulo 26- Pensamentos proibidos
Capítulo 27- Pensamentos e desejos
Part 28- Provando do pecado
Part 29- O Jogo do amor
Part 30- Caprichos do coração
Part 31- Segredos e Desejos
Capítulo 32- Flertando com o perigo
Capítulo 33- O inesperado
Capítulo 34- Revelando um segredo
Capítulo 35- O incêndio
Capítulo 36- Uma esperança
Capítulo 37- O incêndio parte 2
Capítulo 38- Paraíso particular
Capítulo 39- As duas faces do amor
Capítulo 40- Idas e Vindas
Part 41- O retorno
Capítulo 42- Tudo o que existe entre nós
Capítulo 43- Como no princípio
Capítulo 44- Feliz Aniversário
Capítulo 45- Uma grande surpresa
Capítulo 46- O perigo mora ao lado
Capítulo 47- O inimigo nas sombras
Part 48- Amor e dor
Capítulo 49- As verdades do coração
Capítulo 50- Almas divididas
Capítulo 51- Palavras não ditas.
Part 52- O jardim do Éden
Capítulo 53- Ps: Eu te amo.
Capítulo 54- Eterno amor
Capítulo 55- Sua força em mim
Capítulo 56- Um só coração
Capítulo 57- Sem Regras
Capítulo 58- Sussurros e juras de amor
Capítulo 59- Entre o céu e o inferno
Capítulo 60- Lar
Capítulo 61- A promessa de uma vida
Capítulo 62- Entre as estrelas
Capítulo 63- De corpo e alma
Capítulo 64- Desejo e castigo
Capítulo 65- Ao cair da tarde
Capítulo 66- Vidas entrelaçadas
Capítulo 67- Amor imenso
Capítulo 68- Fogo
Comunicado
Capítulo 70- Sonhos perfeitos
Capítulo 72- Xeque Mate
Capítulo 73- Anjo Ruivo
Capítulo 74- Amor de diamante
Capítulo 75- Para sempre
Capítulo 76- Um Natal para relembrar
Capítulo 77- Tudo o que importa
Capítulo 78- Um grande novo ano
História Nova
Capítulo 79- A segurança dos seus braços
Capítulo 80- Can't take my eyes off you
Capítulo 81- Inesquecível amor
Capítulo 82- O casamento do ano
Capítulo 83- Lua de Mel Havaiana
Capítulo 84- Uma nova vida juntos
Capítulo 85- Inseguranças e Fragilidades
Capítulo 86- Ao nascer do sol
Capítulo 87- O caminho de volta
Capítulo 88- O ingrediente principal
Capítulo 89- Na alegria ou na tristeza.
Capítulo 90- O benefício da dúvida
Capítulo 91- Amor e mágoa
Capítulo 92- Impasse
Capítulo 93- Uma longa noite
Capítulo 94- Sob o mesmo céu
Capítulo 95- Juntos
Capítulo 97- Alcançando as estrelas
Capítulo 98- Acerto de contas
Capítulo 99- A vida por um fio
Capítulo 100- Garota Extraordinária
Capítulo 101- Na dor
Capítulo 102- A beleza de Vênus
Capítulo 103- The way I love you
Capítulo 104- Reconstruindo sonhos
Capítulo 105- Amor de mãe
Capítulo 106- Um novo tempo
Capítulo 107- Entre a mágoa e o perdão
Capítulo 108- Redescobrindo o passado
Capítulo 109 - Universo particular
Capítulo 110 - Esposa perfeita
Capítulo 111- Paraíso na terra
Capítulo 112- Um futuro cheio de promessas
Capítulo 113- O perdão é a cura da alma
Capítulo 114 - Lucy
Epílogo
Agradecimentos
Prêmios

Capítulo 96- A razão da minha felicidade

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By RosanaAparecidaMande


Olá, pessoal. Mais um capítulo de corações em jogo. Esperem que apreciem e me deixem seus comentários e seus votos. Vou corrigir depois, beijos.



ANNE

Acordar nunca se constituíra em um problema para Anne, que nunca fora um pássaro madrugador, mas, raramente passara mais tempo que o necessário na cama. No entanto, naquele domingo em especial, ela não queria se levantar, e levou vários minutos para abrir os olhos e encarar as primeiras luzes da manhã, embora tivesse passado um bom tempo contando até dez, e aumentando cada vez mais a contagem até que por fim não teve outra escolha a não ser deixar que seus olhos azuis se forçassem a enfrentar o nascer de um novo dia.

O calor do corpo enroscado no seu contribuía e muito para essa sua preguiça momentânea, porque depois de uma semana sentindo um frio absurdo que não era exatamente físico, mas sim emocional, ela podia se esbaldar naquele conforto incrivelmente familiar e envolvente, e permanecer assim o resto da vida se tivesse o poder de parar o tempo.

Gilbert estava ali, e não era um daqueles sonhos que tivera a semana toda, e que a fazia acordar chorando porque sabia que não era real, mas, dessa vez ela tinha os braço dele em volta de sua cintura para provar que realmente tinham feito as pazes, e que ele voltara para sua vida. Anne tentou se espreguiçar, mas não conseguiu, pois, seu marido a segurava tão forte contra si que Anne se perguntou se ele temia que ela lhe escapasse durante o sono.

De repente lhe ocorreu, que ela não fora a única que temera não ter mais aquela intimidade que adorava de volta. Gilbert também parecia ter passado por maus bocados no tempo que ficaram separados, e a prova estava ali em sua cama naquele instante, na maneira como ele a segurava como se daquilo dependesse sua vida.

Com um enorme malabarismo, ela se virou de frente para ele, e com um sorriso de ternura Anne observou-lhe a barba por fazer. Poucas vezes, em seu tempo de relacionamento, ela vira Gilbert sem se barbear, pois por trabalhar como médico em um hospital, ele deveria manter sua aparência sempre impecável, mas ela tinha que confessar para si mesma que aquele aspecto descontraído, e não tão certinho deixava seu marido ainda mais gostoso, e ela se sentia perigosamente atraída por essa versão um tanto selvagem do Dr. Blythe.

Sem conseguir ficar muito tempo apenas encarando aquele rosto lindo, ela se aproximou, e esfregou seu rosto devagarinho, nos pelinhos salientes que cresciam por todo o queixo e em volta dos lábios, e a sensação foi incrivelmente agradável, apesar da aspereza que irritava de leve a pele macia das bochechas dela. Animada por sua própria reação positiva, ela repetiu mais uma vez o gesto, e então, olhos castanhos se abriram, e ainda um tanto enevoados de sono estudaram suas feições tão próximas, cujos lábios estavam quase se beijando. Anne prendeu a respiração ao ver um brilho feroz surgir ali ,quando Gilbert percebeu que como ela também não estava sonhando. Então, ele rolou para o lado dela, ficando acima de seu corpo com uma mão de cada lado, para impedir que seu peso a incomodasse demais, e fez a mesma coisa que ela tinha feito antes, esfregando suavemente seu rosto no dela enquanto dizia em uma voz quase inaudível:

- Então, é disso que gosta agora?- Anne não respondeu porque sua voz simplesmente morreu na garganta quando sentiu ele descer até o seu pescoço, a aspereza lhe causando arrepios diversos, até que ele chegou em seus seios descendo a alça de sua camiseta, deixando sua pele exposta, enquanto ele passava sua barba quase inexistente por toda a região sensível, fazendo Anne reprimir um gemido, enquanto sua intimidade latejante entregava seu estado precário de controle. Deus! Aquilo era a pior das torturas, pois seu corpo já estava entregue antes mesmo de qualquer preliminar, assim ela permitiu que ele continuasse a descer pelo seu abdômen, e quando ela pensou que Gilbert a libertaria daquela agonia em seu baixo ventre, ele fez toda a rota de volta e enterrou seu rosto no ombro dela, onde descansou por alguns instantes, enquanto a frustração a fazia arfar.

No quesito provocação seu marido sempre tinha sido um exímio jogador, e ela não tinha nenhuma chance quando ele decidia lhe mostrar quem estava no comando da situação. É ela sequer podia reclamar já que lhe dera mais de uma semana de gelo, brincando com as emoções dele, deixando-o penar em um sofrimento que ele não merecia apenas porque sua insegurança ditara uma regra, e ela mantivera uma distância segura dele para não se machucar mais. Fora egoísta e até certo ponto mesquinha com um homem que sempre a tratara como uma princesa , que mesmo estando separados todos aqueles dias ele cuidara e se preocupara com seu bem-estar.

Ele levantou a cabeça e a fitou nos olhos, e Anne sentiu sua alma desnuda diante daquele olhar. Era como se ele pudesse enxergar em suas camadas mais profundas, e então ela se deu conta de que sempre se sentira assim em relação a Gilbert, pois desde que se conheciam ela nunca precisara mostrar muito de si para ele, pois Gilbert sempre lera nas entrelinhas dos seus sentimentos e sempre soubera por instinto como ela se sentia ou pensava. Talvez por isso aquilo tudo entre eles fosse tão forte, eram como dois imãs que se atraiam sempre na mesma direção, porque compreendiam em seus corações os desejos um do outro.

- Você é sempre tão linda quando acorda.- ele disse em uma sincera admiração que Anne podia enxergar nos olhos dele naquele instante.

- Não seja tão modesto, Dr. Blythe. Você é que fica um arraso quando acorda, e a propósito, amo sua barba por fazer. Pena que você não possa usá-la sempre.- Anne devolveu o elogio com sinceridade enquanto suas mãos tocavam o rosto dele onde a barba cobria.

- Então, era isso que estava fazendo enquanto eu dormia?

Admirando minha barba?- ele disse maliciosamente, aproximando seu rosto do dela, assim, seus lábios ficaram tão próximos que Anne sentia a respiração quente de Gilbert tocar seus rosto suavemente.

- Basicamente isso.- ela disse sem deixar de deslizar seus dedos por todo o maxilar dele.

- Então agora você tem mais um fetiche a meu respeito ?Minha barba por fazer?- ele disse em tom de brincadeira, mas Anne consegui sentir a cadência do coração dele que batia tão rápido quanto o dela.

- Você é meu fetiche, Dr. Blythe. Sou louca por cada parte sua. Será que ainda não percebeu?- ela entrelaçou os próprios dedos na nuca de seu marido e o puxou para si, seus lábios quase enlouquecidos por sentir os dele, e quando se tocaram, Anne suspirou, suas línguas se enroscaram sentindo o sabor um do outro, travando uma batalha onde não haveria um vencedor. A quanto tempo não se beijavam assim desde a última briga? Era verdade que na noite anterior eles tinham provado da boca um do outro, mas não fora como agora e não tinha bastado. Ela precisava de várias sessões como aquela que estavam protagonizando naquele momento, e talvez somente um dia inteiro de Gilbert Blythe em doses generosas poderia matar a sua sede dele, pois se sentia como uma drogada em abstinência que estivesse lentamente enlouquecendo sem o alimento de seu vício, e Gilbert era sua droga tão poderosa e tão potente que após uma semana tentando desintoxicar seu organismo dele, ela descobria que continuava tão ou até mais viciada naquele homem que para sua sorte era inteiramente seu. Eles se separaram quando não conseguiam mais respirar, pois todo o ar de seus pulmões fora tragado naquele beijo longo e cheio de sentimento dos dois.

- Senti tanta saudade de acordar assim.- Gilbert disse beijando-a na ponta do nariz.

- Eu também. Você não sabe como me fez falta, meu marido.- Anne disse, não parando um só segundo de beijá-lo pelo rosto todo.

- Nunca mais me afaste de você . Eu nunca me senti tão vazio como nessa última semana. – ele se sentou na cama, puxou Anne para seus braços, e a abraçou tão forte que fez Anne retribuir o gesto. Ela sentia falta daquilo também, daquela sensação de ser envolvida pelos braços dele, aquela necessidade de se sentir segura como só aquele tipo de abraço a fazia se sentir, e que a fazia acreditar que nada no mundo poderia atingi-la enquanto estivesse protegida naquele círculo de amor e carinho que somente Gilbert era capaz de lhe dar.

- Então, me prometa que nunca mais irá embora. Meu coração ficou partido quando eu te vi passar por aquela porta.- Anne disse aquilo com a voz tão sofrida que fez Gilbert respirar fundo e dizer:

- Você sabe porque eu fiz isso, e não foi para te ver sofrer. Eu não suportava ficar aqui com a porta desse quarto entre nós. Mas, eu também sofri demais ao te deixar aqui sozinha com os nossos bebês. Você não tem ideia do quanto eu te amo, e o quanto eu amo nossos filhos. Eu senti como se vocês tivessem sido arrancados de mim, e eu não sabia que era capaz de sentir tanta dor depois do seu sequestro quando eu pensei que podia perdê-la para sempre.- os olhos dele estavam marejados, e Anne se odiou por ter causado tanto sofrimento a alguém que só havia merecido o seu amor.

- Perdoe-me, Gilbert. Eu não estava pensando direito, e também estava ferida, me sentindo mal comigo mesma e estava infeliz, mas nunca faltou amor em meu coração por você, pois quanto mais eu tentava te odiar, mais eu te amava, e no fim eu tive que reconhecer que nunca conseguiria viver minha vida sem você.- eles se moveram ao mesmo tempo, e se beijaram com desespero como se assim pudessem apagar uma semana de sofrimento e saudade. Quando se separaram novamente, Gilbert segurou o rosto dela entre as mãos e disse:

- Vamos esquecer tudo isso, está bem? Eu quero deixar essa semana terrível de lado e continuar nossa vida de onde paramos. Apenas me diga que é isso que você quer também, pois eu não quero mais nada atrapalhando o nosso amor.- Anne sorriu ao ouvir aquelas palavras, seu coração também estava sorrindo enquanto seu amor por Gilbert transbordava por seus olhos.

- Eu quero muito. Você é o amor a minha vida, Gil. Não faz sentido nenhum eu viver nesse apartamento enorme sem você. Eu te quero aqui comigo sempre e para sempre.- ele a abraçou de novo por um longo tempo, acariciou seus cabelos, suas costas, e Anne não se lembrava quando fora tão feliz nas últimas semanas como estava se sentindo naquele momento com seu marido de volta para casa.

Aquela manhã estava sendo especial em todos os sentidos. Ela tivera a melhor noite de sono em dias, pois na última semana vivendo praticamente como uma ermitã dentro do apartamento, ela nunca conseguia dormir sem se sobressaltar a cada minuto, e quando amanhecia ela podia contar nos dedos as horas inteiras nas quais tinha realmente conseguido descansar, Entretanto, na noite anterior, ela simplesmente apagara no instante em que Gilbert a abraçara, e fora assim que seus olhos cansados se fecharam e ela encontrara finalmente paz para dormir como merecia. E ao acordar ela tivera a visão mais bela de todas, Gilbert Blythe dormindo a seu lado , mais sexy do que nunca, e ela não via a hora de provar daquela delícia todinha.

- Me diz como estão os bebês.- ele perguntou com as mãos na barriga dela, e aquele toque carinhoso fez Anne suspirar baixinho. Ela simplesmente amava a atenção que Gilbert sempre dava à sua gravidez

- Estão bem, mas, estão com saudades do papai deles.- ela disse colocando suas mãos por cima das dele.

- Eu nunca mais vou deixar vocês. Estou ansioso pelo nascimento deles. – Gilbert disse deixando um beijo na barriga descoberta dela.

- Eu também sonho tanto com isso, e logo os imagino com a carinha do pai.- ela tocou o rosto ele devagar e disse:- Você é lindo, meu amor. Se nossos filhos tiverem metade da sua beleza, nós vamos ter trabalho.- Gilbert deu aquela gargalhada gostosa que soava tão musical aos ouvidos de Anne, que a fez pensar como até sem aquele detalhe de seu marido a casa ficara triste.

- Eu vou ter que te lembrar que a modelo aqui é você, e não eu. Então, nossos filhos tem que se parecer com você.

- Ah, querido. Você não faz a menor ideia de como eu te vejo.- ela disse deslizando o olhar para o corpo dele inteiro, sentindo seu sangue esquentar ao perceber que com todos os exercícios que fazia, seu marido estava com seus músculos cada vez mais definidos.

- Assim você me deixa encabulado.- Gilbert disse sorrindo sem jeito.

- Eu só disse a verdade.- Anne respondeu bocejando.

- Está com sono?

- Sim. Eu não durmo bem a dias. - Anne respondeu reprimindo outro bocejo.

- Ainda é cedo, por que não dorme mais um pouco?

- Só se você ficar aqui comigo, pois nesses últimos dias eu descobri que detesto dormir nessa cama sozinha. - ela respondeu, segurando no pulso dele de leve. Então, Gilbert se deitou na cama, abriu os braços e disse:

- Vem cá. - Anne se aconchegou no meio deles, se deitando sobre o corpo de seu esposo, que acariciou seus cabelos até que ela caísse no sono.

GILBERT

Havia se passado algumas horas, talvez duas, Gilbert não sabia ao certo, desde o momento que acordara até o instante em que acabara cochilando de novo com Anne em seus braços.

Ele se virou devagar de lado, deitando Anne em seu travesseiro, cobriu-a com o lençol de linho, e parou para observá-la por um segundo. Ela era tão linda, e mesmo o mundo todo proclamando essa verdade nos sites de mídia, revistas de moda e jornais, ela não se via assim, e ele se perguntava o que a fazia pensar que as pessoas mentiam quando ela podia ver a mesma imagem em seu espelho todos os dias, assim como era retratada em um desfile, e só enxergava defeitos onde sua beleza era perfeita. Ela lhe dissera que o que estava errado era como ela se sentia por dentro, e não o que estava por fora, e Gilbert tentava se lembrar de algum indício na infância que ele deixara passar.

Como médico, ele entendia que certos aspectos psicológicos podiam interferir no julgamento que uma pessoa podia desenvolver acerca de si mesma, mas, ele nunca soubera que sua esposa tivesse qualquer dificuldade nessa área .Logo que ela se mudara para Green Gables e fora viver com os Cuthberts, eles se tornaram amigos, e Anne sempre se comportara como uma garotinha normal, ela nunca exibira nenhum tipo de trauma, o único aspecto de sua personalidade que talvez tivesse lhe dado alguma pista de que algo dentro dela não estava certo fora sua timidez excessiva, mas, essa característica não durara muito, e em pouco tempo, ela se tornara mais confiante, e fazia suas próprias amizades sozinha sem depender muito dele para se aproximar de outras pessoas como acontecia no princípio.

A chegada da adolescência lhe apresentara uma Anne mais ousada, que não tinha medo de meter a cara em qualquer aventura para a qual ele a convidasse a participar, como também lhe mostrara uma garota que não tinha vergonha da própria aparência, e que até a usava para encantar alguns garotos por quem estivesse interessada, inclusive ele. Vê-la anos depois em volta de uma onda de glamour, o fizera compreender que o amor de sua vida vivia em uma outra esfera totalmente diferente de onde a conhecera, e se transformara de garota bonita, em uma mulher fascinante, cujos olhares eram tremendamente poderosos e tão fáceis de seduzir o sexo masculino quanto deixá-los de quatro a seus pés como fora o caso dele, e justamente por isso, Gilbert sequer podia imaginar que aquela aparente autoconfiança dela escondesse uma insegurança profunda.

Naquele momento, refletindo sobre tudo o que já ocorrera em seu relacionamento com ela, ele conseguia entender as principais razões de seu ciúme excessivo, e reações exageradas a fatos que não deveriam ter sido levados tão a sério em primeiro lugar. O relato de Cole sobre os sentimentos adversos de Anne sobre sua mãe biológica, fora primordial para que Gilbert pudesse por fim ter uma ideia de como ter sido deixada em um orfanato por sua progenitora influenciara negativamente na opinião da ruivinha sobre si mesma. E também o fazia se sentir culpado por nunca ter considerado essa possibilidade, ou sequer perguntado a ela sobre o seu passado, o que o levava a crer que a ausência de comentários de Anne a respeito da mágoa que sentia por uma promessa quebrada de sua infância o fizera acreditar que ela superara sua estadia no orfanato muito bem, sem sequelas, ou lembranças doloridas.

O rapaz queria falar com sua esposa sobre isso, mas, como sabia que era um assunto delicado para ela, ele decidiu que esperaria um momento oportuno, pois queria entender com clareza até que ponto ela se sentia atingida pela a atitude da mãe, pois não queria mais vê-la ferida e sofrendo sozinha por fantasmas do passado. Eles estavam casados e como seu marido, Gilbert tinha por dever ajudar Anne a superar qualquer dificuldade que a fizesse infeliz. Só de pensar que todo aquele tempo, ela carregava aquilo dentro de si como um fardo amargo e pesado demais sem que ele sequer tivesse percebido, o deixava decepcionado consigo mesmo. Ele prometera que cuidaria dela, então por que simplesmente tinha falhado nessa missão?

Anne se mexeu um pouquinho, e como se pressentisse que não estava mais agarrada a Gilbert, ela se aproximou em seu sono em busca do calor dele, e o rapaz permitiu que as mãos dela tocassem seu peito até que ela ficasse imóvel novamente envolvida por seu sono pesado. Assim que percebeu que ela não acordaria, Gilbert se levantou e foi para a cozinha, onde pretendia preparar o café da manhã de Anne antes que ela despertasse em definitivo.

Ela tinha lhe dito várias vezes que ele não precisava fazer isso todos os dias, mas, a verdade era que ele adorava mimá-la, principalmente no estágio de gravidez que ela estava. Era sua maneira de fazê-la entender que ele se importava com ela mais do que ela pensava.

Gilbert abriu a geladeira em busca do leite que Anne costumava tomar, e notou desgostoso que todos os potinhos de comida preparados por ele para que Anne consumisse diariamente não tinham sequer sido abertos. O que o deixou um tanto aborrecido com ela, pois sua esposa tinha plena consciência de que precisava se alimentar direito para curar sua anemia gestacional, e não o tinha feito corretamente. Gilbert também não escapou de seu próprio julgamento, e infligiu a si mesmo um sermão silencioso por ter deixado que seus sentimentos magoados tivessem interferido em sua atenção com Anne, e não o fizera se lembrar que tinha que ter checado a geladeira todas as manhãs para saber se ela estava fazendo sua dieta supervisionada.

Daniel diria que não era a obrigação dele, e que às vezes Gilbert se esquecia que Anne era uma mulher adulta, e portanto, responsável pelos próprios atos. Contudo, o caso era que Daniel não conhecia Anne como ele, e Gilbert sabia que quando ela estava passando por alguma situação estressante, ela simplesmente não conseguia lidar com seu lado físico, pulava refeições, ou comia em horários errados exatamente o que não devia ingerir, e não era por irresponsabilidade ou propositalmente, era sua forma de punir a si mesma, mesmo que inconscientemente.

Passos leves no corredor chamaram sua atenção, e o rapaz sabia que sua esposa tinha se levantado. Ele olhou no relógio e riu mexendo a cabeça inconformado por ter se passado somente trinta minutos que ele saíra da cama, e Anne percebera. Gilbert não sabia como ainda se admirava com esse fato, pois isso sempre acontecia de manhã, como se Anne tivesse um radar que sabia exatamente quando ele não estava mais a seu lado na cama, e então seu sono se evaporava como mágica. Era muito louca essa conexão que tinham, mas, de fato ela existia, mesmo que fosse difícil qualquer pessoa acreditar nisso.

O rosto delicado de sua ruivinha surgiu na porta da cozinha no momento em que ele lhe preparava uma omelete nutritiva. Ele a encarou com sorriso, disposto a desejar-lhe um excelente dia quando a palidez de suas bochechas chamou-lhe a atenção. Anne não parecia nada bem, estava ofegante, e se segurava firmemente na maçaneta da porta como se temesse cair.

- Querida, o que foi? – ele perguntou com todos os seus instintos médicos em alerta. Ela ia responder, mas, então, Gilbert a viu colocar a mão na boca, se virar e correr às cegas para o banheiro para onde ele a seguiu preocupado, enquanto a ouvia vomitar alto e quase sem parar.

Gilbert entrou no banheiro e a encontrou sentada no ladrilho frio, coma cabeça escorada na parede, e seu rosto mais pálido do que antes. Por isso, ele se agachou ao lado dela, pegando-lhe as mãos geladas entre as suas, enquanto verificava-lhe o pulso que estava acelerado indicando uma queda de pressão brusca. Ele a pegou no colo, e a levou para o quarto onde a fez se deitar na cama, e esperou por alguns minutos até que ela conseguisse abrir os olhos e falar com ele.

- Sente-se melhor? - ele perguntou afastando alguns fios de cabelo da testa dela.

- Sim. - ela respondeu com a voz fraca.

- Você teve uma queda brusca de pressão. A quanto tempo não se alimenta direito? - Anne ia protestar e dizer que andava comendo sim, mas, ele a interrompeu dizendo:- Não adianta mentir para mim. Eu sou médico e conheço muito bem o quadro de desnutrição. Sem contar que vi os potinhos de comida na geladeira lacrados.- Anne baixou o olhar e Gilbert sabia que ela estava envergonhada por ter sido pega em sua mentira, mas, ele não queria que ela pensasse que Gilbert estava zangado com ela, pois o rapaz entendia muito bem o que andava acontecendo, por isso, ele levantou o queixo dela e disse:- Amor, você sabe que isso é grave, e se continuar assim, vai ter que ser internada para que sua anemia seja tratada adequadamente, e não poderia fazer nada, pois sua médica é a Gabriela e ela fará o que for preciso para que os bebês não sofram nenhum tipo de consequência negativa.

- Desculpa. - ela disse baixinho, e ele a puxou de encontro a si e beijou sua testa antes de dizer:

- Não precisa se desculpar. Só me diga o que está acontecendo para que eu possa te ajudar.

- Eu juro que tentei seguir a dieta, mas quando você saiu de casa eu perdi o ânimo para tudo. Ainda assim, eu me esforcei para comer regradamente nos horários estipulados, mas, os enjoos têm sido terríveis e simplesmente não consigo ingerir mais que duas colheradas.

- Os enjoos são naturais da gravidez, mas, como você está desnutrida, eles pioram. - Anne o olhou desesperada e se agarrou na mão dele e disse aflita:

- Se os bebês ficarem doentes eu nunca vou me perdoar.

- Anne, a culpa não é sua se sentir mal. Mas devia ter ligado para mim ou para Gabriela. Não pode deixar que esses sintomas se prolonguem sem avisar sua médica. - ela fez cara de choro, e ele a abraçou com carinho, tentando aliviar sua preocupação com seus bebezinhos:- Não precisa ficar assim, eu vou cuidar de você melhor daqui para frente, Vou buscar seu café da manhã, e depois vamos conversar seriamente sobre algumas coisas. - Anne assentiu e Gilbert foi apressadamente para a cozinha de onde retornou com uma bandeja repleta de alimentos leves.

Com muito custo Anne comeu cada um deles, e toda vez que olhava para Gilbert fazendo uma careta, dizendo que não conseguiria continuar, ele a incentivava com palavras de carinho, e logo a bandeja estava vazia com o olhar de aprovação do jovem médico.

- Está enjoada? - ele perguntou assim que ela lhe entregou a bandeja.

- Não. Me sinto melhor. - ela respondeu, e ele notou que o rosado natural do rosto dela tinha voltado, mas, ela ainda tinha um aspecto frágil que não deixava de ser preocupante.

- Vamos fazer o seguinte. Eu vou ligar para a Gabriela e marcar um horário para que você faça seu pré-natal essa semana, e depois vou levá-la para dar um passeio aqui perto, pois você está precisando sair desse apartamento e ver a cara do mundo lá fora, pois pelo que eu pude perceber, você se trancou aqui dentro na última semana, e não fez nada além de encarar essas paredes.- ela balançou a cabeça concordando parecendo estar perdida em suas lembranças recentes.- Então, se vista e daqui a pouco eu volto para te buscar para o nosso passeio.

Assim, Gilbert deixou Anne sozinha no quarto e foi ligar para Gabriela em busca de marcar uma consulta para a sua esposa o mais rápido possível.

GILBERT E ANNE

Era um domingo tranquilo, não muito diferente dos que Anne costumava ter nos últimos tempos, mas, para ela naquele dia específico, havia muita coisa que mudara mesmo que sutilmente, justamente porque Gilbert voltara para casa, depois de uma semana de separação forçada.

Por isso, enquanto caminhava com seu marido pela calçada em frente ao seu apartamento, ela se sentia em paz após ter permanecido por dias trancada, sem ânimo até para encarar a paisagem lá fora que sempre atraíra sua atenção por sua beleza e originalidade. ela pensava em um recomeço.

Sim, ela e Gilbert, apesar de estarem dando continuidade ao seu casamento que permanecera em pausa por conta de uma situação desagradável, eles estavam recomeçando de um ponto importante. Havia muitas histórias ainda a serem contadas pelos dois, era óbvio. Eles se conheciam a muito tempo, mas, pensamentos e emoções sempre foram para Anne uma área difícil de falar, e colocá-los em pauta em uma conversa adulta era outro fator que nunca lhe agradara no passado, mas que ela acabara descobrindo em todo aquele tempo com Gilbert não poderia haver meio termo.

Seu marido era um homem incrível, e mesmo assim, ela o colocava em situações que não deveriam existir entre eles. Era um sofrimento desnecessário, um desgaste que poderia ser evitado, se ela conseguisse enfrentar certos demônios que tinham por anos determinando sua vida e deixando sequelas pelo caminho. Gilbert era bom demais para ela, Anne tinha que admitir, e amá-lo daquela maneira que amava era um presente que nunca pudera recusar. Por conta desse amor, ela aprendera a enxergar as coisas com o coração, e tinha discernimento o bastante para perceber o que devia ser mudado ou melhorado se quisesse que continuasse dando certo um relacionamento entre os dois.

Havia arestas em seu coração ainda pontiagudas o suficiente para fazê-la sangrar, e por isso, ela sabia dentro de si mesma que deveria apará-las com urgência, e o homem que segurava sua mão com tanta segurança lhe dava forças suficiente para fazê-lo, mesmo que ainda não soubesse por onde começar.

- Vamos nos sentar aqui. - Gilbert disse, puxando-a pela mão ao indicar um banco vazio no Central Park. E assim, eles se sentaram lado olhando o movimento que era calmo naquela hora da manhã, em um domingo nublado. - Como está se sentindo? - Gilbert perguntou ao encarar seu rosto mais rosado do que quando tinha acordado aquela manhã.

- Estou melhor, não se preocupe tanto. - ela respondeu tocando o ombro dele e fazendo-lhe um carinho tímido no local.

- Você sabe que me preocupo. Pedir-me isso, é como me pedir para deixar de respirar. - ela sorriu de maneira discreta ao ouvir aquelas palavras, pensando mais uma vez que não merecia aquele homem de forma nenhuma.

- Obrigada por sempre estar aqui. - ela disse segurando-lhes as mãos, e acariciando-lhe a palma. Aquelas eram mãos que curavam, salvavam vidas, que sabiam amar como ninguém. Eram mãos que ela aprendera a respeitar, pois estavam lá sempre para ampará-la quando o mundo inteiro parecia sufocá-la com sua maldade e dor. Fora dessas mãos que sentira falta nos últimos dias, pelas quais procurara em um último afago antes de dormir. Em um ato inesperado, Anne as levou aos lábios e deixou ali um beijo suave como em um pedido de desculpas silencioso pela tensão e tristeza que ela causara ao único homem que amaria por toda a vida.

- Amor, por que não me fala sobre sua mãe? - Gilbert disse com suavidade, ao mesmo tempo em que via Anne se enrijecer toda. Ele não queria incomodá-la, ou deixá-la infeliz, porém, era um assunto do qual eles deviam falar, e Gilbert não queria adiá-lo mais.

- Não tenho nada para falar sobre essa mulher. - Anne disse com o rosto sério.

- Você precisa colocar para fora essa mágoa, Anne. Não guarde algo que tanto te faz mal dentro de você.

- O que realmente posso falar? - ela deu de ombro e depois continuou. - Ela me deixou no orfanato recém- nascida e prometeu às freiras que iria me buscar assim que pudesse, e nunca mais voltou. Isso é tudo o que eu sei.

- Cole me disse que você a procurou a alguns anos atrás. - Anne o olhou com os olhos lacrimejantes, e Gilbert sentiu a dor dela em si, por isso, a abraçou pelos ombros, a trouxe para mais perto e falou:- Pode confiar em mim, eu só quero te ajudar a entender esses sentimentos que ainda te deixam infeliz.

- Sim, eu a procurei. Fui uma tola ao pensar que talvez tivesse uma explicação que não fosse o óbvio para ela não ter ido me buscar no orfanato, mas eu descobri que ela simplesmente não me quis e que hoje vive em uma casa confortável com dois filho, o que me levou crer que ela não teve mesmo a intenção de voltar. Eu fui um erro de seu passado, e se estivesse com ela hoje, a faria se lembrar disso a todo momento, e não acho que ela gostaria que isso acontecesse. - Anne de repente se sentiu exausta, e deitou a cabeça no ombro de Gilbert que acariciou os seus cabelos e disse:

- Você não sabe disso. Deveria procurá-la novamente. Se quiser, eu posso ajudá-la com isso.

- Não precisa. Não quero saber de nada que envolva minha mãe. Estou muito bem sem ela. - Gilbert ouviu aquelas palavras, e não as contestou de pronto, mas sabia que não eram verdadeiras. Se fosse assim, Anne não carregaria aquela mágoa imensa em seu coração. Devia ser o inferno não saber se fora amada pela pessoa com quem tinha uma ligação genética forte.

- Eu entendo que isso deva te magoar demais, mas se eu fosse você, consideraria essa ideia, pelo menos para colocar um ponto final nessa história que se arrasta por anos.

- Eu não sei se quero isso. Perdi um tempo precioso com essa história antes, e não quero ressuscitá-la novamente. - Anne disse querendo encerrar o assunto, mas, Gilbert sabia que devia insistir, por isso, ele disse:

- A história não está morta, Anne. Você nunca a finalizou, por isso, ainda te machuca. Eu entendo que não queira procurar por sua mãe agora, eu nem estou sugerindo que o faça nesse exato momento. Apenas peço que pense na possibilidade disso no futuro. - Anne não respondeu. Ela apenas colocou as mãos em seu ventre, e se perguntou se Gilbert estava certo. Em breve ela seria mãe, e teria que arcar com responsabilidades sérias, principalmente tomar decisões pelos bebês, que não lhes causassem nenhum problema ou trauma no futuro. Ela já sentia uma imensa ligação com eles, e não se via deixando-os como sua mãe o fizera, embora vivessem situações diferentes. Anne tinha uma boa casa, uma excelente condição financeira, seu marido estava a seu lado e lhe dava todo o apoio do mundo, ao passo que sua mãe tivera que encarar uma gravidez sozinha, sem o apoio familiar, sem respaldo financeiro, e principalmente sem o amor do homem que lhe prometera uma vida em comum, mas, ainda assim, levando-se em conta como Anne se sentia em relação aos próprios filhos, ela se admirava por sua mãe ter cortado o cordão umbilical tão rápido, esquecendo-se totalmente da garotinha ruiva a quem fizera uma promessa.

- Prometo que vou pensar. Isso é tudo que posso lhe dizer por agora. - ela disse, envolvendo o pescoço de Gilbert com seus braços.

- Já é alguma coisa. - ele disse, beijando-a de leve nos lábios. - Agora, tem outra cosia da qual eu quero falar.

- E sobre o que é? - ela perguntou, deixando que seu olhar se perdesse na paisagem, aos seu redor.

- Eu quero saber por que se sente tão desconfortável com sua aparência? – Anne deu um longo suspiro antes de responder:

- Não é que eu me sinta desconfortável. Eu só não gosto dela no momento. - Anne respondeu. Ali estava outra questão complicada. Ela nunca gostara de como se via no espelho. Apesar de a carreira de modelo ter afastado a sensação que tinha quando criança de não ser adequada, de não se encaixar nos padrões de beleza do momento, aquela insegurança voltara com força total ao ficar grávida, e principalmente por estar casada com um homem cuja beleza saltava aos olhos de qualquer um, e atraia mais mulheres que seria prudente dizer.

- As mudanças da gravidez em seu corpo a incomodam? – Gilbert perguntou de supetão, e Anne o encarou surpresa.

- Não, eu amo estar grávida, e sabia desde o princípio que as mudanças aconteceriam.

- Então, por que, Anne? Por que se sente tão infeliz? Será que eu não tenho demonstrado o quanto eu te amo o suficiente? Sou eu a causa desses sentimentos de inferioridade que a fazem se sentir assim tão triste? - Anne o encarou pensando no que ele acabara de dizer. Gilbert era a última pessoa no mundo a quem atribuiria algum tipo de culpa na maneira como se sentia acerca da própria aparência. Era algo que nem mesmo ela entendia. Talvez também estivesse ligada ao abandono de sua mãe, algo que a fazia temer ser deixada pelas pessoas que amava, algo que desejaria mudar e não podia, e sua aparência era o primeiro item no qual descarregava sua frustração e receio.

Talvez tudo aquilo não tivesse a ver com sua aparência afinal, e sim com o seu complexo de não ser suficiente, de não ser perfeita em todos os sentidos como gostaria, de não ser a mulher que Gilbert merecia, e usar sua aparência como desculpa era um fator a se ponderar. Uma vez um psicólogo lhe dissera, que quando temos algum trauma dentro de nós que não conseguimos mudar por alguma razão, nos apegamos a outros que podemos realizar a mudança que desejamos, e assim camuflamos nossas carências e necessidades. E no seu caso, talvez isso fosse realmente verdade.

Todas as vezes que sentira ciúmes de Gilbert era por insegurança de que houvesse uma falha tão grande em sua personalidade que seu marido sentisse vontade de procurar em outras mulheres o que faltava nela. Fora isso que acontecera com Denise Williams. Ela era bonita, inteligente e mil vezes mais culta que Anne, e ao vê-la com Gilbert, as imperfeições que a ruivinha via em si mesma nunca lhe pareceram tão claras. Talvez se essas imperfeições não existissem em primeiro lugar, sua mãe não a teria deixado para trás, e seu marido não precisaria levantar um único olhar para outra mulher. Eram sentimentos complexos que não seriam compreendidos por qualquer pessoa do lado de fora, e possivelmente fossem vistos como absurdos e ridículos, porém, ninguém parava para pensar que era esse tipo de complexo que levava às pessoas cometerem loucuras, achando que se fizessem o impossível para mudar o lado de fora, automaticamente o lado de dentro também se modificaria. Desta forma, síndromes, manias, doenças psíquicas eram desenvolvidas, e às vezes só eram percebidas quando já era tarde demais para serem curadas.

- Não, Gil. A culpa disso tudo não é sua. Nunca duvidei do seu amor, são camadas dentro de mim que precisam ser arrancadas, mas, ainda não tive força o suficiente para fazê-lo.

- Deixe-me ajudá-la então. Se apoie em mim. Vou estar com você para sempre. Vamos fazer isso juntos. - ele disse, abraçando-a pela cintura.

- Apenas nunca deixe de me amar, pois eu posso suportar tudo, menos com a ideia de que não terei seu amor em algum momento da vida. - Tal ideia lhe trazia lagrimas aos olhos, e Anne odiava se sentir tão frágil assim.

- Eu tenho te amado a vida inteira, e isso nunca vai mudar. Eu quero apenas que se sinta bem e feliz a meu lado. E quando isso não acontece sinto que fracassei.

- Você não pode se sentir responsável por esses sentimentos que estão dentro de mim. Não cabe a você curá-los ou modifica-los. Você me faz feliz e me sinto excelente a seu lado como sempre me senti desde os meus nove anos. Você é o amor com o qual sonhei, e esses bebês que crescem em meu corpo é a prova disso. Minha felicidade é você e sempre será você. - ela se declarou, e então se beijaram, como se aquela última semana não tivesse existido. O amor estava de volta em suas vidas, e tão agarrado a seu espírito quem nem em um milhão de anos seria arrancado dele novamente.

- Quer ir para casa? - Gilbert disse assim que se separaram.

- Quero sim. Estou começando a me sentir fraca de novo. – Anne, disse, agarrando à mão que Gilbert estendia com força.

Eles voltaram para o apartamento, e Gilbert a fez se alimentar novamente, antes que Anne fosse para o quarto, e adormecesse por algumas horas. Quando ela acordou, o dia já tinha alcançado o fim da tarde, e ela decidiu tomar um banho de espuma, pois fazia dias que não relaxava assim.

Deste modo, ela encheu a banheira de sais de banho, tirou a roupa completamente e deixou que seu corpo mergulhasse em meio à agua perfumada, e agradavelmente quente, apoiando sua cabeça na borda enquanto fechava os olhos e se permitia divagar.

Naquele exato momento, Gilbert deixava o livro que estava lendo de lado, ao perceber que as horas avançavam e logo seria noite, por isso, ele se levantou do sofá e foi até o quarto ver como Anne estava, pois não se falavam desde a hora do almoço. Quando entrou no quarto, Gilbert se surpreendeu por não encontrá-la dormindo, mas, logo a luz do banheiro acesa lhe chamou a atenção, e por esta razão, foi para lá que se dirigiu.

Seus olhos se arregalaram ao ver Anne deitada na banheira tendo como proteção apenas uma enorme quantidade de espuma, que não deixava que o olhar de Gilbert fosse mais além. Atraído por aquela pele rosada que a luz suave do ambiente a fazia brilhar, ele se aproximou apenas com a intenção de contemplá-la mais de perto.

Como era de se esperar, Anne abriu os olhos e também se assustou um pouco ao ver Gilbert na borda da banheira, olhando para ela de um jeito que ela conhecia bem. Seu rosto foi iluminado por um sorriso, e ela apenas estendeu a mão, convidando assim Gilbert para entrar na banheira com ela.

O rapaz pensou em recusar, pois sabia que ela ainda não estava tão bem para que voltassem a ter um relacionamento íntimo, mas, o convite explícito naquele rosto eu ele adorava tornou difícil para ele recusar, e assim se despiu e se juntou a ela naquele mundo imenso de espumas. Suas boas colidiram, no momento em que Gilbert se aproximou dela, e todos aqueles dias sem um toque mais íntimo tornou tudo mais intenso.

De repente, Anne estava em seu colo, se movimentando lentamente sobre sua intimidade, fazendo-o sua excitação crescer junto com o seu desejo. Anne afundou seus dedos nos cabelos dele, enquanto Gilbert deslizava sua língua por todos os lugares daquele corpo que nunca deixava de ser sua mais doce obsessão. Ele levou as mãos aos cabelos dela, enquanto murmurava:

- Você é linda. Nunca se esqueça disso. - e voltou a beijá-la como se nunca tivesse feito isso antes; A paixão os envolveu em suas labaredas ardentes, ao mesmo tempo em que Anne apertava todos os seus músculos com avidez. Quanta saudade estava sentindo de ter Gilbert assim tão apaixonado e entregue a seus braços. Seus corpos se entrelaçaram dentro da banheira, e logo, todo o corpo de Anne se tornava mais frenético com os lábios de Gilbert provocando-lhe mil e uma sensações novas e velhas que misturadas se tornavam fatal a qualquer tentativa sua de resistir. No entanto, ela não queria resistir, pois sonhara com isso todos aqueles dias, e quase não acreditava que estava mesmo acontecendo.

Enquanto, as mãos e lábios de Anne faziam Gilbert delirar com o fogo intenso que se espalhava por todo o seu corpo, o rapaz pensava no quanto o seu amor por Anne crescia a uma proporção que às vezes o assustava. Ela era a única mulher capaz de fazê-lo perder a razão tão rápido quanto o desejo que dominava cada um de seus gestos. Ele nunca amaria outra garota daquele jeito, pois ela era como uma constelação de estrelas que juntas transformavam aquele mulher fascinante no único paraíso para ele na terra.

E assim, eles se envolveram mais uma vez naquele jogo dos sentidos que fazia uma festa inteira de sensações se infiltrarem em cada poro, terminação nervosa, ondulação, e assim como podiam sentir o coração um do outro batendo a toda velocidade, eles sentiam aquele amor imenso que os unia acontecer outra vez, entre suspiros e gemidos até alcançar a satisfação completa que explodiu em seus corpos como trovões que anunciavam o início de uma tempestade maravilhosa.

Horas depois estavam na cama, seus corpos ardentes continuavam a se mover na dança do amor que duraria por aquela noite inteira. Quando seus olhos se encontraram e Anne viu na orbe castanha de Gilbert o espelho único dos seus próprios sentimentos por ele, ela reafirmou para si mesma que ali, com aquele homem que era a única razão de sua vida, era onde para sempre pertenceria.


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