64 ● Violet: Secrets & Memories

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Quando terminanos de ajeitar nossas roupas novamente, Mateus pega na minha mão e aparentemente, parece ter mais uma surpresa para mim

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Quando terminanos de ajeitar nossas roupas novamente, Mateus pega na minha mão e aparentemente, parece ter mais uma surpresa para mim. 

Esse dia está cheio delas.

Eu o sigo para fora da sala, pelo corredor que segue e escadas acima, chegando ao telhado do prédio da Universidade. A noite esfriava o ar, e me abraço para me proteger da brisa gélida que eriça minha pele. Mateus me cobre com seu terno, me leva até o parapeito e me abraça. Confesso que sentir seu calor me envolver ao olhar essa vista de infimas e lineares luzes da pequena cidade me aquece mais que qualquer casaco. 

Comento a beleza do lugar e Mateus beija minha cabeça, reforçando seu abraço ao meu redor. Após alguns minutos de silêncio e pura apreciação a paisagem, ele me vira para ele. 

"Por que será que sinto que tem algo te incomodando?" Mateus comenta. Respiro fundo e desvio meu olhar. Ele não está errado. "Desde quando você voltou da sua tia. É por que você vai embora em breve?" Delicadamente, me faz encará-lo. "Eu quero que você fique. E falo sério." 

"Não é só por isso..." Apesar da idéia de me separar dele me chatiasse mais do que eu gostaria de admitir, esse não era o único motivo por trás do meu jeito no momento. Estar com Mateus amenizava a negatividade de todas essas coisas que estavam fora do lugar na minha vida. Todas as mentiras nas quais estou envolvida e que provavelmente nunca se tornarão verdades. E não é só de agora, só dessa semana caótica.

Rever minha tia me forçou a finalmente encarar uma parte do meu passado que perdurou como um fantasma num canto escuro de minha mente por todos os dias dos últimos cinco anos. E não há aparição tão forte assim que não seja resultado de uma culpa. 

Culpa esta que senti novamente assim que Tia Diana e eu começamos a escavar as boas memórias da família Sanspree.

Eu devia saber que as memórias ruins também viriam a tona. 

"Eu não sou quem você acha que sou, Mateus." Mesmo fraca, luto para que o pouco de decência que me resta force as palavras a saírem. 

Mateus franze o cenho. Tento desviar o olhar novamente mas ele não deixa, sua mão em meu queixo forçando que eu o encare. Parece saber que omito melhor quando não preciso encarar ninguém. "Ainda estamos nos conhecendo, Violet. Não tem por que..."

"Você não entende." E eu não tenho coragem de explicar por quê. "Eu não sou nada disso que você pensa que sou." Já posso sentir minha voz tão trêmula quanto minhas mãos. Por quê diabos sinto que deveria ser honesta aqui e agora? Calcular próximas oportunidades usa todo o pouco de sanidade e lógica que me resta. 

Mesmo sob a escuridão da noite posso ver a confusão em seu rosto. "Tudo bem, Violet. Deve ter acontecido alguma coisa com a sua tia. Você parece mais... preocupada, pensativa depois que a viu hoje a tarde. Ela está bem?"

Meneio positivamente com a cabeça. Imagino que na medida do possível, já que aquela a quem criou como filha agora a rejeita a ponto de ignorar sua existência por completo. Imagino que isso não seja fácil, mesmo não sendo a mãe biológica de Laura, sempre enquanto crescia a vi sendo uma maravilhosa pessoa para ela. "Minha família..." Fecho os olhos. Não queria falar sobre isso com ninguém mas estar nos braços de Mateus é inebriantemente acolhedor. Eu adoro e odeio me sentir assim. Uma cilada perfeita da qual fiz questão de cair e não sair mais dela. " Minha família tem mais segredos do que eu imaginei. E agora, mais do que nunca, eu sinto que existe muito mais sobre eles que não sei e o pior de tudo é que tenho medo de descobrir o que é." 

Mateus assente devagar. Parecia entender completamente do que eu falava. "Imagino que você saiba que não venho da família mais funcional que você já conheceu." Sinto minha pele queimar ao ouví-lo falar de seus pais. Por um momento esqueci que eles existiam. "Eu sei que meu sobrenome não é dos mais honestos por aí mas Violet, eu não vou carregar nele o que outros que o têm fazem. E você também não devia. Vou te dizer o óbvio: ninguém é perfeito, incluindo nossos familiares." Eu nem percebi que algumas lágrimas me escaparam, apenas quando Mateus as limpou da maçã de meu rosto que me dei conta delas. "O que foi? Eu disse alguma coisa que...?" Apressou em se desculpar.

"Não..." Respondi rapidamente, apesar de nem saber exatamente por onde começar a enumerar tudo o que estava errado. "Você não disse nada errado." Aliás, eu queria dizer a ele o quão certo em relação a tudo ele estava se tornando.

Só que os erros que carrego em meu sobrenome são só meus.

"Então o que foi, Violet? Eu não quero te forçar a falar, mas quero que saiba que você pode se abrir comigo."

Eu olho para Mateus, analisando o quanto suas palavras me afetam, realmente me fazem sentir que isso é verdade. Essa segurança é um veneno que tomo sem pensar duas vezes. Boca se abre junto com o lado mais escuro do meu coração. "É aniversário da morte da minha mãe em alguns dias." 

Rever minha tia me reforçou a lembrar isso. Esse é o fantasma que habitou e habita em minha mente há cinco anos. Um fantasma do que eu era. 

Do que eu fiz. 

Uma eterna lembrança de minha culpa da qual eu nunca ousei mencionar.

"Tem tanto sobre mim que você não sabe, Mateus." Entre lágrimas que saíam de meus olhos mais rápidas que palavras, anuncio o óbvio. Essa droga de sensação íntima que sinto me conectar a ele me faz esquecer que basicamente o acabei de conhecer. Por quê diabos me sinto tão confortável e bem a seu lado? Que droga é essa? "No dia em que minha mãe morreu... eu devia estar lá, com ela. E se eu estivesse lá com ela... ela ainda estaria viva. Eu tenho certeza disso! Aqui, comigo..."

Mateus me abraça mais forte, segurando meu rosto contra seu ombro. "Violet, eu não sei o que aconteceu mas é normal dos filhos se culparem de coisas que acontecem com seus pais mas... você não deve se culpar por tragédias assim. Você não tem culpa de sua mãe falecer." 

"Mas eu tenho... você não entende!" Minha voz sai abafada contra sua camisa, e eu afasto meu rosto dela, limpando minhas lágrimas, decidindo tomar a coragem que nunca tive para dizer a verdade em voz alta. "Eu preciso te contar. Eu preciso falar! Ninguém sabe, um dos motivos pelos quais me fechei e me escondi, me afastei de todo mundo que conhecia. Você precisa entender o tipo de pessoa que eu sou, Mateus!" 

Talvez essa seja a hora certa, ou a hora errada. O pior ou o melhor lugar. Não importa mais! A verdade vai sair e não há muito que eu posso fazer para pará-la. "Minha mãe estava fragilizada com a perda do meu pai e com problemas de saúde mentais, como extrema dificuldade de dormir e depressão. Ela tomava remédios antes de eu nascer, antes de conhecer meu pai por conta do trauma que sofreu em seu antigo país e na viagem perigosa e em alto mar que fez para fugir dele. Por muito tempo ela parou de tomar-los, mas precisou novamente quando meu pai faleceu. E ela precisava de companhia constante. E apesar dos pesares, sempre amei estar perto de minha mãe, cuidei mais dela do que eu naquela época. Mas no dia em que ela morreu, eu não estava lá... no exato momento, eu não estava lá... " Tentar conter meu choro é como conter a intensidade de um rio. Impossível. "Eu não estava lá quando Flora tomou comprimidos demais... Fiquei tempo longe demais! Eu não devia tê-la deixado sozinha, eu devia ter voltado o quanto antes... mas eu não podia. Não podia por que eu... " 

"Violet, calma." É visível o quanto Mateus se esforça para não ficar tão exasperado quanto eu. Com ambas as mãos em cada lado do meu rosto, tenta me confortar. 

"Eu não sou quem você pensa que sou Mateus, entenda isso!" Sequei minhas lágrimas eu mesma e tirei as mãos dele de meu rosto. Fechei meu semblante e me afastei de seu toque por que pessoas como eu não merecem compaixão. "Eu não pude estar com minha mãe pois estava em uma clínica de aborto clandestina a mando de um padre que atormentei por boa parte da minha vida me livrando do filho dele." 

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