Chance

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***Esteban

Ao terminar de preencher o formulário que Vivian havia me entregado, retornei ao balcão da recepção e a devolvi a caneta. Em seguida a moça levantou-se em silêncio, e fez sinal com o indicador para que eu a seguisse.

Ela me acompanhou até à porta do escritório de doutora Suzana e disse que eu poderia bater e aguardar ser atendido, então, assim o fiz.

Não demorou muito para que a mulher abrisse a porta. Ela me olhou com simpatia, e disse enquanto me dava passagem:

- Entre, por favor.

- Obrigado. - Agradeci enquanto passava por ela.

A linda mulher fechou a porta do escritório, e a seguir caminhou elegantemente até sua poltrona atrás de uma grande mesa de vidro com pés de alumínio... Sentou-se cruzando as pernas, e apontou para o acento do outro lado da mesa dizendo:

- Pode se sentar. Fique a vontade.

- Com licença. - Falei um tanto nervoso enquanto me acomodava no lugar. Eu estava com medo de cometer uma gafe e colocar tudo a perder... Minha insegurança estava cada vez mais evidente.

Doutora Suzana estendeu a mão por cima da mesa, indicando que queria que eu a entregasse a prancheta com o formulário que eu havia preenchido. Imediatamente o fiz.

Ela pegou com delicadeza o objeto e o pousou sobre a mesma, em seguida ela apanhou um óculos de leitura que havia em  dos lados da mesa e o posicionou sobre o nariz. Ela estava bastante atenta ao ler o que escrevi.

O silêncio pairava no ambiente, todo aquele suspense só fazia por aumentar cada vez mais a minha ansiedade. Minhas mãos estavam bastante suadas, eu sentia como se uma bola de golfe estivesse alojada na minha garganta.

A mulher terminou sua breve leitura, que para mim parecia ter durado uma eternidade, em seguida ela apoiou os antebraços sobre a mesa e me encarou com certa seriedade:

- Então... Vamos ao que realmente interessa. - Ela foi direta.

- Sim, doutora. - Eu tentava disfarçar os tremores na minha voz.

- Me diga exatamente porque quer trabalhar aqui.

- Como eu disse antes... - Respirei fundo. - Eu preciso muito arranjar um emprego para poder custear minha permanência na faculdade. Eu sou aluno bolsista e sempre passei por muitos problemas, principalmente quando se trata de dinheiro. Se eu não conseguir um trabalho, temo que eu não consiga permanecer no meu curso... E me formar é algo muito importante para mim.

- Interessante... Gostei da sua sinceridade. - Ela praticamente não se mexia, continuava na mesma posição do início da conversa. - Eu vi aqui que você começou na faculdade recentemente. Meu filho também começou a faculdade esse ano. Ele estuda no mesmo campus, só que cursa medicina.

- Que legal! - Dei um sorriso um pouco tenso. - Quem sabe algum dia a gente não se esbarre por lá. O lugar é grande, há muitos estudantes, mas nunca se sabe, não é mesmo?

- Sim... - Pela primeira vez ela dava um sorriso após ter me recebido na porta. - Acredito que seriam bons amigos. Você é muito gentil, doce, e também dá para ver que é determinado, assim como meu filho.

- Obrigado. Eu só tento fazer o meu melhor e lutar por aquilo que acredito. Sou de perseguir os meus sonhos, é por isso que consegui entrar para melhor faculdade da região. Batalhei muito para chegar até lá.

- Eu acredito, meu querido. - Agora ela me olhava com mais ternura. - Consigo ver a sinceridade em seu olhar.

Eu fiz um movimento inclinando discretamente a cabeça para a frente em forma de agradecimento a àquelas gentis palavras, em seguida voltei a falar com a doutora:

- Olha... Eu sei que sou jovem e não tenho qualquer experiência. Mas se me der uma chance, eu prometo que farei de tudo para ser o melhor naquilo que me propuser a fazer... Eu só preciso de um voto de confiança... Eu sei que sou capaz.

A mulher ficou em silêncio. Apenas apanhou uma caneta e começou a fazer umas anotações no final da página do formulário. Eu a observava com certa insegurança.

Eu nunca havia estado em uma entrevista de emprego antes, não sabia como as coisas funcionavam. Meu medo era de uma oportunidade tão boa se esvair entre meus dedos... Depois de passar metade de um dia procurando, aquele foi o único local que eu encontrei vaga em aberto.

Doutora Suzana pousou a caneta sobre a mesa e em seguida começou a falar:

- Sei que é inexperiente e tudo mais... Mas sua determinação me cativou e vou te dar uma chance... Três semanas para ver se você consegue pegar o ritmo das coisas por aqui, o que acha?

- Seria maravilhoso, doutora! - Uma euforia me invadiu naquele momento. - É tudo que eu preciso, apenas a chance de provar que eu sou capaz!

- Ótimo! - Ela sorriu. - Durante esse período você será supervisionado por alguém, essa pessoa vai te treinar e te dizer tudo que precisa ser feito. Se ao término dessas três semanas você estiver apto a continuar o trabalho sozinho, no rodapé do seu formulário estão anotados os documentos necessários para sua formalização na empresa. - Ela concluiu me devolvendo a prancheta.

- Eu não sei nem como te agradecer, doutora Suzana! Muito... Muito obrigado mesmo por me dar essa chance de me provar! - Minha euforia só aumentava ainda mais.

- Me agradeça sendo eficiente para que eu não precise mais entrevistar ninguém. - Ela deu uma piscadela enquanto falava quase sussurrando. - Eu sei que você é capaz. De certa forma você lembra muito meu filho, por isso vou te ajudar no que for possível.

- Não tenho nem mais palavras para dizer o quanto sou grato! - Eu sorria cada vez mais.

- Não vai ser moleza! - Doutora Suzana começou a explicar. - Sei que vida de universitário não é nada fácil, já passei por isso. Trabalhar e manter boas notas vai ser uma tarefa árdua pra você... O cansaço muitas das vezes vai querer te fazer desistir. Mas te digo uma coisa: continue lutando, no final vai valer a pena! O horário disponível para a vaga aqui é das quatorze às vinte e uma com pausa de uma hora para descanso e alimentação. Está mesmo afim de embarcar nessa?!

- Com certeza, doutora! Pra mim é um horário perfeito! - Eu balançava a cabeça em positivo freneticamente.

- Então... - Depois de muito tempo a mulher relaxou o seu corpo, o reclinando e apoiando no encosto da poltrona. - Nos vemos na segunda-feira. Já pode ir.

- Muito... Muito obrigado mais uma vez, doutora! Prometo não te decepcionar! - Me levantei do acento quase que dando um pulo, tamanha era mina animação.

- Eu sei que não vai decepcionar.

Com a maior alegria do mundo, eu caminhei até à porta de saída do escritório e girei a maçaneta. Antes de me retirar da sala, olhei uma última vez para a mulher e perguntei:

- Doutora, como é o nome do seu filho?

Ela deu um meio sorriso enquanto me olhava curiosa. Em seguida voltou a debruçar sobre a mesa e respondeu:

- O nome do meu menino é Thales.

- Muito bonito o nome dele. Acredito que ele também seja tão bonito e gentil quanto a mãe. - Disse com sinceridade. - Ele tem muita sorte de ter uma mãe tão maravilhosa assim.

O sorriso da mulher ficou ainda mais largo, em seguida eu abri a porta e deixei o local. Passei pela garota da recepção e entreguei a prancheta depois de retirar o meu formulário.

Agora eu estava ainda mais animado. Daria tudo de mim para não deixar aquela oportunidade escapar por entre meus dedos. Eu iria lutar para que aquele emprego fosse meu por definitivo.

Antes de sair da recepção, olhei para a moça que estava atrás do balcão, a mesma que havia me tratado tão indelicadamente, e falei:

- Tchauzinho, Vivian... Nos vemos na segunda-feira.

B and E [Livro 3]Where stories live. Discover now