Capítulo 10

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Como eu iria simplesmente pedir para que ele me buscasse? Não tinha coragem de lhe ligar, ele pode até nem querer se dar ao trabalho de atender e muito menos de me ajudar. Depois da troca de palavras mais cedo acho complicado. Decidi mandar mensagem em meio a tantos pensamentos.

"Oi...será que você pode me ajudar?"

"Pede para o seu "gatinho"." - argh, que criança, pensei.

Luan On:

Estava no quarto lendo quando recebi uma mensagem da Maria Clara. Óbvio que estranhei, depois da discussão desconexa mais cedo ela me pediu ajuda. Mas ela estava com o amiguinho dela, ele que a ajudasse.

"Estou sozinha numa praça sem ponto de táxi, você pode se preocupar um pouco e me ajudar ou vai me deixar aqui?" - recebi pouco tempo depois e se dissesse que não fiquei preocupado estaria mentindo. Será que o cara lhe fez algum mal? Ah, mas eu acabaria com ele como fiz com o Paulo.

Me levantei apressado e me arrumei rápidão, peguei as chaves do carro e saí correndo. Assim que entrei liguei para ela que demorou para atender.

- Alô. - respondeu baixo.
- Onde cê tá? - perguntei rápido já que estava conduzindo.
- Na Praça das Luzes, cê sabe onde fica?
- Estou chegando. - desliguei e corri o mais rápido possível.

Em menos de 15 minutos cheguei, fui abrandando a marcha e procurando a Clara por ali. Quando dei a volta vi um corpo sentado em um banco. Embora se chamasse Praça das Luzes, de iluminação estava bem fraca. Direcionei as luzes do carro para lá e parei. Ela logo notou minha presença e se levantou andando um pouco relutante sempre com o olhar pra baixo. Talvez estivesse envergonhada, o que foi confirmado assim que entrou no carona sem me olhar sequer.

- Cê tá bem? - perguntei preocupado e ela apenas assentiu colocando o cinto.
- Me leva pra casa por favor. - pediu num sussurro e me preocupei mais ainda. Mas não iria questionar.

Fomos o caminho todo calados e antes de chegar ao cruzamento da sua casa dei a volta e voltei a sair do condomínio. Ela me olhou tensa e engoliu em seco.

- Para onde cê vai me levar? - indagou fria.

Não respondi e ela continuava me fuzilando, em menos de 5 minutos cheguei na beira de um rio que tinha ali perto e parei o carro o trancando por dentro.

- Custava muito ter me deixado em casa? - cruzou os braços e bufou irritada.
- Custava, porque se você me pediu ajuda vai me dar uma explicação. E te deixando em casa eu saberia que não a tinha.
- E quem te garante que agora você a terá? - semicerrou os olhos me encarando.
- Você que sabe, se quiser ficar a noite toda aqui... - dei de ombros.
- Não tem nada pra explicar.
- Porque você estava ali sozinha então, sendo que saiu de minha casa com o Felipe? - arqueei a sobrancelha e ela me olhou de canto.
- Longa história.
- Tenho todo o tempo. - desapertei o cinto e me virei para a olhar.
- Sério? Vai deixar suas piriguetes esperando? - falou com mágoa e suspirei a puxando pelo braço para me fazer olhar.
- Dá pra parar com isso? Não é você que diz que a gente não tem nada? Então pra quê essa ciumeira?
- Quem disse que estou com ciúme? Me poupe. Apenas não quero falar com você, simples.
- Então vamos ficar aqui. - liguei o rádio baixinho e batuquei no volante a música que tocava.
- Eu acreditei que... - foi falando e logo parou chamando a minha atenção .- Eu acreditei que me envolvendo com o Felipe fosse ter certeza daquilo que quero e apostar em algo que a gente pudesse vir a ter. - confessou e a encarei confuso.
- Mas você gosta dele?
- Não, e por isso parei o que a gente estava prestes a fazer. - me encarou tímida e logo desviou o olhar, mas percebi muito bem o que ela estava se referindo.
- Vocês nunca tinham feito nada antes? - ela negou me surpreendendo - Você é ...
- Não. - me interrompeu. - A gente ficava mas nada de sério.
- Ele te deixou sozinha lá? - me exaltei um pouco.
- Não. Eu que quis ficar um pouco em paz, mas não sabia que não tinha ponto de táxi.
- Hum. Mas...você foi assim só com ele ou com outros caras com quem você já ficou?
- Depende, há vezes em que acontece algo mais sim, mas normalmente não passa de uma pegação normal. - isso não me agradou nem um pouco, tanto o fato de pegar outros caras tanto como ir pra cama com alguns deles.
- Mas sempre com conhecidos né? - ela assentiu reafirmando o que já me tinha dito - E você nunca pensou em namorar ao invés de ficar nessa de ficar?
- Eu já namorei uma vez. - confessou mas com uma voz um tanto quanto triste e desprezada.
- Foi há muito tempo?
- Não, cerca de um ano. Namorei durante dois anos.
- E porque terminaram? Você parece ainda gostar muito dele. - falei calmo e ela negou com a cabeça olhando o lado de fora.
- O que parece nem sempre é. - senti frieza e algo tinha acontecido - Eu não quero falar disso.
- Ele te fez sofrer? - questionei esperando que ela prolongasse.
- Não importa, ele só me ensinou a ser o contrário daquilo que eu era, uma boba iludida.
- Como assim? Ele não te amava?
- No início eu acreditava que sim mas depois vi que me enganei.
- Você quer falar sobre isso?
- Não, só quero ir pra casa.
- Tá bom. - assenti e voltei a me ajeitar no banco iniciando a marcha.

Pelo caminho fui pensando em tudo que ela me contou. Mas uma coisa ocupava a maior parte dos meus pensamentos. Ela já ficou com vários rapazes e comigo nunca quis nada, mesmo quando estava prestes a isso acontecer. Estacionei na frente de sua casa e ela esperou destrancar o carro, coisa que não fiz.

- Posso te fazer uma pergunta antes de você ir?
- Aham. - respondeu suspirando pesado enquanto brincava com seus dedos.
- Porque você nunca quis ficar comigo? Já que ficou com outros, porque me deu um fora?
- Não sei, mas não acho que seria uma boa a gente se envolver sabendo que teríamos de contracenar.
- Então depois do clipe você aceita ficar comigo? - perguntei na tentativa de saber algo a mais dela e se estava interessada em mim tanto como eu estava nela. Maria Clara me encarou firme.
- Não sei. Você é amigo do meu irmão e não acho certo.
- Seu irmão anda pegando minha irmã e porque não posso pegar a dele?
- Você só quer saber de pegação né? - riu irónica me confundindo.
- Não tô te entendendo.
- Esquece Luan. - voltou a ficar séria - Apenas não insiste.
- Podemos ser amigos ao menos? - sugeri e ela deu de ombros. - Você não sente nadinha de nada por mim, nem amizade?

Nesse momento ela silenciou e o rádio ecoou uma música de Jorge e Mateus, "Porquê?" a fazendo olhar diretamente para o rádio e depois para mim.

"Eu acho que eu estou gostando de você,
mas você não percebe. Porquê?
Eu vejo o tempo passando
E cada vez me apaixonando mais,
Mas você não percebe. Porquê?"

- Eu preciso ir. - ameaçou abrir a porta.
- Está trancada. - informei e ela me olhou com súplica - Você está sozinha em casa né?
- Como você sabe?
- Porque eu seria a última pessoa que você procuraria para pedir ajuda. - concluí. - Você não tem medo de ficar sozinha aqui?
- Não, é só uma noite, amanhã o Hugo volta.
- Aceita jantar comigo amanhã?
- Porque eu aceitaria isso?
- Pra você tudo tem de ter um "porquê?". Não podemos apenas sair pra jantar como conhecidos?
- Se o conhecido é você, não, a gente não pode.
- Eu realmente queria ser seu amigo, mas com a sua frieza toda será impossível.
- Tá. - disse apenas isso.
- Tá o quê? Cê aceita? - ela assentiu e me admirei - Ás 20h00 te pego aqui em casa. - destranquei o carro e ela abriu a porta mas assim que colocou o primeiro pé fora se virou pra mim.
- Obrigado Luan. - sorriu de canto.
- De nada. Tem certeza que não quer dormir lá em casa?
- Tenho, eu vou aproveitar pra treinar um pouco. Fica com Deus.
- A esta hora?
- É, me deu vontade.
- Fica com Deus também. - antes que ela saísse a puxei e lhe dei um beijo no rosto - Dorme bem. -lhe sussurrei e ela engoliu em seco saindo rapidamente.
- Você também.

A vi entrar no portão andando apressado, parecia fugir de alguma coisa e me preocupei em deixá-la sozinha em casa, mas não havia muito que eu poderia fazer.

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