Anne with an e- Corações em j...

By RosanaAparecidaMande

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Anne Shirley Cuthbert foi abandonada ao nascer em um orfanato por sua mãe biológica, mas ela nunca deixou de... More

capítulo 1- Lembranças
capítulo 2- amores do passado
Capítulo 3- sentimentos escondidos
Capítulo 4- Duas almas e um destino
Capítulo 5- Lado a lado com o amor
Capítulo 6- Nestes olhos teus.
Capítulo 7 - Emoções em conflito
Capítulo 8- O amor entre nós
Capítulo 9- Chamas de uma paixão
Capítulo 10- Apenas você
Capítulo 11- Corações apaixonados
Capítulo 12- Esse sonho de amor
Capítulo 13- Quando o coração se apaixona
Capítulo 14- O sentimento que vive em mim
Capítulo 15- Combinação perfeita
Capítulo 16- O que nos separa
Capítulo 17- Revelações
Capítulo 18- Expectativas
Capítulo 19- O que nos une
Capítulo 20- Tudo o que eu quis
Capítulo 21- Tudo o que sonhei
Capítulo 22- Tudo o que somos
Capítulo 23- O que me pertence
Capítulo 24- O tempo é algo relativo
Capítulo 25- O amor que te ofereço
Capítulo 26- Pensamentos proibidos
Capítulo 27- Pensamentos e desejos
Part 28- Provando do pecado
Part 29- O Jogo do amor
Part 30- Caprichos do coração
Part 31- Segredos e Desejos
Capítulo 32- Flertando com o perigo
Capítulo 33- O inesperado
Capítulo 34- Revelando um segredo
Capítulo 35- O incêndio
Capítulo 36- Uma esperança
Capítulo 37- O incêndio parte 2
Capítulo 38- Paraíso particular
Capítulo 39- As duas faces do amor
Capítulo 40- Idas e Vindas
Part 41- O retorno
Capítulo 42- Tudo o que existe entre nós
Capítulo 43- Como no princípio
Capítulo 44- Feliz Aniversário
Capítulo 45- Uma grande surpresa
Capítulo 46- O perigo mora ao lado
Capítulo 47- O inimigo nas sombras
Part 48- Amor e dor
Capítulo 49- As verdades do coração
Capítulo 50- Almas divididas
Capítulo 51- Palavras não ditas.
Part 52- O jardim do Éden
Capítulo 53- Ps: Eu te amo.
Capítulo 54- Eterno amor
Capítulo 55- Sua força em mim
Capítulo 56- Um só coração
Capítulo 57- Sem Regras
Capítulo 58- Sussurros e juras de amor
Capítulo 59- Entre o céu e o inferno
Capítulo 60- Lar
Capítulo 61- A promessa de uma vida
Capítulo 62- Entre as estrelas
Capítulo 63- De corpo e alma
Capítulo 64- Desejo e castigo
Capítulo 65- Ao cair da tarde
Capítulo 66- Vidas entrelaçadas
Capítulo 67- Amor imenso
Capítulo 68- Fogo
Comunicado
Capítulo 70- Sonhos perfeitos
Capítulo 72- Xeque Mate
Capítulo 73- Anjo Ruivo
Capítulo 74- Amor de diamante
Capítulo 75- Para sempre
Capítulo 76- Um Natal para relembrar
Capítulo 77- Tudo o que importa
Capítulo 78- Um grande novo ano
História Nova
Capítulo 79- A segurança dos seus braços
Capítulo 80- Can't take my eyes off you
Capítulo 81- Inesquecível amor
Capítulo 82- O casamento do ano
Capítulo 83- Lua de Mel Havaiana
Capítulo 84- Uma nova vida juntos
Capítulo 85- Inseguranças e Fragilidades
Capítulo 86- Ao nascer do sol
Capítulo 87- O caminho de volta
Capítulo 88- O ingrediente principal
Capítulo 89- Na alegria ou na tristeza.
Capítulo 91- Amor e mágoa
Capítulo 92- Impasse
Capítulo 93- Uma longa noite
Capítulo 94- Sob o mesmo céu
Capítulo 95- Juntos
Capítulo 96- A razão da minha felicidade
Capítulo 97- Alcançando as estrelas
Capítulo 98- Acerto de contas
Capítulo 99- A vida por um fio
Capítulo 100- Garota Extraordinária
Capítulo 101- Na dor
Capítulo 102- A beleza de Vênus
Capítulo 103- The way I love you
Capítulo 104- Reconstruindo sonhos
Capítulo 105- Amor de mãe
Capítulo 106- Um novo tempo
Capítulo 107- Entre a mágoa e o perdão
Capítulo 108- Redescobrindo o passado
Capítulo 109 - Universo particular
Capítulo 110 - Esposa perfeita
Capítulo 111- Paraíso na terra
Capítulo 112- Um futuro cheio de promessas
Capítulo 113- O perdão é a cura da alma
Capítulo 114 - Lucy
Epílogo
Agradecimentos
Prêmios

Capítulo 90- O benefício da dúvida

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By RosanaAparecidaMande

Olá, pessoal. Mais um capítulo de corações em jogo postado. Espero que gostem e me enviem seus comentários. Farei a correção depois. Beijos. PS: Depois que lerem o capítulo, escutem a música acima. 

ANNE

Anne esfregou os olhos e viu no mostrador do celular que já se passava da meia-noite. Ela se sentou devagar na cama, sentindo suas costas latejarem, e os bebê se mexerem dentro dela como se estivessem disputando uma maratona. Ela olhou para Gilbert que dormia profundamente, e tentou fazer o mínimo de movimento possível para não despertá-lo, assim, abraçou os joelhos e deixou que seus olhos se acostumassem à escuridão do quarto, e se acomodou o melhor que pôde encostada na cabeceira da cama, com um travesseiro atrás de si.

Ela sabia que exagerara no trabalho naquele dia, pois teriam um desfile em poucos dias com roupas de gestante, e Anne tivera que provar inúmeras peças que seriam apresentadas na coleção daquele mês, e por isso, ela passara mais tempo em pé do que deveria, e agora pagava o preço por sua imprudência. Gilbert não gostaria de saber que Anne aceitara fazer aquele desfile com mais vinte modelos grávidas como ela na próxima quinta-feira, porém, era o seu trabalho, e como ela era a representante principal da agência, achara que não poderia recusar. Além do mais, não precisava da permissão de Gilbert para realizar o que quer que fosse. Ele mesmo jamais lhe exigira isso, mas, a impressão que tinha era que seu esposo desaprovaria totalmente aquele trabalho por conta do cansaço que isso lhe causaria, porém, Anne queria muito desfilar, sentia falta das passarelas, não pelo glamour, mas, sim pela alegria e excitação que tal evento proporcionava.

Uma pontada em sua lombar tornou impossível que ela ficasse naquela posição por mais tempo, por isso, Anne se levantou, e caminhou por alguns minutos no quarto. Ela estava descalça e o contato com o ladrilho frio na sola de seus pés a fazia se arrepiar, entretanto, a ruivinha não sabia onde estavam suas pantufas, e se acendesse a luz do quarto para procurá-las, Gilbert despertaria, e Anne não achava justo que ele perdesse o sono por causa dela.

Ela caminhou pé ante pé até a janela, e abriu o vidro devagarinho. Lá fora estava frio, mas, não como nos outros dias, pois as tempestades de neve tinham cessado aquela semana, e apenas o vento que vinha do Norte mantinha a temperatura gelada. Anne não via a hora que a primavera chegasse, para que assim pudesse deixar de usar roupas tão pesadas. Ela se sentia feito um balão inflável com tantas peças sobre o seu corpo, apenas à noite quando ia para a cama, era que se livrava da lã para vestir um pijama de flanela quentinho, e se aconchegar debaixo das cobertas com seus pés encostados nos de Gilbert, e seus rostos grudados feitos dois esquimós.

Anne fechou a janela, e achou que era melhor voltar para a cama. O sono não viria com facilidade, porém ela resolveu tentar. Talvez se achasse uma posição confortável as dores nas costas não incomodassem tanto. No meio do caminho até a cama, ela se perdeu no escuro e bateu com o dedão do pé na cômoda, praguejando involuntariamente. Gilbert deu um pulo na cama com o som da voz de Anne, e a garota ficou momentaneamente zangada consigo mesma por fazer exatamente o contrário do que tinha planejado, e ao encontrar o olhar de Gilbert que tinha acabado de acender a luz, o remorso a atingiu por ver que seu marido estava completamente exausto.

- Anne, por que está caminhando no escuro? Nós temos energia elétrica, você sabia? - ele disse em tom de ironia, se espreguiçando efusivamente.

- Desculpe-me. Não queria te acordar. – Ela disse se aproximando da cama.

- O que foi? Não consegue dormir? - Gilbert perguntou, examinando-lhe o rosto tenso.

- As dores nas costas voltaram. Eu estava caminhando um pouco pelo quarto para tentar amenizar um pouco o desconforto. – Ela explicou bocejando.

- Vem cá. - Ele lhe disse estendendo a mão, e Anne fez o que ele pediu, deixando que os braços musculosos de Gilbert a envolvessem em um abraço apertado. - Estava caminhando descalça de novo, Anne? Você sabe que isso não faz bem nessa época do ano, e você pode se resfriar.

- Não encontrei minhas pantufas. - Ela respondeu, encostando seu nariz no pescoço de Gilbert. O cheiro dele era tão bom. Uma mistura de espuma para barbear com colônia amadeirada. Às vezes quando Gilbert saía para o trabalho e ela ficava deitada na cama, Anne abraçava o travesseiro dele e inalava o perfume que ficava ali impregnado, e então ela sorria feliz, pois podia matar um pouquinho da saudade que sentia dele o dia todo.

- Deite-se de lado, eu vou fazer uma massagem em sua lombar. - Gilbert disse, passando de leve as mãos sobre as costas de Anne coberta pelo pijama.

- Está bem. - Anne concordou, deitando-se de lado na cama, enquanto sentia Gilbert subir a blusa do seu pijama, expondo sua pele ao ar frio do quarto, fazendo-a se arrepiar. Felizmente, as mãos dele estavam aquecidas, e logo faziam uma suave pressão no local onde Anne sentia o desconforto.

- Se doer, me avise que eu paro imediatamente. - Ele disse com a voz próxima a orelha direita dela, fazendo-a sentir um arrepio involuntário.

Logo, as mãos dele subiam e desciam em movimentos circulares por toda a extensão de sua coluna, aliviando devagarinho os seus espasmos de dor. Depois de alguns minutos, Anne se sentiu um pouco mais relaxada, mas, seu sono perdido não parecia que seria recuperado tão cedo, e Gilbert percebendo-lhe essa dificuldade disse:

- Espere aqui um instante. Eu vou preparar um banho quente para você.- assim, Gilbert saiu do quarto por alguns minutos e voltou logo dizendo:- Venha, está pronto.- Anne o seguiu até o banheiro, e logo se despiu inteira, entrando na banheira com Gilbert, ficando coberta de espumas até o pescoço.

A água estava maravilhosa, e Anne sentiu que podia dormir ali o resto da noite. Gilbert passava a esponja por suas coxas, barriga e seios enquanto ela se mantinha imóvel com suas costas encostadas no peito dele. Faziam dias que não ficavam juntos assim. Desde seu incidente com o carro, eles não tinham um momento a sós como esse. Gilbert estava trabalhando em sucessivos plantões, e quando voltava para casa o único caminho que fazia o levava direto para a cama. Anne não reclamava, porque sabia que ele ficaria mais tempo com ela no apartamento, se pudesse. No entanto, eles tinham suas obrigações, e instantes assim eram para serem saboreados com intensidade.

- Está melhor? - ele perguntou após alguns minutos submersos naquele mundo de espuma.

- Sim, obrigada. - Ela disse sonolenta.

- Acha que consegue dormir agora? - ele perguntou com os lábios em seu pescoço.

- Posso tentar. - Ela disse bocejando, ao mesmo tempo em que suspirava com os beijos suaves de Gilbert bem em seu ponto sensível.

- Então, vamos voltar para a cama. - Gilbert disse, ajudando-a a ficar em pé. Depois se enxugaram com uma enorme toalha macia, se vestiram e caminharam juntos para o quarto.

Assim que deitaram na cama, Anne apoiou sua cabeça no ombro de Gilbert e ele circulou sua cintura, mantendo-a segura perto de si. Anne pensou se seria um bom momento para contar a ele sobre o desfile, e logo decidiu que sim. Ele parecia calmo e relaxado assim como ela, e a ruivinha tomou coragem e disse:

- Gilbert, eu tenho que te contar uma coisa.

- O que é? - ele perguntou acariciando-lhe a nuca com a mão direita.

- Vou participar de um desfile de uma coleção para mulheres gestantes. - Ele ficou estranhamente calado, sem dizer-lhe nada sobre o assunto, e Anne até pensou que ele tivesse adormecido enquanto ela falava, mas, então, ela o ouviu dizer:

- Quando?

- Na próxima quinta-feira - Ela respondeu com cautela.

- E só agora que resolveu me contar? - ela percebeu seu tom aborrecido, e tentou amenizar o impacto da notícia dizendo:

- Eu não sabia disso até ontem quando me fizeram o convite. Você sabe que esse é o meu trabalho, eu sempre desfilei e você nunca pareceu se importar antes. - Ela respondeu, também se sentindo aborrecida.

- Anne não me importo que desfile por justamente saber que é o seu trabalho. Mas, não nas condições em que você está agora. Seu corpo está muito sobrecarregado, e isso é a causa de suas dores lombares. Você sabe que não deve ficar muitas horas de pé, e não sou eu quem diz isso e sim sua médica. Daqui para frente, isso só vai piorar se não tomar os devidos cuidados, e tudo o que eu quero é que tenha uma gestação o mais tranquila possível.

- Eu sei, mas, não é nada demais, Gilbert. Você às vezes é superprotetor demais, e isso me irrita. – Ela disse sem pensar.

- Então, minha proteção te irrita? - ele disse com a voz alterada, e Anne percebeu que tinha ido longe demais.

- Gil, não foi isso que eu quis dizer.

- Você sabe o que quis dizer.

- Gil...

- Anne, sinto muito se me preocupo demais, e passo a maior parte do tempo pensando em mil maneiras de aliviar seu desconforto físico. Eu amo você e nossos filhos, e talvez eu exagere, mas, é assim que eu sou. Se quer mesmo desfilar, e se isso te deixa tão feliz, então esqueça o que eu disse, e faça exatamente o que deseja, eu não vou me opor de forma nenhuma.- o tom magoado de Gilbert fez Anne perceber que com o que dissera fora como se jogasse na cara dele todo o seu carinho, dedicação e respeito. Ele vinha sendo o melhor marido do mundo, cuidando de todas as suas necessidades, e dando-lhe mais amor do que ela merecia receber, e retribuía daquela maneira, com ironia e sarcasmo. Ela sabia de seu direito de escolha, pois casamento não significava que era prisioneira de um compromisso, e sem vontade própria, mas, isso não lhe dava o direito de magoar a única pessoa que estava com ela todos os momentos, e a quem prometera honrar e respeitar.

Gilbert vinha cumprindo sua parte naquele casamento, e quanto a ela? De novo, ela colocara seus interesses a frente de tudo, e não se importara com o que Gilbert iria pensar. Poderia ter discutido o assunto com ele, colocado a questão de outra maneira, pois sabia que seu marido nunca a proibiria de fazer o que queria. Mas agira sozinha, deixando-o de fora, e quando decidiu contar a ele, Anne apenas comunicara sua decisão. Ela tinha que se lembrar que não estava mais sozinha e que tudo entre eles deveria ser partilhado e discutido, respeitando a individualidade do outro, e naquele dia fizera exatamente o contrário.

- Gil. - Ela o chamou baixinho, mas, ele lhe deu as costas, e ela sentiu como se tivesse sido abandonada naquela cama imensa. Não suportando a frieza dele, Anne acariciou as costas de seu marido que lhe disse:

- Agora não, Anne. Eu preciso dormir, pois amanhã terei um dia cheio no hospital. - Era a primeira vez que ele rejeitava um carinho seu naquele período em que estavam casados, e isso lhe doeu mais do que se Gilbert tivesse lhe dito palavras ríspidas. Mas, ela não desistiu, pois estava decidida a quebrar o gelo entre eles, mesmo que tivesse que tomar todas as iniciativas aquela noite.

Assim, ela tirou o seu pijama, encostando seu corpo nu no de Gilbert sabendo exatamente o efeito que isso teria sobre ele. A pele do rapaz se arrepiou inteira, principalmente quando ela deixou que seus lábios deslizassem por todo o ombro musculoso, passando pelas costas indo até o meio da coluna masculina. Sem conseguir fugir do toque de Anne, ele se virou, e perguntou com o rosto sério:

- O que pensa que está fazendo?

- Estou dando carinho ao meu marido. - Ela disse, deixando que seus dedos tocassem o peito dele vagarosamente, e sorriu satisfeita ao sentir o coração dele se acelerar.

- Eu sei o que está tentando fazer, e não vai funcionar, pois não vamos fazer as pazes dessa maneira. - Gilbert disse segurando-lhe os pulsos.

- Por que não? - Anne perguntou, deixando que seu rosto ficasse a um centímetro do de Gilbert, permitindo assim que seus lábios quase se tocassem.

- Porque você mesma disse que não deveríamos usar desse tipo de artifício para fazermos as pazes quando brigamos.

- Vai mesmo usar minhas palavras contra mim, Dr. Blythe? - ela perguntou beijando o abdômen de Gilbert que se contraiu ao sentir o toque morno da boca dela.

- Anne, por favor, pare. Eu não quero isso hoje. - Ele disse tentando afastá-la de si.

- Não quer mesmo, ou só está tentando se convencer de que não quer? - ela se colocou entre as pernas dele, e deixou que sua intimidade nua tocasse a dele por cima dos shorts que ele usava para dormir. Gilbert soltou um pequeno suspiro, levando a mão para sua cintura, e apertou-a em sua direção.

- Por que está me tentando assim, Anne?

- Porque eu sou louca por você desde os meus catorzes anos, e é assim que eu te sinto meu como eu sou sua. – Ela se moveu entre as pernas dele, e Gilbert pareceu estar perdendo o controle. Seus olhos estavam fechados e sua respiração entrecortada.

- Anne...- ele disse baixinho em um fraco protesto, e a ruivinha colocou uma mão na boca dele para silenciá-lo e disse:

- Eu preciso te sentir em mim, por favor. Deixe-me amar você como eu quero. - Gilbert não disse nada, mas as mãos dele descendo por suas costas já tinham lhe dado a permissão que ela pedira.

E assim, ela mergulhou nos encantos masculinos de todas as maneiras que desejou. Gilbert a acompanhou passo a passo, deixando que ela tomasse total controle da situação, por isso, Anne explorou cada parte dele como se nunca tivesse fim suas doces descobertas sobre aquele corpo que sempre a fizera sentir que ela era a mais desejada das mulheres. Sua língua excitou Gilbert de mil maneiras diferentes, e a cada reação de prazer dele, Anne se sentia incentivada a continuar, e aumentar de intensidade cada carícia. Sua pele começou a transpirar, a dele também, os beijos se tornaram fogo, e a paixão que cresceu dentro deles mais parecia uma explosão de mil emoções e sentimentos grandes demais para serem considerados banais. E então, ela o sentiu tomá-la com todo o carinho e amor que a vinha tratando nos últimos tempos, e permitiu que dessa vez ele ditasse o ritmo de cada movimento, de cada suspiro e gemido, e quando chegaram no seu limite, onde recuar seria impossível, eles foram carregados pelo vendaval do seu prazer até que jazeram abraçados na cama juntos, ouvindo o barulho de suas próprias respirações.

Anne levantou a cabeça, olhou para Gilbert que permanecia em silêncio, e afastou alguns fios de cabelo que estavam grudados na testa dele, e perguntou:

- E então? Estou perdoada? - Gilbert apenas a olhou de um jeito indecifrável, e respondeu:

- Vamos deixar isso para lá. Nós dois precisamos dormir.- Assim, ele a abraçou e em instantes estava ressonando. Anne ficou ainda um tempo insone, pensando nas palavras de Gilbert, e quando finalmente fechou os olhos, ela não tinha certeza se realmente estavam bem.

GILBERT

Gilbert olhou para a quantidade de consultas em sua agenda, e suspirou desanimado. Não estava com muito pique para trabalhar naquele dia, mas, as obrigações de um médico com seus pacientes não podiam esperar, portanto, qualquer problema pessoal deveria ser deixado do lado de fora do consultório, pois ali não havia lugar para crises pessoais, enquanto várias pessoas lutavam para terem sua saúde volta. Isso era o ele ouvira a vida inteira, desde que saíra da escola de medicina, e começara trabalhar em hospitais.

Às vezes ele se perguntava se as pessoas achavam que médicos eram robôs sem sentimentos, ou se estavam sempre acima do bem e de mal, que nada os atingia negativamente. Ele entendia que não podia misturar vida pessoal com trabalho, mas, havia momentos que isso parecia algo tão difícil de fazer.

Naquela manhã, ele não sentia a usual animação que o fazia vir para o trabalho disposto a salvar todas as vidas que pudesse. Ele preferia estar em casa, onde ele poderia se trancar no escritório, e se esconder lá pelo resto do dia, sozinho sem interferência de ninguém, especialmente de sua esposa, que era a principal causadora de seu desassossego naquele momento. Ele tinha se levantado antes dela, fez o café da manhã, o qual tomou de pé na pia da cozinha mesmo, se vestiu e foi para o trabalho sem sequer se despedir. Talvez tivesse agido como um canalha, pois sua mulher estava grávida e merecia o mínimo de consideração, mas, quando fora que nos últimos meses ele não fizera isso? Desde que souberam da gravidez, Gilbert vinha dedicando a ela todo o seu tempo livre, e ainda fora acusado por Anne no dia anterior de ser superprotetor, como se ele a sufocasse com suas atitudes.

Talvez por ser médico, ele a tratasse com mais cautela do que deveria, e possivelmente exagerava mesmo em certas atitudes, mas, ele fazia isso porque sabia o quanto ela podia ser descuidada com certas coisas que a ela poderiam não parecer nada demais, porém, no futuro poderia lhe acarretar sérios problemas. Anne vinha se esforçando, isso ele tinha que dar crédito a ela, e normalmente, ela não era relapsa com a própria saúde e as dos bebês, pois se alimentava direito, e seguia toda a rotina de exercícios que Gabriela pedira para que ela fizesse. Porém, havia certos momentos em que agia sem pensar como caminhar descalça no chão gelado em pleno inverno, esquecer de usar um casaco mais quente enquanto fazia seus exercícios ao ar livre, não tomar sua vitamina de ferro em todos os horários programados para isso. No entanto, nada dessas coisas o aborrecia de fato, porque ele estava lá para cuidar dela, e não se arrependia de todo o esforço que tinha que fazer para que ela se sentisse bem.

Contudo, na noite anterior, Anne o fizera se sentir mal por isso, e a sensação ainda persistia. Ela lhe perguntara se ele a havia perdoado, depois que fizeram amor, e Gilbert não soubera o que responder. Na verdade, ele ficara ainda mais chateado por ela usar a fraqueza dele a seu favor. Em momento nenhum, ele conseguiria resistir ao toque dela, ou aos seus beijos. Anne era como uma droga viciante, sem a qual, ele não saberia viver. Havia momentos, que o jovem médico desejava não amar sua esposa tão absolutamente como amava, porque assim não se sentiria tão incomodado com algo tão pequeno.

Ele já usara dessa mesma técnica que Anne usara com ele, mas, seus motivos tinham sido outros. O que mais o estava deixando chateado naquela história, era ele ter cedido e depois ser incapaz de olhar para Anne e dizer que a amava e perdoava pelo que dissera, por isso, era que usar a atração que sentiam um pelo outro, e o amor que os unia daquela maneira, ao invés de melhorar, tornava tudo pior, principalmente porque parecia que ele havia se beneficiado do prazer que sempre sentia quando ele e Anne se entregavam à paixão entre eles, e depois a deixara sozinha como se não tivesse significado nada, e isso não era verdade. Cada momento com ela, sempre lhe era precioso, mesmo quando brigavam ou ficavam sem se falar, pois saber que ela estava por perto lhe dava conforto, e a certeza que ficariam bem e logo fariam as pazes, era outro fator que sempre o animava em dias assim.

Ela queria voltar a desfilar e ele não tinha o direito de negar-lhe isso, pois quando voltaram a se relacionar era esse o trabalho dela, e Gilbert realmente não se opunha, apenas ficava preocupado por conta das dores das quais ela vinha se queixando ultimamente, pois elas deixavam Anne tão inquieta e nervosa que lhe dificultavam o sono depois, como acontecera na noite anterior, ainda assim, se ela queria se arriscar e fazer o que gostava, não seria ele que iria impedi-la, e lidariam com as consequências físicas juntos depois. Fora bobagem ficar tão chateado com o que acontecera, mas, às vezes Anne sabia usar as palavras de um jeito que o magoava, porém, Gilbert não queria voltar a ser o homem cheio de ressentimentos que fora, quando Anne ficara noiva de Francesco Agipi. Ele fora duro com sua esposa naquela época por ciúme e mágoa, e nunca mais queria voltar a se comportar assim.

Ele resolveria tudo aquilo quando chegasse em casa naquela tarde, e daria a Anne o apoio que ela merecia para o seu desfile, pois fora isso que prometera fazer naquele altar quando se casara com ela, e era exatamente isso que faria. No entanto, ele precisava resolver outro problema urgente antes que seu dia de trabalho terminasse, e isso não podia esperar ou ser colocado de lado. Gilbert tentara evitar isso por semanas, mas, como a situação não parecia que iria mudar, ele precisava tomar suas próprias providências, antes que acontecesse algo pior que estragasse sua carreira dentro daquele hospital, e ninguém lhe tiraria algo que custara tanto para construir.

Decidido, ele caminhou em direção ao escritório do Dr. Phillips, pois ele sabia que àquela hora seu antigo professor e agora chefe estaria trabalhando lá, pois esse era o horário que ele cuidava da parte administrativa do hospital.

Gilbert bateu na porta, e esperou que o Dr. Phillips lhe desse permissão para entrar. Assim, que o viu em seu escritório, o bom doutor perguntou:

- Em que posso ajudá-lo, Gilbert? - ele apontou uma cadeira na qual o rapaz se sentou, sentindo-se um tanto constrangido, porque nunca fizera algo assim, mas, não podia adiar mais.

- Dr, Phillips, eu vim até aqui, porque quero fazer uma denúncia. - O médico mais velho lhe lançou um olhar preocupado e perguntou:

- O que aconteceu, Gilbert?

- Olha, eu sei que o que vou lhe contar é algo muito grave, e talvez comprometa pessoas nesse hospital, mas como me envolve diretamente, eu não posso mais deixar que isso continue.

- Diga-me então para que eu possa tomar minhas providências. - O Dr. Phillips disse com a sobrancelha erguida.

- Denise Williams tem me assediado. - Ele disse de uma vez e viu a surpresa no rosto de seu chefe que com certeza não esperava que o rapaz lhe viesse contar algo assim.

- Desde quando isso vem acontecendo?

- Desde antes do meu casamento. Eu pensei que terminaria quando eu voltasse da lua de mel, mas, ela continuou me olhando de um jeito provocante e me falando coisas que me incomodam profundamente. Se precisar de testemunhas, eu tenho a Gabriela e o Daniel que são pessoas íntegras e nunca mentiriam sobre algo assim.

- Sua palavra basta, Gilbert. se está me dizendo que isso vem acontecendo, eu acredito em você, pois conheço seu caráter. - O Dr. Phillips o tranquilizou.

- Eu sei que o senhor a tem em alta conta, e que ela tem feito um ótimo trabalho na área de Oncologia, e longe de mim querer que ela perca o emprego por isso, mas, eu não quero problemas pessoais e profissionais aqui.- Gilbert explicou, passando as mãos pelos cabelos em um gesto nervoso.

- O que quer que eu faça? Que a despeça? Estou te perguntando isso porque se me disser que será intolerável continuar trabalhando ao lado dela aqui, eu farei com que o problema seja eliminado. Não vou me arriscar a perder um profissional como você. Denise é ótima como psicóloga, mas, entre ela e você, com certeza não preciso nem escolher. - O médico disse com simpatia.

- Obrigado pela confiança Dr. Phillips. Vou pensar no assunto e depois voltamos a conversar. Não quero tirar o emprego de ninguém, no entanto, preciso encontrar uma solução que seja boa para todos.

- Não esperaria menos de você, meu filho, pois de todos os meus alunos, você sempre foi o mais sensato.

- Obrigado mais uma vez. Terei uma resposta até a próxima semana. Quero que por enquanto isso fique apenas entre nós.

- Fique tranquilo. Ninguém mais vai saber do que foi dito aqui. - Dr. Phillips lhe assegurou.

Assim, Gilbert voltou ao trabalho sentindo-se menos pesado do que nos últimos meses, e quando seu expediente terminou, ele já estava mais do que pronto para voltar para casa.

Ao abrir a porta do apartamento naquela noite, ele encontrou Anne sentada no sofá, e quando o viu, ela o olhou com o semblante preocupado e triste que lhe cortou o coração. Ele odiava vê-la daquele jeito por sua causa.

- Como foi seu dia?- ela perguntou cautelosamente ao vê-lo se aproximar dela.

- Cansativo como sempre. - Ele respondeu observando aquele rosto de porcelana cuja beleza sempre o deixava sem fôlego.

- E como está se sentindo agora?

- Melhor, mas, morrendo de saudade de você. - Ele disse sem tirar os olhos dos dela. Anne o olhou de um jeito como se não acreditasse no que acabara de ouvir, e então ela sorriu, e foi o incentivo que ele precisava para fazer o que desejava desde que pisara dentro daquele apartamento. Gilbert puxou Anne para seus braços, beijando-a com paixão, e deixando todo o resto fora de sua mente.

GILBERT E ANNE

Os dias que se seguiram foram tranquilos para Anne e Gilbert que voltaram para sua rotina normal, e para sua vida de casal dentro das quatro paredes do apartamento assim como era antes. Gilbert parecia ter aceitado bem a ideia de Anne desfilar na quinta-feira, porém não tocara mais no assunto, e Anne também preferiu deixar o assunto de lado até no último dia, pois não queria estragar o clima tão bom que tinha se instalado entre eles. Seu marido voltara a ser carinhoso, e as farpas trocadas na noite em que Anne lhe contara sobre o desfile também foram esquecidas, assim, o amor que sempre os unira continuava forte e intenso como no início do relacionamento, e eles estavam mais apaixonados do que nunca.

Naquela quinta-feira, Anne se levantou ao mesmo tempo que Gilbert, tomaram banho juntos, depois prepararam o café da manhã, e se sentaram na mesa para comerem as panquecas favoritas de ambos. A ruivinha tinha acabado de servir a si mesma um copo de suco de laranja, quando ela ouviu Gilbert perguntar:

- A que horas é o seu desfile? - Anne o olhou surpresa, colocou o copo que estava em suas mãos sobre a mesa, e respondeu:

- Às sete da noite. Eu pensei que nem se lembrava que era hoje. - Ela disse com certo cuidado, estudando as expressões de seu marido.

- Eu não me esqueceria de algo que é importante para você. - Gilbert estendeu a mão sobre a mesa e segurou a de Anne.

- Achei que não aprovava que eu participasse do desfile.

- Eu nunca disse isso. Eu só fico preocupado com a carga física que seu corpo tem de suportar por conta de toda movimentação, pois você terá que ficar várias horas em pé, mas, não te proibi de participar. Não tenho esse direito, porque é o seu trabalho. - Ele respondeu acariciando o dorso da mão de Anne com o polegar.

- Eu prometo que não vou me exceder. Posso descansar um pouco entre uma troca de roupa ou outra. Vou pedir para que me deixem por último, pois assim terei mais tempo para me trocar e recuperar o fôlego. - Gilbert apenas assentiu, e depois disse:

- Eu estarei lá para ver o desfile. - O rosto de Anne se iluminou com aquelas palavras. Ela não esperava que ele fosse, mas, só agora percebia o quanto desejava que ele estivesse lá.

- Você vai?

- Por que o espanto? - ele perguntou com um sorriso.

- Sei lá. Só achei que não gostaria de ir depois de termos discutido por isso.

- Você não sabe o quanto fica maravilhosa em cima de uma passarela. Eu não perderia isso por nada no mundo. - Ele acariciou as bochechas dela, e Anne fechou os olhos. Adorava o toque de Gilbert, porque ela conseguia sentir todos os sentimentos de dele por ela naquele gesto tão simples. Logo, ela os abriu novamente para encarar o único homem que já tinha amado na vida e disse:

- Você é que não sabe o quanto significa para mim que esteja lá. Vou desfilar só para você. – Ela entrelaçou os dedos nos dele, e sorriu.

- Será que mereço toda essa beleza só para mim? - Gilbert fez Anne se levantar e se sentar em seu colo. Ela se acomodou nas coxas do rapaz e respondeu:

- Você merece tudo, meu amor. - E em seguida, Anne o beijou, porque nunca conseguia ficar próxima dele sem que estivesse tocando-o de alguma maneira. O gosto e o cheiro dele eram sua essência favorita, eram seu combustível para aqueles momentos do dia em que a falta dele era demais para ela. Depois que ficara grávida, sua carência só vinha aumentando, e estava cada vez mais dependente daquele amor que sentia por ele. Se um dia pensara que com o tempo o sentimento se acalmaria dentro dela, tinha se enganado completamente. Cada dia, Anne sentia seu coração tão entregue e tão cem por cento Gilbert Blythe, que já compreendera que o que sentia por ele era para sempre e que nunca mais amaria alguém assim.

Eles se separaram, e Gilbert continuou acariciando seu rosto, seus cabelos e seus lábios, olhando-a com aquele jeito que a fazia se sentir especial. Se marido era um homem tão lindo, e tão apaixonado também. Olhar para ele era como ver uma obra de arte, inteiramente perfeita. Tudo naquele rosto era harmonioso, até mesmo aquela covinha que só aparecia quando ele sorria como agora.

- Queria passar o dia com você, mas, infelizmente vou ter que ir para o trabalho. Eu ia pedir minha folga para hoje, porém apareceu um caso complicado que terei que avaliar se uma cirurgia resolveria o problema do paciente.

- Tudo bem, amor. Eu entendo. Hoje me deram o dia para descansar, então ficarei em casa até a hora de ir pra o desfile. Vou aproveitar para dormir um pouco mais, e pedir que minha manicure venha no apartamento para fazer minhas unhas. - Anne disse tocando os cabelos de Gilbert nas têmporas.

- Vai ter seu dia de modelo então. - Ele disse em tom de brincadeira.

- Sim, literalmente. Vou até ter um banho de banheira no qual eu adoraria ter a companhia do meu marido. - Ela disse manhosa.

- Talvez a gente possa fazer isso mais tarde em comemoração ao sucesso do desfile. - Ele disse acariciando a cintura dela.

- Acho uma ótima ideia. - Anne disse descansando cabeça no ombro de Gilbert.

- Está na minha hora, amor. - Gilbert falou. Assim, Anne saiu do colo dele e o acompanhou até a porta, onde mais uma vez Gilbert a abraçou pela cintura e perguntou:- A sua lombar está doendo, hoje?

- Não. Felizmente não estou sentindo nenhum desconforto.

- Fico mais tranquilo em saber disso. Descanse bastante, e fique linda para mim naquele desfile. - Gilbert disse beijando Anne com suavidade.

- Vou me vestir só para você. - Ela respondeu.

Gilbert tocou seus cabelos uma última vez, e depois foi para o elevador, deixando Anne na porta do apartamento já sofrendo com a ausência dele. Ela andava se sentindo muito sozinha, pois Cole estava viajando a trabalho e ela não sabia quando ele iria voltar, Marylin estava na França trabalhando como modelo, e tinha contrato para um ano inteiro, e suas outras amigas mais chegadas estavam em Avonlea, então vê-las não seria possível, deste modo o que restava para ele era tentar se ocupar até a hora do desfile.

Como ainda se sentia sonolenta, Anne resolveu voltar para cama e dormir mais um pouco. Sua manicure estava marcada para à uma da tarde, então, ela teria tempo suficiente para descansar até a hora do almoço, e foi exatamente o que fez. Quando acordou, ela tomou um banho relaxante, preparou o próprio almoço e foi sentar-se no sofá da sala onde permaneceu até que a manicure chegou pontualmente no horário marcado. Uma hora depois com as unhas feitas, Anne deu especial atenção para os cabelos, lavando-os e hidratando-os com produtos que sua cabelereira tinha sugerido quando ela não pudesse ou não tivesse tempo de ir ao salão, e depois leu mais um capítulo de um livro que tinha acabado de comprar.

Às cinco horas, a agência enviou um carro para buscá-la em casa e levá-la até o local do desfile, onde começariam os preparativos para a exposição dos produtos da marca. Gilbert não tinha ligado para ela nenhuma vez, e apesar de ter ficado chateada com isso, Anne imaginou que ele deveria estar ocupado, e por isso, não conseguira ligar.

E de fato, Gilbert estava atolado até o pescoço de trabalho naquele dia, e mal tivera tempo de almoçar. E para piorar, ele tivera que trabalhar na área de Oncologia junto com Denise, que não parava de olhá-lo de forma insinuante. O rapaz ignorara sua silenciosa investida todo o tempo. No entanto, essa sua recusa em falar com ela ou se aproximar mais do que necessário ao invés de afastá-la, parecia que a tinha atiçado mais. Assim, Gilbert decidiu que no dia seguinte falaria de novo com o Dr. Phillips e lhe pediria que a transferisse para outro lugar onde ambos não teriam nenhuma oportunidade de trabalharem juntos. E caso seu pedido fosse negado, ele deixaria de trabalhar na Oncologia, por mais que lhe doesse, porque aquele era um projeto dele que Anne o ajudara a transformar em realidade, e deixá-lo faria Gilbert se sentir arrasado. Contudo, ele preferia isso a ter que suportar a presença daquela garota sem limites.

O tempo se escoou rápido, e infelizmente naquele dia, Brian tivera problemas com seu tratamento, e Gilbert tivera que ficar mais tempo com ele e observá-lo enquanto esperavam que os resultados dos exames que ele fizera ficassem prontos. O único inconveniente foi que quando Gilbert olhou no relógio, já eram seis horas, e ele não sabia em que momento poderia sair do hospital, e consequentemente tal fato o faria perder o desfile de Anne. Ele queria avisá-la, mas não teria tempo, por isso engoliu a própria frustração, dizendo a si mesmo que ela entenderia quando Gilbert lhe explicasse porque não tinha ido ao desfile como prometera. Deste modo, ele permaneceu ao lado do menino, sem perceber que alguém o observava avidamente, e planejava uma retaliação por ter sido ignorada naquele dia.

De volta ao desfile, Anne já estava quase pronta para entrar e não tinha recebido nenhuma mensagem de Gilbert. Ela estranhou tal fato, olhando de cinco em cinco minutos para os lugares onde os convidados deveriam se sentar, e nem sinal de seu marido. Logo, o desfile teve início, e Anne teve que se conformar com o fato de que Gilbert não viria, e nem tivera a preocupação de mandar alguém lhe avisar. A sua vontade era de desistir de tudo e ir para casa já que toda sua animação se dava ao fato de que queria que seu marido a visse em uma passarela novamente, e diante da realidade de que ele não apareceria, Anne perdera a vontade de desfilar. Contudo, como era profissional, ela cumpriu seu papel direitinho, colocou um sorriso no rosto, e desfilou toda a sua graça natural e lapidada durante tantos anos no mundo da moda, e em questão de minutos, todos estavam fascinados e comentando sobre a garota ruiva e grávida que com toda a sua beleza conseguira abrilhantar ainda mais aquele desfile tão bonito.

Porém, a ruiva não se sentia feliz. Ela estava decepcionada por Gilbert não ter sequer lhe enviado uma mensagem para que ela soubesse o motivo de sua ausência, e logo, ela começou a imaginar que ele tinha mudado de ideia, e que ele mentira naquela manhã quando lhe dissera que não se importava por ela estar desfilando, porque se fosse por outro motivo que o impedira de vir, ele com certeza a teria avisado com antecedência, e não a deixaria triste e com os olhos marejados ao final do desfile por ver todas as outras modelos com seus maridos, noivos e namorados, e só ela estava sozinha e sem ninguém para comemorar com ela o sucesso do desfile.

Para fugir dos olhares de pena que com certeza receberia das outras modelos, Anne se refugiou no camarim, tirou toda a maquiagem, vestiu suas próprias roupas, e sem se despedir de ninguém, ela foi até um ponto de táxi que havia ali por perto, e esperou pelo motorista para quem havia ligado minutos antes.

Enquanto ela esperava, Anne ouviu seu celular vibrar, e olhou ansiosa para a tela, pensando que fosse uma mensagem de Gilbert, mas, quando ela leu o que estava escrito, sentiu seu coração gelar, pois no conteúdo dizia:

"Quer saber o que seu marido anda fazendo? Venha imediatamente até o hospital Central e verá com seus próprios olhos."

Anne passou as mãos nervosamente pelos seus cabelos e pensou se deveria fazer o que a mensagem sugeria, ao mesmo tempo em que dizia a si mesma que aquilo era besteira, pois ela confiava plenamente em Gilbert, não confiava? No entanto, quando o motorista do táxi encostou no meio fio, ela deu o endereço do hospital, tentando acreditar que estava fazendo aquilo porque queria ver seu esposo, e não porque desconfiava dele. Se Anne soubesse que por trás daquelas palavras havia uma pessoa perversa que a atraía para o hospital , apenas porque queria lhe causar dor, a ruivinha teria dado meia volta e ido para casa. Porém, naquele exato momento, Denise Williams comemorava por ver que a esposinha de Gilbert tinha lido sua mensagem, e só se ela realmente não tivesse ciúme do marido era que não se importaria com o teor do que lera. Denise queria fazer Anne pagar por ter sido grosseira com ela no dia em que viera visitar a área de Oncologia, e Gilbert por ignorá-la por tantos dias.

Com uma desculpa convincente, ela pediu que a recepcionista do hospital lhe avisasse por mensagem assim que a esposa do Dr. Blythe chegasse no hospital, pois precisava falar com ela sobre um assunto importante. Desta maneira, ela seguiu Gilbert até o consultório dele, sem que o rapaz desconfiasse que ela secretamente tinha pego o celular dele em um momento que o rapaz estava ocupado com Brian., e copiou rapidamente o número de telefone da esposa dele, sendo possível para que Denise enviasse a mensagem diabólica.

Gilbert entrou em sua sala acompanhado de Denise. Ele sabia que ia precisar dela para ajudá-lo com os relatórios dos pacientes daquele dia, já que ela participara diretamente de cada consulta, por isso, teria que suportar a presença da psicóloga um pouco mais.

Eles já estavam ali cerca de vinte minutos quando Denise recebeu uma mensagem silenciosa que dizia:" ela acabou de chegar". Assim, ela sorriu disfarçadamente, e começou sua encenação, calculando mentalmente quantos minutos Anne levaria para chegar ali.

- Então, o Dr. Blythe resolveu me ignorar hoje. - Gilbert sequer levantou a cabeça para olhá-la quando respondeu, por isso não percebeu a aproximação da moça de sua cadeira;

- Você sabe muito bem porque, já que criou toda essa situação. - A voz dele estava incrivelmente irritada, e Denise só respondeu ao que ele dissera quando já estava bem perto dele.

- Eu não acredito em toda essa sua frieza. Quero ver quanto tempo vai resistir se eu fizer isso:- e sem que Gilbert esperasse, ela pulou no colo dele e o enlaçou pelo pescoço.

- O que está fazendo sua maluca?- Gilbert disse, tentando afastá-la dele, mas foi naquele momento que a porta se abriu, e Denise abaixou um pouco a cabeça, pois quando Anne entrou no consultório, ela teve a impressão que Gilbert e Denise estavam se beijando. A ruivinha ficou paralisada no lugar sem acreditar que na cena que estava vendo. Seu peito se apertou tanto que ela começou a sentir falta de ar, ao mesmo tempo em que lágrimas lhe subiram aos olhos, mas, ela fez força para engoli-las, pois não ia dar o gostinho aos dois de ver a sua mágoa. Naquele momento Denise se afastou de Gilbert e se pôs de pé ao mesmo tempo em que dizia:

- Que surpresa, Sra. Blythe.

Ao ouvir que Anne estava ali, Gilbert se levantou no mesmo momento, e quando viu o olhar de dor dela em sua direção, ele gritou internamente: "não, não, não"!

- Ora, ora. Acho que sua esposinha adora fazer surpresas, não é, Gilbert? - Anne nunca pensou que odiaria tanto alguém como odiou Denise naquele momento, especialmente o sorrisinho vitorioso em seus lábios. A raiva a cegou, e sua razão sumiu, ela apenas caminhou até a garota, deu-lhe um sonoro tapa no rosto e disse quase em um rosnado:

- Vadia! - e vu com prazer o sinal de sua mão na face dela, e seu sorriso sumir instantaneamente.

- Anne. - Gilbert disse tentando se aproximar dela, enquanto sentia a angustia crescer dentro de si.

- Não chegue perto de mim! - ela disse em uma voz raivosa, e saindo rapidamente pela porta, enquanto ele permaneceu paralisado no meio da sala, vendo a mulher de sua vida indo embora.

Anne caminhou pelos corredores o mais rápido que pôde, rezando para não encontrar nenhum conhecido, porque se começasse a falar desabaria, e ela não queria que ninguém a visse naquele estado. Seu coração estava estraçalhado e ela nem sabia como estava conseguindo andar sem desmaiar, pois o oxigênio parecia ter sumido completamente de seus pulmões. Quando saiu para o ar fresco do lado de fora, ela procurou desesperadamente por um táxi, e por sorte um se aproximou dela naquele instante, e a ruivinha se atirou no banco de trás e passou rapidamente o endereço para o motorista, tentando controlar o choro que estava parado na sua garganta.

Durante todo o caminho, a cena que vira de Gilbert e Denise não saía de sua cabeça, e ela se perguntava quando aquilo começara? Por que Gilbert fizera isso com ela depois de lhe dizer tantas vezes que a amava? Será que a gravidez a deixara tão pouco atraente que ele se sentira tentado a olhar para outra mulher? Será que quando ele dizia que a achava linda grávida, ele o fazia por pena e por que já estava envolvido com Denise?

Eram tantos pensamentos incoerentes, que Anne não percebia que com isso, ela acabava acreditando no que seus olhos tinham visto, e se esquecia da importância de deixar que seu coração abrisse sua mente para o que era real, preferindo acreditar na imagem que poderia destruir facilmente seu casamento tão cheio de amor, ao invés de dar o benefício da dúvida ao homem que a amava tão apaixonadamente e que lhe dava milhares de provas disso todos os dias.

Anne chegou em seu apartamento arrasada, e no minuto que entrou em seu quarto e trancou a porta, ela desmoronou se atirando na cama e chorando tão desconsoladamente que achou que nunca mais conseguiria parar. O travesseiro de Gilbert com o aroma do perfume dele estava próximo dela, e Anne o pegou nas mãos, socando-o como se assim pudesse atingir o homem que havia partido seu coração, e quando se cansou, ela apenas o abraçou, continuando chorar, e percebendo que mesmo com a ira se agitando dentro dela, seu amor por Gilbert ainda era maior, e se amaldiçoou por amá-lo tanto que mesmo depois de ele tê-la traído da maneira mais sórdida, ela não parava de desejar que ele estivesse ali.

A uma boa distância dali, Gilbert Blythe não estava em melhor estado que sua esposa. Ele dirigia feito louco para casa, avançando todos os sinais vermelhos, sem se importar com quantas multas teria que lidar depois por ter infligido as leis de trânsito. Tudo o que queria era chegar em casa, falar com Anne e tentar explicar aquela confusão toda que Denise tinha causado. Só de pensar na garota, ele sentia-se ferver por dentro de ódio, mas, afastou a imagem dela de seus pensamentos, pois queria concentrar todas as suas energias em sua esposa. Ele não podia perde-la, sequer conseguia pensar nessa possibilidade sem sentir que seu coração se estilhaçaria tão completamente e se reduziria a pó. Ele preferia pensar que conseguiria se explicar, que Anne entenderia, e que aquele dia infernal acabaria da melhor forma possível.

Finalmente, ele chegou no prédio de seu apartamento, e correndo para o elevador, ele jogou as chaves para o porteiro e pediu-lhe que estacionasse o carro para ele na garagem dos moradores. A meio caminho do seu andar, um pensamento angustiante começou a perturbá-lo. E se Anne não tivesse vindo para casa? Mas, assim que abriu a porta, ele suspirou aliviado ao ver a bolsa dela em cima do sofá.

Logo, o rapaz imaginou que ela estaria no quarto, e quando girou a maçaneta percebeu que ela estava trancada. Assim, ele bateu na porta e disse:

- Amor, por favor, abra a porta para mim, precisamos conversar. - O silêncio foi a única resposta que ele teve, por isso, Gilbert insistiu:- Anne, por favor, não faz isso comigo. Eu posso explicar o que aconteceu. - E de novo só o silêncio lhe respondeu. Ele tentou mais uma vez, pois se recusava a desistir. Anne tinha que ouvi-lo, pois o que acontecera não fora culpa dele:- Amor, por favor. Eu preciso falar com você, não me deixe do lado de fora falando sozinho.

Lá dentro, Anne chorava baixinho, e no momento em que Gilbert começou a falar, ela apenas abraçou os joelhos e descansou a cabeça sobre eles. Mas, por várias vezes, ela controlou sua vontade de correr até a porta, e permitir que Gilbert entrasse, porém, logo pensou que se fizesse isso, ela sabia exatamente como aquilo acabaria, pois quando a situação envolvia Gilbert seu coração traiçoeiro sempre a jogava de volta para os braços dele, e daquela vez o que acontecera fora grave demais para que ela o perdoasse apenas porque não conseguia deixar de amá-lo. Ela ainda tinha o seu orgulho, não passaria por cima dele para dar a Gilbert tudo o que ele queria. Depois de algum tempo, as batidas na porta cessaram, e Anne se deitou na cama vestida como estava quando chegou ali, rezando para que conseguisse mergulhar no mundo do sono, e aquela noite infeliz fosse apagada da sua memória.

Enquanto isso do lado de fora, Gilbert percebeu que Anne não falaria mesmo com ele, e por isso desistiu de insistir. Ele estava exausto, mas, não queria ir para o quarto de hóspedes, pois ficaria longe demais de Anne, por isso, ele se sentou no chão, e encostou as costas no batente da porta se preparando para longa noite que se seguiria.

Notas Finais : olá, por favor, não matem a autora. Beijos

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