Apenas um diálogo.

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Aviso de conteúdo sensível.

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Rosa aproveitou que não tinha mais ninguém além de si e Madalena em casa. Seus serviçais haviam saído durante o dia e só voltariam tardiamente, ela poderia fazer o que quisesse sem a presença de homens em sua moradia, adorava esses momentos.

Trajou uma camisola de tecido fino, uma das melhores que tinha, não se preocupou em colocar um sutiã, arrumou um robe que combinasse com a única peça de roupa que estava em seu corpo e caminhou lentamente até o jardim de trás. Sentou-se no banco de madeira de forma desajeitada e fechou os olhos para curtir o sol matinal.

Se divertia com seus próprios pensamentos, as reações de Madá ainda passavam em looping na sua cabeça, principalmente a parte em que havia pegado a mão dela. Gostaria de poder fazer novamente, assim como ter abertura para falar mais e questionar mais.

— Madalena Ortiz de las Flores. — Repetiu brincando com a pronúncia daquele nome, era prazeroso. — Que nome bonito, não? — Perguntou a si mesma em um sussurro. — Ortiz de las Flores... Eu pagaria para vê-la repetir arrastadamente daquele jeito, outra vez. — Sorriu cinicamente.

— Falando sozinha, senhora? — A voz doce surgiu fazendo Rosa pressionar os lábios de imediato, abriu os olhos tranquilamente, direcionando suas orbes para a mulher que se aproximava. Ela quase brilhava no sol.

— Conversando com os meus botões. — Disse em um bom humor, esperava que a mulher risse, mas parecia um tanto perturbada.

Era visível em sua expressão uma agonia, agitação talvez, estava nervosa com tanta coisa que bombardeava a sua mente. Não conseguia ser cordial e precisava colocar para fora o que tinha, o que lhe incomodava.

— Não dormi essa noite. — Informou sem se preocupar em aveludar a sua voz.

— Certo. — Rosa respondeu franzindo as sobrancelhas, tentando entender o porquê que ela lhe contava isso. — E por que não dormiu? — Deu brecha para que a moça desabafasse.

— Porque passei a noite inteira pensando em seus questionamentos e no que disse para mim. — Confessou e sem nem ser convidada, sentou-se no mesmo banco, na pontinha do assento. Tinha vergonha.

— Foram tão profundos para você? — Questionou interessada.

— Peço que a senhora somente me escute. — Pediu apertando as próprias mãos. — Penso que se tem tanto interesse em mim, que me conheça de verdade. — Informou olhando discretamente a moça que assentiu obedecendo. — Sou Madalena Ortiz de las Flores, irmã de William Ortiz de las Flores, temos esses nomes porque minha família veio do México em busca de uma vida melhor. Minha mãe era cantora de bar e meu pai fazia tudo o que podia, mas ao chegar aqui acabaram sem emprego, caíram na casa do senhor Hernández e meu pai criou uma grande amizade com ele, onde a promessa foi feita. Meus cabelos, pelos e pele são assim por causa da minha mãe, ela era como eu, por muito tempo me amei por ter isso parecido, era o que me fazia lembrar de como ela parecia, mas depois de ser chamada de feia todos os dias, não sei mais se gosto de como sou. — Suspirou tomando força para prosseguir ao notar que Rosalinda prestava atenção, estava extremamente focada. — Trabalho como serviçal desde criança, é o preço que pago para ter um lar e comida na mesa, não tive outras oportunidades. Desde que meus pais morreram não recebia mais o mesmo tratamento do senhor Hernández, ele começou a me tocar de formas diferentes e desagradáveis, por esse motivo tenho medo toda vez em que alguém me toca. Eu nunca gostei, mas nada podia fazer, ele só tinha a mim como mulher. — Coçou a bochecha, a agitação corporal era grande. — Até Elizabeth chegar, e sim, eu a defendo, porque muitas vezes me ofereci no lugar dela para se deitar com ele. Beth era muito moça e eu sabia a dor que era ficar no quarto com aquele homem, não queria e nem quero que ela sinta o mesmo. A tenho como irmã e farei de tudo por ela.

Em Outra Realidade - Romance Lésbico. (CONCLUÍDO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora