Ohana.

79 4 0
                                    

"Ohana quer dizer família".

×

O som da buzina a fez despertar dos seus devaneios, quando estava ali o seu estado de alerta se intensificava, ficava a procura de alguém o tempo inteiro. Encarava todos os rostos possíveis, mas além deles, as características, não havia ninguém parecido com quem ela queria.

— Rosalinda, até quando iremos ficar nessa? — Genevive falou da janela do carro para a mulher que tinha uma expressão brava e os braços cruzados. — Você precisa ir trabalhar! Vamos! — Chamou em chateação. — Todos os dias vindo aqui! Sua chefe está me telefonando o tempo inteiro porque você não aparece lá.

— Não vou. — Negou com a cabeça.

— Adiante! — Deu a ordem com sua voz dura. — Rosalinda, não finja que não me escuta! — Buzinou algumas vezes e ela tapou os ouvidos com as mãos. — Então tá bom. — Desceu do carro e bateu a porta com força, sentou ao lado dela. — Se eu perder o emprego, a culpa é sua.

— Nada disso. — Ela negou com o dedo. — É uma questão de escolhas. Eu escolho arriscar perder o meu, agora se você também faz isso, a responsabilidade é sua. Portanto, não me venha querendo jogar suas responsabilidades em minhas costas, não sou burro de carga. — Fez a irmã dar risada e acabou ali todo o estresse.

Após ter tido episódios que foram intitulados de surtos psicóticos, Madalena se viu catalogada e presa a uma caixinha, não sabia o que significava aquilo porém a sensação era de que estava sendo reduzida a algo. Notou que esse era o tratamento que davam a alguém que tinha algum tipo de transtorno mental, a patir do momento em que ela era diagnosticada ou tinha algum surto, a pessoa era reduzida a sua patologia e tudo girava em torno disso... Tratavam-a como se ela não pudesse ter escolhas próprias, como se não saísse do surto por nenhum momento, como se não pudesse nem escolher com quem conversar. Era apenas "faça isso", "você precisa conversar com a psicóloga", "o psiquiatra vem te ver"e hai dela de recusar essas visitas.

A albina sabia que sua avó tinha compaixão pelo seu estado e que achava exagerado a dosagem de remédios que ela estava tomando, mas nada podia fazer. Visto que não podia ficar internada ali para sempre, em um momento receberia alta, Madalena concluiu que o melhor era colaborar.

Usando do seu método, logo foi liberada e voltou para casa, onde sua rotina se tornou totalmente monótona e ela precisava a todo custo controlar sua boca. Não podia falar de Rosa, porque ninguém conhecia Rosa, então queria dizer que se ela tornasse a citar o nome era porque tinha voltado com os devaneios e o remédio não estava fazendo efeito. Seu momento de tranquilidade era quando dormia, não tinha controle em relação a nada e felizmente seus momentos com a amada eram reproduzidos... Só assim matava a saudade dela.

A sensação de estar sendo repreendida e acuada lhe causou o seu fechamento novamente, não descontava nada em Margarida, tinham momentos bons juntas porém Madalena não estava sendo ela por completo e isso lhe causava uma angústia tão grandiosa que tornava a ser como antes. Sentia que seu jeito era espontâneo, era alegre por natureza, prestativa, cuidadosa, mas agora só fazia o básico, não conseguia manter uma conversa por muito tempo e não era somente porque Rosalinda era importante na sua vida, era porque não podia compartilhar de tudo que lembrava. Era terrível porque seus conhecimentos vinham dali, sua base vinha dali, seus trejeitos vinham dali, afinal passou anos desligada e gostaria de questionar sobre esse processo, queria entendê-lo... Mas não podia.

Madá desconfiava da sua sanidade, não para transtornos como as pessoas diziam, mas sim que era saudável e dentro dos padrões considerados como normais, não tinha problema nenhum. Não era possível que tivesse, não era possível que Rosa fosse alguém criado por sua mente e fizesse parte de delírios, não fazia sentido nenhum.

Em Outra Realidade - Romance Lésbico. (CONCLUÍDO)Where stories live. Discover now