Prelúdio IX

175 40 4
                                    

***Bryan

Já era manhã do dia seguinte, eu mal havia conseguido pregar os olhos na noite anterior. Estava preocupado com minha mãe que ainda não tinha voltado.

Eu já sabia muito bem do que minha tia era capaz, nada poderia me garantir que aquela mulher desprezível, não tivesse feito algo de ruim com dona Vallentina. Incomunicável naquele quarto, tudo que me restava era esperar.

A ansiedade já estava começando a me fazer mal. Eu olhava através da grande vidraça o céu acinzentado lá fora. Tudo que eu queria era ter forças o suficiente para me levantar daquela maldita cama, e sair em busca de notícias de minha mãe. Eu também sentia muita saudade de respirar o ar do ambiente externo.

Ouvi duas batidas na porta. Logo, meu coração encheu-se de alívio e gritei com toda a força que tinha disponível:

- Pode entrar!!!

Lentamente, a porta se abriu. Foi inevitável eu fazer uma cara de descontentamento no momento em que avistei uma enfermeira entrando no quarto, em mãos ela trazia a bandeja com meu café da manhã.

- Bom dia, senhor Bryan... Trouxe o seu café! - A moça de pele negra, usando uma touca e jaleco brancos, deu um largo sorriso.

- Ainda não sei se é um bom dia. - Respondi pensativo.

- Por que essa cara de desânimo logo que me viu? Minha presença te desagradou tanto assim? - Perguntou ela, colocando a bandeja sobre a mesinha ao lado, e começando a ajeitar meus travesseiros, para que eu me sentasse.

- De jeito nenhum! Tu me entendeu mal. - Expliquei. - É que minha mãe saiu ontem à noite, e até agora não voltou... Tô grilado com isso.

- Ah, sim! - Ela terminou de me ajeitar na posição correta, e logo a seguir, pousou a bandeja sobre minhas coxas.

Na bandeja havia um pêssego, duas torradas e um copo de suco de laranja. Eu sentia tanta falta de comer fartamente.

- Eu posso te pedir um favor? - Fitei a moça.

- Óbvio que sim! Se eu puder ajudá-lo, será um prazer. - Respondeu ela de forma simpática.

- Pode pedir na recepção para que alguém ligue para minha mãe? Procurar saber se aconteceu alguma coisa...?

- Mas é óbvio. Farei isso... Agora, trate de tentar não se estressar e aproveite seu café da manhã. Ela só deve ter sofrido algum imprevisto. - A enfermeira tentou me tranquilizar.

Dizendo tais palavras, com um gesto que eu entendi como pedindo permissão, a moça começou a arrancar os adesivos com fios do meu peito. Fios estes, que monitoravam meus batimentos cardíacos.

- Mas eu já posso tirar estas coisas?! - Perguntei surpreso.

- Sim. - Ela sorriu. - Não é uma boa notícia?!.... Doutora Suzana disse que não é mais necessário permanecer ligado aos monitores, já que seus batimentos já não apresentam qualquer alteração.

- Isso quer dizer que estou bem?! - Perguntei com certa animação.

- E por que não estaria?! - Questionou ela. - Em breve, já poderá ir para casa. Obviamente ainda terá algumas restrições, mas nada de muito drástico!

- Uffa! - Soltei. - Enfim uma boa notícia, entre tantas coisas ruins acontecendo!

- Eu sabia que ia adorar a notícia... Mas, enfim, termine seu café. Quando terminar, é só tocar a campainha que venho buscar a bandeja. - Pediu. - Agora, vou tratar de fazer o que o senhor me pediu.

Dizendo isso, a moça deu as costas e abandonou o quarto caminhando apressadamente.

Confesso que eu não estava com muita fome... Não daqueles alimentos que estavam naquela bandeja. Eu estava com muita vontade de comer coisas mais apetitosas. Mas como eu sabia que não havia outra escolha, comecei a devorar aquelas torradas secas e bebia o suco para ajudar a descer goela abaixo. Ambos eram tão sem sabor, pareciam minha vida de antigamente.

B and E [Livro 3]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora