Capítulo 101

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Ela me encarou feio e a encarei do mesmo jeito. Eu estava preocupado com ela e queria ficar sabendo de tudo. Ela se sentou bufando.

- Vai comer? - perguntei e ela deu de ombros pegando no prato com o bolo de chocolate.
- Tem mais bolo? - perguntou após comer metade da fatia, assenti  - Pode pegar mais pra mim por favor, está muito gostoso. - falou um pouco mais animadinha.
- Claro, já volto.

Desci e peguei em outra fatia e subi devagar, não queria parecer insistente, e lhe daria um tempo para pensar como me haveria de contar o que quer que fosse que a andava a preocupar. Entrei no seu quarto e ela logo pediu o prato que eu segurava o devorando rapidamente.

- Nossa filha, era tudo fome? - ri fraco.
- Chocolate é sempre bom. - limpou a boca e terminou o suco.
- Agora já podemos conversar.
- Me deixa tomar um banho antes? É rapidinho... - me olhava receosa e assenti.

Depois de pegar em roupa entrou no banheiro e ouvi a água cair. Fiquei vendo o que estava passando na TV e mudei de canal até parar num que passava um documentário sobre mato e bichos do mato, óbvio que fiquei vidrado. Uns 20 minutos depois a porta do banheiro abriu uma brecha e Ceci espreitou com uma cara nada boa.

- Que foi filha? - indaguei vendo que ela não iria falar nada.
- Você pode ir no banheiro do seu quarto e trazer a necessaire rosa da mamãe?
- Claro filha, podia falar logo, lógico que eu busco pra você. - ela sorriu pequeno e esperou eu sair. Não percebi porque tanto receio em me pedir algo, me preocupei ainda mais com ela.

Peguei na necessaire da Clarinha e me perguntei o que ela precisaria dali. Sempre que Clara a usava era naqueles dias mas será que tinha outra coisa? Abri e me deparei apenas com absorventes e coisas do género. Será que...? Ai meu Deus. Só podia ser isto, a minha menina tinha virado mulher, por isso aquele mau humor todo, por isso a vontade de comer mais bolo de chocolate, por isso a vergonha em conversar comigo. Eu não esperava por nada disto agora, pra mim ela sempre será a minha pequenina, mas confesso que fico com uma ponta de orgulho por a ver crescer e passar por estas fases. Entrei no quarto como se não soubesse de nada, não a queria assustar antes mesmo de conversarmos. Ela saiu um tempo depois olhando para o chão enquanto se aconchegava na sua cama.

- Vem aqui filha. - a puxei para o meu peito e lhe dei o comando - Escolhe o que você quiser. - sugeri e ela depois de se ajeitar em meu peito mudou de canal colocando num filme musical qualquer.
- Pai... - falou com a voz embargada.
- Shh. - acariciei os seus cabelos - Eu sei o que aconteceu.
- Sabe? - perguntou assustada me olhando.
- Sei filha, não sou tão lerdo assim. - ri fraco - Eu sei que é um assunto um pouco sensível para falar comigo, mas eu sou seu pai, seu melhor amigo né? - ela assentiu - Então não tem porque ter vergonha, é normal, você está ficando uma mulher. - sorri doce e ela retribuiu ouvindo atentamente tudo que eu falava.
- Mas dói muito papai. - se queixou dobrando os joelhos.
- Acredito filha, mas são coisas da vida. Só o tempo de você acostumar.
- Acho que não vou acostumar nunca, a mamãe me deu remédio e mandou ficar deitada. Já passou um pouco mas sempre vem aquela dorzinha sabe?
- Eu sei filha, mas você vai habituar. - beijei o topo da sua cabeça - Se quiser mais chocolate ou outra coisa fala pra mim que eu te dou.
- Acho que a parte boa disto tudo é poder comer chocolate sem culpa. - riu fraco.
- E você adora, é o jeito que eu como com você. - rimos - Mas não conta pra sua mãe.
- Você tem 33 anos e parece um crianção.
- Me respeita que eu sou seu pai. - fiz cócegas e ela riu mas logo choramingou. - Desculpa filha. - a abracei.
- Nada não pai, mas é que dói, é uma chatice. - ri fraco e continuamos assistindo ao filme.

Não dei conta de ter adormecido, mas acordei com alguém em cima de mim e vi ser Lucas, que estava sentado em minhas pernas me encarando. Cocei os olhos e vi Cecília dormindo ainda.

Opostos, completos || LSWhere stories live. Discover now