Desconfianças III

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***Bryan

No final da tarde daquele mesmo dia, como de costume, fui fazer uma visita à Cristopher.

Sempre que eu ia naquele hospital, eu chegava cheio de esperanças. Boas notícias sobre o seu quadro clínico delicado, era tudo que eu queria receber... Porém, mesmo tentando manter pensamentos positivos, mais uma vez, eu voltava pra casa frustrado.

Ignorando totalmente todos os surtos anteriores de dona Vallentina, novamente eu estava dirigindo meu carro... Mas naquele momento eu estava sozinho.

Nossos pensamentos travam um conflito desesperador quando estamos solitários. Eu não conseguia afastar para longe a memória de Cris sobre aquele leito de hospital... Aquele rapaz bonito, saudável, iluminado... Cada dia que se passava sua luz parecia estar ficando cada vez mais ofuscada... Cada dia que se passava, era como se eu estivesse o perdendo um pouco mais.

Com o olhar fixo na estrada, eu sentia um verdadeiro mix de sensações internas. Ódio, dor, angústia... O medo da perda se evidenciava cada vez mais em mim.

Eu não queria perder as esperanças. Precisava a todo momento, principalmente na frente de tia Lidya, demonstrar uma força que eu já não tinha mais... Pois eu sabia a dor pela qual aquela mulher estava passando. Eu precisava demonstrar todo o meu apoio e positividade, mesmo que não fosse um sentimento otimista verdadeiro.

O clima estava absurdamente frio, assim como nos dias anteriores. Mas não nevava mais como naquele manhã. As nuvens densas e cinzentas, terminavam de compor aquele cenário sombrio e melancólico daquela misteriosa cidade esquecida pelo mundo.

Parei meu carro no semáforo da esquina da minha casa. Aproveitando o farol vermelho, tirei as mãos do volante e passei sobre meus olhos que se encontravam marejados. Eu não queria chorar... Ficar pensando em Cristopher e na vontade que eu tinha de vê-lo de pé novamente, me causava fortes emoções... Emoções essas, que eu não sabia explicar.

Voltei a prestar atenção na paisagem externa à minha frente. De onde eu estava, podia-se enxergar claramente a entrada da casa de minha tia Addora.

Foi quando eu estava totalmente distraído e imerso em meus pensamentos, que vi uma cena bastante curiosa e suspeita... Arriscaria a dizer que absurda!

Assim como dias atrás, quando eu estava na companhia de Cristopher vi, mais uma vez, Tobias entrar pelo portão da casa de tia Addora. Aquilo, com toda a certeza, estava me cheirando a tramóia daquele cara. Ele nunca havia sido do tipo confiável.

Mas o que eu não entendia, era o porque da minha tia ter negado que tinha assuntos a tratar com os "meus amigos". Naquele dia durante o almoço, ela parecia estar tão tranquila ao negar qualquer tipo de ligação com qualquer um deles.

Eu precisava tirar aquela história a limpo. Não poderia, de forma alguma, deixar aquela oportunidade de esclarecer as minhas dúvidas passar em branco.

O sinal ficou verde. Mais que depressa eu arranquei com o carro e virei a esquina da minha casa... Parei o veículo em frente ao portão e saí do mesmo mais que depressa.

A passos largos, fiz o pequeno trajeto de volta até à casa de tia Addora. Olhei ao redor e não vi ninguém. O jardim da casa estava deserto... Aproveitei aquela oportunidade para pular o portão de tranca eletrônica.

Caí do outro lado apoiando o peso do meu corpo sobre o joelho direito. Imediatamente me levantei e corri até os arbustos que ficavam na frente da janela da sala de estar e me abaixei atrás deles.

Engoli em seco... Eu não sabia bem o motivo, mas eu estava com medo do que poderia acabar descobrindo. Um certo suor gélido começou a escorrer pelo meu rosto... Minha respiração ficou pesada. Eu estava me sentindo tão tenso, que parecia que meu peito poderia explodir a qualquer momento.

B and E [Livro 3]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora