65 ● Violet: I'm Not The Same I Used To Be

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Após finalmente dizer o que eu precisava ter a coragem de dizer a muito tempo e em voz alta, Mateus achou melhor seguimos para seu apartamento

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Após finalmente dizer o que eu precisava ter a coragem de dizer a muito tempo e em voz alta, Mateus achou melhor seguimos para seu apartamento. Eu concordei, imersa em meus pensamentos antagônicos. 

Em sua face, eu podia ver alguns pontos se conectando em sua mente quanto a mim e o que eu dizia. É dificil entender certas coisas quando não se sabe o que está por trás delas, do que se tratam, seus alicerces. Ninguém sabia ou entendia por que eu sou assim. Sou uma casa com cômodos fechados onde não permito ninguém entrar. Nem ao menos me dou o luxo ou trabalho de me aproximar de tais quartos, prefiro trancá-los e deixar-los lá. 

A culpa me corroeu demais por muito tempo. 

Chegar na casa de meus pais naquele dia que já não tinha sido o momento mais fácil da minha vida. A clínica em si era um pesadelo, e o que fizeram em meu corpo outro. E nunca me recuperarei da ferida que foi ter que dizer adeus a alguém que gostaria de ver crescer dentro e fora de mim, mas não pude por que seria muito arriscado, perigoso. Para mim, e para quem eu achava que amava na época. Fui egoísta sim.

E ver o corpo de minha mãe... pálido, perdendo seu calor natural com o qual sempre me abraçava quando eu precisava... Eu não estive lá quando ela precisou de mim. Como ela sempre esteve quando eu precisei dela. 

Em alguns dias eu reviverei tudo isso novamente. É impressionante como ano após ano, no exato dia quando tudo ocorreu é só isso que minha mente consegue pensar. Como um filme, repetindo do começo quando sai de casa e fui até o endereço que me fora dado por Laura, a única que sabia da verdade, ouvindo ecoar em minha mente o implorar e ameaças de Padre Marcos para que eu fizesse o aborto logo, até o fim do dia quando cheguei e encontrei minha mãe daquela forma.

E eu nem sei por que minha mente me prende nisso e só me deixa sair quando eu não aguento mais.  

As vezes, o filme muda. Me ilude, re-edita, me faz ver e viver cenas irreais. A tortura com o que de fato aconteceu não é o suficiente para quem merece toda a punição do mundo, precisa também me fazer ver como seria se eu estivesse lá antes de Flora tentar se suic... Se ela tivesse sobrevivido. Nesse mundo paralelo me faz sentí-la viva, ali comigo novamente. E por algum motivo, para mim ver e sentir aquilo é ainda pior do que lembrar que está morta. Minha mente é minha pior inimiga. Eu não tenho controle de mim mesma, muitas vezes apenas faço o que posso para mantê-la ocupada e sanar minhas vontades e minhas dores pois tenho medo do que pode acontecer se assim eu não o fizer. 

E as duvidas acerca de tudo... Minha mãe fez isso de propósito? Esperou estar sozinha para tomar mais remédios do que devia? Foi mesmo acidental? Eram remédios demais os receitados, ás vezes até eu ficava confusa quanto as doses receitadas. Olhava com cuidado toda vez para que tal coisa não acontecesse. Sempre imaginei que uma lavagem estomacal talvez pudesse salvá-la caso ocorresse, mas não houve tempo. Eu demorei demais. Outra pergunta que sempre me atormentou: será que ela sabia da verdade? Descobriu de alguma forma que eu tinha engravidado do Padre Marcos de nossa igreja e que fui cometer outro horrvel pecado a seu religioso ver - como se fazer o que fiz com um padre de igreja não fosse suficiente - o de abortar uma criança? 

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