Prelúdio VII

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***Esteban

O garoto deitado naquele leito daquela clínica, parecia estar bastante abalado. Eu sabia, desde o início, que comentar sobre assuntos tão delicados não era uma boa idéia... Porém, Bryan era teimoso demais para aceitar minha recusa.

Fiquei em silêncio. Ele me olhava como se houvesse visto o pior dos fantasmas... Um fantasma que assombrava o pior de seus pesadelos. Seu semblante revelava certa descrença.

Tudo que eu ouvia naquele quarto era sua respiração pesada, acompanhada dos bips dos monitores que seguiam monitorando seus batimentos cardíacos.

Aquela falta de palavras, estava começando a me deixar preocupado. Temia que eu houvesse feito aquele rapaz entrar em choque.

- Bryan... - Engoli em seco, enquanto o fitava de olhos arregalados e tocava pouco acima de seu joelho. Queria obter alguma resposta. - Você está bem?! Eu sabia que não devia tocar nesse assunto por agora, mas você é teimoso demais!!!

Ele, sem desviar o olhar de mim, começou a piscar freneticamente. Parecia estar voltando à realidade, após uma longa viagem ao âmago de seu subconsciente.

- Eu sabia que não era uma boa idéia!!! - Exclamei. - Agora você entrou em choque por minha causa!!!

- Ei!!! - Chamou-me, em um tom autoritário. Aquele conhecido tom que eu já sabia bem qual era. - Dá pra parar de surto?! Não se preocupe comigo, Rosinha! Preocupe-se contigo! Foi tu quem perdeu o pai!!!

- Eu não vou mais falar sobre isso, Bryan! Você não está em condições de conversar sobre assuntos tão delicados... E olha que eu só comecei!

Ao fazer o comunicado, imediatamente levantei-me da beirada da cama com bastante rapidez, mas o garoto me surpreendeu segurando-me pelo pulso.

Ainda parado de costas para ele, fechei os olhos lentamente, dei um profundo suspiro e falei:

- Nem tente! Não vou continuar! Sua saúde nesse momento é o mais importante.

- Esteban... - Ele começou a falar em um tom de voz mais doce. - É sério, cara. Eu tô bem... Pode falar tudo que precisa... Sei que deve ter enfrentado a maior barra na minha ausência. Não precisa hesitar se quiser desabafar comigo... Não foi tu mesmo que disse que queria que fôssemos amigos? Vamos nos dar essa chance agora... Acho que depois de tudo que fiz, o mínimo que posso fazer é te dar meu apoio e te ajudar como posso. Te fiz muito mal no passado... Quero me redimir.

Eu notava um tom de tristeza na voz dele. Cada palavra que saia de sua boca, parecia estar carregada de sinceridade, e também um pouco de culpa.

Eu não podia dar às costas para aquela oportunidade que o garoto estava me oferecendo naquele momento. Era a deixa que eu precisava, para que pudéssemos nos aproximar ainda mais e aparar nossas arestas.

Virei-me lentamente para a direção dele, seus olhos me fitavam atenciosamente. Pareciam suplicar por minhas palavras.

- Eu não guardo qualquer mágoa pelo nosso passado desastroso, Bryan. - Desabafei. - Eu sei que você mudou e está mudando. Isso é cada vez mais visível pra qualquer um que te olhe. E eu acredito que, depois dessa luta difícil pela qual passou, você ainda tem muito mais coisas melhores sobre si para mostrar ao mundo lá fora.

- Tu é bonzinho demais! - Ele franziu a testa. - Nunca vou conseguir entender como pôde me perdoar depois de tudo que te fiz!

- Olha... - Fiz uma pausa enquanto voltava a me sentar na beirada do leito. - Tem razão. Você não foi exatamente um suco de groselha comigo, fez da minha vida um inferno, sim! Mas as coisas boas que você fez por mim, se sobressaem a qualquer coisa de ruim que ache que já tenha feito. Disto você pode ter certeza!

B and E [Livro 3]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora