Anne with an e- Corações em j...

Por RosanaAparecidaMande

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Anne Shirley Cuthbert foi abandonada ao nascer em um orfanato por sua mãe biológica, mas ela nunca deixou de... Más

capítulo 1- Lembranças
capítulo 2- amores do passado
Capítulo 3- sentimentos escondidos
Capítulo 4- Duas almas e um destino
Capítulo 5- Lado a lado com o amor
Capítulo 6- Nestes olhos teus.
Capítulo 7 - Emoções em conflito
Capítulo 8- O amor entre nós
Capítulo 9- Chamas de uma paixão
Capítulo 10- Apenas você
Capítulo 11- Corações apaixonados
Capítulo 12- Esse sonho de amor
Capítulo 13- Quando o coração se apaixona
Capítulo 14- O sentimento que vive em mim
Capítulo 15- Combinação perfeita
Capítulo 16- O que nos separa
Capítulo 17- Revelações
Capítulo 18- Expectativas
Capítulo 19- O que nos une
Capítulo 20- Tudo o que eu quis
Capítulo 21- Tudo o que sonhei
Capítulo 22- Tudo o que somos
Capítulo 23- O que me pertence
Capítulo 24- O tempo é algo relativo
Capítulo 25- O amor que te ofereço
Capítulo 26- Pensamentos proibidos
Capítulo 27- Pensamentos e desejos
Part 28- Provando do pecado
Part 29- O Jogo do amor
Part 30- Caprichos do coração
Part 31- Segredos e Desejos
Capítulo 32- Flertando com o perigo
Capítulo 33- O inesperado
Capítulo 34- Revelando um segredo
Capítulo 35- O incêndio
Capítulo 36- Uma esperança
Capítulo 37- O incêndio parte 2
Capítulo 38- Paraíso particular
Capítulo 39- As duas faces do amor
Capítulo 40- Idas e Vindas
Part 41- O retorno
Capítulo 42- Tudo o que existe entre nós
Capítulo 43- Como no princípio
Capítulo 44- Feliz Aniversário
Capítulo 45- Uma grande surpresa
Capítulo 46- O perigo mora ao lado
Capítulo 47- O inimigo nas sombras
Part 48- Amor e dor
Capítulo 49- As verdades do coração
Capítulo 50- Almas divididas
Capítulo 51- Palavras não ditas.
Part 52- O jardim do Éden
Capítulo 53- Ps: Eu te amo.
Capítulo 54- Eterno amor
Capítulo 55- Sua força em mim
Capítulo 56- Um só coração
Capítulo 57- Sem Regras
Capítulo 58- Sussurros e juras de amor
Capítulo 59- Entre o céu e o inferno
Capítulo 60- Lar
Capítulo 61- A promessa de uma vida
Capítulo 62- Entre as estrelas
Capítulo 63- De corpo e alma
Capítulo 64- Desejo e castigo
Capítulo 65- Ao cair da tarde
Capítulo 66- Vidas entrelaçadas
Capítulo 67- Amor imenso
Capítulo 68- Fogo
Comunicado
Capítulo 70- Sonhos perfeitos
Capítulo 72- Xeque Mate
Capítulo 73- Anjo Ruivo
Capítulo 74- Amor de diamante
Capítulo 75- Para sempre
Capítulo 76- Um Natal para relembrar
Capítulo 77- Tudo o que importa
Capítulo 78- Um grande novo ano
História Nova
Capítulo 79- A segurança dos seus braços
Capítulo 80- Can't take my eyes off you
Capítulo 81- Inesquecível amor
Capítulo 82- O casamento do ano
Capítulo 83- Lua de Mel Havaiana
Capítulo 84- Uma nova vida juntos
Capítulo 85- Inseguranças e Fragilidades
Capítulo 86- Ao nascer do sol
Capítulo 87- O caminho de volta
Capítulo 88- O ingrediente principal
Capítulo 89- Na alegria ou na tristeza.
Capítulo 90- O benefício da dúvida
Capítulo 92- Impasse
Capítulo 93- Uma longa noite
Capítulo 94- Sob o mesmo céu
Capítulo 95- Juntos
Capítulo 96- A razão da minha felicidade
Capítulo 97- Alcançando as estrelas
Capítulo 98- Acerto de contas
Capítulo 99- A vida por um fio
Capítulo 100- Garota Extraordinária
Capítulo 101- Na dor
Capítulo 102- A beleza de Vênus
Capítulo 103- The way I love you
Capítulo 104- Reconstruindo sonhos
Capítulo 105- Amor de mãe
Capítulo 106- Um novo tempo
Capítulo 107- Entre a mágoa e o perdão
Capítulo 108- Redescobrindo o passado
Capítulo 109 - Universo particular
Capítulo 110 - Esposa perfeita
Capítulo 111- Paraíso na terra
Capítulo 112- Um futuro cheio de promessas
Capítulo 113- O perdão é a cura da alma
Capítulo 114 - Lucy
Epílogo
Agradecimentos
Prêmios

Capítulo 91- Amor e mágoa

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Por RosanaAparecidaMande


Olá pessoal. Mais um capítulo postado. Espero pelos comentários. Farei a revisão depois. Beijos.

ANNE

A penumbra do quarto parecia deixar o ambiente ainda mais lúgubre, porém Anne não se importava. Tudo o que queria era enterrar a cabeça no travesseiro, e deixar que todo seu corpo se desintegrasse naquela escuridão que era como se sentia por dentro também. Aquela fora uma das piores noites que já tivera, porque estava sozinha naquela cama enorme, por onde rolara por muitas horas, dormindo apenas por míseros minutos.

Exausta, ela se sentou na cama, acendeu a luz da cabeceira e verificou o relógio. Ainda era bem cedo, o dia mal tinha nascido, mas, para Anne que amargara uma madrugada inteira de silêncios e pensamentos infelizes, parecia que tinham se passado uma semana inteira dentro daquele quarto onde cada canto lembrava Gilbert, assim como o cheiro dele tomava conta de todos os lençóis, atormentando-a com as lembranças que a faziam sofrer.

Resignada, Anne se levantou e acendeu a luz, depois, caminhou até a penteadeira onde se sentou em frente ao espelho, examinando a própria imagem desanimada. Sua pele normalmente rosada, perdera completamente a cor, assumindo um aspecto pálido e cansado, seus olhos azuis estavam brilhantes e avermelhados por conta do choro incontrolável que tomara conta dela pela noite adentro, e os cabelos enormes estavam tão desarrumados, que escova nenhuma daria jeito. Sem paciência para desembaraçá-los, Anne os prendeu no alto da cabeça em um coque simples. Depois, se dirigiu ao banheiro, onde tomou um banho quente, deixando que a água massageasse seus músculos doloridos em uma tentativa de aliviar seu desconforto físico, mas, não teve muito sucesso. O que realmente funcionava eram as massagens de Gilbert, mas, como não podia contar com elas naquele momento, ela teria que achar outra forma de relaxar.

Deste modo, Anne voltou para o quarto a procura de seu moletom rosa. Não era bem uma cor que lhe agradava, mas, era confortável e quente, tudo o que precisava no momento, já que dentro de si havia um enorme bloco de gelo prestes a congelar seu coração. Assim que o encontrou na primeira gaveta de sua cômoda, ela o vestiu, e depois se sentou na cama pensando no que fazer. Não poderia ficar trancada no quarto o dia todo, embora a tentação fosse extrema. Ela sabia que Gilbert estava no apartamento, e não queria encontrá-lo ainda, pois não se sentia preparada para um confronto direto com ele logo pela manhã. Anne estava frágil, sensível e o pior de tudo carente, e bastaria um toque dele para que ela colocasse tudo a perder.

Como odiava essa sua vulnerabilidade justamente naquele momento. Pois por mais raiva e mágoa que sentisse pelo que Gilbert lhe tinha feito, ela já sentia a falta dele pesar ao seu redor. O que ela tinha feito de errado? O que o levara a trai-la? Ela não acreditava naqueles velhos chavões que costumava a ouvir enquanto estava crescendo de que homens eram homens, e agiam mais por desejos físicos, do que por obrigações morais. Deixavam-se levar por paixões frívolas, em busca de satisfações para seus próprios egos de macho arrogante e narcisista.

Gilbert nunca agiria daquela maneira. Ela o conhecia a anos, e jamais o vira agir por impulso, apenas para alimentar emoções superficiais. Se ele se envolvera com Denise, fora porque ela significava algo para ele, e não somente para passar o tempo ou acabar com o tédio. Ao pensar nisso, o rosto de Anne se crispou de angústia, assim como suas mãos de unhas bem compridas arranhavam os lençóis de raiva. Ela sequer conseguia imaginar aqueles lábios tão amados beijando outra mulher, ou aquelas mãos carinhosas fazendo outra mulher suspirar que não fosse ela. Como ela odiava pensar que Denise abraçara seu marido como Anne costumava abraçar, ou ouvira dos lábios dele palavras quentes e excitantes que fariam qualquer mulher se derreter de desejo e paixão.

De repente, ela percebeu o que sua cabeça estava tentando fazer com ela fechada naquele cômodo do apartamento, onde seus melhores momentos com Gilbert tinham acontecido, e sentiu que precisava de ar. Não aguentava mais ficar ali presa com sua autopiedade, enlouquecendo de ciúme e dor. Por isso, ela caminhou até a porta, colocou seu ouvido nela, mas não ouviu nenhum movimento suspeito do lado de fora. Talvez Gilbert ainda estivesse dormindo, ou saído para sua corrida matinal, assim, ela teria tempo para preparar o próprio café da manhã e voltar para o quarto antes que ele retornasse. Anne não queria e não podia encontrá-lo, pelo menos ainda não.

Reunindo sua coragem, ela abriu a porta, e quando colocou os pés para fora, Anne sentiu um baque dentro de si, ao ver Gilbert sentado no chão, com as costas encostadas no batente da porta, a cabeça pendendo para o lado esquerdo, e o rosto exausto de quem passara pelo mesmo inferno da noite que ela. Por que ele estava ali, ao invés de ter dormido no quarto de hóspedes? Ela não queria sentir nada ao ver aquela cena, mas, não adiantou dizer para o seu coração parar de doer com a imagem de seu marido dormindo daquele jeito tão desconfortável, e quase se esqueceu de tudo o que havia acontecido no dia anterior. Sua vontade era sentar-se ali com Gilbert, deitar a cabeça dele em seu colo, e fazê-lo dormir como faria com os gêmeos em sua barriga dali a alguns meses. No entanto, ela se forçou a endurecer suas emoções, deixando de lado qualquer outro sentimento que não fosse o de raiva, se aproximou dele, tocando-lhe o ombro de leve e disse:

- Gil, você precisa acordar. - Ela ouviu Gilbert resmungar algo e depois abrir os olhos bem devagar, endireitar o corpo, e fixar seu olhar nela como se não acreditasse que ela estivesse ali. A voz de Gilbert saiu enrouquecida quando ele disse:

- Anne, que bom que está aqui, fiquei preocupado. - A voz dele soou tão cansada, que Anne teve que engolir em seco para afastar a onda de ternura que a atingiu, ao olhar para aquele rosto que não conseguia deixar de amar. Porém, logo tratou de responder, disfarçando sua infelicidade.

- Não precisa se preocupar. Eu posso muito bem tomar conta de mim mesma sozinha. - Seu tom soou duro demais, contudo fora essa exatamente a intenção. Ela precisava colocar uma distância segura entre eles, e tratá-lo assim era o único jeito.

- Anne, a gente precisa conversar. - Gilbert disse se levantando do lugar onde passara a noite toda sentado. O que será que ele esperava ganhar com aquilo? Uma medalha de abnegação por ter abdicado de seu conforto e ficado ali em sua porta como seu guarda-costas?, ela pensou.

- Não precisamos não. Tenho coisas mais importantes para fazer do que perder meu tempo com você.- ela disse, se encaminhando para cozinha , mas, quando deu dois passos, sua vista ficou turva, e teve apenas tempo de ouvir Gilbert gritar seu nome, e então, a escuridão total a envolveu.

Quando recuperou a consciência, Anne percebeu que estava deitada na cama em seu quarto, e Gilbert estava sentado ao seu lado segurando sua mão. Ela tentou desfazer o contato, mas o rapaz não permitiu, pois parecia estar disposto a ficar por perto, mesmo Anne fazendo de tudo para que ele se afastasse, pois de repente, ela percebeu que ter seu marido tão próximo era pior do que ter passado a noite sem ele. O aroma da colônia que Gilbert usava a estava deixando desnorteada, e Anne se remexeu na cama tentando não pensar na tentação daqueles olhos castanhos.

- Como está se sentindo? - Gilbert perguntou parecendo realmente preocupado com ela.

- O que aconteceu? - a ruiva perguntou sem olhá-lo diretamente.

- Você desmaiou. Creio que não jantou ontem, não é? - aquilo era uma afirmação, e não uma pergunta, o que fez Anne responder:

- Não.

- Você sabe que não pode ficar assim. Precisa pensar nos bebês. - O tom de Gilbert a deixou irritada, fazendo-a dizer:

- É obvio que penso nos bebês. Quer insinuar que não me preocupo com meus filhos?

- Nossos filhos.- Gilbert a corrigiu, e Anne fingiu não notar o tom magoado que saiu do lábios dele.- De qualquer forma, eu preparei o café da manhã para você.- ele se levantou e foi até a cômoda perto da porta e pegou uma bandeja que havia deixado ali a alguns minutos atrás, e a trouxe até Anne.

- Você não precisava se preocupar com isso. - Ela disse, sentindo-se contrariada. Não queria ter motivos para agradecê-lo por nada, pois caso contrário sua raiva atual poderia se transformar em outra coisa, e não era isso que desejava.

- Você sabe que me preocupo, pois você é minha esposa. - Neste ponto da conversa, Anne o encarou, e Gilbert fez o mesmo, e ficaram assim perdidos em seus próprios pensamentos. Como ele pôde ter feito aquilo com ela e estragado irremediavelmente aquela relação tão cheia de amor? Será que ela se enganara, e não percebera que com sua gravidez, Gilbert acabara se afastando dela? Mas, ele parecia querer os bebês tanto quanto ela, e a relação deles continuava quente como no início, então que o que faltara ali que sentira necessidade de buscar em outra mulher? Ela queria chorar, mas, não iria fazê-lo na frente de Gilbert. Ela não desperdiçaria uma gota sequer ali naquele instante. Quando ficasse sozinha, talvez pudesse liberar sua mágoa., porém, enquanto seu marido permanecesse a seu lado, ela manteria seu coração aos prantos, mas seus olhos secos e sem emoção nenhuma.

Gilbert estendeu a mão para tocar seu rosto, mas, Anne fugiu do toque se inclinando para o lado para pegar uma torrada. Ele percebeu sua relutância em deixá-lo chegar mais perto, por isso, permitiu que seus braços caíssem ao lado do corpo, e se limitou a olhá-la simplesmente.

Anne comeu em um silêncio deprimente, e mesmo detestando aquele clima pesado, ela não dirigiu a Gilbert nenhuma palavra, e se forçou a comer até a última migalha do café da manhã, pois sabia que ele não permitiria que ela não se alimentasse como deveria. Disso, Anne também não poderia discordar, pois era para o seu bem e principalmente dos bebês, por isso, não protestou ou reclamou de nada, bebendo até a última gota de seu leite, e entregando a bandeja para Gilbert logo em seguida.

- Obrigada. - Anne disse quase bocejando. A noite mal dormida estava cobrando seu tributo naquele momento.

- De nada. - Gilbert respondeu, indo até a cozinha com a bandeja vazia, e retornando para o quarto quase que imediatamente.

- Anne, nós precisamos conversar. - Ele pegou uma mecha de cabelo dela que escapara do coque, e a enrolou em seus dedos. Era um gesto simples, mas que evidenciava a intimidade que sempre houvera entre os dois. O coração dela deu um pulo, ao sentir a mão dele próxima de seu rosto , e ela quase inclinou para o lado e deixou que a palma da mão dele alcançasse sua bochecha, pois já estava em processo de abstinência dos carinhos dele, mas, no último minuto, ela não permitiu que sua fraqueza a fizesse ceder, e continuou na mesma posição que antes.

- Eu não quero conversar agora. - Ela disse, virando-se do lado e encarando a parede.

- Amor, por favor. Eu preciso que saiba tudo o que aconteceu ontem. Foi um mal-entendido. - Anne colocou as mãos sobre a barriga e fechou os olhos. Aquilo parecia um pesadelo do qual torcia para acordar logo. Porém, ela sabia que aquilo não era um sonho ruim, era na verdade uma realidade ruim, a única que nunca pensara que teria que viver um dia. Não podia fugir de Gilbert para sempre, pois sabia que em algum momento teriam mesmo que conversar, porém não se sentia preparada para que Gilbert tocasse na ferida em carne viva dentro dela.

- Será que podemos deixar essa conversa para mais tarde? Estou exausta. - Ela disse com a voz trêmula, se sentindo fraca e muito frágil.

- Está bem. Vou deixar você descansar. Nos falamos mais tarde, então. - Anne fechou os olhos, e em questão de minutos já ressonava, por isso, não sentiu o beijo na testa e o afago no rosto que Gilbert lhe deu antes de sair e deixá-la sozinha.

GILBERT

Nunca Gilbert precisara tanto de uma corrida do que naquele dia em que seus demônios interiores ferviam dentro dele, e sua cabeça não lhe dava trégua, fazendo-o remoer os acontecimentos do dia anterior várias e várias vezes, enquanto, ele cumpria seus quilômetros habituais. Ele fora um tolo, ao deixar que Denise o enganasse daquele jeito, e agora, seu casamento, que era uma das coisas que mais prezava na vida estava em risco, porque ele acreditara que podia controlar aquela situação sem envolver sua esposa no processo todo, e no fim Anne fora a pessoa que mais saíra magoada naquela história. Tudo o que ele quisera evitar.

Entretanto, outro dilema se formara, e Gilbert não achava que seria tão fácil assim resolvê-lo. Anne acreditaria nele se ele lhe contasse como tudo tinha acontecido? Ela lhe parecera tão machucada, que mal o encarava de frente. Ele odiava esta distância entre eles, essa barreira que ela colocava para que ele não se aproximasse mais do que o necessário, como se não o quisesse por perto ou precisasse dele, atingindo dessa maneira onde doía mais que era o seu coração.

Vê-la sofrer o deixava em agonia, ainda mais por algo que ela acreditava que ele fizera, mas, que não era verdade. O que mais queria era protegê-la, porém toda vez que tentava fazer isso, ele falhava, e tornava a situação pior do que no início. Não aceitava perdê-la de forma nenhuma, principalmente por uma intriga absurda causada por uma mulher abusada, que não tinha respeito por ninguém, e menos ainda por si mesma. Os olhos tristes e vermelhos de Anne não escondiam o quanto ela chorara trancada naquele quarto, e sequer permitira que ele entrasse lá, e a consolasse. Ela estava exausta, e ele também, mas, não se importava de ter passado a noite toda sentado no chão do apartamento, porque não sentia que havia outro lugar para onde quisesse ir. Seu lugar era ali ao lado dela, mesmo que esse lado fosse fora daquele quarto.

Não podia mentir e dizer que não sentira falta de dormir com ela enroscada em seus braços, enquanto ouviam os bebês se mexendo no ventre dela o tempo todo. Deus! Como ele amava Anne Shirley Cuthbert Blythe, e aqueles dois pequenos seres que cresciam a cada dia dentro daquela mulher que era sua vida. Nunca saberia viver sem ela, na verdade nunca soubera. Quando ela fora embora aos catorze anos, nos sete que se seguiram, ele apenas fingira que construíra uma vida para si mesmo, mas a verdade era que ele apenas camuflara seus sentimentos para seguir em frente, porém, tudo fora uma mentira que contara para si próprio todos os dias antes de dormir, e apenas se tornara verdadeiro depois que Anne voltara para casa.

Casar com ela o fizera alcançar o auge da felicidade, e saber que seria pai dos filhos dela também fazia parte dos sonhos que criara para os dois. A vida nunca teria o mesmo sabor para ele, se Anne não quisesse mais viver ao seu lado, e por isso, evitava pensar que teria que recomeçar novamente sem aqueles olhos azuis que iluminavam suas noites de sono. Era um amor tão grande, esse que vivia dentro dele, tão raro de se encontrar. Quantas pessoas conseguiam achar seu par perfeito aos onze anos de idade, e ainda por cima no sorriso lindo de sua melhor amiga?

Gilbert parou um instante de correr, e se hidratou com uma garrafinha de água que trouxera consigo. Ele estava a poucos metros do Central Park onde marcara com Daniel, após ligar para o amigo antes de sair de casa, sabendo que naquele dia era sua folga. Gilbert precisava desabafar , e na falta de Moody, ele tinha Daniel que era excelente para dar conselhos, pois tinha que admitir para si mesmo que se sentia mais perdido agora do que quando voltara da Alemanha e tivera que fazer de tudo para conquistar Anne de volta.

Ele sabia o que tinha que fazer em relação a Denise Williams, mas, não pensara que teria que chegar a esse extremo. No entanto, Gilbert também não pensara que ela jogaria tão baixo por ser rejeitada por ele, e muito menos imaginara o quão vingativa ela poderia ser, por isso, ele também não teria escrúpulos quando chegasse ao hospital naquele dia para falar com o Dr. Phillips, e contar sobre tudo o que acontecera no dia anterior. Gilbert a queria longe dele, se possível em outro Continente onde nunca mais teria que olhar para aquele rosto cínico ou suportar suas piadinhas sem graça.

O jovem médico correu mais dois metros, e logo avistou Daniel encostado no portão de entrada do parque, verificando algo em seu celular. Quando avistou Gilbert, ele acenou para o rapaz, e ele retribuiu o gesto, tentando recuperar rapidamente o fôlego que a adrenalina da corrida tinha roubado dele.

- Você parece terrivelmente suado. Quantos quilômetros correu? - Daniel perguntou observando seu semblante cansado.

- Normalmente corro dois, mas hoje acrescentei mais um. Estava precisando pensar. - Gilbert disse parando ao lado do amigo que ainda o olhava com um olhar cético.

- E não pode fazer isso como todo mundo, sentado confortavelmente em uma poltrona macia? - Daniel perguntou, ironizando a maneira como Gilbert sempre encontrava pra resolver seus problemas, principalmente se a fonte deles fosse Anne.

- Isso não funciona para mim. Preciso da adrenalina de uma boa corrida para que meu cérebro funcione cem por cento.

- Você é uma das pessoas mais esquisita que já conheci. Nunca procura uma maneira mais fácil de elucidar uma questão. Parece sempre sentir necessidade de mergulhar fundo na dor para sair dela completamente renovado. Acho que nunca vou conseguir compreender esse mistério que é Gilbert Blythe. - Daniel disse balançando a cabeça, e fazendo Gilbert rir pela primeira vez naquela manhã.

- Você devia experimentar correr um dia, Daniel. Só aí vai entender do que estou falando.

- Não obrigado. Prefiro gastar minhas calorias na academia. - Daniel disse fazendo uma careta. – Mas, vamos ao motivo que me trouxe até aqui. Vai me contar o que tão grave aconteceu para você me ligar tão cedo? Nunca fez isso antes.

- Denise Williams. - Gilbert disse com um suspiro profundo.

- O que foi que ela aprontou dessa vez? - Daniel perguntou com a testa franzida.

- Acho melhor a gente se sentar em algum lugar, e tomar alguma coisa, pois a conversa vai ser longa. - Gilbert disse tomando um último gole de sua água mineral.

- Vamos até aquela cafeteria que a gente adora. O cappuccino que servem lá é o melhor.

- Vamos sim. Depois dessa corrida toda preciso de algo consistentes para repor minhas energias.

Assim, os dois amigos caminharam até a cafeteria onde escolheram uma mesa de canto para se sentarem e conversarem por fim sobre o recente problema de Gilbert envolvendo Denise Williams. Após pedirem dois cafés e dois croissant de chocolate, o jovem cirurgião contou ao amigo o que tinha ocorrido no seu consultório no dia anterior. A cada palavra de Gilbert, Daniel ficava cada vez mais irritado, e quando por fim o relato terminou, o rosto do amigo de Gilbert parecia uma máscara de pura ira.

- Como ela teve coragem de ser tão baixa? Eu nunca pensei que uma mulher da classe dela fosse capaz de agir tão levianamente.

- Eu também me enganei com ela no início, e não consigo entender o que ela viu em mim para me colocar como alvo de conquista em sua lista vulgar de pretendentes.

- Gil, é à sua maneira de tratar as pessoas. Eu te conheço desde a faculdade, e você sempre fez muito sucesso com as meninas. Eu sei que nunca foi intencional, e por muitas vezes você nem reparava na forma com que elas te olhavam, porém, esse seu jeito de bom rapaz sempre foi o responsável pelos suspiros da ala feminina.

- Eu sou assim, Daniel. Eu sempre fui assim, porque meu pai me educou para tratar todo mundo com respeito e consideração, e eu nunca pude sequer imaginar que tal qualidade pudesse me colocar em uma situação desse tipo. - Gilbert passou as mãos pelos cabelos se sentindo exausto. Estava preocupado com sua esposa a quem deixara em casa dormindo, e não sabia como a encontraria quando voltasse para casa. Deus! Por que era tão difícil conseguir preservar um casamento no qual ele sempre dera cem por cento de si?

- Gil, não pense assim. A culpa não é sua. Você é um cara incrível, não mude o seu jeito por causa de pessoas tóxicas como Denise Williams. - Daniel aconselhou, vendo o conflito interno de Gilbert transbordando pelos seus olhos.

- O que eu faço se a Anne não acreditar em mim? E se ela quiser me deixar? - esse medo Gilbert ainda não tinha expressado em voz alta, mas, ele existia, porque, ele conhecia bem Anne, e sua maneira de enxergar as coisas. Se ela duvidasse de sua lealdade para com ela era exatamente assim que agiria. Por mais que o amasse, e estivesse grávida dos filhos dele, aquilo tudo não seria impedimento para que ela o deixasse se decidisse por si mesma que isso era o melhor para ela.

- Não acha que a Anne vá te deixar, Gilbert. Talvez, você tenha trabalho para convencê-la de sua inocência, mas, aquela garota te ama, ainda mais agora que está prestes a ser mãe. Não acho que ela vá querer ficar longe de você. - Daniel deu uma mordia no seu croissant, e fitou o amigo com seus olhos cheios de compaixão. Gilbert era um cara bom demais para aquele mundo. Pessoas agiam de má fé com ele justamente por ele ter uma índole correta, e ele era a última pessoa que merecia passar por algo tão estressante.

-Daniel, você sabe o que a Anne significa para mim. Passei minha adolescência inteira apaixonado por ela, e agora na vida adulta eu não saberia amar outra mulher. Ela já é tão parte de mim que eu não consigo respirar sem ela. - Ele parecia tão desesperado que fez Daniel pensar se deveria fazer alguma coisa para ajudá-lo a sair daquela confusão.

- Você não vai perdê-la, Gilbert. Por que não conversa com ela, e diz tudo o que disse para mim? Talvez ela precise ouvir de você o quanto ela é importante para você, mesmo que ela já saiba sobre tudo isso, ou você já tenha dito antes. Às vezes é importante reafirmar o nosso amor, pois apesar de muitas pessoas dizerem que os atos falam por si, as palavras também são importantes.

- Se ela ainda quiser me escutar, talvez eu faça exatamente isso. Obrigado, Daniel por me ouvir. Você tem sido um dos meus melhores amigos desde a faculdade. - Gilbert disse com sinceridade. - É melhor eu voltar para casa. Anne não se levantou muito bem hoje, e quero ver como ela está antes de ir para o trabalho.

- Está bem. Nos vemos no hospital mais tarde. - Daniel disse ao se despedir.

Gilbert correu todo o caminho até o apartamento. Ele queria chegar lá o mais rápido possível, pois estava ansioso para ver Anne antes de sair para o trabalho. Logo que abriu a porta, ele a encontrou sentada no sofá da sala com a televisão ligada, mas, ela não prestava atenção nenhuma ao filme que passava, pois o olhar dela estava perdido em um ponto qualquer daquela sala, e Gilbert gostaria muito de saber o que ela estava pensando naquele momento de introspecção.

- Está melhor? - ele perguntou no momento em que se aproximou dela.

- Sim. - Ela respondeu, mas, Gilbert pôde ver em seu rosto que ela não estava tão bem assim. Anne continuava pálida, porém, o que o assustava mais era aquela dor no fundo dos olhos azuis. Ele queria que ela o deixasse contar sua versão da história, para que ela soubesse que o que quer que estivesse pensando não tinha razão de ser, e que seu amor por ela era a maior verdade que ele poderia lhe confessar.

- Se quiser que eu fique com você, posso ligar par o hospital e transferir minha folga para hoje.

- Não precisa. Eu vou ficar bem sozinha. - A voz fria dela era cortante como faca, e Gilbert se sentiu diretamente ferido no coração. No entanto, não iria implorar que conversassem naquele instante, porque no estado em que Anne se encontrava era melhor deixar para quando voltasse do trabalho naquela tarde.

- Como quiser. - Foi tudo o que ele disse, e em seguida foi direto para o chuveiro. O espaço entre o banho e se vestir para ir para o hospital foi rápido, e logo ele já tinha sua maleta médica em uma mão, e as chaves do carro na outra, porém, antes de sair, ele disse para Anne:

- Estou indo para o hospital. Vai mesmo ficar bem em minha ausência?- ela balançou a cabeça concordando, mas, sequer levantou o olhar para encará-lo, e aquilo foi como se jogasse sal sobre uma ferida aberta, pois Gilbert poderia suportar qualquer coisa, choro, lamentações, gritos, palavras de raiva, mas nunca aquela mágoa silenciosa que Anne interpunha entre os dois.

Então, ele caminhou para porta, saiu para o corredor, e foi para o estacionamento do prédio pegar seu carro, e em poucos minutos estava a caminho do hospital, e enquanto dirigia naquele trânsito caótico que por vezes testava sua paciência, Gilbert tinha somente uma coisa em mente que resolveria ainda naquele dia.

GILBERT E ANNE

Anne viu Gilbert sair pela porta, e todo o seu autocontrole foi para o espaço. As lágrimas chegaram amargas e frias, e como na noite anterior ela não conseguia parar de soluçar. E o pior de tudo era que não tinha o colo de Cole para refugiar sua dor e solidão, ela estava completamente sozinha longe de seus amigos, longe de sua alegria, e longe de seu amor. Era-lhe duro demais afastar Gilbert dela, porque a mera respiração dele em seus cabelos lhe fazia falta, mas ela não conseguia esquecer o que vira no consultório dele, e aquilo abria um buraco em seu peito como se fosse corroído por ácido. Ele lhe dissera que tinha uma explicação para o que acontecera, mas, que tipo de história contrária à situação que vivenciara poderia haver por trás de tudo aquilo?

Anne fechou os olhos, abraçou a si mesma e continuou a soluçar. Ela sentia fala do abraço de Gilbert, da maneira como ele lhe afagava os cabelos, dos beijos suaves em seu rosto, e do peito dele que ela usava como travesseiro, e onde ela dormia tão bem à noite, e daquele olhar que lhe prometia o mundo em sua beleza extrema. Nunca o amaria menos do que amava, isso era uma simples e verdadeira constatação. Ela ainda não sabia o que fazer quanto ao futuro dos dois, sequer conseguia pensar nisso, pois Gilbert fazia parte de seu sistema inteiro e não o ter por perto era como se faltasse parte de si mesma.

Ela se deitou no sofá, e encolheu as pernas, sentindo seus bebês se mexendo suavemente. Eles pareciam perceber a sua tristeza, pois ficaram em silêncio quase a manhã inteira, e apenas se movimentavam em algum momento como se para lembrá-la que estavam com ela e não a abandonariam. Ela sorriu de leve ao pensar naquele milagre que carregava ali, e que ela e Gilbert fizeram juntos. Disso ela nunca se arrependeria, e disso ela sempre seria grata a ele por dar-lhe aquele presente.

Uma sonolência boa foi tomando conta de seu corpo, pois as tensões do dia anterior e daquele dia estavam sendo demais para ela, e Anne acabou adormecendo abraçada à sua barriga deitada no sofá da sala.

Enquanto isso Gilbert seguia sua rotina diária dentro do hospital, embora sua mente estivesse de volta ao apartamento e em Anne. Não conseguia parar de pensar nela, e como a deixara naquela amanhã tão desolada e tão deprimida como não a via desde o seu sequestro, e saber que dessa vez era ele o causador daquele seu estado infeliz o deixava em desespero, mas, não havia nada que pudesse fazer até que voltasse para casa naquele dia e ela aceitasse falar com ele sobre tudo o que tinha acontecido, e ele rezava para que ela realmente acreditasse que o que acontecera não fora culpa dele, e sim de uma louca que passara a persegui-lo sem que ele lhe desse nenhum motivo aparente para fazê-lo.

Seu horário de almoço chegou, mas, ele resolveu usar aquele tempo para falar com o Dr. Phillips. Ele não estava satisfeito com o que ia fazer, mas, precisava levar em conta sua própria situação, e como tudo aquilo estava afetando o seu casamento. Ele precisava de paz para voltar a trabalhar como antes, sem se preocupar se seria assediado por uma mulher completamente sem moral. Gilbert sabia que devia ter feito isso antes, mas, sua mania em colocar sempre as outras pessoas em primeiro lugar era o seu mal.

Por conta do bom trabalho de Denise na ala de Oncologia, Gilbert relevara suas ações, pensando que conseguiria driblar os problemas pessoais que estava tendo com ela com maestria, e, no entanto, ela acabara prejudicando-o justamente por Gilbert respeitá-la como mulher e profissional. Porém, aquela sua consideração por Denise Williams tinha acabado, e ele a queria fora daquele hospital para sempre.

Sem querer perder mais tempo, ele foi até o escritório do Dr. Phillips, e assim que bateu na porta, o bom senhor o mandou entrar, e sorriu ao vê-lo, e disse:

- Olá, Gilbert, eu estava esperando por você.

- Como sabia que eu viria? - o rapaz disse espantado.

- Espero que não fique bravo, mas, Daniel veio falar comigo mais cedo.

- Então, o senhor já sabe? - Gilbert disse agradecendo a Daniel mentalmente por tê-lo poupado de ter que explicar sobre aquele constrangimento ao Dr. Phillips.

- Sim, e quero que saiba que já tomei minhas providências. Denise não trabalha mais para esse hospital. - O bom médico declarou com a voz grave.

- Eu sinto muito por isso, pois eu sei que o trabalho dela na Oncologia era excelente.

- Eu é que te peço desculpas, meu rapaz. Nunca imaginei que a vinda dessa moça para cá causaria tantos transtornos a você. E como está a sua esposa? - ele perguntou parecendo sinceramente preocupado com avida conjugal de Gilbert.

- Ela ainda não quer falar comigo. – Ele respondeu tristemente.

- Por que não vai para casa e tenta resolver esse assunto hoje mesmo?

- Mas e os pacientes? - Gilbert perguntou, espantado com tamanha generosidade.

- Temos os médicos residentes. Não se preocupe. Daremos um jeito.

- Obrigado, Dr. Phillips. Eu não sei o que dizer. - Gilbert disse sentindo-se sem jeito.

- Vá para casa meu rapaz, e espero que se acerte com sua esposa. - O bom médico disse sorrindo.

- Eu também. - Gilbert disse antes de sair.

Logo, ele já tinha chegado em casa e encontrou Anne adormecida no sofá. Seu coração se enterneceu com aquela cena, e desejou com todas as forças que ela acordasse, o olhasse com aqueles olhos azuis cheios de amor, e voltassem a ter aquela intimidade gostosa que tornava o casamento deles tão perfeito em todas as suas instâncias.

Então, para não a assustar, ele se aproximou e sentou-se ao lado dela no sofá. Mesmo desejando beijá-la nos lábios porque estava morrendo de saudades da boca dela na sua, ele deu-lhe um beijo suave na testa e disse baixinho:

- Acorda, querida.

Anne abriu os olhos, e ainda presa ao mundo os sonhos ela sorriu para Gilbert, mas, logo a consciência dela a alcançou, e a realidade pareceu desabar em cima dela feito uma avalanche de neve, e Anne voltou a ficar com os semblante sério e triste, acabando com as ilusões de Gilbert de que aquele pequeno tempo sozinha pudesse tê-la feito pensar melhor a respeito dos dois.

- Precisamos conversar. - Ele disse pela terceira vez naquele dia.

- Está bem. - Ela respondeu suspirando. Assim, Gilbert umedeceu os lábios antes de começar a dizer o que precisava, e então, as palavras vieram, primeiro incertas e sem uma direção exata, mas, em pouco tempo ganharam força e Gilbert começou a falar:

- Anne, o que viu no meu consultório foi uma armação de Denise.

- Como assim? - ela perguntou com seu coração batendo forte ao ver Gilbert tão perto dela.

- Ela tem me assediado. - Ele confessou sem tirar os olhos dos dela.

- Desde quando? - Anne perguntou engolindo em seco.

- Desde antes do nosso casamento. - Ele respondeu, examinando-lhe o rosto para observar suas reações conforme ele revelava tudo o que ela precisava saber.

- Por que não me contou antes? - ela perguntou parecendo zangada ao invés de aliviada como Gilbert esperava.

- Não quis preocupá-la com isso. - Ele tentou se aproximar mais dela, mas, Anne não permitiu

- Não acha que por eu ser sua esposa não merecia saber sobre isso? - a voz dela soou ainda mais dura que antes e Gilbert começou a se preocupar.

- Eu achei que isso te deixaria chateada e com ciúmes, e quis poupá-la de toda essa sujeira. - Ele sentiu seu peito se apertar ao ver o rosto dela se endurecer após ouvir as palavras dele.

- Ou será que não me contou por que se sentiu lisonjeado com toda a atenção da Dra. Williams?

- O que está dizendo, Anne? - Gilbert não podia acreditar que ela dissera mesma aquilo.

- Eu estou dizendo que talvez tenha se cansado de sua esposa mal humorada e aborrecida, e tenha ido procurar um pouco de diversão em outro lugar. - A voz dela não soou tão firme dessa vez, e Gilbert percebeu que ela se controlava para não chorar.

- Querida. Isso não é verdade. - Ele estendeu a mão para tocar o rosto dela, mas, Anne se afastou como se tivesse sido queimada.

- Se não fosse verdade, você teria me dito antes, mas, e esperou todo esse tempo para que? Eu te perguntei se Denise William significava alguma coisa para você, e você negou.

- Porque ela não significa nada para mim. Por favor, Anne. acredite em mim. Eu até falei com o Dr, Phillips sobre o que aconteceu e ele tomou as providências para que ela não permaneça no hospital. Ela saiu do nosso caminho definitivamente. - Ela não sorriu como ele esperava ao ouvir essa notícia, e de novo Gilbert sentiu medo do que poderia acontecer depois daquela conversa.

- Eu realmente acredito que foi ela que começou tudo isso, pois desde a primeira vez que ela te viu na festa da casa do Dr. Phillips, Denise te quis. E não adianta você me dizer que eu imaginei coisas, porque isso não é verdade. Eu sou mulher, e sei identificar muito bem o interesse de outras mulheres no meu marido. O que eu ainda não sei dizer é se realmente acredito que você não ficou tentado a experimentar o que ela te oferecia de tão bom grado.- ela repeliu outra tentativa de Gilbert de tocá-la e ele decidiu que não mais imporia a ela nenhum contato físico naquele dia.

- Amor, eu nunca olhei para ela desse jeito, e ela sabia disso porque eu tentei inúmeras vezes explicar que a mulher da minha vida é você. Ela estava obcecada, e eu não consegui fazê-la mudar de ideia. Por favor, acredita em mim.

- Você mentiu para mim, e não sei se consigo confiar em você de novo. - Ela disse sentindo seu coração sangrar, sabendo de antemão que não conseguiria esquecer tão cedo o que Gilbert lhe fizera.

- Desculpe-me, Anne. Eu não te falei antes porque achei que seria melhor assim. Sua gravidez já não está sendo fácil, eu quis poupar-lhe maiores problemas. Nunca foi minha intenção te magoar.- no olhar dela havia uma mistura de sentimentos que Gilbert conseguia identificar como decepção, mágoa e tristeza, e tal constatação fez com que o pânico de novo se instalasse dentro dele, pois não sabia como fazê-la entender que agira daquela maneira por querer protegê-la do mundo, e no entanto acabara magoando-a do mesmo jeito.

- Nunca te passou pela cabeça que eu preferia saber de tudo isso por você? Como acha que me senti quando entrei no seu consultório e vi aquela mulher em seu colo, te abraçando como eu faço em nossos momentos mais íntimos? Meu coração se partiu e eu me senti humilhada, traída e machucada pela única pessoa que eu pensei que nunca faria isso comigo. - Ela chorava abertamente agora, sem se importar se Gilbert estava vendo o tamanho da sua dor. Não importava que ele não tivesse tido culpa no episódio do hospital, porque ele quebrara uma regra de confiança que Anne não sabia se conseguiria ser restabelecida de novo.

- Anne, olha para mim. - Ela obedeceu mesmo não desejando fazê-lo, pois seu coração queria encontrar algo ali que lhe desse forças para continuar acreditando nele, mas, naquele instante exato, ela não estava conseguindo enxergar nada a não ser o espelho de sua própria angustia. Gilbert se aproximou um pouco mais, e encostou sua testa na dela, deixando seus rostos tão próximos que Anne podia sentir com nitidez a respiração dele em seu pescoço. Como ela queria se perder naquele momento e se deixar levar. Como ela queria arrancar de dentro de si seu próprio coração para que aquela sensação vazia fosse embora de vez. Mas, tudo o que conseguia fazer era tentar controlar precariamente suas emoções, antes que acabasse caindo no precipício de sua própria incerteza. Tudo o que conseguiu dizer em meio a sua respiração descontrolada foi:

- Por favor, Gil. - E então fechou os olhos incapaz de completar a sentença, pois se sentia um verdadeiro caos por dentro.

- Odeio te ver assim, por minha causa. Amor, me perdoa. Você sabe que eu seria incapaz de trair você. Eu não tenho olhos para mais ninguém, meu coração é completamente seu. - Os lábios dele correram por todo o seu rosto, depois ele beijou-a na ponta do nariz e quando estava prestes a tomar-lhe os lábios, ela murmurou:

- Gil, não...- mas foi um protesto débil, porque quando Gilbert colou os lábios dele nos dela, Anne cedeu, pois sua maldita carência falou mais alto, e ela sentiu que precisava sentir o gosto dele mais uma vez para voltar a viver, pois desde que tudo aquilo acontecera, eles sequer tinham se tocado, e Anne sentia tanta a falta dele que nem pensou em rejeitá-lo naquele instante.

A língua dele pediu passagem e ela permitiu que ele invadisse todo o seu sistema. Logo, ela enterrou as mãos nos cabelos dele, puxando-o para mais perto, intoxicada pelo cheiro dele, por aquele calor que subia pelo seu corpo e a fazia ofegar. Gilbert também estava no mesmo estado que ela, talvez até pior, porque em cima dele estava todo o peso da situação em si, e ele precisava urgentemente se libertar daquela sensação aterrorizante de que estava perdendo o amor de sua vida por conta de um erro seu em conduzir tudo aquilo, sem que Anne fosse magoada no processo. Mas, então, ela o empurrou para longe dela, e Gilbert perdeu o contato do corpo dela contra o seu, e todos os seus sentidos gritaram em protesto por aquela interrupção.

- Por favor, Anne, me diga o que quer que eu faça para consertar toda essa situação, e eu o farei.- ela apenas balançou a cabeça sem conseguir dar a Gilbert a resposta que ele queria e precisava, mas, ele não queria desistir, por isso continuou:- Não faça isso comigo, por favor.- ele sussurrou entre seus cabelos, e Anne por fim respondeu:

- Foi você que fez isso com a gente, não eu. Foi você que não foi sincero comigo, mentiu quando poderia ter sido honesto. Então, eu não sei se realmente tem conserto o que você fez. - Gilbert sentiu seu coração gelar ao perguntar:

- Então, me responda. O que quer que eu faça?- Anne o encarou, e respondeu com toda a sinceridade:

- Não sei. Estou confusa demais, preciso de tempo para pensar e entender o que eu realmente desejo.

- A única coisa que eu te peço é que não me afaste dos meus filhos. - Gilbert disse com um tom de desespero na voz que fez o coração de Anne se apertar tanto que quase lhe faltou o ar. Ainda assim, ela respondeu:

- Eu nunca faria isso.

- Quer que eu saia daqui e vá para um hotel? Assim terá o espaço que precisa para pensar no que fará em relação nós dois.- Não era o que ele desejava, mas, se Anne quisesse que ele se afastasse dela pelo menos temporariamente, ele o faria, pois não queria impor sua presença a ela em um momento em que ela parecia nem conseguir olhá-los nos olhos de verdade.

- Não, eu e os bebês precisamos de você aqui, mesmo porque, essa também é sua casa. - Gilbert respirou aliviado ao ouvir aquelas palavras. Saber que Anne o queria por perto lhe dava esperanças de que tudo finalmente se resolveria aos poucos, ou pelo menos, era nisso que queria acreditar.

- Obrigado por isso. - Ele disse apertando a mão dela com carinho, e ela apenas assentiu sem lhe sorrir.

- Você pode ficar no quarto de hóspedes até essa situação se resolver. Prometo que não vou demorar muito tempo para tomar uma decisão sobre tudo isso.- Gilbert não disse nada, pois se o fizesse desabaria na frente dela, e ela não precisava vê-lo assim a beira de um desespero que ele nunca pensou que teria que viver.- Acho que vou para o quarto descansar um pouco, me sinto exausta. – Anne se levantou, e Gilbert fez menção de ajudá-la, mas, ela não permitiu, fazendo-o sentir o peso da rejeição dela mais uma vez.

Gilbert a viu caminhar até o quarto, e ele a seguiu até lá, pois ela não parecia estar com as pernas muito firmes para caminhar sozinha depois de toda aquela tensão pela qual tinha acabado de pensar, mas ele também sabia que ela não lhe confessaria isso ou lhe pediria qualquer tipo de ajuda, pois Anne quando queria sabia ser teimosa e orgulhosa demais. Ela abriu a porta, e antes que a fechasse novamente, ele lhe disse:

- Eu te amo. - Ela o olhou com seus olhos tristes e respondeu

- Eu sei. Eu também te amo, mas, às vezes isso não é o suficiente. - E então, Anne fechou a porta deixando Gilbert sozinho no corredor, e foi então que as lágrimas finalmente rolaram.

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