Cartas.

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A ordem do dia era para que ninguém incomodasse, Rosalinda tinha até acordado bem porque dormiu a noite inteira abraçada com sua amada que lhe surgia como um calmante. Iriam tomar café da manhã juntas, mas Tomás estava em casa e de mal humor, isso fez a serviçal ficar bem longe.

A morena aguentou o que tinha de aguentar, não estava com muita vontade de atuar naquele dia então se manteve bem mais fechada, respondia o básico, não confrontava, não dava muita atenção a ele. Comemorou quando o homem foi embora, só que levou junto o seu ânimo porque ele tinha o dom de sugar as pessoas que estavam ao seu redor.

Rosalinda decidiu parar de enrolar e resolver algumas questões que tinha consigo, também queria sanar algumas dúvidas porque estava tentando se resgatar. Sabia que não conseguiria por muito tempo não ser totalmente verdadeira com Madalena, não era do seu feitio esconder informações, em uma relação era sempre aquela que gostava de expor tudo, adoecia por dentro ao não poder dar o seu todo.

Trancou-se desde muito cedo naquele escritório e lá ficou, não saía nem para ir ao banheiro. Remexia nas gavetas cheias de documentos do seu marido e lia de um por um, até que chegou onde queria, separando alguns papéis espalhados na mesa.

Ouviu as três batidas na porta e ignorou mais uma vez assim como fez com todas as outras durante o dia, não sabia nem que horas eram, mas também nem se importava, estava ocupada demais com tudo aquilo, completamente imersa no que fazia.

Madalena do outro lado tentava novamente, colocou seu ouvido na madeira e se esforçou para escutar o que acontecia, mas nada além de passos era audível. Mexeu no bolso do avental e pegou a chave mestra, então abriu a porta devagar e entrou no cômodo segurando um prato de comida na mão.

Se deparou com Rosalinda de pé, com suas mãos espalmadas na mesa principal, encarava com uma expressão indecifrável, parecia brava, cansada, algo de tom ruim e triste. Seu olhar nem sequer se moveu, a albina deixou o recipiente em cima de um armário e andou até a ela com calma, com medo de invadir aquele espaço pessoal. A abraçou por trás e deu um beijo carinhoso no ombro coberto, então repousou sua cabeça nas costas da morena.

— Eu sempre tento não te atrapalhar quando está resolvendo seus problemas que eu não faço a mínima ideia de quais são e também não entendo dessas coisas. — Falou em um tom baixo fazendo carinho no abdômen dela. — Fui respeitosa, me mantive longe, mas é que já ultrapassou o limite. — Tinha o tom de voz aveludado, carinhoso. — É hora de comer e ir dormir, está tarde. — Tentou puxá-la, mas a morena seguia ali imóvel. — Amor?

— Sim? — Questionou virando de frente e se sentando na mesa, realmente aparentava estar bem cansada.

— Eu disse que é hora de comer e ir dormir. — Avisou repetindo a fala encarando-a.

— Ainda tenho muita coisa pra fazer aqui. — Comentou negando o que a moça falou, mas sem ser direta o suficiente para isso.

— Por hoje não tem nada. — Declarou aproximando-se bem mais dela. — Tenho que cuidar de você, você disse que eu podia e agora estou fazendo. Preciso que me obedeça. — Resmungou segurando o rosto dela assim como ela fazia consigo antes, apertando as duas bochechas com uma mão só e fazendo os lábios ficarem saltados. Achou adorável e agora entedia o porquê que Rosa fazia tanto aquilo. — Aqui quem fala é a sua mulher. — Sussurrou se gabando.

— Acha que pode me dar ordens agora? — Desafiou totalmente  inconsequente e recebeu uma erguida de sobrancelha com um fuzilamento de olhar que a fez morder o lábio inferior ao se sentir tentada demais. — Pode, pode sim. É só dizer que é minha mulher e você tem direito de fazer o que quiser comigo. — Em obediência falou manhosa, puxando-a pela cintura enquanto ela ria. — Irá dormir comigo hoje?

Em Outra Realidade - Romance Lésbico. (CONCLUÍDO)Waar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu